Quando cheguei na minha sala (a sala 483,da turma 2010),logo me sentei em minha carteira preferida,a última do canto esquerdo,perto da janela.

    Eu olhava pela janela,observando a leve brisa movimentar as árvores,os pássaros voando tranqüilamente,os ainda fracos raios de Sol refletindo na superfície de um lago distante.Era um dia lindo,e essa pequena visão de sua beleza fez com que eu me alegrasse instantaneamente.

    Agora,meus pensamentos estavam lá,à beira daquele lago.Eu estava sentada em um velho banco de madeira,lendo um livro,quando alguém sentou ao meu lado.Olhei de canto para saber quem era e me surpreendi.Sentado desleixadamente,estava Bill.Os raios de Sol batendo em seu rosto,iluminando sua pele pálida.Enquanto eu o fitava,admirada,ele me olhava com seu rosto lindo em uma expressão de serenidade.Eu senti-me rubra,não por ele estar me olhando,mas pela forma como ele estava praticando tal ato.Uma rajada de vento passou por nós,fazendo com que seus cabelos esvoaçassem,chicoteando seu rosto,o deixando incrivelmente esplêndido,de uma forma que Tom jamais conseguiria,tamanha sua arrogância.

    Ele se arrastou para mais perto de mim,repousando seu braço sobre meu ombro.O magnífico cheiro de sua pele irrompia por minhas narinas,deixando-me extasiada.Uma indescritível sensação de conforto inundou meu corpo,fazendo com que eu pousasse minha cabeça em seu ombro.Ele beijou meus cabelos,depois foi descendo seus beijos e quando estava chegando em meus lábios,ouvimos uma voz familiar atrás de nós.

- Esta é a cena mais linda que eu já vi! – Disse Tom,irônico.

   Olhei por sobre os ombros e o vi encostado em uma árvore,com um sorriso bobo nos lábios.Não consegui segurar um grito que se formava em minha garganta.

- Calma,Hay,calma! – Dizia uma voz feminina muito familiar.

    Abri meus olhos e vi minha amiga Sophie olhando para mim com os olhos arregalados de preocupação.Levantei minha cabeça e olhei a minha volta.Todos que estavam na sala,inclusive o professor,estavam me olhando,intrigados.Neste momento,pude sentir minhas bochechas arderem.

- Já que está acordada agora Srtª Williams,podemos continuar a aula? – Disse o professor,com severidade.O Sr. Urie,profesor de inglês,sempre fora gentil e simpático comigo,por isso sempre o considerei meu professor preferido,mas dessa vez,acho que isso não irá me ajudar.

    Sentindo-me humilhada,olhei-o por um curto segundo e murmurei um “Sim”.

- Muito bem,como eu ia dizendo... – Ele se virou para o quadro,mas a turma inteira ainda me encarava com olhares repulsivos e sorrisinhos zombeteiros.Eu me encolhi em minha carteira,sem me atrever a olhar mais uma vez os rostos daquelas pessoas detestáveis.Por sorte,o professor percebeu que eu estava recebendo a indevida atenção e pediu que a turma olhasse apenas para ele.Logo,não havia mais ninguém me olhando,para meu alívio.Obrigada,Sr. Urie!

- Cara,o que aconteceu com você? Eu cheguei aqui e você estava dormindo,então resolvi não incomodar,pois pensei que você estivesse muito cansada.Aliás,você estava babando. – Ela soltou uma gargalhada. – Tem um pouquinho de baba aí.

     Mostrei-lhe um sorriso amarelo e limpei o canto de minha boca,que realmente estava babado.

- E aí tava sonhando com o quê? – Disse Sophie,com um olhar malicioso.

- Por quê você quer saber?

- Você tava com uma cara...Tava até sorrindo!

- No começo,era sim um sonho muito bom,por sinal,mas depois se tornou um pesadelo.

- Ai,amiga,depois você vai ter  que me contar os detalhes desse sonho,porque agora tenho um bafão* mais importante pra te contar.

- O que foi dessa vez? – Eu disse,manifestando pouco interesse,pois eu nunca fui muito chegada à fofocas.

- Você já viu o mais novo gato da nossa turma?

- Não,quem é?

     Ela indicou com a cabeça o lado oposto de onde estávamos sentadas.Eu acompanhei com o olhar,e sentado a duas carteiras de Sophie,estava Tom,olhando-me com uma falso interesse,como se estivesse flertando comigo.

- Ai meu Deus! – Eu exclamei,estupefata.

- É eu sei,ele é lindo,né? – Ela disse,com entusiasmo. - Eu acho que ele está de olho em você,Hay.

- Não! Esse garoto é o demônio em forma de gente.

- Que isso,Hayley! Não fale assim do menino,você nem o conhe...Peraí,você conhece ele?!

- Ele é meu primo!!

- Hayley,sua cadela maluca! Você tem um primo Deus grego/ai meu Deus,surtei/gostosura em pessoa desses e não me fala?

- Fique longe dele,eu estou te avisando! Esse garoto tem problemas mentais.

- Hay,você tem que me apresentar a ele!

- Nem pensar.

- Por favor! – Ela me olhou com uma cara de cão molhado tão comovente,que eu acabei cedendo.

