Entre Amigos escrita por Fleur dHiver


Capítulo 13
Entre Uma Carta Sua e Uma Carta Minha




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Querida, Sakura-chan.

É a primeira vez que eu escrevo uma carta, estou agitado, muito agitado. Quero te contar um monte de coisas. Konoha mudou tanto desde a sua partida. Mas acho que devo começar me desculpando. Desculpa pela demora em dar sinal de vida, achei suas cartas tem dois dias, minha vida estava uma bagunça desde que eu fui despejado.

Exato. Você leu bem, eu fui despejado sem dó nem piedade.

Um pouco depois da sua partida eu e Sasuke saímos em uma missão e isso foi bom, muito bom por sinal. Renovou nossos laços, deixamos as magoas e desavenças de outrora para trás e finalmente voltamos a ser amigos/rivais, irmãos. Esse não era o foco, a questão é que eu deixei com o Kakashi dinheiro suficiente para pagar o aluguel mensalmente, mas esqueci que haviam dois débitos em aberto. Conclusão: acabei na rua.

Cheguei a falar com o sindico, mas ele disse que não aguentava mais o cheiro de lamen e leite estragado no corredor, nem sei do que ele falava, preferi não me aprofundar no assunto, afinal cheiro de lamen é maravilhoso, mas enfim... Passei uma longa jornada buscando moradia, com as minhas coisas empilhadas no sótão da casa de nosso sensei.

O que posso dizer sobre minha longa jornada é que você nunca conhece alguém bem o suficiente até morar com ela. Muitas revelações podem vir de dentro de uma casa (nenhuma positiva).

Nunca entre na casa do Choujo ou do Kiba são nojentas e passar mais de seis horas sozinho com o Sai não faz bem a sua cabeça, não faz mesmo. Teve algumas perguntas que ele me fez que até o momento eu ainda não absorvi e nem sei se quero. Tive pesadelo com uma delas. Como ele pode pensar aquilo?

Atualmente estou com Sasuke, ele saiu em uma longa jornada e eu cuido do apartamento. Hinata está me ajudando a procurar algo decente e que seja grande o suficiente para... ser preenchido.

Sai com a Ino esses dias, o festival estava ocorrendo e as cerejeiras tinham desabrochado. Uma visão bela de se ver, mas incompleta. Desde que a conhecia essa deve ser a primeira vez que vou sem você, para Ino acredito que seja desde sempre. Ela estava inconsolável, falamos muito sobre nossos momentos ao seu lado.

Contei a ela sobre a primeira intoxicação alimentar que tive com a sua comida e ela falou que uma vez fingiu comer um bolo seu e jogou fora (não sou o único), sobre o fato de você se estressar atoa, das caretas que faz quando está concentrada e do fato de você contar segredos enquanto dorme. Sakura-chan, você sabe o que eu sei sobre você? Hehehe.

A conversa foi boa ela até quis sair de novo comigo, mas não. Foi legal, mas a Ino fala muito e não deu espaço para que eu falasse, não gostei. Não saio nem em missão com ela, Kakashi que me obrigue (a é, não contei. Nosso sensei vai ser o próximo Hokage. Não quero entrar em detalhes.) prefiro sair com a Hinata e acho que a Ino com o Sai.

Você estava certa sobre eles se encaixarem, eu os vi umas três vezes caminhando juntos, até pega-los fazendo algo não ortodoxo no apartamento dele. Sai é a única pessoa capaz de deixar a Ino sem graça, nada mais divertido do que ver ele dizer "é só introduzir nas vias anais" ela fica para morrer. Lindo.

Shikamaru e Temari estão noivos e com o casamento marcado já, todos suspeitam que o Choujo arranjou alguém e eu vi o Konohamaru procurando assunto com a Hanabi, mas já falei que não quero isso. Preciso preserva-la. E bem, eu...

Estou oficialmente saindo com a Hinata a três semanas, ela já vinha me ajudando a mais tempo com relação ao apartamento, tem procurado um junto comigo (ela é muito boa nisso), é calma, gentil, me deixa falar a vontade e não se sente constrangida com a minha agitação.

Demorei a notar o quanto ela é perfeita. Ela é toda meiga e delicada, mas acredite as vezes tem um leão dentro daquele corpinho diminuto. É engraçado, gosto de estar perto dela, mas não me sinto merecedor. Hinata é tão incrível, vai liderar seu clã, tem uma família enorme (pronta para me matar! E a propósito foi ela que me ensinou a usar o parênteses, eles são tão legais) e com toda certeza deveria estar com alguém em condições melhores que as minhas.

