Esgueirou-se por uma das ruelas mais desertas de Konoha sem se importar com o tipo que andava por ali, afinal ninguém ousaria mexer com ele. Caminhar daquela forma, esconder-se nos becos lhe dava a impressão que tinha voltado para o tempo em que precisava se camuflar para conseguir andar em paz, sem garotas o perseguindo a cada esquina que virava.

Antigamente isso ocorria contra a sua vontade, dessa vez ele era o causador de seu tormento.

O que estava pensando afinal? Que encontraria algum tipo de conforto indo de garota em garota? Idiotice! Uma ideia digna de Naruto. Há que ponto havia chegado? Agora mal conseguia andar pela Vila sem ser importunado por garotas com quem já tinha saído e por futuras pretendentes (ao menos era o que elas achavam que eram).

A rua principal parecia vazia, alguns poucos estabelecimentos ainda abertos, nenhuma louca a vista. Calculou a velocidade necessária para subir no telhado a frente sem chamar atenção, mas antes mesmo que inclinasse o corpo para saltar uma visão incomum chamou sua atenção.

Sentados no Ichiraku estavam Naruto e Hyuuga Hinata, lado a lado, no que parecia uma conversa intima. Franziu o cenho, não sabia que aqueles dois tinham aquele tipo de relação ou qualquer outra. Mantinham uma distância respeitosa, evitavam de se tocar, mas uma áurea os rodeava e Sasuke se sentiu incomodado com aquela cena. Algo estava muito errado naquela história.

Nunca foi um dos seus hobbies ficar observando a vida alheia, na verdade odiava pessoas que faziam isso. Mas não teve como evitar, aqueles dois, principalmente por Naruto, vê-los levava seus pensamentos a Sakura e ao fato de que provavelmente ela desconhecia esse encontro. Essa ideia aumentava ainda mais a sua raiva pelo Uzumaki. Afinal ele a tinha ganhado a garota e agora ficava por aí, tarde da noite, em saídas clandestinas. Não poderia aceitar, Sakura não merecia isso.

Permaneceu nas sombras da ruela, à espreita, aguardando o momento oportuno para fazer com que o notassem. Não foi preciso aguardar por muito tempo, uma leve inclinada de Naruto em direção a garota gerou um redemoinho de reações, Hinata levantou-se abruptamente e saiu, não correu, mas dava para notar que seus passos apressados significavam que aquela conversa não tinha sido de seu agrado.

Observou Naruto passar as mãos pelos cabelos loiros de forma exasperada, os ombros caírem e em seguida fitar o caminho que a Hyuuga tinha tomado, seu maxilar trincou. Maldito, como ousava.

— Boa noite!

Naruto quase derrubou os hachis ao ouvir a voz grave do amigo e seu espanto irritou ainda mais o Uchiha que preferiu não transparecer seu estado, ao menos por enquanto. Ergueu uma das mãos e pediu a uma corada Ayame uma porção de lamen de frango.

— O que faz aqui?

— Foi Hyuuga Hinata que eu vi saindo, as pressas, daqui? — O Uzumaki franziu o cenho pelo questionamento, mas meneou a cabeça em concordância. — E o que você tem a tratar com a Hyuuga?

— E o que você tem a ver com isso? — O punho cerrado do garoto bateu sobre a bancada, atraindo a atenção de terceiros. — Vai dar em cima de Hinata também? — A refeição de Sasuke foi servida e por um tempo a resposta não veio, Naruto o encarou, mas logo voltou para seu próprio prato, comendo seu macarrão com afinco, tentando diminuir a raiva que começava a sentir.

— O mínimo que Sakura merece é o seu respeito, afinal ela escolheu você. — Os hachis foram largadas e atmosfera voltou a se alterar, a hostilidade de ambas as partes era palpável, mas nenhum movimento foi feito, nenhum xingamento ou comentário que levá-los-ia a uma briga. Quando Sasuke se virou espantou-se com a imagem de seu amigo, Naruto estava com os ombros caídos, braços apoiados no balcão, remexia seu lamen sem um pingo de vontade.

