6 da manhã e o alarme começou a soar alto por todo o meu quarto. Acorda Hinata! A semana mal começou.

Ainda enrolada nas cobertas, bati no relógio ao lado da minha cama, fazendo aquele barulho parar antes que eu ficasse louca.

Levantei calmamente da cama, abrindo meus olhos aos poucos para que eles se acostumassem com a luz do sol que atravessava em pequenos feixes por entre as persianas. Abri a janela e comecei a apreciar a vista privilegiada que tinha dali:

Podia ver vários grupos de colegiais conversando e rindo entre si, andando de um lado para o outro, as mães e avós levando seus filhos e netos para a escola, as pequenas lojas e floriculturas se abrindo, e tudo iluminado com os primeiros raios da manhã. Mas ficar admirando o dia começar só me atrasaria para o colégio, então tratei de me arrumar.

Tomei um banho rápido, vesti meu uniforme e desci para tomar café da manhã com meu pai e Hanabi.

– Ohayo Gozaimasu Hinata-chan.

– Ohayo Gozaimasu Nakayama-san. – Cumprimentei nossa empregada que havia preparado um delicioso café da manhã.

Me sentei à mesa, cumprimentando meu pai e Hanabi enquanto preparava meu café. Pra mim essa é a hora mais sagrada do dia, aonde eu consigo ficar reunida com toda minha família por algum tempo antes de começar com a correria do dia a dia. Sempre conversamos e compartilhamos os acontecimentos da nossa vida, tentando manter ao máximo uma relação saudável entre nós.

Após terminar meu café, escovei os dentes, me despedi de todos e desci para a cidade.

Novamente me encontro no centro da cidade, em meio aquele mundo de gente que perambula dia e noite sem parar por todas as direções. Essa cidade nunca para.

Dentro do metrô fiquei lembrando do dia anterior. Como a vida é estranha... Ontem mesmo vi o Naruto pela primeira vez aqui e ao final do dia ele estava na enfermaria comigo. Ri das lembranças sozinha.

Desci na estação tranquilamente e a algumas quadras dali, já me encontrava em frente ao portão principal do colégio. Estranho... Hoje o Kiba não me esperava na entrada. O que será que aconteceu?

***

Apesar de Sociologia ser minha matéria favorita, eu estava nem um pouco concentrada durante a aula. O primeiro tempo já estava acabando e o Kiba ainda não havia chegado. Mandei várias mensagens para ele e não recebi uma resposta sequer. Ligar também não adiantou, pois só caía na caixa postal. Estou começando a ficar preocupada.

– Calma Hina, daqui a pouco ele chega. – Tenten me conhecia bem e podia ver claramente meu olhar de preocupação.

– Arigato Tenten.

– Relaxa, deve ter acontecido nada. – Ino me acalmava também.

– Tomara. Kiba nunca foi de se atrasar e sempre me espera no portão. O pior é que ele ainda não respondeu minhas mensagens e o celular dele está fora de área.

As meninas se encararam com um olhar sério, sem saber o que me dizer.

– Meninas, posso continuar minha aula ou vocês querem mais tempo pra conversar? – O professor chamava nossa atenção.

– Gomenasai sensei. – respondemos em uni som.

***

Chegamos ao segundo tempo de aula e nada do Kiba chegar. O dia passou tão rápido que nem ao menos percebi. No recreio me afastei um pouco das meninas e fui andar em um pequeno jardim que temos atrás do colégio. Sentei no banco mais próximo e comecei a admirar aquela manhã.

Eu gosto muito desta parte do colégio. Poucos alunos vêm aqui, pois acham que é um lugar desnecessário, mas pra mim é o melhor lugar para relaxar e pensar um pouco.

– Olá.

Fui surpreendida por uma voz que chegou de repente e nem ao menos senti a presença daquele rapaz que se aproximava.

– Olá. – Respondi.

– Prazer, me chamo Sai.

– Hinata.

Aquele rapaz passava um ar de mistério. Sua pele era extremamente branca; cabelos e olhos negros se destacavam naquele rosto singelo. Ele sentou-se ao meu lado e começamos a conversar.

– Você é novo em Konohagakure?

– Sou sim, entrei este ano.

Via que ele retirava um pequeno caderno e uma caneta do bolso de sua calça.

– Esse lugar não é calmo? – Ele perguntou.

– Aham. É o lugar que mais gosto no colégio. Fica um pouco afastado de todo o barulho e tenho calma pra pensar.

– Eu também gosto muito daqui, sempre venho para desenhar.

– Então você é um artista?

– Amador, mas quase um profissional. – Ele fez uma cara divertida – Eu sempre venho aqui para desenhar as flores.

