Como deveria ser esperado Sakura se jogou em seu trabalho, respirava e vivia aquele Hospital, durante longos e torturantes dois meses isso se estendeu. Emendando plantão atrás de plantão, não poderia permitir tempos livres, não os queria de maneira alguma, mas quando eram inevitáveis ela dormia. Apagava em sua cama e só acordava no dia seguinte.

Estava um caco, havia perdido peso e não se importava mais com sua aparência, afundada em auto piedade evitava as pessoas a sua volta. Principalmente Naruto e Ino, ainda sentia vergonha por todo o seu comportamento com o loiro e na maior parte do tempo não sabia como agir em sua presença, quanto a Ino simplesmente não conseguia ficar na mesma sala que ela sem imagina-la aos beijos com Sasuke, sem se perguntar sobre o que conversaram, o que fizeram, se estabeleceram planos juntos, se ainda se viam, apesar dessa última pergunta ter sido respondida pela própria Yamanaka uma tarde dessas aos gritos na porta de sua casa.

O único que não conseguia evitar era Kakashi. O Hatake continuava a impor sua presença mesmo que ela não o quisesse, abastecia sua geladeira, limpava o apartamento e as vezes permanecia lá até sua chegado, no começo ele tentava conversar, mas depois desistiu e apenas sentava-se ao seu lado e ficava lendo seu Icha Icha.

Passou um longo e tortuoso mês nessa agonia, até Kakashi cansou. O Sol estava a pino no céu quando ele cansou de parasitar e de ver a Haruno em sua subsistência, praticamente a arrancou do sofá que ela tinha se alojado e a jogou debaixo da agua fria.

— Sabe como fazemos com pessoas que bebem demais? — Debateu-se tentando escapar do agarre dele, chegou a pensar seriamente em canalizar seu chakra e desferir um belo soco na face perfeita de seu sensei. — Estou fazendo isso com você agora, porque pode não estar anestesiada pelo álcool, mas parece se encontrar em um eterno torpor e eu quero que acorde para a vida.

Após ouvir aquelas palavras parou de se debater, ele ainda ficou por um tempo a segurando e observando seus gestos, mas quando notou que Sakura realmente tomaria um banho, saiu de cena. Ela permitiu que agua gelada desanuviasse sua cabeça, a única coisa que queria era paz, mas mesmo se isolando não o conseguia. Nem mesmo a solidão lhe trazia serenidade.

Depois de ter tomado banho se enfiou em uma roupa qualquer que estava em cima do cesto dentro do banheiro, mas para Kakashi aquilo era o suficiente. Ele a aguardava com um conjunto de short e blusa em mãos, franziu o cenho ao constatar que tinha fuçado em seu armário para pegar aquelas peças.

Trocou-se pelas roupas desejadas e foi praticamente arrastada para fora de casa, quase carregada de loja em loja por toda a Avenida principal de Konoha. No início foi estranho, nunca tinha imaginado Kakashi um companheiro de compras, mas depois conseguiu se descontrair, ainda mais ao ver que o Hatake realmente entendia de roupas femininas, provavelmente do tanto que já tirou por aí, vai saber.

Teve uma tarde esplendida como a bastante tempo não ocorria, sorriu, passeou, tomou café, sorvete e comeu duas refeições dignas como não fazia há tempos, após suas compras a última parada foi para cortar os cabelos. Apesar de amar suas longas madeixas, não conseguia mais olha-las sem lembrar dos dedos dele em meio ao emaranhado de seus fios, seus toques, suas caricias, Sasuke parecia adorar brincar com seus cabelos e isso só complicava as coisas.

Agora tinha os cabelos acima do ombro, uma pequena franja lateral, passou o dedo pelos fios, largando uma mexa na curva de seu queixo e sorriu, estava gracioso, o pessoal tinha feito uma hidratação depois de ter ralhado muito com ela sobre o péssimo estado os fios se encontravam, quebradiços e com pontas duplas.

Desistiu de sua vida em cárcere, resolveu conversar com Naruto e Ino, mas ainda parecia algo estranho. De Naruto foi um pouco mais fácil, porém ele notou a resistência de Sakura e preferiu respeitar, com Ino foi quase impossível, a Yamanaka estava ressentida pelo tratamento que vinha recebendo por parte da Haruno e a conversa que partilharam foi crua e impessoal.

Sakura voltou a ter uma vida relativamente social, ainda se matava de trabalhar, mas jantava com Naruto e Sai e ia a pequenas comemorações, mas não ficava por muito tempo, não tinha animo para isso, preferia continuar caindo de exaustão no hospital, pois sua sociabilidade trouxe um fator extra que não estava preparada: a volta de Sasuke.

