Revenge II escrita por Shiroyuki, teffy-chan


Capítulo 41
Capítulo XLI




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Sentado na varanda do quarto que dividia com Miguel, Shunsuke apreciava a paisagem bem cuidada da recatada pousada. Como passou os últimos anos vivendo nos Estados Unidos, e quando era criança, sua mãe não tinha dinheiro suficiente para viagens desse tipo, ele nunca havia ido a nenhum lugar como esse na vida. As árvores espalhadas ao redor do lago de águas límpidas, que agora estava meio congelado em decorrência do inverno, estavam todas cobertas por uma fina camada de neve, e esse mundo branco e tranquilo faziam com que o garoto se esquecesse espontaneamente do seu lado Matthew para se concentrar somente em ser Shunsuke, ao menos nos dias que se seguiam.

Ele conseguiu uma breve folga dos deveres como Caçador de Batsu-tamas, com a desculpa de que iria apenas vigiar os passos dos guardiões para qualquer eventual avanço deles, embora fosse evidente que eles só queriam aproveitar o feriado de final de ano em paz. Dessa forma, Shunsuke ainda poderia aproveitar alguns dias com Miguel, em um lugar onde Kaori não poderia alcançá-lo, e ele se sentia completamente livre agora. Estava sempre tão afundado em mentiras, histórias, atuações… que ter a chance de demonstrar seu sentimento por Miguel livremente, talvez fosse a única coisa sincera na sua vida, era um grande alívio.

Miguel se aproximou lentamente, e sentou ao lado de Shunsuke na varanda. Estava usando o yukata azul-marinho com listras verticais do hotel, e mesmo que ele fosse estrangeiro, aquele tipo de roupa lhe caia bem. Shunsuke sorriu ao notar o leve rubor nas faces do namorado, e sabia que ele esperava por alguma avaliação da sua parte sobre a roupa.

— Você está tentando me seduzir? – ele se inclinou na direção de Miguel e soprou no seu ouvido, fazendo-o estremecer dos pés à cabeça. Era uma sorte que Grace tivesse ido explorar a pousada com os outros charas, ou teria sido um desastre se seu chara change se ativasse por ficar tão próximo assim de Shunsuke. - Por que se for isso, bom trabalho…

— C-claro que não é isso, Shunsuke! A Yaya e as outras meninas me disseram que esta é a roupa que se usa neste tipo de hotel. Tu deverias colocar uma também… - Miguel respondeu nervosamente, juntando as mãos no colo. Shunsuke sorriu, e segurou uma delas entre a sua.

— Você está lindo… você é lindo! De verdade… - Shunsuke beijou a bochecha vermelha de Miguel, com carinho – Eu tenho muita sorte em ter conhecido você. Acho que não mereço tanto assim…

— Não fale assim, sou eu que tenho sorte por te ter! – Miguel exclamou, espantado – Se eu não tivesse me apaixonado por ti… provavelmente ainda estaria a correr atrás de uma pessoa que não se importa comigo… e não seria tão feliz quanto estou agora…

— Mesmo? Eu faço você feliz? – Shunsuke parecia genuinamente surpreso com aquela constatação. Miguel sorriu ternamente, e ergueu a mão livre para acariciar o rosto dele com cuidado.

— Mais do que podes imaginar… - Miguel suspirou, e então, aninhou-se ao braço de Shunsuke, deitando sua cabeça no ombro dele. Nessas horas, ficava satisfeito por ser pequeno, pois podia se encaixar perfeitamente nele dessa forma.

— Nós somos dois sortudos então… e pensar que até conseguimos ficar no mesmo quarto!

— Ah, esta sorte tem nome, e se chama Yaya. Juro que não sei como a rapariga faz, mas ela consegue trapacear neste tipo de jogo como ninguém! É um dom! – Shunsuke riu, mas Miguel continuava sério – Mas parece que desta vez o truque dela não deu tão certo assim, pois ela acabou fazendo a Stéffanie cair no mesmo quarto do Giovanni, e eu não acho que tenha sido de propósito.

— Só resta saber se a espanhola não vai traumatizar o garoto para sempre… olha, já imaginou se ela resolve descontar todo aquele stress no pobre italiano? Ele é tão sensível, não aguentaria se ela acabasse gritando com ele da mesma forma que faz com o Nagihiko…

Miguel fitou Shunsuke intrigado. Não se lembrava dele passar tanto tempo assim com seus amigos para ter gravado até mesmo a maneira como eles se comportavam.

