- Que lua linda. - Ela falou.

- Aquele pontinho do lado dela é Vênus, sabia? - Perguntei afirmando.

- Sabia. - Ela respondeu secamente.

- Mas que merda, não tenha nada que você não saiba?

- Tem sim, muitas coisas que eu não sei. - Ela respondeu, fitando a lua. - Muitas coisas. E as vezes eu me fico perguntando se seria melhor se eu soubesse ou se seria melhor eu ficar na ignorância, mesmo.

   Ela ficou lá, fitando aquela lua minguante com Vênus na ponta. Eu a dei um presente. Um pingente com aquela imagem. Ela agradeceu, com um sorrisinho. EU percebi uma leve felicidade, que logo foi desaparecendo. Ela sibilou algo, e ficou olhando mais ainda para a lua, imaginando como estariam seus amigos... Como estaria o menino de olhos castanhos caídos agora. 

 A menina de olhos amendoados também gostaria de saber, se bem que, como ela estava pensando, a menina que se denominava perfeita, o menino de olhos castanhos caídos e o menino com dislexia estavam pouco se importando para a lua e para Vênus. Eles tinham uma vida igual a um jogo de labirinto, do qual eles nunca conseguiam achar a saída. Era tudo muito, muito confuso. Então, apareceram computadores, os jogos e apenas aquilo foi necessário para eles bloquearem todos aqueles problemas e aquela inutilidade de algumas coisas existirem. Mas eles estavam olhando para a lua sim, e, por mais que dissessem que não estavam o fazendo, eles estavam. Eles ainda conseguiam sentir uma leve lufada de vida dentro daquele labirinto, daquele jogo de ligar pontos que nunca assumia uma forma. E aí eles voltaram para aquele mundo. Alguns leem, alguns escrevem, uns fumam, outros bebem, outros matam, outros cantam, outros tocam... Eles jogavam. Todos vocês tem essa saída de emergência, essa coisa que os salva, que os tira...

... essa anestesia. Mas quando passa o efeito, vem a dor. E aí, pro inferno com labirintos e jogos.