- Ta bom! Quem sabe assim ele para de me encher o saco.

     Ótimo,agora o retardado estava estudando não só na mesma escola que eu,mas também na mesma sala de aula,minha melhor amiga ao invés de me apoiar na campanha ‘Anti-Tom’ resolveu me trair e dar mole pra ele.Muito obrigada destino! O que eu fiz para merecer essa desgraça?!

     O dia passou rápido,apesar de Tom ficar jogando bolinhas de papel em mim a aula toda,e Sophie lançando olhares furtivos a ele,o que me irritou seriamente,mas para o bem de minha saúde mental,logo estávamos saindo do colégio,conversando sobre nossas bandas favoritas.Encontramos com Bill e Tom sentados embaixo de uma árvore,nos esperando.

- Nossa o outro também é muito bonito! – Sussurrou Sophie,enquanto nos aproximávamos de meu primos.

- Eles são gêmeos,monga*! – Sussurrei de volta.

    Surpreendendo-me mais uma vez,Bill me deu um forte abraço quando cheguei perto dele.Meu coração acelerou,batendo descompassado.Seus braços quentes me envolviam em um abraço de urso aconchegante.Quando nos desvencilhamos,pude ver suas bochechas ruborizarem.

- Me desculpe,eu não quis... – Ele sussurrou em me ouvido.

- Não precisa se desculpar,Bill. – Sussurei também,sorrindo afetuosamente para ele.

    Olhei para Sophie e ela nos olhava admirada.Lembrei que eles ainda não se conheciam.

- Ahm,gente essa aqui é Sophie,minha amiga.Sophie esses são Bill e Tom,meus primos.

- Oi gata! – Precipitou-se Tom,olhando para Sophie com se ela fosse um pedaço de carne.

- Oi. – Sophie sorriu timidamente,correspondendo o olhar provocante de Tom.Vendo a situação embaraçosa em que eu me encontrava,Bill deu um pigarro,procurando chamar a atenção dos dois.Sussurrei um “Obrigada” para ele,que apenas sorriu.

- Já nos conhecemos então,vamos embora.

   O caminho para casa foi muito divertido,pois Bill é muito falante,então ele não nos deixava um minuto em silêncio,sempre contando uma piada ou uma história de família engraçada (a maioria delas deixava Tom envergonhado e com raiva),fazendo com que eu e Sophie chorássemos de tanto rir.Deixamos Sophie em casa,pois ela mora duas quadras antes da minha casa,e continuamos andando,mas dessa vez,o caminho foi mais silencioso.Mais uma vez eu estava entre os dois irmãos,e os dois me encaravam,deixando-me completamente encabulada,e para piorar a situação,ninguém falava nada.Nem mesmo Bill.Tentei começar uma piada,mas desisti logo,porque eu sou uma péssima comediante.Eu estava prestes a sair correndo dali,mas consegui encontrar um assunto.

- Como está o nariz,Tom? – Perguntei com um sutil sarcasmo,disfarçado com uma falsa preocupação.Ele pôs a mão sobre o curativo em seu nariz e me olhou com ódio.

- Está muito bem,obrigada. – Ele disse,com acidez na voz. – Ele manda lembranças.

 - Vocês vão começar de novo? – Perguntou Bill.

- Você viu quem começou dessa vez,Bill.

- Tanto faz,Tommy...

    Assim que chegamos em casa,fui direto para meu quarto.Minha mãe não estava em casa e isso indicava que eu faria o almoço,então resolvi adiantar minhas coisas.Peguei algumas peças de roupas em meu armário e depois fui até o banheiro no final do corredor.Como sempre,tirei minhas roupas lentamente e entrei debaixo da ducha de água quente.Fiquei durante alguns minutos ali,apenas aproveitando a sensação de relaxamento que só um banho nos proporciona,quando ouvi um barulho do lado de fora.Abri um pouco a porta de vidro do boxe e pus minha cabeça para fora para ver o que era.A minha única reação foi gritar até que o ar faltasse em meus pulmões.

    Tom estava parado de frente para mim,com os olhos arregalados de espanto.Me enrolei rapidamente na toalha e gritei para que ele fosse embora.Ele não se moveu um centímetro,parecia petrificado.Mais uma vez a porta do banheiro se abriu e Bill adentrou o local como um cão de caça.

- O que aconteceu? Tom?!

- SERÁ QUE EU POSSO TER UM POUCO DE PRIVACIDADE?? – Esbravejei.

- Desculpe,Hay.Eu só...Vem Tom!

    Bill puxou Tom,que ainda estava embasbacado,pelo braço e o levou para fora,fechando a porta atrás de si.Pensei em como eu fui burra em não trancar a porta.Eu realmente ainda não estava habituada a morar com outras pessoas a não ser minha mãe.Nunca havia sido necessário eu trancar a porta do banheiro,agora eu terei de me lembrar disso sempre.Vesti-me rapidamente e fiquei mas alguns minutos pensando em como eu iria olhar para aqueles moleques de novo,pois com a vergonha que eu estava sentindo,eu não conseguiria encará-los.Eu realmente preciso abrir um clube “Anti-Tom”.