- Eu só acho que está um pouco cedo, nós nem almoçamos – pela cara que faziam, eu logo vi que eles nem haviam pensado nisso.

- A gente pode guardar lá em cima, então? – Alice perguntou saindo de sua festa particular. – Aí mais tarde nós fazemos a festa!

Assenti sorrindo pra ela, que bateu suas tradicionais palminhas e foi pegar as garrafas. Emmett pegou os energéticos e a acompanhou até o frigobar do meu quarto.

Gastamos as três horas que faltavam até o almoço, conversando e especulando sobre o que viria pela frente. Rose falou sobre um buraco com aura de fantasma, mas segundo ela ficava do outro lado do castelo, em algum lugar que nós não conhecíamos.

Chegamos a duas conclusões durante a conversa. A primeira foi que o pior estava cada vez mais próximo, e segundo que devemos nos manter unidos, afinal era um mundo novo pra cada um de nós.

[...]

- Bellinha – Allie chamou em um sussurro. – Como eu vou olhar na cara da Shamira?

Quase que eu comecei a rir ao ouvir o nome, mas me segurei.

- Ah, diz que você estava bêbada – inventei na hora.

Ela apontou pro meu anel, e sentou direito na cadeira. Sabendo o que ela queria, tirei a jóia. A baixinha, acomodando, fechou os olhos por uns instantes franzindo o cenho. Abriu já sorrindo.

- Ela vai acreditar – disse confiante. – Obrigada irmãzona.

Coloquei novamente o anel.

Hoje no almoço, Esme fez um rodízio de pizza. Edward me contou que ela comprou um livro cheio de receitas, e essas eram algumas delas. Eu estava acabando – com muito esforço – meu terceiro pedaço, enquanto Emmett, Allie e Ed comiam praticamente uma pizza inteira por vez.

Passadas meia hora e cinco pizzas a menos, os três largaram os talheres e recostaram na cadeira.

- UAU, eu to cheia – a baixinha disse espantada. – Parece que eu comi um búfalo.

Comecei a rir da cara da minha irmã.

- Também não é pra menos – falei. – quantas pizzas você comeu?

Ela pensou um pouco e depois arregalou os olhos.

- Ao todo foram duas pizzas e um pedaço – ela estava embasbacada. – Como eu como!

- Ah, que isso – desdenhou Emmett. – Eu comi três pizzas e meia – bateu no peito orgulhoso.

TRÊS? Fiquei boba. Pra ser sarado desse jeito – sem maldade, longe de mim! – ele devia ser vicíado em academia e malhação.

- Você malha? – as palavra pularam da minha boca.

- Que nada! Eu jogo Baseball na faculdade – disse todo prosa.

- Ta aí um esporte complicado – Rose falou pensativa.

Emmett gargalhou e deu um beijo na bochecha da loira.

- Vai ter que começar a gostar Ursinha – a abraçou de lado. – Eu jogo sempre. Você vai me ver, certo?

Rosalie revirou os olhos.

- Eu nunca fui ver qual quer tipo de jogo na faculdade – disse séria. – Eu odeio aquele lugar.

- Ah, ta explicado – o grandão sorriu. – É por isso que eu nunca te vi por lá.

- Ou porque você é um lerdo e nunca vai pra aula –  Edward Delicadeza Cullen disse, arrancando riso dos outros.

Alice assentia frenéticamente enquanto ria igual uma hiena. Alguém tocou um sininho. Ao me virar vi que Esme estava na ponta da mesa sorrindo.

- Devido ao alto nível de comilança – “comilança” parece minha mãe, ri disso. – teremos 10 minutos de intervalo até as atividades começarem. – Ela já estava e virando pra sair, quando pareceu lembrar de alguma coisa. – Não se atrasem – disse pra todos, porém virada diretamente pra gente.

Na hora ruborizei e olhei pra minhas mãos.

- E então, quando vamos as compras? – Alice perguntou animada enquanto nos dirigíamos a hall.

- Não sei aonde vocês vão comprar alguma coisa que não seja presentes pra levar pra casa – Edward disse.

- Não tem shopping? – Alice murchou.

Ele começou a rir, sendo acompanhado por Emmett.

- Nem perto – respondeu.

Ela ficou toda triste sentando no sofá vermelho. Ela balançou as perninhas e segurou uma mão na outra. Era de dar dó.

- Ah, não fica assim Allie – sentei ao seu lado. – Quando a gente voltar te levo na casa da mamãe e você mesma faz suas roupas.

Ela me fitou, e seus olhinhos castanhos brilhavam de ansiedade.

- Jura? – Perguntou mais animada.

- Jura? – Edward e Jasper perguntaram, logo em seguida, em coro atrás da gente.

Ruborizei imediatamente. Mas a idéia ficou bem mais atrativa pensando por esse lado, então assenti, ganhando sorriso dos três.

- Certo, agora vamos logo pra praia, antes que a Glow apareça por aqui com uma foice atrás da gente – Jazz disse erguendo a mão pra Alice.

