Sem título. escrita por MAguirre


Capítulo 5
Caos.




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Eu menti. Me desculpe. Menti quando disse que o tempo congelaria e que ela poderia voltar para aquela escola desbotada que ninguém acharia estranho. A verdade é que tudo aconteceu como deveria acontecer quando uma aluna desaparece: caos. Vocês, humanos, que gostam de caos, vou-lhes mostrar uma pequena parte do que aconteceu:

- [...]22? - Era o professor de história fazendo a chamada, o número 22 era o dela. - 22? 

- Cadê ela? - Uma aluna perguntou.

- É verdade, cadê ela? 

  A menina de olhos amendoados começou a rodear a cabeça pela sala. 

- Que foi? - Era o menino de olhos castanhos, perdido. 

- Você viu ela? - Perguntou a menina de olhos amendoados. O menino olhou ao redor da sala, onde todos já perguntavam por ela, alguns já desciam as escadas, indo até a diretoria. Por alguma razão o menino e a menina se levantaram. Em poucos segundos, a diretora, a coordenadora, a monitora e dois professores estavam na sala.

- Gente, cadê ela? - Eu percebo muito as coisas. Havia muita aflição na voz dela. A saliva não era mais saliva: era pura aflição e desespero. - Liga pra mãe dela, agora! - Ordenou a diretora. Os alunos estavam assustados. Alguns já faziam conspirações do que havia acontecido, desde sequestros, passando por suicídio até magia e macumba. Ah, esses humanos. Inventam teorias conspiratórias sobre coisas inexistentes mas não conseguem enxergar o óbvio, o que está na frente deles, bem na palma da mão. E é isso que os caracteriza. Mas alguém, sentiu algo. A menina de olhos amendoados estava receosa. Ela supostamente soube o que aconteceu. O menino de olhos castanhos, nem tanto. O menino legal que tocava violão estava um pouco mais desesperado, mas não tanto quanto a menina que lia "Meu pé de Laranja Lima", que já chorava. Mas eu poderia dizer que a respiração do menino de olhos castanhos estava um pouco acelerada. Algumas outras choravam. 

 Depois de umas poucas horas, o caos estava instalado. Havia uma mistura de polícia, gritos, desespero e culpa. Será que ela ficaria contente se visse que as pessoas se importavam com ela daquela forma? Ou será que tentaria voltar? Não sei, por isso não contei. O que os outros estavam sentindo acontecer era a camada humana de ignorância, que os cegava quase sempre, desde assuntos políticos até catástrofes maiores. Alguns escapavam dessa camada e tentavam dizer ao mundo para se livrar daquela coisa viscosa e pegajosa que era a ignorância, como se ela fosse uma placenta que protegia-os da realidade assim como protege um bebê do mundo exterior. 

 Mas, como ela me disse no começo: as vezes é melhor não sabermos das coisas.


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