— Como sabes de tudo isso?

— Ahn? Eu… - só então Shunsuke percebeu que havia deixado escapar informações demais, e isso soaria suspeito, mas ele não demonstrou perturbação – Você me contou! Não lembra…?

— Não me lembro de ter falado sobre isto…

— Deve ser por que depois disso… eu toquei em você… aqui… - ele deslizou o dedo pelo pescoço de Miguel – E aqui… - ele desceu até a cintura – E também…

— Está certo, eu compreendi! – Miguel interrompeu antes que fosse longe demais. – Mas eu estava pensando, será que já não está na hora de… tu sabes, algum deles avançarem em algum sentido?

— De quem você está falando, Miguel-kun?

— Stéffanie e Nagihiko. E Anna e Tadase, também. Desde que nós viemos para o Japão que eles enrolam, enrolam… e está mais do que óbvio o que está acontecendo entre eles, mas ou eles são teimosos demais para admitir, ou são lentos demais para perceber, e algumas vezes isso me deixa frustrado! Eu só queria que houvesse alguma maneira de ajudar eles de alguma forma…

Miguel estava tão feliz com Shunsuke e com seu namoro que sentia uma espécie de obrigação moral com o universo de espalhar essa felicidade entre todos. Tudo o que queria era que suas amigas pudessem experimentar aquela mesma alegria que ele sentia todos os dias.

— Hm, então você gosta de bancar o cupido, é? – Shunsuke bagunçou o cabeço de Miguel, e então o abraçou. Pensou rapidamente o que afetaria nos seus planos caso alguns dos guardiões formassem casais de verdade. A hipótese mais plausível seria a de que eles ficariam tão distraídos uns com os outros que baixariam a guarda, e nesse caso, a vantagem seria dele. Talvez fosse mesmo uma boa ideia ajudar. Ou talvez ele apenas não soubesse como negar qualquer coisa para Miguel – Eu posso te ajudar, se quiser…

— Mesmo? – Miguel ergueu o rosto, animado, e naquele momento seus olhos se encontraram, e o português esqueceu tudo sobre Anna, Stéffanie ou quem mais fosse, pois só tinha em mente o fato de que Shunsuke estava novamente perto demais.

Shunsuke se aproximou, e seus lábios se roçaram levemente, mas antes que ele pudesse aprofundar de fato o beijo, a porta do quarto se abriu em um rompante, e os dois se afastaram por reflexo.

— Ah, os dois estão aqui! Eu sabia! – Kukai apareceu pela porta, e usava um yukata igual ao de Miguel, mas verde escuro e com estampa de bambus. Atrás dele vinham Kairi, Tadase e Giovanni, os três bastante constrangidos por terem invadido o quarto dos dois tão repentinamente, e também Nagihiko, que sorria tranquilamente com a situação. – Nós estamos indo tomar o primeiro banho! Viemos ver se vocês não querem ir também.

— Ah, nós adoraríamos… não é? – Shunsuke fitou Miguel, animado com a ideia, e ele assentiu.

Dessa forma, o grupo de garotos seguiu em direção às piscinas naturais externas do hotel. Logo que passaram em frente ao lado feminino dos vestiários, ouviram as vozes exaltadas das garotas que já estavam lá, falando alto, todas ao mesmo tempo. Podiam notar a voz alta de Stéffanie falando em espanhol, e dava para saber que ela estava gritando com Yaya por algum motivo, embora não entendessem nada. Ainda ouviam Anna dizendo alguma coisa, e Rima respondendo, e Amu falando para Stéffanie não quebrar nada do hotel, ou teriam que pagar.

— Hm… sabe, se o Ikuto estivesse aqui, ele com certeza iria sugerir que nós espiássemos o lado das meninas… - Kukai arriscou, cautelosamente – Ele está agora tão longe, se esforçando… não seria justo o bastante se nós honrássemos a memória dele, fazendo o que ele desejaria que nós fizéssemos?

— Souma-kun, ele não morreu ainda! – Tadase interviu, aflito com o rumo daqueles pensamentos. Kukai era um perigo, influenciável demais para a sua própria segurança, e passava tempo demais com Ikuto, sem falar na interferência dos irmãos mais velhos dele – E isso é completamente, completamente errado, não há maneira de eu concordar com essa ideia, em hipótese alguma!