Fomos animados até o nosso destino, estávamos cheios de novidades pra Shamira. Tive a esperança de ela ficar mais animada com isso, ela precisava dissolver aquela carranca.

- Vejo que chegaram pontualmente – disse áspera assim que chegamos. – Bom, vamos falar sobre as invasões e estratégias de guerra, na época dos vikings.

Todos fizeram um som desanimado.

- Sra. Glow – Allie disse com sua voz carinhosa. – Me desculpe se faltei com o respeito ontem, eu havia bebido demais.

Com aquela cara de anjo, voz de sinos e olhos brilhantes, eu duvido que a Glow não perdoe a baixinha. Qualquer um perdoaria. Até se ela tivesse cometido um homicídio, um juíz a livraria da pena.

A velha soltou o ar derrotada e depois assentiu, apoiando a mão no ombro da minha irmã.

- Tudo bem, Alice.

Allie ficou toda animada e deu um beijinho estalado no rosto da Glow. E depois veio saltitanto pro lado de Jazz.

- Sra. Glow, temos novidades – Edward falou. – Bella achou o seu anel, e com ele nós achamos a sala secreta.

A impolgação que eu esperava ver nos olhos dela, realmente vieram, e ela pareceu esquecer completamente o que a estava aborrecendo.

- Vamos até lá. Eu tenho que contar algo importante – e foi andando com passos rápidos pro castelo.

Durante o trajeto nós nos encaramos. Finalmente iríamos saber algo que deveríamos fazer. Não que eu estivesse louca pra entrar em ação, mas definitivamente queria me livrar logo disso.

No hall ela parou e nos encarou. Claramente queria saber pra onde deveríamos ir. Passei sua frente – com Edward sempre ao meu lado, - e a guiei até o meu quarto. Abri a porta e dei passagem pra todos.

- E então, por que paramos aqui? – disse me olhando.

- Porque é aqui – respondi indo abrir a porta do meu armário.

Afastei as roupas penduradas enquanto ela vinha analizar o local. Tirou os óculos e os limpou na ponta de sua blusa – colocando logo depois.

- Impressionante – falou admirada. – Vamos entrar.

Edward já andava com o isqueiro no bolso, passou a frente e foi acendendo o caminho. Todos fomos em fila atrás dele. Ao chegar na sala, Shamira ficou ainda mais deslumbrada. Ela foi até os livros e leu rápidamente seus títulos, depois olhou o quadro e em seguida analisou a mesa e as cadeiras.

- Ótimo, bem como eu achei que seria – se sentou na cadeira com um “G”. – Sentem-se, tenho que contar logo o que está por vir.

Todos estavam muito afobados e correram pra suas respectivas cadeiras, sentando quietinhos e olhando a Glow cheios de espectativas.

- O que vocês acham que um fantasma, que lógicamente já está morto, pode querer com a gente? – cruzou as mãos em cima de mesa e esperou uma resposta.

- Assustar? – Emmett chutou.

- Sim, mas por que vocês acham que eles ficam tão “empolgados” essa época do ano? Qual vocês acham que pode ser a espectativa de alguém morto?

- Eles ficam desse jeito porque ficam mais forte, como a senhora já nos disse – Jazz disse pensativo. – E eu não sei o que alguém que não tem vida pode querer. Eles já morreram.

- Isso – Rose gritou. – Eles querem vida.

Não sei como ela chegou a essa conclusão, mas fazia total sentido. Só não sabia como eles poderiam conseguir isso.

- Muito bem Rosalie – ela disse sorrindo. – Quando eu disse a vocês que eles ficam mais forte, é por um simples motivo. O portal.

Até agora pra mim era tudo novidade, mas vi que Rose ficou tensa em seu lugar. Estreitou os olhos e fixou algo, com o olhar, atrás dela.

- Ele é grande, e não sei como nós poderemos fazer alguma coisa – suspirou já derrotada. – Ele é morto.

Todos viramos pra senhora, a espera de uma explicação.

- O portal é como uma divisa entre os vivos e os mortos. Eu sei que parece clichê, mas é a mais pura verdade – sorriu. – O fantasma com o qual vocês devem se procupar se chama Dr. John Sharp. Vocês podem encontrar um quadro dele na Sala. Ele foi o restaurador do castelo no século XVIII, e acabou se prendendo a sua obra.

“Por incrível que pareça, ele foi o fundador dos salva-vidas dessa praia.” Sua voz estava sarcástica. “Ele amava tanto Bamburgh, e disse que nunca mais queria deixar o castelo.”

“Durante um tempo ele não fazia nada a não ser manter os olhos nos visitantes. Até que quando completou 210 anos de sua morte ele começou a aprontar, junto com os outros espitiritos que aqui habitavam.” Suspirou, tomando ar. “Foi nesse ano que os seis guardiões estavam aqui, unidos por uma força do destino.”

