Minhas pernas pareceram travar no chão e tudo depois daquele segundo de desespero aconteceu muito rapidamente. Não sei se foi reflexo, mas assim que senti um ar mais frio na nuca, abaixei, evitando o golpe da lâmina afiada do homem mascarado. Aproveitando aquela situação, girei o quadril, derrubando o homem ao chão, com o homem caído ao meu lado, perfurei seu peito com a lâmina que havia em um dos meus punhos. O homem desapareceu na mesma fumaça escura que eu havia visto anteriormente na luta de Lorenna.

Por um momento vi a lâmina brilhar em luz verde.

–Tá, isso realmente foi estranho. –Eu disse, segurando a lâmina, que já não brilhava mais.

Lorenna me encarou e sorriu. O líder dos guerreiros de Melghart ainda lutava com bravura e metade dos ninjas já havia desaparecido na forma de fumaça. Eu ainda tentava entender o que eu havia feito há pouco tempo, mas continuei firme e com o a lâmina na mão, com força.

Três ninjas surgiram ao meu lado e a lâmina começou a brilhar novamente fortemente em luz verde. Atingi o da minha direita, girei e atingi o segundo próximo ao pescoço, abaixei e novamente a lâmina brilhante atingiu o corpo de um mascarado.

Eu não acreditava no que eu estava fazendo, mas era como se fosse a coisa mais fácil do mundo, era como se eu fizesse isso toda manhã e que a lâmina fosse parte de mim. Comecei a ficar mais tranquilo e investi em alguns mascarados, agora sem medo.

...

Tudo estava indo bem, até tudo começar a mudar. Todos os mascarados sumiram. Os guerreiros olharam em volta, confusos. Alguns corpos ensanguentados cercavam o chão, com feridas próximas ao torso e pescoço. Desviei o olhar, era uma cena muito triste e mostrava que tudo que tinha à minha volta era real e que um dia eu poderia acabar como um deles.

–Acabou? –Perguntei.

–Muito estranho, eles simplesmente desapareceram. –Disse o líder dos guerreiros. –Desculpe senhor Melghart, chamo-me Raven. Sou o novo líder do exército de Melghart, não tive chance de me apresentar. Será uma honra substituí-lo no campo de batalha.

Assenti e virei-me para Lorenna, tentando parecer natural.

–Até que lutou bem, príncipe. –Disse Lorenna, sorrindo.

–Você também, princesa. –Eu disse, retribuindo o sorriso.

Os guerreiros que sobraram levavam corpos nos ombros, o que deixou boa parte deles com lágrimas nos olhos. Armas sujas de sangue cercavam o jardim do reino, muitas plantas já estavam sujas e amassadas. Acho que o jardineiro terá muito trabalho para fazer mais tarde.

Lorenna tirou o capacete e abaixou os olhos, talvez mostrando um pouco de luto. Fiz o mesmo e recuei para a enorme entrada que tinha ao meio do enorme castelo. Nessa entrada, havia um enorme portão de metal, cercado por seis guardas armados com lanças, que no caso estavam sujos de sangue dos mascarados, eles pareciam cansados.

–Salve Rick Melghart, príncipe de Melghart! –Gritou os guardas em uníssono.

Olhei para Lorenna e sussurrei no ouvido dela:

–Isso está começando a irritar.

Lorenna me olhou, fez um sorriso malicioso e disse para os guardas, sorrindo:

–Nosso príncipe irá para uma audiência no reino de Moonye. Precisamos de seus pertences, avise para nosso rei, tenho certeza que será autorizado. Tudo pelo bem de Melghart, certo?

Encarei Lorenna, tentando desvendar o que pretendia me levando para outro castelo. Nossa, eu estava pensando como se tudo isso fosse normal, acho que estou ficando louco.

Um dos guardas pareceu confuso, de primeira, mas pareceu reconhecer Lorenna e correu para dentro do castelo passando pelos portões prateados.

–O que está planejando? –Perguntei para Lorenna.

–Eu acho que seria bom você falar com minha mãe. –Ela disse. –Ela pode saber algo sobre o livro que mencionou e talvez você possa ajudar na união de nossos continentes.

Assenti. Se fosse para voltar para minha casa, eu iria onde fosse preciso, o que poderia dar errado se eu fosse conversar com a rainha?

...

Depois de alguns minutos de espera surgiram dois guardas no enorme portão prateado. Um deles carregava uma mala de couro com um grande “M” preso em cor verde, o outro carregava um pedaço de papel marcado com um carimbo vermelho.

–Vossa Majestade concorda com o encontro de Rick como representante de Melghart. –Disse o guarda que estava com a mala de couro.

Apontando para a mala, o guarda disse:

–Seus pertences, Majestade.

Lorenna sorriu e pegou o papel que o outro guarda havia na mão, colocou as mãos em meus ombros e disse:

–Vamos, príncipe?

Dando as costas para o enorme castelo, Lorenna e eu fomos em direção ao norte.

...

Nós andávamos acompanhados por um guarda que sempre mantinha a lança presa às costas. Pessoas comuns, sem armaduras ou roupas diferentes nos encaravam com expressões nervosas. Lorenna sussurrou em meus ouvidos para não encará-los e ignorar suas presenças. Acho que todas aquelas pessoas, mal vestidas e zangadas não gostavam de nós.

Depois de aproximadamente meia hora chegamos ao mar. Esperando-nos havia um pequeno barco de madeira com algumas caixas ao fundo, o barco parecia bem debilitado, de início não acreditei que aquele seria o nosso meio de transporte até o continente de Lorenna, não sei, só achava que um príncipe merece um navio gigantesco, não?

–A partir daqui eu acompanho o príncipe, agradeço. –Disse Lorenna, para o guarda.

O guarda assentiu e ficou parado esperando o nosso pequeno barco sair.

–Não julgue nosso meio de transporte. –Disse Lorenna segurando um pequeno cubo metálico. –Isso pode fazer nossa viagem durar apenas duas horas!

–O que é isso? –Perguntei.

–Digamos que seja um meio de acelerar nossa viagem. –Ela disse, prendendo o cubo do lado de fora do barco e apertando em alguns pequenos botões que havia ao lado do cubo.

Assim que Lorenna acabou de “configurar” o cubo, o barco avançou em uma velocidade jamais vista por mim. Imaginei que estávamos a trezentos quilómetros por hora. Toda a pele de minhas bochechas se movia ao lado oposto do meu rosto, me fazendo ficar com uma expressão bem... Estranha.

–Eu já disse que eu não gosto de velocidade?! –Gritei.

–Rumo à Mooney! Hahaha! –Gritou Lorenna, ignorando minha presença.