Não há mais ninguém além de nós aqui... mas isso não importa agora. Outras pessoas poderiam apenas atrapalhar dizendo que, sentados nesse modesto banco de madeira em meio a esse bosque frio, somos intrusos nesse local... É verdade que aparentemente destoamos dessa imagem que é, basicamente, alva e celeste, mas isso é só superficialmente. Me atrevo a dizer até que este local nos quer aqui... por que? Veja com atenção tudo isso que nos cerca...

Ao redor do banco em que estamos cercados o branco é a cor predominante. Há, atrás de nós, um bosque de gigantescos pinheiros espalhados e, à nossa frente, uma pequena clareira incrustada no coração do bosque. Quase tudo está coberto por neve...

Os pinheiros, altos e de uma cor que tende do marro para o negro, mostram-se firmes, sérios... e solitários... alguns poderiam dizer que parecem ser assim solitários por causa do clima frio, mas não... acho que escolheram este clima frio por serem solitários... esse frio que percorre todo este bosque pode ser bastante acolhedor se prestarmos atenção... ele esfria nossos corpos... nós acalma e deixa sonolentos... ele esfria nossa mente e não nos permite pensar... e isso é o mais fantástico desse local... ele sente todo o pesar e as incertezas que incomodam nossos corações e mentes e simplesmente não permite que essas coisas nos incomodem... e por isso que muitas vezes, enquanto estamos sentados nesse modesto banco de madeira, perdemo-nos em nossa mente vazia enquanto nossos olhos apenas vagam pelo céu olhando a bela dança de luzes silenciosas que brinca pelo lábaro do crepúsculo...

Sim, é verdade que o frio no início incomoda, se não todos, muitos, mas isso não é culpa necessariamente do frio... é culpa apenas daquilo que está em nossos corações... o frio é um remédio para nossos machucados... muitos sentem-se incomodados pois, como remédio, ele atua nos ferimentos... mas apenas no começo... com o tempo ele anestesia toda a dor e nos faz esquecer... o frio nos acolhe e nos ajuda a superar momentos ruins... ele nos dá e torna-se parte de nossa força... torna-se parte de nós... não acredita? A maior prova disso é essa "fumaça" que sai de nossa respiração... o frio tornou-se parte de nós e essa "fumaça" é apenas uma prova disso... mas não devemos permitir que o frio nos domine... essa fumaça mostra que o frio está conosco, mas também é verdade que nossa respiração é quente... quente como nós... quente como humanos... quente como a vida... e é por isso que nós estamos a sós aqui... o frio pode congelar e anestesiar ferimentos, mas ainda precisamos do calor humano...

...

Mas acho que isso já não parece ter tanto sentido, não é?

...

Seja como for, isso não importa tanto agora... venha, apenas aproxime-se um pouco mais de mim e não tenha medo de encostar seu peito contra o meu... seu coração apenas ficará mais próximo assim... ele se manterá mais aquecido... e não mais solitário... veja tudo ao nosso redor.

Tudo está coberto de neve. Branco e silencioso. O próprio céu parece ser uma extensão da neve que cobre o chão, ou melhor seria dizer o contrário? Pouco importa... apenas olhe para o céu. Sim, já está de noite, mas veja como essas luzes de inverno dançam livres... pouco importa se elas são verdes, amarelas ou a cor que for... elas parecem até tentar copiar a suas cores... o rubro vermelho carmesin de seu casaco... o negro misterioso de sua calça... e o marrom calmo e neutro de seu cachecol... se prestar atenção, vai perceber que nós somos o extremo oposto dessa imagem de inverno... aqui só há branco e azul... você está com um casaco vermelho e caça negra... eu com uma calça também preta e um casaco cinzento... mas isso é importante... isso é bom... assim, mesmo no frio, somos nós... somos sempre nós mesmos... somos originais... e as luzes sabem disso... elas também querem destoar desse frio... querem mostrar que também são vivos... eles são vivos, como nós... eles têm cores e vivacidade, como nós... eles nos observam e silenciosamente gritam que estão vivos...

...

Mas você é capaz de ver e ouvir tudo isso?