- Bom dia – minha avó disse enquanto eu descia as escadas da madeira com meus cabelos mais bagunçados que arbustos e calças de moletom com patinhos desenhados. – Hoje você fica com os ovos.

- Vó – grunhi.

- Dona Emma, por que você veio para cá? – ela disse, séria.

- Lizzie me obrigou. Faça ela buscar os ovos.

- Sua irmã foi para a colheita com o seu tio.

- Eu odeio ela.

- Você odeia coisas demais – minha avó disse e eu pude me ouvir falando o mesmo para...

MARIANA!

- Ai meu Deus vó – eu subi as escadas correndo, tropeçando até cair sobre a cama de casal que eu e Lizzie estávamos dividindo. Puxei meu celular e disquei o número de Mariana.

- Alô!

- Me perdoa, me perdoa, me perdoa! – Eu estava quase berrando para o telefone.

- Quem é? – a voz da Mariana estava sonolenta.

- Sua melhor amiga?

- Donna – houve um minuto de silêncio – Eu estou brincando idiota. O que houve?

- Você não notou nada de diferente Mariana?

- Você não estava na Missa essa manhã, é mesmo. Sua pecadora.

- Mariana, eu nem sou católica. Eu não vou a Missa.

- Ah sim... Então, não!

- Ah ótimo, então retiro meu pedido de desculpas. Eu estou na casa da minha avó.

- O QUE? – Ouvi algo como o barulho de Mariana levantando da cama – Mas nós íamos escolher as roupas do meu primeiro dia de aula essa semana.

- Poxa – fingi minha melhor voz de decepção – Como eu vou viver perdendo isso?

- Por que você está ai? Aquele garoto com quem você estava saindo te chutou? Ele é um idiota Emma, um gay. Não que gay seja uma ofensa. Calma, posso ser presa por isso. Gay definitivamente não é uma ofensa. Eu amo os gays.

- Não, ele não me chutou. Nós nem tínhamos um relacionamento pra ele me chutar.

Ouvi minha avó gritar meu nome e arranjei uma desculpa para não ter que ouvir Mariana reclamar sobre eu não estar com ela nas próximas festas.

- Mas Emma, as festas...

- Minha avó está me chamando. Tenho um compromisso com várias galinhas essa manhã e olha que milagre, você não é uma delas.

- Você é má – Mariana disse – Estou orgulhosa da minha criação.

- Se cuida menina.

Desliguei o telefone e o coloquei no bolso do meu moletom. Desci as escadas e encontrei minha avó na porta segurando botas de chuva e uma cesta.

- Eu não tenho direito nem a café da manhã?

- Você vai buscar seu café da manhã – e beijou minha testa.

Sai andando como um espantalho com aquelas botas, tão maiores que meus pés. Eram nove da manhã, mas a fazenda parecia o centro da cidade. Tudo era animado demais e eu odiava admitir que gostava. Uma música country agitava os trabalhadores que entravam na plantação com seus tratores.

Andei até o celeiro e abri a porta com as duas mãos. Tudo estava escuro demais e meu primeiro sentido foi procurar um interruptor. Ok, não tinha um!

Comecei a abrir as janelas de madeira e deixei a luz do sol entrar. Puxei as mangas da minha camiseta e peguei minha cestinha, pronta para pegar ovos.

Tudo ia muito bem (exceto pelo fato que nada ia bem) até que as galinhas notaram que as janelas estavam abertas e começaram a pular perto delas. EU NEM SABIA QUE GALINHAS VOAVAM. Elas eram galinhas suicidas, com certeza. Ri por um segundo do meu pensamento, mas ai notei que as galinhas estavam fugindo e sai correndo atrás delas, como uma louca.

Até que tropecei nos meus próprios pés e cai de costas no chão, vendo estrelas.

Uma voz soava longe “Você está bem?”, mas eu não conseguia distinguir de quem era. Senti alguém me levantar do chão e só voltei a enxergas as coisas quando já estava sentada do lado de fora do celeiro.

- Como você está se sentindo?

Exprimi meus olhos para encontrar um garoto de cabelos castanhos e olhos grandes e escuros, com um chapéu de cowboy e camisa xadrez. Seu sorriso podia iluminar uma cidade inteira e ele estava segurando minha mão.

- Você levou um belo tombo – ele disse sorrindo. Era um pouquinho caipira o que definitivamente só o deixava mais charmoso.

- Ai! – coloquei a mão atrás da cabeça esperando um buraco ou algo do tipo, mas só o que encontrei foi um calo. – Quanto tempo fiquei desacordada?

- Cinco minutos.

- Jura? Droga, isso não vai me livrar do resto das tarefas.

Ele apertou minha mão e me levantou do chão.

- Obrigada –eu disse passando a mão pelas minhas calças de patinho, tentando me livrar do feno.

- Tudo bem – ele sorriu – Eu sou o Dylan. Trabalho para sua avó.

- Eu sou a Emma. Também trabalho para minha avó.

Ele sorriu e eu fiz uma careta quando lembrei que não devia flertar com alguém enquanto estou apaixonada por outra pessoa.

Ficamos nos encarando por alguns segundos quando Lizzie chegou arrastando consigo alguém bem parecido com Dylan.

- Emma – ela correu na minha direção arrastando o garoto – Esse é o Ethan.

- Olá – eu disse ainda olhando para Dylan, notando como os dois eram parecidos.

- Meu irmão – ele disse, acabando com o mistério.

- Eles vão dar uma festa na cachoeira hoje a noite – ela disse dando pulinhos. – Nós vamos né?

- Eu não sabia que íamos dar uma festa Ethan? – Dylan disse, encarando o irmão.

- Foi uma coisa de última hora.

- Sabe – eu disse tentando acabar com o climão – Não é uma boa pra mim hoje. Eu tenho que... ajudar minha melhor amiga com algo... pelo Skype.

- Eu sou sua melhor amiga – Lizzie disse me puxando pelo braço e sussurrando no meu ouvido – Você quer que eu me livre do garoto antigo certo? Então me deixe encontrar um novo. Não vai ser uma orgia, mas a vovó não vai me deixar ir sem você.

- Você já fez o que eu te falei Lizzie – sussurrei de volta.

- Eu não vou fazer um maldito teste de gravidez se é o que você quer. Por favor, eu sou uma criança. Você mesma diz isso. Eu não estou grávida.

- Tudo bem – eu disse me aproximando dos garotos – Por que não? Uma festa na cachoeira, yeah!

- Você não precisa fazer isso – Dylan disse.

- Na verdade, eu preciso – disse fazendo uma careta enquanto Lizzie sorria para seu mais novo admirador.