Kukai suspirou, sem ânimo para insistir agora, mas sem deixar a ideia completamente de lado, embora. Tinha esperança de conseguir aliados na sua empreitada rumo aos lineares épicos da juventude idealizada, e ninguém tiraria dele essa motivação.

— Ah, Tadase, você é tão chato, às vezes. Ok, vamos apenas aproveitar a onsen e depois nós resolvemos isso! – ele seguiu andando antes que Tadase pudesse se opor mais uma vez.

Enquanto os garotos iam se organizando para entrar no banho, do outro lado, as garotas ainda estavam agitadas, sem nem mesmo desconfiar que fossem alvos de um severo dilema há alguns poucos metros dali.

— Oh, but we have (mas nós temos) mesmo que entrar na água sem swimsuit (roupa de banho)? – Anna estava espantada com aquilo. Tudo bem que ela já havia visto cenas similares em mangás e animes, mas sempre pensou que fosse somente uma licença poética do autor para criar situações constrangedoras para os personagens… e não que deveria mesmo seguir isso como uma regra – I d-don’t want to….

Yo también me opongo (Eu também me oponho!) – Stéffanie afirmou com convicção. Mesmo que fossem todas garotas ali, ela não se sentia confortável com esse tipo de situação. Sem falar que alguma delas poderia ser um garoto disfarçado! Depois de Nagihiko, era melhor duvidar de tudo e todos, como garantia.

— Mas é o costume! Se vocês estão no Japão, então tem que fazer como os japoneses fazem! – Yaya bradou, apenas para colocar mais lenha na fogueira.

— Vocês podem se enrolar em toalhas, se se sentirem melhor assim… - Amu tentou atenuar a situação. Estavam ali para se divertir e aliviar as tensões de todos os problemas que vinham tendo. Discutir sobre quem deveria estar pelado ou não, não era o que ela tinha em mente para esse feriado prolongado.

— Mas isso é um desperdício! Como a Utau-chii não está aqui, a Onee-chan é a mais bem dotada de todas nós, se ela se esconder, não vai ter nada para os garotos espiarem‼

E-espionaje? (E-espiar?) Como assim?? Usted está tomando el pelo (Você está brincando), não é Yaya?? Eu mato qualquer um que ousar aparecer aqui, mato sin pensarlo dos veces (eu mato, sem pensar duas vezes!) – ela berrou, segurando Yaya pelo colarinho da blusa que ela ainda usava, apesar de já ter tirado a saia. Anna assustou-se com o repentino rompante de raiva da espanhola, e recuou um passo para trás de Rima, hesitante. Já não estava mais tão segura sobre as termas serem divertidas, agora.

— Calma, Stéffanie-chan! Ninguém vai espiar, tem uma cerca enorme separando os dois lados, não tem como os meninos olharem! – Amu correu para tentar abrandar o descontrole da garota, embora ela ainda estivesse evidentemente tensa – Vamos apenas relaxar e tomar um banho quente, está bem?

Stéffanie por fim acabou acatando a sugestão de Amu, e a vida de Yaya foi poupada, por hora. Enquanto as três guardiãs se preparavam para o banho, e se despiam, as duas estrangeiras optaram por se enrolar em toalhas, e então, todas elas se dirigiram para a piscina natural de água quente do lado de fora. Anna teve que tirar os óculos, e somando a sua já baixa visão com todo aquele vapor da água quente, ela estava praticamente cega, mas conseguia se localizar razoavelmente bem pelas sombras e borrões que conseguia ver.

A paisagem, que a inglesa pouco podia ver, era estonteante, tão calma e relaxante quanto deveria ser. Só de olhar para os jardins ornamentados e perfeitamente alinhados, Stéffanie se sentiu acalmar um pouco. Talvez ela tivesse exagerado um pouco antes com Yaya, era verdade, mas ultimamente, andava com os nervos muito à flor da pele, e Yaya a tirava do sério. Era bom que ela tomasse um susto de vez em quando, para aprender a ficar na linha.

— Vocês não podem entrar na água ainda – Rima avisou repentinamente, quando Anna e Stéffanie caminhavam naquela direção – Precisam tomar um banho antes.