Sorrateiramente ele surgia nos jantares, nas festas, nos bares e de mesa em mesa, cadeira em cadeira ele chegava cada vez mais perto, Sakura escapava quase sempre, mas ele parecia procura-la em todos os lugares.

Visitava com frequência o hospital, no início a médica tinha a certeza que era pelas enfermeiras que ele saia quase todas as noites, mas com o passar dos dias os burburinhos com relação aos encontros com o ultimo Uchiha foram minguando até não passarem de lembranças, ele não saia como mais ninguém, mas continuava a rondar o lugar.

Sakura não se permitia pensar nisso, não podia ficar presa nesse drama e assim passou mais um mês. Tomou outro gole do café, passando uma das mãos pelas costas, estava arrasada. Precisava descansar, seu corpo não aguentava outro plantão daquele, talvez tirasse dois dias de folga.

Revirou a pequena folha em suas mãos, relendo os pontos altos e baixos da adesão de uma nova missão, era preciso fazer um teste para se qualificar, mas ela tinha certeza que estava apta para passar, só não sabia se realmente queria faze-lo.

Revirou a pequena folha em suas mãos, relendo os pontos altos e baixos da adesão de uma nova missão, era preciso fazer um teste para se qualificar, mas ela tinha certeza que estava apta para passar, só não sabia se realmente queria faze-lo.

— Sakura-senpai! Sakura-senpai! — A porta foi aberta com brusquidão e uma garota esbaforida surgiu a sua frente. — Você precisa vir a sala de emergências. Tem um paciente que se recusa a receber qualquer outro atendimento que não seja o seu. — Ao dizer a última frase o tom dela não lhe pareceu tão desesperado, mas um pouco irritado e decepcionado.

Ignorou essa constatação e pegou seu jaleco, terminando o café e saindo da sala com a garota em seus calcanhares.

— Ele está com uma ferida profunda no abdômen, mas não pegou nenhum órgão vital, o estado dele só poderia se agravar porque foi envenenado. Na ficha médica está informando que a médica responsável é a Shizune, mas... Desculpe, ele... — Sakura apenas sorriu colocando as luvas e parando em frente a porta da emergência.

— Fique tranquila, eu sei como é ter pacientes dando chilique. O importante é a saúde dele, o resto é melhor não se importar. — Estendeu a mão para passar nos ombros da menina, mas seu gesto parou no meio do caminho ao reconhecer a voz que surgia por trás daquelas portas, era Sasuke.

Uchiha Sasuke estava na sala ao lado, esperando para ser tratado por ela, com um ferimento no abdômen e envenenado, por um momento fraquejou, por um breve instante sentiu seus olhos arderem. Mesmo assim empurrou a porta e seu rosto estava seco e sério, estava trabalhando, não tinha tempo para pensar em mais nada.

— Onde está a ficha dele? — A voz dela silenciou os sussurros que ocorriam pelo aposento e silenciou a Sasuke que parou de se remexer e passou a fita-la, observava os gestos e trajetos da garota.

— Peguem o material necessário para o curativo e aqui está o que é preciso para antidoto, tragam-me depressa. — Por sorte uma das enfermeiras conseguiu recolher um pouco de sangue e neutralizar uma enzima, descobrindo assim qual veneno estava agindo no corpo do Uchiha, com eficiência Sakura anotou tudo que precisava na ficha médica dele, parando em frente a maca onde ele estava, os olhos negros a escrutinando.

— Sakura...

Não se deteve por isso, canalizou o chakra na palma de suas mãos e analisou a área da ferida para ver se havia algum resido a mais do veneno já encontrado em seu organismo. Desinfetou a ferida, reconstruiu tecido por tecido com toda a calma e precisão, não a fechou por completo, pois não sabia se o veneno ainda no organismo podia gerar alguma infecção, apenas minimizou o estrago, pegou os utensílios necessários para fazer o curativo e ordenou que soro e bolsas de sangue fossem trazidas, não daria pílulas a ele.

Ferida tratada, bolsas de sangue pendurada, preparou o antídoto e aplicou junto ao soro, foram questões de minuto até o tratamento começar a surtir efeito, era possível que em menos de 24 horas ele já estivesse liberado.

— Sakura...

Durante todo o procedimento ele a chamou, sua voz menos grave do que estava acostumada, arrastada e quebradiça quase suplicava por sua atenção.

— É provável que você tenha alta ainda hoje, deve ficar em observação por pelo menos oito horas, o resto vai ficar a cargo do próximo médico responsável. — Assinou a papelada necessária, preparando-se para se afastar, mas não chegou a dar um passo sequer, pois Sasuke ameaçou levantar. — O que está fazendo?

— Chamando sua atenção, pois parece que estou invisível. Você entrou e tratou um alguém qualquer, sem nem ao menos parecer se importar... Eu sai em missão, me feri em missão... Você se importa? Você notou? Não quer saber como a consegui? Não quer ralhar comigo? Não...

