No capítulo anterior...

“– Então... – eu perguntei – o que fazemos agora?”

POV. Thalia

– A gente pode comer, vim sem almoçar de casa! – disse Grazi já se levantando

– Tudo bem, vamos pra cozinha então. Ah, antes você pode pegar minhas muletas no quarto, por favor? – pedi a ela que assentiu e subiu correndo. Voltei-me a Sullivan – Tá com fome?

– Não muito... Você está bem mesmo? – ele perguntou acariciando minhas bochechas

– Sim, minha perna ainda dói e coça um pouco, mas eu to bem! Então, vocês vão pra Londres quando? – perguntei deitando a cabeça em seu ombro e ele continuou fazendo carinho em mim, mas agora afagava meus cabelos.

– Hm... Depois de amanha vamos pra Recife fazer um show por lá e depois: Home sweet home! Ahhh, já posso sentir o ar frio e o cheiro de ferrugem da velha Londres... Mas por outro lado não vou ver você, nem poer ver se você está bem ou ficar abraçado a você! – ele disse mudando totalmente o tom de voz para tristeza.

– É isso é ruim, psicodelicamente ruim!

– O que? – ele disse virando pra mim e rindo

– Psicodelicamente! Não sei bem o que significa, mas é legal de falar. Vai, tenta: p-s-i-c-o...

– Menina, você está bem? O tombo atingiu a cabeça foi? – eu ri, mas ele levou bem a sério e ficou realmente procurando machucados em mim.

– Para, eu to bem! – eu disse rindo – Cadê a Grazi com as minhas pernas provisórias?

– Tá aqui! – ela gritou do topo da escada. – Quem falava essas palavras estranhas mesmo?

– Era a Nick... Sinto saudades dela. – disse melancólica

– Eu também... – concordou Grazi

– Eu principalmente, gente! – gritou Henrique lá da cozinha e a gente riu – Que foi, é serio!

– Quem é Nick? – perguntou Sullivan tentando entender tudo isso

– Nick era uma das nossas melhores amigas e foi ela quem apresentou Grazi a mim. Ela era muito legal, divertida e principalmente doida por falar essas palavras engraçadas tipo psicodelicamente, que na verdade são alucinações que algumas drogas provocam. – eles fizeram caretas e riram

– E o que aconteceu com ela?

– Ela tinha um namorado que sempre andava junto com ela. Um dia ele terminou com ela de um jeito bem... Peculiar e ela ficou bem depressiva. Dai, depois de um tempo os pais dela tiveram que se mudar pra Alemanha por causa do trabalho e essas coisas e ela teve que ir junto. Desde então a gente não tem noticias dela.

– É, aquela sem vergonha nem devolveu meu tênis! – disse Grazi

– Ah... E vocês sabem se ela ainda está na Alemanha? – ele perguntou bem interessado no assunto. Aiai, garoto...

– Por que quer saber?

– Sei lá, curiosidade. – ele disse abaixando a cabeça e sibilar um “ciumenta”.

– E eu não sou ciumenta! – falei me levantando e me dirigindo para a cozinha com ajuda de Grazi

Fomos até lá e nos sentamos para esperar minha mãe terminar de arrumar o almoço.

– Mãe, a Grazi e o Sullivan podem almoçar aqui? – perguntei me sentando.

– Claro! Sullivan come strogonoff?

– Acho que sim, não me lembro se já comi, mas me parece bom.

– São basicamente pedacinhos de frango com creme de leite, mostarda e katchup. Daí mistura tudo e come! – eu expliquei bem resumido o fazendo rir. Minha mãe colocou os pratos na mesa e cada um foi pegando a sua porção e seu copo.

– Por que ninguém pergunta “Grazi, você come strogonoff?” – Grazi disse colocando a comida no prato.

– Porque a gente já sabe que você come praticamente tudo o que derem pra você comer! – eu disse

– Exceto...

– Exceto salada de beterraba, ou agrião, ou champignon (cogumelos) em algum tipo de molho. – completei pesarosamente.

– Ai, como sou querida nessa casa! – ela me abraçou de lado, causando risinhos de todos, e logo voltou a se concentrar em sua comida.

Grazi era uma das pessoas mais importantes da minha vida, porque ela sempre me trazia alegria. Como uma irmã deve ser. Minha mãe gostava muito dela, assim como meu pai e meu irmão. Os pais da Grazi viajam muito, tanto a trabalho como à lazer e normalmente não tem tempo pra ficar com ela, por isso a confiaram aos tios e avos que moram no mesmo prédio que ela. De vez em nunca eles aparecem pra vê-la, sempre nas datas comemorativas: Natal, Ano Novo, Dia dos Pais ou Dia das Mães, só que ela sente bastante falta deles na maioria dos meses e por isso ela vive aqui em casa sabendo que nós estamos aqui para o que ela precisar.

Enfim, tomo mundo comeu tudo como adultos e eu fui dispensada da função de lavar a louça por estar com o tornozelo quebrado. Sullivan foi comigo até a sala me fazer companhia.