– E você desenha neste caderno?

– Sim, gostaria de olhar?

– Claro.

Ele me deu seu caderno e comecei a folhear as páginas. Aqueles desenhos eram lindos! Todos coloridos e cheios de vida... Esse menino tem talento.

– São lindos! Parabéns pelo seu trabalho. – Lhe dei um sorriso.

– Achou mesmo?! Nossa, obrigado! Não sabe o quanto isso é importante pra mim.

Via um sorriso enorme se abrir naquele rosto pálido.

– De nada.

– Você deixaria eu te desenhar? Fiquei tão feliz agora que acabei me inspirando.

– Ah, eu tenho um pouco de vergonha.

– Por favor. Você é linda e um desenho seu ficaria maravilhoso. Deixa eu te desenhar, você vai gostar. – Ele sorria pra mim.

– Hm... Ok!

– Vou fazer rapidinho. Só vire seu rosto nesta posição e... Pronto! Agora fique assim. – Ele dizia colocando meu rosto de lado.

Assim eu acabei passando o resto do recreio conversando e sendo desenhada pelo Sai. Não demorou muito e o sinal tocou, anunciando o fim do intervalo. Sai tirou a folha do seu caderno e me entregou.

– Aqui está.

– Obrigada, ficou muito lindo.

– De nada. Fico feliz que gostou. Bom, tenho que ir... Nos vemos por ai Hinata.

– Hai! Sayo Sai.

– Sayo Hinata.

***

Os últimos tempos passaram bem rápidos e na hora da saída, Naruto veio falar comigo.

– Yo Hinata-chan.

– Yo Naruto-kun.

– Quase não te vi hoje a não ser na sala de aula. Porque essa cara de preocupada? Está estranha desde cedo.

– Ah, estou preocupada com o Kiba... Ele não veio hoje e nem respondeu minhas mensagens.

– Não se preocupe, deve estar tudo bem com ele.

– Espero. Agora vou ter que voltar sozinha pra casa, já que ele não veio e a Tenten e Ino foram comprar materiais para um trabalho delas.

– Deixa que eu te acompanho.

– Não precisa, obrigada. Seria muita contra mão pra você e a Sakura e o Sasuke estão te esperando.

De longe via Sasuke ao lado da Sakura, balançando as mãos e chamando Naruto para ir embora. A rosada me deu um tchau discreto e retribui da mesma forma.

– Eu faço questão! E eles têm a companhia um do outro, não precisam de mim por perto. - Naruto falava comigo enquanto fazia sinal para eles irem embora.

Sasuke fez uma cara meio emburrada e parecia reclamar algo com Sakura, que deu um soco em sua cabeça e saiu arrastando ele enquanto me dava um tchau com um enorme sorriso. Retribuí lhe dando tchau e voltei a falar com Naruto.

– Vá logo! Eles já estão indo embora e voc-

Antes de terminar de falar, Naruto entrelaçou um braço ao meu e me carregava direto à estação.

***

Já no metrô, eu e Naruto nos sentamos um próximo ao outro e ficamos em silêncio por um bom tempo. Em alguns momentos nos encarávamos singelamente, mas nunca falávamos algo até que Naruto puxou assunto.

– Você tem algum compromisso agora à tarde?

– Não, por quê?

– É que tem uma cafeteria que eu adoro aqui perto em Shibuya, e queria saber se você está afim de ir lá.

– Hm, não sei... Tenho que estar em casa pra quando minha irmã chegar e-

– Onegai, vamos! – Ele pedia com suas mãos juntas uma à outra, como se fosse fazer uma oração.

– Tudo bem, mas não podemos demorar.

– Arigato’ttebayo Hina-chan! – Ele falou em alto e bom som para que todos no metrô nos encarassem e ainda por cima meu deu um abraço surpresa.

– Na-Naruto-kun! – Mal conseguia falar de tanta vergonha e o fato de Naruto estar me apertando contribuía também.

– Gomen. – Ele disse me soltando.

***

A cafeteria nada mais era do que a famosa Starbucks na Shibuya Tsutaya, um lugar que também gosto de frequentar. Ao chegar, nos acomodamos em uma mesa no segundo andar do prédio e ambos pedimos um café mocha. A vista dali era incrível, podendo ver diversas pessoas diferentes atravessando de um lado para o outro na cidade.

– Então Hinata, me fale um pouco de você. – Naruto tirou minha atenção das ruas, fazendo que voltasse meus olhos para ele.

– O que você quer saber?

– Coisas simples sabe... Seus sonhos, futuros objetivos, o que gosta de fazer, aonde mora...

– Quer RG e CPF também? Hahaha.

– Ah, você me entendeu! – Ele riu.