We need (Nós precisamos) tomar um banho… para tomar banho? That’s right? (É isso mesmo)? – Anna repetiu, incrédula.

— Exatamente. – Amu respondeu, naturalmente, como se fosse algo completamente normal.

— Se você quiser, Onee-chan, a Yaya pode chamar a Naddy para lavar suas costas… - Yaya riu da própria piada, mas o olhar que Stéffanie lançou a ela naquele momento era tão mortífero e ameaçador que ela engoliu em seco, e não pronunciou mais nada. Era perigoso arriscar em um lugar onde a espanhola podia afogá-la facilmente sem deixar vestígios.

Bueno, parece que no tenemos otra opción (Bom, parece que não temos outra escolha). – Stéffanie sentou-se no banquinho ao lado de Amu, e Anna fez o mesmo do outro lado. Elas fizeram como a Coringa mostrou, e lavaram os cabelos e o corpo, cuidadosamente. Yaya, que foi a primeira a terminar a limpeza, saiu correndo, pulando na água e jogando para todo lado. Assim que elas terminaram, se dirigiram para a fonte, imergindo na água quente e perfumada, e deixando de lado todas as preocupações. Stéffanie sentia até mesmo seus músculos tensos se relaxando lentamente, e suspirou, satisfeita.

This is absolutely fabulous! (Isso é totalmente fantástico!) Eu queria ter uma hot spring (fonte termal) só para mim… - Anna murmurou, fechando os olhos e deitando a cabeça em uma toalhinha dobrada para trás.

— Ora, você não é uma princesa rica e não sei mais o quê? Apenas mande construir uma no seu castelo! – Rima sugeriu.

As if I could ...! (como se eu pudesse…). Não é assim tão simples… e, well, seria muito selfishness (egoísta) da minha parte pedir por algo dessa maneira. – ela respondeu – Not to mention that (sem mencionar que), se eu tivesse mesmo uma hot spring e pudesse usá-la todos os dias, ela deixaria de ser tão special, right?

— Você está certa, mas… Anna… hm… nós estamos aqui… - Amu acenou. Aquele tempo todo, Anna esteve falando com uma pedra.

Oh, I suppose… (é mesmo), sorry. – ela corou furiosamente, e escondeu parte do rosto na água quente, sem falar mais nada.

— Então… - Yaya, que até aquele momento não parou quieta de um lado para o outro na água, finalmente se aproximou. Stéffanie se posicionou defensivamente. Quando Yaya chegava com aquele tom de voz calculado, era óbvio que tinha alguma coisa em mente, e não seria bom para ninguém – Vocês garotas já decidiram como vão agir?

— Do que você está falando, Yaya?

— Ara, não é mais do que óbvio? Estamos em uma viagem escolar! É a hora das coisas acontecerem! E nós temos muitas, muuuitas coisas para acontecer aqui! – ela se empolgou excessivamente, e jogou água em todo mundo. – Você, Amu-chii, tem que se decidir logo de uma vez! Ikuto ou Kairi? Em quem você vai investir?

— Ahn? – Amu quase se ergueu de pé com o choque, mas ao lembrar que não estava exatamente no mais digno dos trajes (ou melhor, sem traje algum), limitou-se a arquejar em completa e total surpresa – E-eu não faço ideia do que está falando, Y-yaya!

— Ah, faz sim! – ela insistiu na maior cara de pau – E ainda por cima, é tão gulosa que não consegue decidir!

— E-eu não sou… gulosa! – Amu replicou, indignada.

— Sinto dizer, Amu, mas você é sim… - Rima afirmou categoricamente. - Você é muito indecisa! Tão indecisa, mas tão indecisa, que quatro shugo-charas nasceram de você…

— E agora, fica enrolando os dois garotos inocentes… tá, um deles não tão inocente assim… e não consegue se decidir entre eles!

Oh my god, is a love triagle! Is not it exciting? (Minha nossa, é um triângulo amoroso! Não é emocionante?) – Anna sussurrou para Stéffanie, tomando o cuidado de olhar para o que ela julgava ser a espanhola, mas na sua visão, era apenas uma nuvem de cabelos azulados.

— Desenvolvimento clássico de uma comédia romântica, sim, sim – Stéffanie assentiu, com ares de especialista.