— Nem sei mais o que está rolando entre nós. Faz dias que não a vejo, ela não a procurei desde o dia em que esbarramos com Hinata e ela não fez a mínima questão de vir saber o que estava acontecendo. Cheguei a pensar que você estava envolvido. — "De certa forma." As palavras pairaram pela cabeça do Uchiha, mas nada disse continuou a ouvi-lo. — Então eu te vi com a Ino e outras garotas, mas as coisas não mudaram e nós dois continuamos na mesma. Acho que o que temos acabou e apenas esquecemos de contar um a outro.

— E você não se importa com isso?

— Sim, eu me importo... Só que... — Naruto buscava a palavra certa para descrever a confusão que estavam os seus sentimentos, mas não havia nenhuma, suspirou, passando a mão pela cabeça. — Eu não sei de mais nada, eu nunca soube... Sabe quando parece que tudo aquilo pelo que você batalhou é uma luta sem méritos? Ando me sentindo assim. Eu a tenho, mas... — A risada de Sasuke chamou sua atenção, era quase um rosnado raivoso, Ayame e o Sr. Ichiraku o fitaram amedrontados.

— Então é isso? Você fode a minha vida, consegue a garota e agora não sabe? Não sabe o que quer? Não está bom para você. Pelo amor, você me enoja.

— Eu fodi sua vida? Eu? Quando você começou seu breve assunto com a Sakura nós dois já estávamos tentando, o único a se meter e foder algo aqui foi você, se eu não estou bem com ela agora a culpa é toda sua. — Sasuke se levantou, não valia a penas continuar tendo aquela conversa.

— Poupe-me! Ela deveria está comigo agora, não com você. — Os tons tinham se elevado mais do que o esperado e as pessoas na barraca de lamen e até as que passavam em volta tinham parado para ouvir a discussão dos dois maiores ninjas da atualidade.

— Ela poderia escolher qualquer um de nós dois e o fato de ter preferido a mim significa que tem algo em você que não vale muito o esforço, que não a nada de certo e bom na história de vocês. — Largou as moedas sobre a bancada. Havia perdido a fome, havia perdido tudo.

As palavras de Naruto o atormentavam, todas elas. Droga! A pior parte é que ele tinha uma certeza razão, era mais do que sentimentos não foi Naruto quem tirou a garota dele, foi ele quem a perdeu. Que merda havia feito com a sua vida? Que merda vinha fazendo?

Passou as mãos pelas têmporas e decidiu parar em um bar a caminho de sua casa, não faria mal algum tomar uma dose de saquê, as coisas já estavam péssimas de qualquer forma, não tinha como piorar.

— Olha quem eu encontro por aqui...

— Não, Kakashi. Não estou interessado em jogar conversa fora com você. — Mal tinha entrado no estabelecimento e seu ex-sensei já tinha aparecido para azucrinar ainda mais seu juízo, como se Naruto já não tivesse perturbado o suficiente.

Fingiu não dar importância ao homem ao seu lado e ergueu uma das mãos, chamando a atenção da bartender e preferiu pedir uma cerveja ao saquê, assim que a bebida foi entregue ela sorriu e se afastou e pelo habito dos últimos tempos analisou-a com atenção enquanto sorvia o liquido amargo da garrafa.

— E o que pretende fazer? Pegar alguém por aqui? Devo dizer que a garota do bar, é um charme, mas muito escandalosa. — Desviou o olhar, ainda evitando o homem ao seu lado. — O que? Não finja estar constrangido, achei que era isso que queria. Já que é o que tem feito nos últimos tempos, uma conversa de homem para homem cairia bem. — Tomou um gole generoso de sua bebida.

— Você me disse que ele era o melhor para ela, que eles formavam um bom quadro. — As palavras saíram arranhadas, como tinha asco daquele assunto. — Agora ele nem ao menos sabe se a quer.

— Ele era o melhor para ela. — Soltou uma risada descrente e debochada, pedindo outra cerveja. — Sem complicações, sem dramas familiares, sem querer bancar uma imagem que não lhe cai mais. E devo acrescentar que ela também é o melhor para ele, ambos teriam uma vida feliz, filhos que seriam mimados, superprotegidos e idolatrariam seus pais bagunceiros e as vezes tão infantis quanto eles.