– Gostou da comida? – perguntei a ele enquanto me acomodava no sofá.

– Sim, estava deliciosa! – ele disse sentando-se ao meu lado

– Quer assistir? – perguntei

– Não, obrigada.

– Quer mexer no computador?

– Não, obrigada!

– Ah, qual é amor? Você ainda tá com vergonha? Não precisa ter medo, aqui todo mundo é de Deus, ninguém vai te matar nem nada! – terminei de falar dando um beijo em sua bochecha

– Sei lá, você está com o tornozelo machucado e eu não posso fazer nada, me sinto impotente sabe? – ele disse choramingando.

– É por isso? Menino, quantas vezes vou ter que repetir que estou bem? Eu só preciso que você fique aqui, que me faça companhia e que queira fazer alguma coisa legal, porque eu não posso nem me mexer direito! – eu disse o encarando.

– Você já está aqui comigo, o que pode ser mais legal que isso?

– Sim, estou com meu namorado, mas ele não quer fazer nada!

– Pode repetir isso? – o olhei confusa

– Repetir o que?

– Isso, “meu namorado”... É tão fofinho! – ai meu Deus, eu não acredito!

– Hahaha, repito quantas vezes precisar: meu namorado, meu namorado, meu namorado, meu namorado, meu namorado e SÓ MEU! – ele me beijou no meio da sala, cadê aquela vergonha hein?

– Okay, agora vamos fazer o que você quiser! – ele disse me soltando e levantando os braços animado, mas logo abaixou-os e tomou uma expressão confusa. – Mas espera, o que você quer fazer?

Eu ri. – Hm, podemos visitar o Twitter um pouco né? Saber como vai a sua vida, suas fãs...

– Quer contar a elas? – ele perguntou desafiando.

– Queria, mas você pode?

– Recebi autorização pra isso. Quando você foi me ver no camarim no dia em que começamos a namorar, fui falar com Robert e ele me disse que estava bem feliz por isso ter acontecido. Disse-me que ia falar com os produtores da banda para ver o que eles achavam e me daria a resposta logo. Então, ontem nós conversamos e ele me autorizou a contar pra elas, só me pediu cuidado e pediu pra te avisar que não vai ser fácil, porque elas costumam ser bem explosivas, mas que vai dar tudo certo. Eu também estou aqui okay? – prestei atenção em todos os detalhes, sabia que não ia ser fácil, mas estava confiante e ansiosa por isso.

– Claro, meu amor, estou confiante que vai dar tudo certo. Esqueceu que eu sou uma colder?

– Claro que não! A mais linda de todas! – e me abraçou de leve.

– E ai, quer ir lá pegar o notebook? – perguntei e ele assentiu. – Certo, suba lá no meu quarto e pegue em cima da escrivaninha.

– Quer ir comigo? – ele perguntou

– Como? Meu tornozelo está quebrado, menino!

– Eu sei, mas vai ser bem legal! – ele disse rindo e me pegando repentinamente no colo em direção às escadas. Chegamos lá em cima, pegamos o notebook o carregador e descemos. Sentamos no sofá de volta e eu liguei o computador. A tela inicial era uma foto de todos os garotos da banda e eu e Grazi nas pontas surtando, aquela do primeiro show (no qual eu desmaiei e meu atual namorado foi me buscar)

– Ownt, que bonitinha essa foto, meu Deus! – Sullivan disse apertando minhas bochechas e me fazendo sorrir mais.

– Sim, eu sei, sou demais! Ah, me lembrei, você vai contar pra sua família primeiro, antes de contarmos publicamente?

– Eu já falei com eles.

– O QUÊ? – agora eu gritei

– Falei com a minha mãe ontem de manha. Disse pra ela que estava namorando com a garota mais perfeita do universo.

– E o que ela respondeu? – sim, eu estava assustada.

– Perguntou se eu estava virando gay. – eu ri, muito. – Mas depois ela disse que era brincadeira e disse que quer te conhecer e ia contar pra família inteira. Disse que você parece ser legal, seu nome é bonito e que você é realmente linda.

– Espera, como ela me viu? Espera de novo, você mostrou uma foto minha pra sua mãe? – perguntei perplexa, mas genteney!

–Claro que sim, acha que ia ficar por isso mesmo? – ele perguntou arregalando os olhos.

– Não sei, sei lá... Mas então o que mais ela disse?

– Que é pra eu tomar cuidado e avisar as minhas fãs primeiro, porque ela não aguenta mais elas gritando na porta de casa ou ligando para o telefone dela. – ele disse gesticulando muito as mãos em explicação.

– Ah, hm, ok então... Quer entrar primeiro? – perguntei lhe estendendo o notebook aberto na pagina do Twitter.

– Certo, vamos lá... – ele colocou o user e a senha e entrou. A caixinha de atualizações estava abarrotada de mensagens e posts e tudo mais que marcavam e mandavam pra ele. Vimos algumas delas e logo depois fomos para a caixa de mensagens.