— Eu não estou enrolando ninguém! – Amu respondeu, embora não parecesse tão convincente. Não quando era de conhecimento geral que ela possuía uma chara cujo lema era “uma mulher precisa ter muitos alvos”.

— Mesmo? Então escolha um deles. Só um. Agora! – Yaya desafiou. Amu engasgou, e pareceu pensar seriamente na questão pelo que pareceram longos minutos. Finalmente, sentou para trás e se afundou na água.

— E-eu não consigo decidir… - ela murmurou, dando-se por vencida – É muito repentino! Não posso escolher algo assim tão de repente. Sem falar que isso não faz sentido algum!

— Tudo bem, você só provou que é uma indecisa até o âmago da sua alma, como todos nós suspeitávamos – Rima disse, convicta, e Yaya riu alto, muito embora não soubesse o que era um “âmago”.

— Como se você fosse alguém para falar, Rima-chan! – Amu bradou. Se era para passar vergonha, então arrastaria quem pudesse para o mesmo destino. Nesse mundo, era cada um por si – Por que não nos conta o que você acha do Giovanni-kun, hein?

Rima a encarou impassível, mas qualquer um poderia ver o rosto dela colorindo-se rapidamente, e não era por conta da água quente.

— E-eu não acho nada…por que não há nada para achar!

— Ah, mas vocês ficaram bem próximos desde que ele chegou, não é? – Yaya lançou seu olhar malicioso na direção de outro alvo, e Amu respirou aliviada por ter sido deixada de lado – Ele está caidinho por você, qualquer um pode ver…

— Você acha? – Rima soou levemente animada, mas ao ver o sorriso sádico de Yaya pronta para jogar o pequeno deslize na sua cara, ela tentou se retratar – Não me importa nem um pouco isso, evidentemente. Um monte de garotos já cometeram esse mesmo erro, estou completamente acostumada com isso…

Really? (Mesmo?) Mas você não acha ele nem a little bit different (um pouquinho diferente)? – Anna indagou, curiosa. Rima se encolheu, corando ainda mais furiosamente.

— T-talvez, um pouco… E-ele ri das minhas piadas e me acha engraçada… - ela murmurou num fio de voz, e Anna sorriu, animada – M-mas isso não quer dizer nada! Você deveria era se preocupar com o seu príncipe encantado! Você já percebeu que gosta dele, e não fez nada ainda quanto a isso!

Anna tomou um susto com o rumo inesperado da conversa, e mesmo que não pudesse ver direito o rosto de ninguém, sentia os olhares de todos queimando a sua volta. Queria se afundar naquela água quente e não sair dali nunca mais, mas ao invés disso, soltou um som agudo e inumano de falta de reação, numa frequência inaudível aos ouvidos comuns.

—A Yaya já disse que pode ajudar, sabe? Tem um monte de planos que nós podemos seguir‼ - Yaya se empolgou, quase se jogando em cima da garota – Por que você não vai se declarar pra ele agora mesmo?? Ah, seria tão romântico‼

— N-no… eu n-não poderia… de maneira nenhuma… i’m fine now, really, girls… (eu estou bem agora, sério, meninas) - ela tentou reverter a situação, sem sucesso. Como sempre acontecia quando ela estava nervosa, sua voz estava fina e estremecida – I don’t know o que fazer nesse tipo de situação… Please, do not push me… (não me pressionem…) – ela murmurou, abraçando as próprias pernas e mergulhando um pouco mais.

— Bem, não vamos incomodar a Anna-tan, ela acabou de se dar conta do que sente! – Yaya, milagrosamente, agiu com bom-senso – Sem falar que nós temos um assunto mais urgente aqui… - o sorriso que ela abriu sugeria que o bom-senso não durou muito tempo.

— Que assunto?

— A Onee-chan, é óbvio! – Yaya bradou, sem medo do perigo – Ela ainda nem se deu conta!

Lo que está hablando, mocosa? (Do que você está falando, pirralha?) – Stéffanie franziu a testa, encarando Yaya, que resolveu se esconder atrás de Amu dessa vez.

— Bom, de uma coisa a Yaya está certa… - Amu hesitou, mas resolveu falar o que pensava, ainda que corresse o risco de ser repreendida depois – Você precisa ser mais honesta consigo mesma, Stéffanie-chan… Se até a Anna-chan já se deu conta, só falta você!

