POV Carlos

No outro dia acordei pela manhã. Carmem não estava na cama. Talvez ainda estivesse aborrecida comigo. Depois de um relaxante banho, desci para tomar um café forte e planejar os detalhes. Ela sorriu assim que me viu.

–Esfriou a cabeça homem? _Ela perguntou

–Sim, mas ainda não mudei de opinião se é essa a tua esperança. _Ela nem ligou.

–Falei com Luan hoje _Eu tentei ignorar meu susto.

–Ah é... E aí?

–Bom, ele está apaixonado pela Samanta. Não deixaria nada de mau acontecer a ela. Não deixaria ninguém tirá-la dele.

–Isso é coisa de momento. Eu sou o pai dela.

–Mas, não deu nenhuma prova disso ontem quando a jogou sobre uma mesa de vidro! Onde você estava com a cabeça, Carlos? Tem noção de como poderia ter acabado? Lógico que não, né. Aposto que nem sabe que sua filha tá no hospital. Internada. _Ela falava sem parar, achei melhor interrompe-la.

–Minha cabeça estava acima do pescoço se quer saber! Sinto muito ter perdido a razão ao invés de simplesmente tentar conversar, mas, eu jamais vou permitir essa pouca vergonha em nossa família...

–Por que? _Ela me cortou _Por que seu nome é mais importante que sua família?

–Porque meu nome tem que ser mantido sem nenhum grande escândalo! E eu farei qualquer coisa para que meu nome e minha honra não seja jogado no lixo como consequências impensáveis de dois adolescentes que estão com os hormônios à flor da pele. _Fiz uma pausa para pegar um ar. Eu estava alterado. _Você ao acaso abriu a boca e contou para ele?

–Não.. _Ela disse baixo já identificando sobre o quê eu estava falando. _Não disse nada. Esperava que você mudasse de ideia.

–Isso não vai acontecer! Nossa, eu estava tão relaxado e você já me faz ficar estressado essas horas da manhã! Mal são nove horas! Enfim _Eu disse querendo mudar de assunto _O plano é o seguinte. Você...

–Eu? _Ela me interrompeu

–Sim. Você. Você vai chamar o Luan para conversar, para dar uma volta.

–E como vou fazer isso sabichão? O Luan jamais vai deixar a Samanta sozinha.

–Dê seus pulos, querida. Qualquer coisa eu intervenho. Enquanto você saí com ele, eu levo Samanta para o carro. Meu motorista já estará me esperando.

–E as coisas dela?

–Ela não vai usar a maioria lá... Então, antes de leva-la ao aeroporto e despachá-la no avião para a Inglaterra. _Vi ela arregalar os olhos. _Eu peço para nossa mordomo, que sempre cuidou dela, comprar algumas coisinhas.

–Você vai mandar nossa filha para Inglaterra? Ela nem fala inglês!

–Já resolvi isso. Aquele internato é só para garotas brasileiras e espanholas, pois é quase a mesma coisa.

–Você não está falando sério... _Ela disse com a voz embargada.

–Estou sim.

–Vai fazer isso tudo quando? _Ela perguntou baixo.

–Nós _Coloquei ênfase. _Nós vamos fazer isso hoje. _Ela me olhou e suspirou alto. Eu mal podia esperar.

POV Luan

Eu acordei cedo. Gostaria de estar no hospital assim que o sol raiasse mas, minha querida mãe me ligou. Tive que contar tudo a ela. E ressaltei que eu estava apaixonado pela Samy e que nada e nem ninguém faria mais nenhum mal a ela.

Cheguei ao hospital um pouco depois das noves. O doutor rechonchudo -o mesmo da noite passada- me recebeu com um largo sorriso no rosto.

–Bom dia doutor!

–Um ótimo dia, não? _Ele perguntou sorrindo. _Sabe jovem, qual a maior alegria de homem?

–Não senhor.

–Ser pai. _E ele sorriu mais uma vez.

–Minha mulher deu a luz nessa madrugada.

–E mesmo assim o senhor está aqui? Cumprindo sua tarefa, seu serviço? _Perguntei abismado. O médico era alguém de muito fácil convívio. Alguém muito bom para conversar.

–Ela também está aqui, nesse mesmo hospital _Ele deu um sorriso tão contagiante que me vi sorrindo junto com ele. _Quantos anos você tem?

–Vinte _Eu respondi tentando seguir o rumo da conversa

–Pretende ter filhos?

–Antes eu lhe responderia que não, mas, isso foi antes. Agora não posso deixar de querer e ansiar por um casamento, uma vida feliz a dois, filhos _Eu sorri como um bobo apaixonado. Peraí, eu sou um bobo apaixonado.

–Então você está apaixonado? _Ele deduziu.