– Bem, sou uma garota simples e que sempre morou em Tóquio, vivo aqui em Shibuya com meu pai, Hiashi Hyuuga e minha irmã, Hanabi Hyuuga. Infelizmente minha mãe veio a falecer quando eu tinha 5 anos. Eu adoro ler, tirar fotos da cidade e do que mais me interessa. Sonhos... Hm, acho que ser independente é o meu maior sonho. Como futuros objetivos eu pretendo seguir carreira profissional de algo que eu realmente goste e que eu viaje bastante fazendo isso, talvez na área de fotografia ou designer. Acho que é isso.

– Nossa...

– O que foi?

– Sei lá, você é tão centrada nas coisas. Parece uma adulta falando e curte tão poucas coisas.

– Haha, me senti com 38 anos agora. Desculpe, eu sou péssima pra me descrever. Mas eu curto mais coisas sim! Adoro música, principalmente as de estilo dançante, sair com minhas amigas, comer doce, dançar... Coisas que qualquer adolescente da nossa idade curte fazer.

– Agora sim senti um espírito de juventude ai!

Começamos a rir como bobos até que nosso café chegou. Ele me encarava com um olhar doce enquanto tomava o primeiro gole na xícara. Apesar de ficar envergonhada quando as pessoas me encaram, eu me sentia bem confortável quando ele me olhava.

– Agora sua vez de me contar um pouco de você.

– Nya... Ok! Apesar de o pessoal achar que sou novato na cidade, estão todos muito enganados. Eu sempre morei aqui e voltei esse ano depois de passar um tempo fora do país por conta dos negócios do meu pai. Atualmente estou morando em Minato, que ironicamente é o nome do meu pai. Vivo com ele, minha mãe, Kushina Uzumaki e minha irmã, Naruko Uzumaki. Adoro andar pela cidade, sair com meus amigos... Não vivo sem música e o lámen do tio Ichiraku. Ainda não sei o que quero seguir na vida, mas espero que o que eu fizer, faça diferença no mundo.

– E por onde andou antes de voltar à cidade?

– Eu viajei para os Estados Unidos. Meu pai trabalha em uma multinacional e sempre que dá ele leva nossa família para passar um tempo fora do Japão.

– Seu pai é um homem importante.

– Ele é sim. E um cara muito esforçado. Apesar de quase não parar em casa, ele sempre consegue arrumar tempo pra nossa família e dá o máximo de atenção que pode.

– Eu te entendo perfeitamente. Meu pai é empresário e também não para em casa. Só nos vemos na hora do café da manhã e raramente à noite, quando ele não chega muito tarde para descansar.

– Isso é tão chato! Odeio ver meu pai se acabando de tanto trabalhar... Não acho justo sabe? Mas no mundo dos negócios você não pode ser deixar abater ou perde seu lugar. – Ele falava com um olhar triste.

– Exatamente.

Um clima tristonho se estendeu no ar e eu entendia bem como Naruto se sentia. Ao menos ele tinha a sorte de ter uma mãe sempre por perto. E nesse ponto eu o invejo.

– Não vamos falar de problemas familiares, mas sim da gente! – Ele abria um sorriso animado entre os lábios.

Retribui o sorriso e voltamos a conversar normalmente. Estar ali, falar com ele era tão bom. A cada gole de café era uma risada, uma troca de olhares e uma sensação boa que se preenchia dentro de mim. E o que era pra ser um café rápido quase tomou nossa tarde inteira. Conversamos tanto que nem vimos à hora passar e o dia já começava a ceder lugar ao pôr do sol. Inesperadamente meu celular tocou e vi que era o Kiba. Finalmente ele me retornou.

–Kiba do céu, o que aconteceu que você não foi ao colégio hoje e não me atendeu ou respondeu minhas mensagens?

– Gomen Hina-chan. *cof* *cof* Eu peguei uma virose e passei a manhã inteira no hospital fazendo exames, por isso não te retornei. *cof*

– Tudo bem. Mas que chato isso hein. Está repousando agora?

– Estou sim. Cheguei há pouco tempo em casa. *cof* Hina... Você está ocupada agora?

– Não, não estou. Por quê?

–Você podia passar aqui em casa rapidinho, se não for incômodo?

– Claro que sim! Quero saber como você está.

– Obrigada meu anjo. *cof*

– Estou chegando ai daqui a pouco.

– Ok, arigato.

Desliguei o celular e já comecei a arrumar minhas coisas enquanto falava com Naruto:

– Desculpa Naruto-kun, foi muito bom conversar com você, mas agora tenho que voltar pra casa e passar na casa do Kiba antes.

– Aconteceu alguma coisa?

