Devo admitir que a parte em que Lorenna disse “lutar” não me agradou nem um pouco. Eu nunca fui bom em lutas e sempre quando precisava lutar, ou eu apanhava, ou eu corria.

Lorenna mantinha um sorriso a cada passo, enquanto me segurava pelo braço. Passamos por diversos corredores onde tinham muitos quadros e imagens de pessoas que eu nunca vi na vida. Depois de passar por muitos corredores e salas cheias de empregados encontramos uma enorme porta com lanças de madeiras presas nelas.

–Chegamos. –Disse Lorenna. –Preparado, príncipe?

–Não. –Eu disse.

Lorenna sorriu, abriu a porta e se apresentou para os guerreiros que haviam lá dentro. Todos pegaram suas lanças de metal e posicionaram próximas ao corpo, eu achei que eles estavam se referindo à Lorenna, já que ele era uma princesa e era visita muito importante ali, mas nesse momento eu havia esquecido que naquele lugar eu era também um príncipe, já que todos gritaram algo parecido com:

–Salve Rick Melghart, herdeiro do trono de Melghart.

–Tá, tá. –É bem provável que eu estava bem vermelho nessa parte. –O que está acontecendo?

Os guerreiros me encararam como se a resposta fosse tão óbvia que fiquei deprimido. Lorenna colocou seus punhos à boca, talvez evitando o riso, e tomou a voz na sala:

–Melghart e Moonye estão sendo atacados constantemente, esse é um desses ataques. –Ela disse, ainda com a voz estranha como se quisesse muito rir.

A sala tinha paredes brancas bem sujas e era enorme. Diversos armários estavam presos com diversas lanças e espadas, escudos e capacetes, armaduras e cajados. Ao lado esquerdo da sala havia uma porta no chão, talvez levando à um subterrâneo.

–Quem está atacando? –Perguntei para Lorenna, agora falando mais baixo.

Lorenna olhou para mim, pareceu me avaliar. Aqueles olhos me fixaram, senti como se ela avaliasse minha alma. Seu rosto pareceu confuso:

–Você não sabe mesmo, né? –Ela disse. –Não se preocupe.

Antes que eu tenha falado qualquer coisa, um dos guardas chegou com uma armadura prateada e uma grande espada prateada, um cinto de couro e um enorme capacete prateado.

–Sua armadura e sua lâmina, senhor Melghart. –Disse o guarda.

Com tanta coisa prateada achei que eles quisessem que eu me vestisse de robô ou coisa parecida. Eu não queria aparecer mal educado e segurei a armadura com as duas mãos, seguido do capacete, o cinto e a enorme lâmina. Por que aquilo tudo era tão pesado?!

Outro guarda chega, segurando uma armadura leve completa e uma espada pequena prateada, com um ligeiro brilho azul na lâmina.

–Vá se trocar, príncipe. –Disse Lorenna, com um sorriso meia boca.

–Onde? –Perguntei, procurando alguma porta que talvez fosse um vestiário.

–Estamos no salão de armaduras. Onde você acha que deve colocar a sua? –Disse Lorenna, me fazendo olhar para os guardas que tinham em volta.

Diversos guardas se trocavam aos cantos da sala, colocando suas armaduras e prendendo suas espadas nos cintos e preparando suas lanças. Olhei para Lorenna como se eu quisesse falar “tá de brincadeira, né?”, me afastei e coloquei a armadura com muita dificuldade. E sim, eu tive que ficar seminu para me arrumar. Vergonhoso, mas o mais vergonhoso era saber que Lorenna ficava me encarando às vezes, é provável que eu tenha ficado vermelho.

...

Eu estava pronto. Minha armadura era pesada, mas eu conseguia me mover sem tanto problema. A espada prateada estava presa ao cinto de couro que eu tinha no quadril e o capacete escondia boa parte da minha visão. Lorenna usava a armadura leve de bronze e um capacete que era parecido com o meu. Sua espada era menor que a minha e o cabo ainda brilhava azul. Se estiver a se perguntar se Lorenna trocou-se ali... Não. Ela já estava com a roupa base abaixo do vestido, só foi preciso arrumá-la, droga.

Todos os guardas estavam prontos e arrumados. Um deles abriu a porta que havia no chão e fez um sinal para que todos entrassem. Depois que uns três guardas entraram, um deles me chamou;

–Senhor Melghart, Vossa Majestade deseja que fique protegido, fique próximo à nós.

Lorenna veio logo atrás, fez um sinal com a mão para os outros guerreiros, fazendo todos avançarem. Abaixo da sala, dentro da porta ao chão, havia um enorme corredor com paredes de pedras com musgo. Parecia ser uma passagem bem velha, aos cantos, tochas antigas ainda brilhavam e o corredor tinha um ar sinistro.

–Esse corredor nos levará para o jardim, onde o ataque está acontecendo. –Disse Lorenna.

No final do corredor, vimos uma porta de madeira remendada. O guarda que estava à frente parecia o líder e assim tomou a voz no corredor em uma contagem regressiva para abrir a porta velha de madeira. No final da contagem, o líder abriu a porta.

–Por Melghart! –Gritou o líder.

O líder tinha cabelos loiros e usava uma armadura prateada bem pesada, tinha aparentemente dois metros de altura e era muito musculoso, parecia um bárbaro das imagens dos livros que eu lia quando era menor. Ele correu e atingiu alguma coisa com a enorme lança que havia em um dos punhos.

De início não entendi muito que acontecia, mas eu conseguia ver pessoas rodando e atingindo outras pessoas. Antes de nós chegarmos já havia alguns dos guerreiros de Melghart lá. Os mesmos guerreiros lutavam com homens encapuzados e com máscaras que tampavam quase seus rostos inteiros, lutavam com adagas prateadas e eram tão rápidos que meus olhos mal conseguiam alcançar seus movimentos.

Lorenna pulou sobre um dos... “guerreiros ninja” e transferiu um golpe certeiro em seu quadril, fazendo o guerreiro negro cair e se desmanchar em uma fumaça escura. Fiquei tão surpreso que senti meus olhos pularem. O homem simplesmente desapareceu.

Lorenna olhou para mim, eu ainda estava paralisado ao lado da porta. O jardim era enorme, tinha o tamanho de uns cinco campos de futebol e da onde eu havia saído dava para ver o enorme castelo de Melghart. O castelo me lembrava muito os que eu via nos comerciais da Disney, diversas janelas e três torres centrais. O jardim, por sua vez, era cercado de campos de flores e ao centro havia um grande chafariz, o piso parecia ser de mármore.

Quando o meu trauma passou um pouco, tirei a espada do cinto e dei um passo à frente. Alguns guardas lutavam com ninjas ao meu lado, mas eu continuava nervoso. Em um microssegundo senti um vento frio na nuca, ao canto do olho vi uma bota escura. Senti meu coração parar, era um dos guerreiros mascarados.