–Sim sim...

–Mulher de sorte. _Ele disse. _Passei no quarto da sua irmã essa manhã. Ela está bem melhor, mas, tem uns hematomas grandes e roxos no braço dela. Eles estão quase pior que esse teu rosto ainda inchado. _Na hora me lembrei de meu pai apertando o braço de Samy. Miserável.

–A Samanta não para quieta. Na certa, deve ter esbarrado em alguma coisa em casa.

–Mulheres! _Ele brincou. _Bem, venha comigo, ficarei feliz em dar alta a ela.

–Ela não perguntou de mim?

–Não. Só perguntou por um tal de Felipe. É o namorado dela?

–Ex... _Disse entrando no quarto dela Nós nos olhamos, mas não consegui manter o olhar por muito tempo. O médica fazia umas piadas e nós ríamos involuntariamente.

POV Carmem

Liguei para Luan. Depois de um tempo, me atendeu.

–Oi mãe, diz.

–Estou indo o apartamento de vocês. Sua irmã já recebeu alta?

–Já sim. Estamos chegando no apartamento.

–Ok, daqui a pouco estarei ai. Quero muito falar com você.

–O ogro do meu pai não vem junto né? Eu vou espanca-lo se vê-lo.

–Não filho. Eu irei sozinha. _Ouvi uma risada do outro lado.

–Essa foi a Samanta rindo.

–De quê?

–Disse que se soubesse que era só ela quase morrer pra você deixar de ser a cachorrinha do papai, ela mesma já teria feito isso.

–A Samanta não toma jeito. Eita, garotinha viu...

_Mãe, chegue no prédio agora. Depois a gente se fala. Até logo. Beijos. _E ele desligou. Eu olhei para Carlos e assenti com a cabeça.

–Estou indo para o apartamento deles.

–Faz tudo direitinho viu? _Ele me recomendou.

–Pode deixar!

–Carmem? _Ele me chamou. Eu olhei para trás._ É para o bem dela.Deles.

–Sim, eu sei. _E depois eu saí.

Então quer dizer, que minha filha querida, sempre me viu como um cachorrinho mandado? O que isso queria dizer? Que eu sempre fazia tudo que o pai dela mandava? Ou ela já tinha uma nova definição para isso. Bom, de qualquer maneira, aqui estou eu. Indo fazer mais um servicinho sujo do meu querido marido.

POV Samanta

Ele foi me buscar no hospital, mas mal falou comigo. Se minha mãe não tivesse ligado, eu acho que não teria falado com ele.

Quando chegou no hospital para me buscar me olhou triste, parecia magoado com algo. Tentei puxar assunto, mas ele me ignorou.

Chegamos em casa, ele me acompanhou até o apartamento -que exalava limpeza- e depois saiu dizendo que iria estacionar o carro. Ele estava de tiração com a minha cara. Isso sim.

Quando voltou, eu ainda estava onde ele tinha me deixado.

–Limpou a casa? _Eu perguntei puxando assunto.

–Limpei.

–Ficou boa.

–Eu sei.

–Tá bravo comigo? _Ele me olhou.

–Eu não.

–Então fala comigo direito!

–Estou falando, Samanta.

–O que aconteceu?

–Você aconteceu. Você acordou chamando o Felipe! O Felipe! eu é que te levei e que passei a noite limpando a casa para que você se sentisse confortável quando chegasse, mas, foi ele que você chamou. Isso doeu.

–Eu provavelmente estava delirando. Nem me lembro disso se quer saber! _Tentei animá-lo. Porque eu me lembrava.

–Pior ainda... _Ele começou dizer, mas então a campainha tocou e ele foi atender. Era minha mãe. Ela o abraçou e depois veio me abraçar. Quase me esmagou.

_Filha! que bom que você está bem. _Ela me apertava e depois passou a mão no meu rosto.

–Mãe, tá parecendo que você acha que eu morri e agora tá me apertando pra descobrir se não sou um fantasma. _Ela riu de mim.

–Bobinha. Filha, o que você quis dizer com "a cachorrinha mandada' ? _Eu a olhei. Sinceridade sempre foi uma virtude minha em relação a minha mãe.

–É que a senhora sempre fica submissa a ele. Tudo bem que a esposa deva apoiar o marido, mas a senhora... A senhora simplesmente dedica sua vida a cumprir as necessidades equivocadas do meu pai. São coisas mãe, que ele pode fazer muito bem sozinho!

–Você está certa _Ela disse de repente parecendo estar longe. Depois segurou na mão de Luan. _Venha filho, preciso conversar com você.

–E eu vou deixar Samanta aqui sozinha?

–É rápido querido. Coisa de dez minutos. _E depois eles saíram.

[...]