“Johannes Zachary veio da Irlanda, afim de traduzir alguns livros pro castelo. Everard havia acabado de chegar de uma batalha na Escócia, trazendo Roisia, que era a princesa de um reino vizinho.” Nos olhou e preosseguiu. “Alma era empregada do castelo, e braço direito de Belatrix”.

Alice olhou sorrindo pra mim, e segurou minha mão.

- Ah, daí que vem o “Z” – Jasper disse divertido.

- Bom, o importante é que eles não podem chegar até esse portal, e são vocês que vão impedir isso.

- Como? – perguntei, sem conseguir conter minhas palavras.

Ela me fitou e riu.

- Você mais do que ninguém deveria saber – falou simpática.

Aí que eu me toquei. Lembrei de quando Emmett não conseguiu chegar até mim, e do escudo que eu supostamente havia criado.

- Mas e a gente? – Em perguntou.

- Sabe que se eles pegarem a Bella, tudo fica complicado, né? – todos me olharam. – E só porque eles estão mortos, não quer dizer que eles não vão ter forças – se virou pra Emmett. – Alguém tem que ser o escudo dela.

O grandão estufou o peito e ficou todo bobo ao ver que tinha uma função. Edward apertava a minha coxa por baixo da mesa, me virei pra ele – que me olhava com olhos tristes. Sorri afim de acalmá-lo e depositei um beijo em sua bochecha.

- A partir de hoje eu quero que vocês tentem conhecer seus poderes, ao invés de usarem para proveito próprio – se levantou derrepente. – E não fiquem preocupados somente com os outros – foi até a porta – cada um vai ter seus próprios problemas – e saiu batendo a porta.

- Ela adora essa coisa de saída misteriosa né? – disse distraida.

 Recebi em troca, apenas uns risinhos sem graça. Olhei pro rosto de meus amigos e todos estavam tensos e sem vida. Até Emmett estava quieto demais.

- CHEGA – gritei me levantando bruscamente. – Nós não vamos ficar assim, entenderam? Nós temos que nos esforçar e fazer o melhor, e não ficar com cara de bunda lamentando por aí!

Todos me olhavam com os olhos arregalados, mas com o passar dos segundos seus rostos iam ganhando mais cor.

- É isso mesmo Bellinha – Alice se levantou. – Nós vamos ser os melhores – subiu na cadeira. – Vamos fazer por merecer o que nos foi dado.

Ela – agora – em cima da mesa, balançando um dedinho pra cá e o outro pra lá, com esse tom otimista e essa carinha de anjo, era assustador. Ela podia ser um ditador desse jeito! Qual quer um confiaria nela.

- Isso, feliz! – Emmett bateu na mesa com punhos fechados, e a mesma estremeceu.

Olhei pra fadinha que estava sorridente, agora sã e salva de pé na cadeira. Lancei um sorriso enorme pra ela. Suas visões estavam ficando cada vez mais precisas.

- Vamos pra praia – Jasper disse se levantando. – Todos estão em atividades, e ninguém estranharia se a gente treinasse lá, é o nosso cronograma de hoje.

Todos levantaram animados e fomos assim até a praia. Chegando lá, nos olhamos e caimos na gargalhada. Como iríamos treinar?

- Bella, a Glow disse que você seria o escudo do portal, isso quer dizer que você pode proteger algo além de você mesma – Edward disse pensativo. Olhou pros outros e empurrou Emmett pro meu lado. – Tenta com ele.

- Tenta o que? – Emmett me olhou desconfiado.

Sorri pra ele, segurei sua mão e fechei os olhos. Eu não sabia muito bem o que tinha que fazer, mas sabia que era possível. Respirei fundo e tentei me concentrar. Se ele não chegava até a minha mente, então dali deveria partir o meu escudo.

Imaginei o escudo saindo de mim e me envolvendo – meus pêlos se arrepiaram com isso. E eu levei um susto com a proporção que tomou. Abri os olhos assustadas, e os quatro que estavam de fora sorriam.

- Por pouco, Bellinha – Alice falou.

- É por uns segundos eu não o ouvi – Edward disse todo orgulhoso.

Me senti uma criança aprendendo a andar de bicicleta. Todos me paparicavam. Eles tinham mesmo que me tratar assim?

O tempo voou, eu não me cansava de ficar com eles.  No fim da tarde todos tivemos progresso. Durante 4 minutos, contados, eu consegui envolver Alice com a barreira. Edward já me fazia ouvir seus pensamentos só tocando minha mão, Rose disse que além de ver a aura, ela conseguia ver A pessoa através das coisas.

Alice estava numa espécie de luta com Emmett, onde ele tentava atingi-la, mas a baixinha escapava segundos antes. Jasper já estava um saco, na verdade. Do nada eu me sentia triste, e em segundos eu estava quase saltitando de felicidade.

Eu estava orgulhosa do grupo, mas já era noite, e provavelmente a hora do jantar. Edward me abraçou de lado, e caminhamos assim até chegar ao castelo. Seus braços eram como uma fortaleza pra mim. Duvido que eu encontre algum lugar mais perfeito do que esse.