— Só falta eu o quê? Não há nada para se dar conta, estoy perfectamente bién (eu estou perfeitamente bem!) – Stéffanie bradou mais do que rapidamente.

— Acabe logo com isso, Blanca-san, e admita que o Nagihiko realmente perturba você! – Rima, como sempre muito direta, fez Stéffanie perder as palavras

Estaba claro que me molesta (É evidente que ele me perturba!)Ele é sempre tão presunçoso e cheio de si, agindo com superioridade e aquela pose… todo en él, desde el pelo perfecto, voz petulante, la forma en que camina (tudo nele, desde o cabelo perfeito, a voz petulante, a maneira como ele anda!) Tudo isso me irrita tão profundamente que eu queria poder… esmaga-lo… con mis propias manos (com as minhas próprias mãos…) – ela fez o gesto de apertar alguma coisa entre as mãos, e sua expressão, sempre tão lívida, se alterou drasticamente.

— Onee-chan diz esmagar… como em um abraço? – Yaya sugeriu, e Stéffanie não sabia se ficava indignada com a suposição ou se batia nela por sugerir tão absurdo. Embora… abraçar Nagihiko não parecesse assim tão… NÃO! Não! Absolutamente não! O que era isso, será que a água quente estava a deixando insana, ou ela acabara de se imaginar abraçando Nagihiko…

NO! – Ela gritou para os seus próprios pensamentos desmedidos, mas Yaya se encolheu instintivamente.

— Você não pode negar que vocês são bem próximos, não é? – Amu lembrou, e Stéffanie procurou, mas não encontrou nenhuma objeção coerente quanto a isso. Apesar de tudo, ela estava sempre perto de Nagihiko, fosse para discutir, repreender ele, ou apenas para conversar, eles estavam sempre juntos. Essa constatação a irritou mais do que qualquer coisa, por que ela não podia arrumar ninguém para jogar a culpa pelo que fazia inconscientemente.

No hay manera de (Não há maneira de) eu considerar esse garoto como alguém próximo! Ele é… irritante… e… eu não o suporto! – ela resmungou, e parecia estar tentando convencer a si mesma disso.

— Mas… se acontecesse qualquer coisa com ele… ou se ele sumisse, por exemplo? Você não ficaria preocupada? – Rima indagou.

Evidente. Así como yo estaría preocupado por alguno de ustedes, eso está claro (Evidente. Assim como eu ficaria preocupada com qualquer um de vocês, isso é claro.) – ela respondeu sem refutar. – Eu não sei aonde vocês querem chegar, mas não importa o que estão imaginando nessas mentes criativas demais não há chances de vocês estarem certas! Vocês não nos veem todos os dias? Nós estamos sempre brigando! É óbvio para qualquer um com ojos, que nós NO nos damos nem um poco bién! – ela afirmou, querendo deixar bem claro a sua posição.

In mangas, characters who are everytime fighting, always become a couple…(Nos mangás os personagens que vivem brigando sempre se tornam um casal…) – Anna entoou timidamente, temendo que acabasse sobrando para ela, mas sem conseguir ficar quieta no momento.

— C-Casal… estás loca? (você ficou doida?) Isso é a coisa mais estúpida que eu já ouvi na vida, e olha que eu moro com a Yaya! – ela bateu a mão na água, jogando-a para todos os lados. – Não tem nenhuma chance de isso ser plausível, (vocês estão todas sonhando!).

But… you hate him? (Mas… você odeia ele?) – Anna arriscou a sorte e indagou de uma vez. Stéffanie estancou, parando para pensar por um momento.

— Ódio é uma palavra forte… n-não é como se eu odiasse ele, ni nada de eso, en realidad (ou qualquer coisa assim, na verdade)… - ela diminuiu o tom de voz. Por um segundo, pareceu assustada, como se sua mente tivesse chegado a uma conclusão nada agradável. Yaya se aproximou, cautelosamente.

— Seja sincera, Onee-chan. O que exatamente você sente quando está com o Nagi… n-não olhe assim para a Yaya, sério…

— Nós só queremos ajudar, Stéffanie-chan! – Amu interviu, tentando acalmar a espanhola mais uma vez – é para isso que servem as amigas, certo? Vamos lá, faça um esforço para ser verdadeira consigo mesma! Se você tentar forte o bastante, não vai ser difícil. O que você sente pelo Nagihiko-kun é forte, não é mesmo? Forte o bastante para abalar você, que é uma pessoa tão segura de si, a ponto de fazê-la perder o controle só em citar o nome dele.