Aquela imagem familiar de Naruto e Sakura quase embrulhou seu estomago, não era certo. Não seria assim, ele tinha conversado com o Uzumaki, Kakashi estava enganado, tentava forçar sua mente, mas no fungo ele sabia que conseguia vê-los exatamente como o Hatake os descrevia.

— Você ouviu o que eu disse? Ele está em dúvida. Por que me disse aquilo? Por que? Se tivesse ficado na sua, talvez agora eu estivesse com ela. — Dessa vez foi Kakashi quem fungou descrente, tomando uma dose de sua própria bebida.

— Acredita realmente nisso? Eu disse aquelas coisas para que você se desse contam percebesse tudo o que estava fazendo de errado. Só não imaginava que no final você faria mais coisas erradas. — Franziu o cenho, mas preferiu não perguntar, deveria ir para casa e terminar com aqueles encontros desastrosos, ou logo Sakura apareceria também para jogar algo em sua cara, levou a mão ao bolso para pegar o dinheiro, mas Kakashi o interrompeu. — Eles tinham tudo para serem felizes, algumas pessoas poderiam acabar o sofrendo por essas escolhas, mas isso faz parte de viver, de crescer. No entanto você apareceu, você quebrou o elo, criou a crise e achei que pelo seu comportamento, naquele dia fora da Vila achei que iria lutar por ela e...

— Mas eu lutei! Foi o que mais fiz...

— Foi o que acha que fez. Você a tratou como se ela já fosse sua e esqueceu que em algum momento você a perdeu. Em algum momento ele a ganhou e ela gostou do que ele tenha feito. Você não tentou conquista-la de novo, apenas tentou estabelecer sua posse sobre algo que não lhe pertencia mais e nem nunca pertenceu, Sakura não era um objeto Sasuke. — Poderia dizer que ele estava errado, que tinha marcado um encontro, que queria levar as coisas a sério, mas que ela tinha preferido sair com Naruto e transferir os cuidados dele para outra pessoa, mas isso pareceu mesquinho, pequeno e infantil, ao invés disso pagou as suas bebidas e levantou, dessa vez não foi segurado. O recado já tinha sido dado.

(...)

“Eu já sabia. Eu deixei que me usasse, pois era melhor tê-lo de alguma forma, a qualquer preço do que nunca ter. Do que passar o resto da minha vida com uma fantasia. Agradeço por aquele dia, Naruto. Eu nunca o esquecerei”

Dois dias haviam se passado e aquela conversa com Hinata ainda o atormentava. Tirava todo o seu sono, sua paz. O que ele tinha feito para receber tal sentimento? Nada. Amou outra, lutou por outra e fugiu dela, como fugiu, chegava a ter vergonha por saber que uma pessoa tão especial como Hinata gostava dele.

Virou-se de bruços, afundando a cabeça no travesseiro. Tudo tinha dado errado, um trovão ecoou fazendo as janelas de seu pequeno apartamento vibrarem. Levantou-se para fechar o basculante da cozinha antes que toda a casa ficasse inundada.

Estava prestes a voltar a se deitar e continuar sua linha de pensamento torturante quando uma batida na porta ecoou pelo local silencioso, mesmo sabendo que era impossível temeu ser algum tipo de bandido, a morte, ou um ladrão de órgãos, nunca se sabe o tipo que pode aparecer em uma noite de chuva. Outra batida ecoou, depois outra e mais outra todas denotando uma urgência sem tamanho, com a curiosidade falando maior que seus medos infindáveis correu para abri-la. Retirou o trinco, destrancou a porta e surpreendeu-se ao ver Sakura parada a soleira.

— Sakura...

Não houve tempo para cumprimentos ou explicações, Sakura invadiu o apartamento, acabando com o pouco espaço que havia entre eles tomando os lábios de Naruto com voracidade, uma fome, uma necessidade palpável. Naruto se surpreendeu com as ações dela. O que ele deveria fazer? Como deveria agir? Por um momento se recriminou por não sabem nem ao menos como toca-la, forçou sua mente a parar de pensar e agir, levando uma das mãos a nuca da menina e a outra a cintura pressionando seu corpo delgado contra o dele.

Impróprio.