– Não, está tudo bem. Era o Kiba no telefone me falando que passou o dia no hospital fazendo exames porque pegou uma virose e agora vou dar uma passadinha na casa dele.

– Que chato isso. Quer que eu te acompanhe até lá?

– Não precisa. Obrigada pelo café e pela tarde divertida. Sayonara Naruto-kun! – Dei um beijo em sua bochecha.

– D-De nada... Sayo Hina-chan. – Ele me respondeu corado.

Desci apressada da cafeteria e peguei um táxi ali por perto. Teria que passar muito rápido na casa do Kiba, pois já tinha passado da hora de voltar pra casa.

***

Não demorou muito e logo cheguei à casa do Kiba, já que ele morava bem perto dali.

Assim que toquei a campainha, fui recepcionada por sua irmã.

– Konbanwa* Hana-san.

– Konbanwa Hinata-chan. Entre, por favor.

– Desculpe o incômodo, vim visitar o Kiba pra ver como ele está.

– Você já é de casa Hina, nunca será um incômodo. Ele está lá em cima no quarto.

– Obrigada, com licença.

Subi as escadas em silêncio e bati levemente na porta do quarto antes de entrar.

– Hina-chan! – Ouvia a voz de Kiba vindo da cama enquanto ele se sentava e abaixava a máscara descartável que usava.

– Yo Kiba-kun!

Me sentei na ponta da cama e dei um beijo em seu rosto.

– Como está se sentindo? – Perguntei.

– Não muito bem, mas melhor do que antes.

– Que bom. Está se alimentando direito?

– Hai.

– E os medicamentos?

– Tomando todos do jeito que o doutor mandou.

– Acho bom. Não quero ver você doente nessa cama e matando aula.

– Vou ter que passar o resto da semana em casa, pra não correr o risco de infectar alguém no colégio ou acabar piorando.

– Poxa... Mas não se preocupe, eu trago os trabalhos pra você não perder a matéria durante a semana.

– Muito obrigada Hina. Não sei o que faria sem você... Ei, por que você ainda está com o uniforme do colégio há essa hora?

– Aaah, é que depois do colégio eu fui resolver umas coisas na cidade e ainda não passei em casa. – Menti na cara de pau.

Kiba como sempre, muito observador.

Passamos algum tempo conversando sobre seus exames e outras coisas nossas. Não contei que estava com o Naruto, pois vi que ele não simpatizou com o loiro e iria me encher de perguntas depois. Queria ter mais tempo pra conversar com ele, mas minha visita tinha que ser muito rápida ou me encrencaria mais tarde.

– Desculpa Kiba, mas tenho que ir embora agora.

– Ah que chato... Mas tudo bem, obrigado pela visita Hina. Você é a melhor!

– Para de ser resmungão! Amanhã voltarei aqui pra te passar a matéria, seu bobo! – Brinquei, bagunçando seus cabelos e dei um beijo em sua bochecha.

– Vou ficar esperando então. – Ele me respondeu corado.

Quando me levantei para sair, senti a mão de Kiba segurar rapidamente meu pulso.

– Hina... Espera.

O olhei um pouco constrangida. Kiba nunca tinha feito isso antes.

– O que foi?

– Fica mais um pouco... Por favor.

O olhar de Kiba estava diferente, meio manhoso... Mas não da forma de quem estaria brincando. Era mais intenso! E o jeito dele falar também mudou de repente.

– Desculpa Kiba, mas tenho que ir. – Dei outro beijo em seu rosto e ele me soltou.

– Tudo bem...

Já na porta do quarto, me virei para olha-lo uma última vez naquela noite antes de ir.

– Oyasumi Kiba-kun.

Fechei a porta antes dele me responder.

Aquilo foi realmente estranho... Por que Kiba teria agido assim, do nada?

Kiba POV

Ver a porta do quarto se fechar fez eu me sentir tão solitário como numa noite de inverno. Virei-me para a janela ao lado da minha cama, olhando a rua e vendo a garota que mais amo partir. Estou preso a esses sentimentos há tanto tempo e nunca tive coragem de dizer o que realmente sinto a ela. Quando ela está aqui, perto de mim... Tudo melhora. Eu me sinto mais alegre e cheio de vida! Seu sorriso me deixa encantado, seus cabelos, seu cheiro... Tudo nessa menina me fascina. Mas eu sou um completo idiota que nunca tive iniciativa pra tentar conquista-la além da amizade.

Voltei meu olhar para a cidade não muito distante, imaginado se ela está pensando em mim agora como eu penso nela.

E assim minha noite solitária se arrasta enquanto penso em como queria ter ela ao meu lado agora.

– Oyasumi... Hina-chan.