Quanto Tudo Começou A Mudar. escrita por Lina Pond


Capítulo 9
Você é motivo suficiente para que eu volte.




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- Olá, aqui é o Aaron – cada dia eu amava mais aquele voz – Muito provável eu estou com o som alto demais, ou esqueci meu celular em algum lugar ou talvez... bem talvez eu só não queria conversar com você. Mas se eu quiser, pode ter certeza que retorno a ligação.

O “pi” soou e eu umedeci os lábios.

- Aaron – respirei fundo – Oi... oi! É a Emma. Bom, isso é complicado. Muito. Minha irmã se meteu em apuros e ela precisa de um tempo. E eu não posso simplesmente deixa-la. Eu estou partindo essa manhã. Não para sempre, eu juro. Fiquei sem jeito de bater na sua porta, mas deixei uma carta. Eu sinto muito por não me despedir. Se você não quiser me ligar nunca mais, tudo bem. Mas por favor, não queira!

O “pi” soou novamente. Eu tinha tanto para falar, mas não podia. Estava parada no acostamento enquanto Lizzie comprava refrigerante em um posto de gasolina no meio do nada. Seu surto da madrugada realmente deu certo e não apenas comigo. Meu pai simplesmente aceitou que eu andasse quilômetros com Lizzie a tiracolo até a casa da nossa avó paterna. E por casa, eu quero dizer uma fazendo gigantesca com todo tipo de animal fofo (e uns não tão fofos) e muito, muito mato.

- Pronto – Lizzie disse abrindo seu refrigerante e colocando uma coca gelada no meu porta-copo.

Acho que fiquei entretida com a estrada porque senti um leve beliscão e finalmente olhei para ela.

- São só duas semanas – ela disse, corada – Se ele gosta de você, não vai esquecer.

Engatei a marcha e voltei para a estrada, pensativa. Você pode pedir para um garoto que ele te espere se vocês já tem um relacionamento, uma intimidade. Mas eu e Aaron, nós mal tínhamos nos conhecido. Era louco como eu o queria por perto sempre, mas isso definitivamente não nos pautava como casal. Talvez não ser um casal fosse bom, porque fugir sem explicações provavelmente acabaria com nosso relacionamento.

- Então – Lizzie disse, batendo as mãos – Vão ser férias incríveis.

- Por favor – suspirei – A vovó sequer tem televisão.

- Ótimo – Lizzie puxou da sua bolsa uma revista – Assim quem sabe você vê que existem muito mais coisas em volta do que você imagina.

Engoli todas as minhas outras reclamações pois não adiantava reclamar com Lizzie.

***

O portão da fazenda tinha uma placa florida com nossos sobrenomes. Lightief. Eu sei, é um sobrenome ridículo. Mas tanto meu pai quanto minha avó tinham o maior orgulho do sobrenome deles, que sejamos honestos, tinha nome de livro de fantasia.

Estacionei o carro em um lugar qualquer, porque essa era definitivamente a melhor coisa da fazenda: poder fazer qualquer manobra com o carro. Lizzie pulou do carro para os braços da vovó que esperava na escadaria. Mas é claro que a escrava ia ter que levar as malas para dentro. Sai do carro e corri em direção a minha avó. Eu adorava reclamar dela, mas não dava pra negar que em épocas de crise ela era nossa salvação. Quando nossos pais quase se separaram, quando nossa mamãe perdeu um bebê um pouco depois de Lizzie, quando eu reprovei em matemática... Ela sempre foi nosso refúgio.

- Meu Deus – Ela me soltou de seu abraço e me mediu – Você está tão linda Emma.

- Obrigado vovó – eu disse sorrindo.

- E parece feliz.

- Ela está – Lizzie interrompeu – Agora ela tem um namorado.

- Não é um namorado – eu respondi, brusca.

- Um peguete – Lizzie disse, rindo.

- Vovó...

- Querida – minha avó estava rindo – Eu não sou nenhum desses velhos chatos, não se preocupe.

Lizzie passou carregando as malas a até me assustei. Minha avó entrou e fiquei parada na varanda, observando a vastidão que eu teria que suportar por duas semanas. Sussurrei:

- Ele não é meu namorado.

***

- Alô?

- Emma?

Eu sabia que era o Aaron, mas demorei três toques para atender. Odiava admitir que estava com medo.

- Oi! – respondi. Eu estava parada em uma das cercas, olhando para o lago. Todos os meus moletons eram “largados” segundo a minha avó e ela me obrigou a usar minhas calças jeans e camisas xadrex que mais pareciam flanelas. Eu estava pronta para qualquer festa junina próxima.

- Então, onde você está? – a voz de Aaron não parecia brava.

- Interior. Três horas de casa. Uma cidade chamada Vegas. Mas não a Vegas, Vegas sabe? Ai meu Deus, eu definitivamente não estou em Vegas.

- Uau – ele riu – Isso é um alivio.

- Você não está bravo comigo?

- Um pouco. Por não me acordar pra dizer adeus.

- Não é adeus – eu respondi minhas mãos suando.

- Eu sei que não.

Mordi meus lábios enquanto os segundos paravam.

- Emma?

- Sim?

- Consegui um emprego.

- Isso é incrível – respondi – Onde?

- Você só vai saber quando voltar.

- Isso é totalmente injusto.

- Espero que a curiosidade seja motivo suficiente para voltar – ele disse.

- Você é motivo suficiente para que eu volte – respondi.

- Uau – foi como se eu o visse sorrir – Existe uma Emma sentimental debaixo de tudo.

Engoli seco e me apertei sobre a cerca, querendo abraçar Aaron.

- Você leu a carta? – eu disse com os olhos marejados.

- Sim – a voz dele falhava também – Eu sei que você me vê como o cara de “três encontros” e sei que nós não temos um relacionamento nem nada, mas...

A ligação começou a sumir. A voz de Aaron soava distante e em segundos a ligação caiu. Tentei ligar de volta dezenas de vezes, mas não consegui.

- Merda! – gritei para o lago – Eu odeio esse lugar.


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Notas finais do capítulo

Então, a carta. Mais para frente vocês vão saber o que essa bendita dizia. E bem que dizem que a distância pode empurrar duas pessoas a notarem que não podem viver uma sem a outra. Vamos ver se funciona com o Aaron e a Emma né? Beijos!