– Certo, olhe só, vou te ensinar a como responder uma fã do jeito correto. Você precisa ser fofo, atencioso e mostrar que se preocupa realmente com elas, mesmo nem sabendo quem seja. – ele assentiu e eu voltei a falar. – Escolhe alguém primeiro. – ele foi olhando pessoa por pessoa até parar em uma garota que tinha uma foto com o decote maior que ela. – SULLIVAN! – ele riu de mim e desceu a pagina parando, dessa vez, em uma garotinha japonesa que sustentava um sorriso muito fofo no rosto.

– Pronto, agora o que eu faço, professora?

– Hahaha engraçadinho – revirei os olhos – agora leia a mensagem e responda como eu te ensinei: fofo e mostrando que ela é importante pra você.

– Ok. “Querido Sullivan, isso mais parece uma carta né? Não sei bem como começar a dizer isso, mas vou tentar fazer o melhor possível. Bem, talvez não vá se lembrar de mim agora, tiramos foto juntos no primeiro show de vocês em NY e você me abraçou e autografou minha camiseta. Quero lhe contar que estou curada e vocês foram muito importantes pra mim. Obrigada por tudo, vocês são os caras mais legais que já conheci, eu amo vocês! Beijos com amor, Kay.” – ele terminou de ler e secou uma lagrima que escorria pelo rosto.

– Você está chorando? – perguntei passando as costas da mão na bochecha dele.

– Sim, quer dizer, não, quer dizer... Ah, maldito suor hétero! – eu ri

– Own, o que aconteceu, meu amor? – perguntei sorrindo

– É que essa garota foi a que me deu flores no nosso show em NY e disse que uma das nossas musicas tinha ajudado ela a passar pelo tratamento de câncer que ela tinha. Daí ela estava fazendo quimioterapia e nos contava tudo por mensagem, mas eu nunca respondia por falta de tempo. Agora ela vem me dizer isso e me faz chorar de novo! – ele terminou com a voz embargada e escorreu uma lagrima no seu rosto e mais outra e mais outra, mas essa ultima foi minha. – Tá, vamos responder ok?

– Certo, comece dizendo o quão feliz você está em falar com ela e saber dessa noticia, diga que você chorou também *heuheue* e se desculpe por não responder as mensagens antigas por falta de tempo. Depois diga que a ama e que quer um dia poder vê-la mais uma vez! – e assim fomos respondendo pelo menos 1/4 das mensagens histéricas. Quando cansamos, decidimos contar a novidade.

– E ai, preparada? – ele me perguntou sorrindo

– É, mais ou menos, mais ou menos... – rimos

– Mas o que eu escrevo? – ele perguntou confuso

– Hm... Diga que eu sou demais e que sou a pessoa mais linda do universo! – respondi levantando as mãos e me abanando

– Ahahaha, elas vão é nos matar amor! Serio, posso postar uma foto no Instagram?

– Pode, contanto que elas não façam voodoo de mim, tudo bem! – ele riu e assentiu. Pegou o celular, escolheu uma foto nossa em que estávamos fazendo umas caretas bizarras e colocou na legenda: “You always will be my summer love! ♥ I love you @ThaliaDAC”

Fala sério, da pra chorar não da? Logo que ele postou, muitas e muitas garotas comentaram e curtiram e fizeram tudo o que tinha direito, ou seja, vários positivos e apoios e milhares negativos.

– Quer ler os comentários? – assenti e ele leu em voz alta: - “Hey Sulli, estou feliz por você e pela Thalia, amo vocês!” fofinha, não? – assenti sorrindo e ele leu o próximo: - “Como assim? Sullivan Thewer, eu te mato se isso for verdade! Você é meu e só meu!”- genteney, alguém segura essa garota?

– Ai meu Deus, elas me odeiam! Olha isso! – mostrei a ele outro comentário negativo e ele tirou de lá.

– Calma, elas não te odeiam! – ele disse segurando meu rosto com uma das mãos e acariciando minha bochecha. – É só questão de tempo pra elas verem que você não é má e que eu te amo muito! Aliás, isso o mundo inteiro sabe! – ele disse sorrindo e me beijou

– Obrigada, eu acho...

– Vai ficar mal? – ele me perguntou com uma carinha de cachorro que caiu da mudança e eu não aguentei e neguei com a cabeça. – Tem certeza?

– Sim, eu sei que é só questão de tempo. Por quê? Iria fazer o que se eu ficasse mal? – perguntei com uma cara de travessa

– Isso! – ele me derrubou no sofá, ignorado completamente minha perna enfaixada e começou a me fazer cocegas. Riamos como doidos na sala, eu tentava dizer pra ele parar, mas sempre era interrompida por mais cócegas.

– Pa-pa-para, Sulli-va-a-a-n! – ele continuou por uns segundos e depois parou completamente.

– Ainda está mal? – ele perguntou se recuperando

– Não mais! – comecei a rir novamente, mas logo me recuperei.

– Que tal nós tomarmos sorvete então? – ele me perguntou sorrindo

– Acho perfeito! – respondi e nós saímos em direção à cozinha.