Tinham passado seis meses desde que Peg havia desaparecido. Jeb e Ian tinham conseguido uma pista que os levara para Seattle. Procuraram sem cessar. Ian não os deixaria desistir. Porém, após uma longa busca pelo território encontraram uma pequena cabana no meio do bosque. Eles haviam estado ali e há muito pouco tempo pois a pequena lareira ainda não estava completamente apagada. Carl estava alerta e conseguiu fugir com Peg antes que nossos amigos conseguissem dar com eles. Ian estava completamente arrasado quando chegou à comunidade, por ter estado tão perto dela e ainda assim tão longe. Eu e Kyle fazíamos os possíveis para ajudá-lo a superar mas a cada dia que passava ele chegava mais perto do precipício. Jared e Melanie, apesar de desgostosos conseguiam seguir o mais normal possível com a sua vida, pois tinham um ao outro.

Apesar de não conhecer muito bem Peg, eu sentia muito por ela pois ela sempre me ajudou desde que Kyle me trouxe para aqui, foi a única que entendeu Kyle. Eu desejava do fundo do coração que ela voltasse, eu até rezaria como os humanos fazem se eu soubesse como se faz isso. Todo este tempo que ela ficou desaparecida, eu fiquei a pensar em como Ian se devia sentir, um trapo. Imaginei se Kyle também desaparecesse assim. Meu coração pararia de bater. Eu tenho dormido em seu quarto bem juntinha a ele, sempre certificando se ele continuava lá. Ele percebia o medo que eu sentia então todas as noites rodeava meu corpo com seus braços fortes, impondo sua presença e me fazendo sentir mais segura. Seu cheiro, seu toque na minha pele me relaxava.

Ian, tentava viver com sua dor solitariamente. Mas parecia que Lacey, quem Melania dizer que outrora fora habitada pela buscadora que perseguia Peg impunha sua presença para ele tentando sempre conforta-lo, sempre à sua volta. Isso deixava Melanie possessa e eu não percebia bem o porque. Quando estava sozinha no quarto com Kyle resolvi perguntar-lhe.

- Kyle, meu amor, porque Melanie sempre fica irada quando Lacey está com Ian?

- Ahh, Sunny, você não reparou? Ela está a aproveitar-se da fragilidade do meu irmão – ele me falou enquanto se trocava para dormir. Distrai-me momentaneamente com seu tórax perfeito. Logo me recuperei e fiz uma expressão de quem continuava sem entender. Ele soltou um pequeno riso e explicou – ela quer Ian para si, quer tomar ele de Peg.

- Oh… - eu soltei- Ela não pode fazer isso! Como ela faz uma coisa dessas? Não foi Peg que a salvou da sua buscadora?

- Foi sim, mas as duas nunca se deram bem, mesmo apos Peg retirar a buscadora do seu corpo. Eu acho que ela ficou com alguns maus hábitos de sua parasita.

- Nós não podemos deixa-la fazer isso! Não podemos, eu devo isso a Peg. – Eu comecei a tremer, Kyle me abraçou.

- Nós não podemos fazer grande coisa meu amor, infelizmente. Podemos tentar mante-la afastada dele mas alguma hora ela vai conseguir.

- Se depender de mim não. – Dei a conversa por terminada entrando na cama com Kyle e me aproximando o mais possível para sentir seu cheiro e adormecer com ele em minhas narinas.

Quando acordámos de manha, vestimo-nos e dirigimo-nos para o refeitório para tomar o pequeno-almoço. Ian já lá estava e vi Lacey já mirando o lugar ao lado dele.

- Kyle, peça qualquer coisa para mim tá? Vou me sentar. – Sem esperar sua resposta, dirigi-me o mais depressa possível para o lado de Ian, quase empurrando Lacey.

- Oh, Desculpa eu não te vi aí… - eu menti e tentei segurar um riso de vitória.

- Não tem mal, eu sento –me aqui – disse ela com um ar gélido que eu retribui e sentou-se à frente de Ian que parecia distante, longe dali. Kyle chegou com a nossa comida e sentou-se ao lado de lacey, à minha frente.

- Ian, Como se está sentindo hoje? Sabe que se precisar de alguma coisa eu estou aqui, né? Para qualquer coisa a qualquer hora, tá? Só pedir.

- Ele não precisa, não! – eu respondi seca para ela antes que Ian abrisse a boca para responder. Kyle olhou para mim divertido. Ele sabia o que eu estava a tramar – DE qualquer forma ele tem aqui seus amigos, não precisa recorrer a você!

Ela me olhou cheia de raiva no olhar e sem dizer uma palavra ela levantou-se e desapareceu de vista rapidamente. Eu sabia que ela ia dar troco mas pelo menos cumpri o meu objectivo de mante-la longe de Ian. Pelo menos por agora.

POV PEG

Carl havia saído para fazer umas compras e eu aproveitei para dar uma limpeza à casa. Queria deixar meu homem orgulhoso, mostrar que sou uma boa mulher. Olhei para a rua movimentada de Nova Iorque pela janela. Eu adorava aquela visão, Carl havia escolhido um óptimo lugar para vivermos. Eu arranjei emprego como secretária numa empresa multinacional, que ocupava poucas horas do meu dia e ele como segurança no hospital, era mais uma espécie de vigilante. Nós tínhamos uma vida perfeita.

- Luanne! Cheguei meu amor- ele disse chegando perto de mim e me beijando.

- Que bom que chegou, estava com saudades! Vá descansar um pouco enquanto faço o jantar.

Preparei o jantar e sentamo-nos na mesa para comermos.

- Luanne, lembra quando há uns 8 anos atras estávamos no Rio de Janeiro? Nós íamos muito descontraídos  na rua, achando que talvez fossemos para a praia apanhar um pouco de sol, aproveitar momentos só nossos e começou a chover torrencialmente e tivemos de fugir da chuva. Aí, tu sujaste o vestido lindo branco que trazias de lama quando o carro que vinha passou na poça. Ficaste fula e começaste a praguejar para todos os lados. Lembro que tive de te acalmar e tentamos entrar num café para tomar algo e não te deixaram entrar pelo estado que estavas. O teu ataque de fúria voltou e tive de voltar a tranquilizar te. Na altura foi realmente complicado mas agora é apenas uma situação hilária.

- Ahh lembro sim! Ainda contaste isso semana passada meu amor, eu realmente estava danada pelo vestido! Ele era único, já não me lembro bem porquê… - a verdade é que havia partes dessa história que não me lembrava, é como se tivesse lacunas entre cada momento. Eu estava a ficar muito mal de minha memória…

- Foi sua avó que o fez, e a lama arruinou-o para sempre. Não havia recuperação possível.

- eu não me lembro dela… - eu falei sinceramente

- é normal, você não conheceu-a verdadeiramente. Ela era avó de seu corpo alias. Também hospedeira de uma alma. Mas seu corpo morreu quase logo que apareceste no corpo de Luanne. Apenas ficaste encantada pelo vestido que tua avó fez.

- Ahh… Que pena – minha memoria estava realmente uma merda! Eu precisava de ajuda e rápido.