A pele dela estava fria, o que levava ele a se encolher, sempre tinha gostado do cheiro da Sakura, mas agora ele o irritava, pois não conseguia leva-lo a pensar como deveria pensar. Não o excitava, apenas o agradava e não era assim que as coisas deveriam ser tinha prometido que caso ela voltasse a bater a sua porta não iria rejeita-la como da última vez.

— Eu quero você, quero agora. Estou pronta para ser sua. — Quanto tempo tinha esperado para ouvir aquelas palavras? Quantas vezes imaginou aquela cena e desejou que ela se tornasse verdade..

Tomou-a entre seus braços, fechou a porta, os movimentos foram confusos e sem encaixe, quando viram estavam no chão, Sakura por cima, arranhando suas costas enquanto retirava a camisa, seu ombro foi mordido, seu pescoço, os lábios dela eram quentes ao mesmo, virou a cabeça vendo a poeira debaixo do sofá e se lembrou que não tinha arrumado o apartamento como o prometido. Droga, ela ficaria puta.

Ele estava pensando em limpeza, suspirou, aquilo estava errado, um pedaço de pano caiu a sua frente e quando deu por si tinha uma Sakura sem blusa sobre seu ventre. Ela era linda, perfeita, o corpo muito mais belo do que já tinha imagino, tocou a curva de sua cintura e então o contorno de seus seios, hesitou por um momento. Tempo o suficiente para fita-la, assim que seus olhares se encontraram pode ver as diversas incertezas que o habitavam transparecerem nela também, ergueu o tronco, mantendo-a sentada entre suas pernas, apertou os seios, pressionando um dos mamilos e arrancando um baixo gemido da garota assim que seus lábios entraram em contato com um deles.

Aquilo era o que mais queria, não era? No entanto uma voz em sua mente continuava a dizer que o estava fazendo era errado, degradante. Parou. Sentiu o peso de Sakura sobre seus ombros, ela o abraçava e não demorou muito para sentir gotas quentes tocando sua pele, abraçou-a, escorando as costas no sofá, acariciando os cabelos claros enquanto o choro dela se tornava agudo e violento.

— Está tudo bem, Sakura. Fique calma. — Não soube por quanto tempo repetiu essa frase, parou apenas quando o choro dela não passava mais de leves fungadas.

— O que estamos fazendo?

— Não sei. Brincando de cabra cega quem sabe. — Sakura ergueu a cabeça e desatou a rir, não teve como ele se segurar e em poucos instantes ambos estavam gargalhando, como se tivessem ouvido a piada mais engraçada dos últimos tempos. A risada dela, se misturou ao choro e ele parou quando viu as lagrimas voltarem a cair pelos olhos esverdeados.

— Eu amo você, eu amo mesmo... Não sei, eu queria entender o que acontece... Porque não dá certo. Não é errado.

— Não, não é. — Secou as lagrimas dando leves beijos em cada maçã do rosto dela. — Eu também amo você.

— E eu a você...

— Você ficou com ele, não ficou? — Por um momento ela o fitou sem saber o que dizer, abaixou a cabeça, pegando sua camisa largada ao chão e a vestindo.

— Como sabe?

— Você agiu da mesma maneira quando ficaram juntos a primeira vez. — Deu de ombros, vendo-a encolher-se ao seu lado. — Até mesmo o afastamento foi semelhante. E ai? O que vai fazer?

— Nada, eu acho. Eu cansei, Naruto. Cansei de ama-lo e não ter nem um pingo desse sentimento retribuído, Sasuke não me traz nada de bom. Só coisas ruins, vou cuidar de mim.

— Faz bem.

Sakura observou o rosto bronzeado com atenção, ele não estava abalado, nem parecia esconder alguma coisa dela, estava sendo sincero e com uma estranha sensação no peito, ela se deu conta de que tudo a sua volta tinha mudado.

— Eu perdi você, não perdi?

— E eu algum dia te tive?

— Sim, eu fui sua Naruto. Durante muito tempo eu fui só sua, confusa, mas sua. Só que toda essa complicação, talvez eu não queira ser de mais ninguém. Talvez queira ser de mim mesma, quem sabe. Parece uma boa ideia.