— Sasuke, eu estou cansada e você curado... O que mais tem a ser feito?

Ele não respondeu e ela não viu razão para continuar ali, saiu sem olhar para trás, sentindo seu coração aos pulos, conseguindo enfim respirar aliviada. Quando chegou a sala dos médicos quase caiu, suas mãos tremiam e todo o seu corpo parecia estar paralisado. Por que era assim? Por que as coisas nunca podiam ser simples?

(...)

Um som oco ecoou pela casa e Sakura praticamente pulou da cama, sua mende ainda nublada pelo sono não percebeu o que estava ocorrendo. A falta do barulho fez com que ela voltasse a se deitar, mas então eis que ele surgiu novamente, alguém parecia bater a portar. Grunhiu. Remexeu-se, pensando em ignorar a batida, mas então ela ecoou mais uma vez e outra, não teria sossego.

Levantou da cama pegando o casaco de lã em cima do sofá, vestindo-o por cima da blusa de algodão, arrastou-se até a entrada e abriu a porta, sua testa franziu ao ver de quem se tratava.

— Sasuke, o que faz aqui? Você já recebeu alta?

— Não, não recebi. Eu fugi. — A expressão abobalhada por causa do sono sumiu das feições alvas da Haruno. — Eu queria conversar com você. — Fechou o casaco em frente ao corpo e encostou o corpo na lateral da porta, queria fechar a porta na cara dele e deixa-lo sozinho do lado de fora, mas não podia fazê-lo, ainda mais com ele ferido.

— Entra logo.

Não precisou pedir uma segunda vez, logo ele estava dentro do apartamento, Sakura ligou a luz e o encaminhou para o sofá. Assim que se sentou Sasuke teve o seu rosto agarrado por um momento ele achou que ela fosse beija-lo, mas ela apenas analisava sua pálpebra, desceu seus dedos para o pescoço dele, sentindo sua pulsação e depois tocou a ferida no abdômen, canalizou o chakra e quando ia terminar de cura-lo, Sasuke segurou sua mão.

— Não foi para isso que eu vim até aqui. — A expressão da Haruno endureceu, a soltou e ela voltou a cura-lo, o Uchiha observou o rosto sereno e concentrado da Haruno. — Eu fiquei sabendo sobre o fim entre você e Naruto, ou melhor, eu o vi com a Hyuuga umas três vezes. — A espiou pelo canto dos olhos e nenhuma reação foi esboçada. — Por que não me procurou? Por que não me disse nada?

— Não tinha porque procura-lo.

— Eu não entendo você, fez a escolha e agora me despreza dessa forma, não vou ficar suportando esse seu comportamento, Sakura.

— Eu e o Naruto não termos ido para frente, não significa que eu ficarei com você. — Terminou de cura-lo e retirou a tala que circundava a cintura do rapaz que a fitava aturdido.

— Era ele, era por causa dele que nós não podíamos ficar juntos.

— Acredite, Naruto foi o menor dos nossos problemas.

— Não é possível que eu esteja ouvindo isso. Depois de tudo que eu tive que aguentar, seu vai e vem, seus surtos, seu tudo. Você me diz que não vai ficar comigo?

— Aguentar? Você quer falar comigo sobre aguentar? E eu que tive que ver você sair com todas as garotas dessa maldita Vila? Todas eram dignas da sua companhia, de passear, de flertar, de ter encontros e a mim mal era limitado a sua cama, na rua você fingia que eu era ninguém. Só faltava virar a cara quando me via no meio da rua. Olha, eu não vou dizer que estava certa. Eu reconheço que errei em ter ficado com os dois, o erro inicial foi meu, todo meu. Errei em não fazer uma escolha, em não pôr um ponto final quando deveria, em ter deixado essa história se arrastar. Mas isso não faz a sua indiferença ser menos cruel, não transforma seus atos em algo justificável. A verdade é que eu já eu não o quero mais. — Pode sentir sua visão embaçar, mas mesmo que as lagrimas caíssem ela não iria se importar, não dessa vez, pois sentia-se leve em estar colocando tudo para fora. — Eu não quero sentir o que eu sinto quando estou perto de você, eu não quero pensar que você é o centro de tudo em minha vida, porque você não é! Eu demorei muito para perceber isso, para me focar em outras coisas e notar que eu posso viver sem tê-lo. Quero minha vida, minha independência, minha carreira e não essa angustia que me acarreta sempre que eu me lembro de tudo o que vivemos e de tudo o que somos. Então se era só isso que tinha a me dizer, pode ir voltar a trepar com quem quiser, não a e não vai haver algo entre nós.

Página no Face: Fleur D'Hiver