A floresta se estendia até onde os olhos podiam ver e parecia não acabar nunca. Nós éramos acompanhados por quatro soldados juramentados da Rainha e Lorenna mantinha o olhar para as primeiras árvores que encontramos.

A floresta terminaria em dois dias e um solo rochoso tomaria o lugar da terra molhada que nos cercava, dizia a Rainha, a palavra dela era tudo o que eu tinha. Tentei afastar a minha mente da vontade de encontrar minha mãe e segui com determinação para a entrada da floresta. O Livro estará no solo rochoso, eu dizia para mim mesmo enquanto dois dos guardas reais se afastava para informar a Rainha de nossa posição.

–Sua mãe parece confiar muito em você. -Afirmei para Lorenna.

–Ela confia em seus cachorros, não em mim. - Lorenna parecia irritada.

Meia hora se passou e o ambiente parecia não mudar. Árvores e mais árvores ainda cobriam a visão de todos, e insetos ainda atacavam o meu punho. Em um mundo onde tudo é possível achar mosquitos e moscas comuns me surpreenderam. A sensação de andar, andar e não sair do lugar era horrível, mas Lorenna parecia estar acostumada. Os dois guerreiros que nos acompanhavam não revelava seus nomes, mas Lorenna também parecia saber.

A grama aumentava a cada passo e quase não era possível ver os próprios pés. O solo também se tornava mais úmido e a lama limitava o movimento e isso não era boa ideia, pois fomos obrigados a correr. O chão estava estranho, senti um tremor e todos pareceram sentir também.

–Princesa, atrás de nós! -Disse um dos guerreiros.

O tremor se tornou mais forte como se algo estivesse no subterrâneo e subindo rapidamente. Lorenna sacou a espada e se colocou entre os dois guerreiros, não para ser protegida, e sim, proteger ambos. Saquei a espada brilhante e me posicionei perto de Lorenna aguardando o que estava por vir. A lâmina começou a brilhar e naquele momento eu tive certeza de quem eu precisaria lutar.

A terra abriu e todos deram passos para tràs. As árvores em volta da enorme serpente foram arrancadas pelas raízes e a terra cedeu em meio à floresta. Naquele momento eu pensei em correr e nunca olhar para trás, mas Lorenna pareceu pensar totalmente o contrário.

–O que diabos é isso?! -Gritei.

–O que foi, príncipe, nunca enfrentou um réptil gigante? -Falou um dos guerreiros da Rainha.

–Um basilisco de Grenwood. -Disse Lorenna encarando a fera.

A criatura parecia como uma cobra comum exceto pelo seu tamanho. O basilisco parecia ter uns cinco metros de altura e o crânio do animal era em formato de coroa. A cor predominante do basilisco era vermelho, com o crânio alternando entre vermelho e preto. Os dentes da fera pareciam pontudos e o focinho ainda estava sujo da terra.

–Rick, me escute. -A voz de Lorenna tremeu em meus ouvidos. -Um basilisco desse tipo só pode ser morto por veneno.

–E nós não temos? -Perguntei.

–Nós temos, príncipe. -Disse um dos guardas. -Mas não servirá.

–E por que não? -Perguntei, focando o olhar para o basilisco que mostrava os dentes para todos.

–Porque o único veneno que pode matar o basilisco de Grenwood... -Lorenna parecia muito nervosa. -É o veneno do basilisco de Grenwood.

O basilisco avançou. Eu e Lorenna rolamos para a esquerda da criatura e tentamos atingí-la com as lâminas sem sucesso, os dois guardas rolaram para a direita e foram atingidos pela parte inferior do basilisco. Lorenna segurou um grito quando sangue jorrou da cabeça dos guardas.

–Thales e Yuri. -Disse Lorenna.

–Como?

–O nome deles eram Thales e Yuri. -Disse Lorenna. -Se não quer acabar como eles, precisamos pensar em como escapar dessa.

O basilisco nos encarou e nos ignorou quando sentiu o cheiro do sangue de Thales e Yuri. Os corpos dos dois foram retalhados em segundos, ver dois homens morrerem daquele jeito fez meu estômago revirar. Minha lâmina voltou a brilhar e corri para atingir o basilisco, pois o mesmo estava de costas e era a chance perfeita. Nem preciso informar que errei miseravelmente. O basilisco virou e avançou com os dentes em minha direção, mas rolei para o lado de furei o pescoço do basilisco com a ponta da espada.

Lorenna correu em minha direção e atingiu o basilisco com a própria lâmina, mas o golpe não foi útil para derrubar o animal. Corri para perto dos corpos dos guerreiros e analisei o que sobrou deles.

–Rick, o que você está fazendo? -Lorenna gritou.

–Eles não estão apenas com mordidas. -Falei.

–Sim, estão com buracos também! -Lorenna gritou enquanto desviava do basilisco.

–Eu não estou falando disso! Eles estão queimados! -Gritei.

No exato momento em que a palavra “queimados” saiu de minha boca, eu e Lorenna percebemos o óbvio:

–O veneno do basilisco! -Gritou Lorenna. -Pegue-o!

Gotas de sangue pingavam junto a gotas de um líquido esverdeado, deduzi que era o veneno. O que sobrou das roupas de Thales ainda guardava um dos venenos que ele havia falado anteriormente. Joguei o conteúdo do vidro no chão e coloquei o líquido esverdeado no vidro de veneno. Devo admitir que foi bem nojento passar o recipiente na ferida aberta, mas não demorou mais do que cinco segundos. Corri com o recipiente na mão em direção à Lorenna que lutava contra a fera.

–No meu sinal! -Gritou Lorenna.

Lorenna avançou. Deu um golpe no focinho do basilisco e subiu em uma altura semelhante a dele escalando o corpo do animal, pulou na direção da coroa do basilisco e antigiu a testa do mesmo com a ponta da lâmina. A grande criatura abriu a boca.

–Agora! Rick!

Joguei o recipiente para cima em direção ao enormes dentes do basilisco. O recipiente passou centimetros perto da boca do animal e não iria atingí-lo. O desespero tomou o meu corpo, se aquilo não funcionasse, estávamos mortos. Quando o veneno passava pelo queixo do basilisco, Lorenna pulou. O veneno entrou na boca do basilisco e Lorenna caiu da altura de cinco metros diretamente para o chão.

Pulei para perto dela e a segurei assim que ela perdeu a consciência. O basilisco se debateu por alguns segundos e caiu sem vida ao chão. Quando olhei para Lorenna percebi que ela foi atingida e o líquido esverdeado surgiu de seu pescoço. Ela foi envenenada.