— T-talvez… - ela balbuciou, desviando o olhar, muito desconfortável com aquele rumo. Queria apenas sair correndo dali, o mais rápido possível, mas ainda estava usando apenas uma toalha.

— Então, se o que você sente não é ódio, mas é tão forte quanto… - Amu deixou a pergunta em aberto, esperando que Stéffanie a completasse. É claro que ela sabia o que ela estava tentando dizer com aquilo, não era burra. Mas a hipótese parecia tão perturbadora, e tão errada… ao mesmo tempo, tão certa e tão coerente… que Stéffanie gostaria de dormir e acordar na Espanha, bem longe dali, apenas para não ter que pensar nisso.

You know…– Anna murmurou baixinho, aproximando-se também – Quando eu estava confusa sobre os meus sentimentos, você me ajudou muito, Stéffanie… I would be happy (eu gostaria muito) de poder retribuir o favor, with your permision (se você permitir). So, tente pensar nisso com cuidado, e você vai perceber o que esteve evidente desde o início, and will feel just fine(e vai se sentir muito melhor).

No! Eu não quero ter que pensar nisso! – Stéffanie fechou os olhos, tapando os ouvidos com as mãos, embora isso não fosse eficaz para abafar as vozes das garotas.

— Por que você tem tanto medo? – Amu indagou – É algo tão natural…

NO! YO NO QUIERO HABLAR SOBRE ESO! (NÃO! Eu não quero saber disso!) – Stéffanie fez menção de se erguer da água, mas inesperadamente, uma mão a segurou pelo braço. Era Anna, e apesar dela não estar enxergando nada, a encarava com mais determinação do que ela jamais lembrara-se de ver.

You love him! – ela finalmente colocou em palavras o que todos ali já sabiam, e Stéffanie abriu a boca, sem que nenhum som saísse. Aquelas palavras faziam sentido na sua cabeça, mas ela não conseguia extrair o significado daquilo diretamente. Seu coração acelerara dolorosamente, e ela se sentia entorpecida, como em um sonho onde você quer fugir, mas não encontra forças nas pernas para correr. E, ah, como ela queria fugir naquele momento!

— Você está errada! Yo no… y-y-yo no q-quie.. y-yo no gust… y-y- no siento nada por nadie!(E-eu não.. e-e-eu n-n-não a-a-am… e-eu não sinto nada por ninguém!) – ela gritou de volta, desvencilhando o braço facilmente. Diferente das outras vezes em que ela negou, agora não parecia tão certa do que dizia. Talvez as garotas realmente pudessem ter chegado a algum lugar com toda aquela conversa. – E-eu não posso me ap-ap-apa.. eu não posso sentir isso por ninguém! Eu escrevo histórias, eu não vivo elas! És como esto funciona!

Anna balançou a cabeça negativamente.

— Eu também pensava assim, Stéffanie… mas foi você quem me fez perceber a verdade, e eu comecei a pensar que talvez, gostar do Príncipe não seja algo assim tão ruim… ser capaz de me apaixonar, e sentir essas coisas, apesar de embaraçoso, é incrível, também! I never thought that I could feel like that (Eu nunca pensei que pudesse me sentir assim…) e poder estar todos os dias com a pessoa que eu amo… eu fico feliz por isso, mesmo que não seja capaz de dizer a ele como me sinto. Mas eu só fui capaz de me sentir assim quando aceitei a verdade, e não lutei contra ela. Se você continuar se sufocando e se impedindo de sentir, vai acabar engasgada, e esses sentimentos todos vão acabar transbordando, de alguma forma ruim! Eu não quero que você acabe com um batsu-tama ou qualquer coisa assim apenas por que não foi capaz de admitir o que sentia! It would be very sad (Isso seria muito triste, sabe?) – Anna disse tudo em um só fôlego, e só foi capaz de falar tanto porque não enxergava ninguém que a ouvia.

— Viu, até a Anna-tan admitiu em voz alta que ama o Tadase! Você também pode fazer isso! – Yaya incentivou. Rima e Amu assentiram, e Stéffanie olhou de uma para outra, incrédula. Ela nunca havia sido uma garota cheia de amigas, era verdade, e nunca sentiu necessidade de ser assim, não quando os livros forneciam todas as informações e a companhia que ela necessitava para ser feliz.

Porém, agora, olhando para aquelas garotas, suas amigas, e percebendo o quanto elas se importavam com ela, era algo inédito para a espanhola. Ela estava sinceramente grata por isso, e apesar de negar com todas as suas forças, até morrer, não podia mais enganar a si mesma dessa maneira. Anna tinha razão, ela acabaria sufocando, cedo ou tarde.

Ela soltou o ar, lentamente, e então as encarou de novo. Parecia pronta para falar. Enfim, cansara de fugir, e encararia a verdade, fosse ela qual fosse. Seu coração estremecia, enquanto ela aos poucos se dava conta de que sempre soubera que acabaria assim, lá no fundo, já tinha consciência desses sentimentos por muito tempo, apenas não olhava para eles, e evitava encará-los. Eles sempre estiveram ali, e ela os ignorou com tanto vigor que passou a acreditar que não existiam. Mas, ela não era o tipo de pessoa que fugia, e não iria mais virar as costas para isso.

No entanto, se alguma daquelas garotas realmente achava que ela iria dizer em voz alta e clara que gostava de Fujisaki Nagihiko, elas estavam redondamente enganadas.

No es como se ustedes estivessem totalmente erradas – ela balbuciou, cruzando os braços e desviando o rosto corado para o outro lado.

— Essa é a maneira dela dizer que estamos certas?

— Deixe-me continuar! – ela interrompeu, irritada – E-eu posso até admitir que vocês estão parcialmente, não completamente, com uma parcela de razão sobre o que disseram sobre… bién, mis sentimientos bem, os meus sentimentos. – ela corou um pouco mais, e mordeu os lábios - Mas isso não muda nada! E-eu… não vou agir como essa daqui… - ela aponto direto para Anna, que sobressaltou, sem ver que era ela o alvo – toda afetada, nervosa, como ela fica perto do Tadase! E, por favor, não esperem que eu seja… romântica… o agradable… (romântica… ou agradável…) E eu também não vou dizer em voz alta!

— Ah, Onee-chan, ao menos admita uma vez em voz alta‼

— Não é não, Yaya! No haré! (Eu não vou!) – ela berrou mais alto.

But … it wil make you feel better… (Mas vai fazer bem..) – Anna aconselhou, cordialmente.

— Eu não quero!

— Apenas sussurre, então! – Amu sugeriu, indulgentemente.

Stéffanie havia perdido outra discussão, no mesmo dia, e isso não era algo que acontecesse com frequência na sua vida. Parecia que estava fadada a ser incomodada por aquele garoto, não importando em qual situação. Ainda havia um peso nas suas costas, do qual ela sabia que não se livraria a menos que enfim o liberasse do seu coração, e pelo jeito, só havia uma maneira de fazer isso.

— Está bem, então… - Ela afundou o rosto na água, e fechou bem os olhos, contando mentalmente até dez. ergueu apenas o suficiente para poder falar sem se afogar, e ainda de olhos cerrados, transcorreu, em um fio de voz quase inaudível – Yo ... me gusta eso, petulante, muchacho insoportable estúpida con un molesto gran capacidad para fastidiarme! Quizá! (Eu… eu gosto daquele garoto idiota, petulante, insuportável, com uma capacidade irritantemente enorme de me tirar do sério! Talvez!

As garotas comemoram o seu sucesso, e Stéffanie parecia mais alguém que havia confessado um homicídio do que uma colegial admitindo que gostava de alguém. Ou melhor, talvez ela estivesse prestes a cometer um homicídio… mas, apesar de estar desejando apagar a memória de todas as garotas ali com seu Book Handler naquele exato momento, não podia deixar de sentir um peso saindo do seu coração.




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Notas finais do capítulo

O FINALMENTE GENTE! Podem comemorar, porque FINALMENTE, ATÉ QUE ENFIM, CHEGOU O DIA em que a nossa Rainha Tsundere ADMITIU que ama o Nagihiko, do seu jeito... é verdade... mas admitiu, e aceitou isso, de alguma forma! Agora, se isso vai fazer o relacionamento deles enfim avançar, ou não, só o tempo dirá... por isso, aguardem ansiosos o próximo capítulo, com a Teffy-senpai! Até o/