Quer dizer que cara de uma boa família não ia querer casar com a Herdeira Hyuuga? Ou até mesmo dentro do clã dela, acho que tem um drama ai também e ai vem eu, mal tenho dinheiro para o um quitinete, morando de favor, catando com a unha a raspa do tacho.

Preciso mudar, estou muito focado nas missões que pego agora, fiz uma poupança com a ajuda do Kakashi, mas ainda vou procurar o Shikamaru, não sei se confio totalmente no Kakashi-sensei. E mandei ela procurar um apartamento com quartos a mais, ela estranhou, mas espero que ela tenha entendido o meu olhar. Eu mandei 'o' olhar (significado: sim, quarto para as nossas crianças. Quer fazer?), eu me sinto constrangido em ter mandado 'o' olhar, quer dizer, eu nunca mandei 'o' olhar. Eu nem sabia que existia 'o' olhar até encher a cara com o Sasuke.

Ele sabe muito das coisas. Sasuke bêbado é o que há. O Sasuke mandou 'o' olhar para você? Não! Não me conte! Não preciso saber.

Enfim eu quero mudar por ela! Espero conseguir, espero que você volte, porque é muito estranho ficar escrevendo uma carta para alguém. Como está indo sua missão? O pronto socorro desse lugar está ficando bom? Espero que sim, pois quero você aqui. Falando dessas coisas ao vivo enquanto comemos lamen.

Ps.: Estou mandando anexo a carta alguns presentes: uma foto minha para você amar (o item mais importante da lista); um desenho de Sai; uma flor da Ino (qual a necessidade?); um livro do Kakashi (não leia!); um saquê da Baa-chan (ela disse que serve para esquentar); um livro da Shizune (esse você pode ler, eu tentei, não entendi); um jogo de tabuleiro do Shikamaru (chatoooo...); um perfume da Hinata (é gostoso, pedi para ela comprar um para ela também, espero que não se importe).

Ps².: Eu gostei muito de usar parênteses em tudo que eu escrever a partir de agora irei usar.

Ps³.: Sasuke ainda está solteiro.

Uzumaki Naruto.

(...)

Quantas foram as vezes que já tinha relido aquelas palavras? Tantas que não tinha mais como contar, o papel já estava ficando gasto de tanto ser manuseado.

"Ah, Naruto. Como pode não enxergar que já mudou?"

Sakura queria estar lá, acompanhar de perto o amadurecimento de seu esfuziante amigo, de garoto para o homem, de homem para pai e enfim Hokage. Porque com toda certeza ele irá se tornar o sétimo Hokage. Como duvidar disso?

Mas ela precisava urgentemente de mais detalhes sobre a escolha de seu sensei para a liderança da vila. Como imaginar Kakashi sendo o sexto?

Lembrava dele ter ocupado esse papel durante a guerra, mas era um mal necessário, algo temporário enquanto Tsunade não estava podendo exercer essa função, seu sensei deveria estar louco. Coitado, muita pressão para alguém tão despretensioso quanto ele.

Com um sorriso diminuto no rosto guardou com carinho a carta em seu bolso, dando duas pequenas palmadas na lateral do jaleco. Por enquanto ficaria ali para todas as vezes que a saudade batesse ela relesse aquelas tão maravilhosas palavras.

Sorveu um pouco mais do café já frio e levantou-se, precisava fazer a ultima ronda na clinica. Seu trabalho por ali já estava quase terminado, um ano e alguns meses naquela cidade deu a ela a oportunidade de capacitar vários jovens ninjas médicos, atrair a atenção de outros dos vilarejos próximos que não podiam perder a oportunidade de serem treinados pela pupila da sennin.

O pronto socorro já conseguia se manter sem sua tutela, suas ideias extras já foram implementadas e agora só faltava liberar sua ultima turma, reorganizar os novos professores e aguardar a chegada do encarregado que seria enviado pela União Shinobi para averiguar a eficácia desse projeto.

— Sakura-senpai! Sakura-senpai! — Parou no meio do caminho para a saída do local, finalmente tinha terminado a sua ronda, enrugou a testa ao ver Mayumi correr em sua direção com uma pilha de papeis prestes a escorregar pelos seus braços finos. — As provas finais dos últimos formandos de medicina, a senhora precisa corrigir.

A Haruno entortou o nariz para o "senpai" e "senhora" já havia brigado e lutado contra aqueles adjetivos, mas parecia que reclamar não adiantava de nada, continuavam chamando-a assim. Suspirou e com cuidado, retirou o material das mãos de sua assistente antes que elas os deixasse cair.

— Obrigada, Mayumi. Peço que deixe na minha sala a ficha das operações simples e complexas que irão ocorrer essa semana. — Arrumou a pilha em seus braços, observando por cima as respostas de alguns candidatos. — Avise também os residentes que estão sob a minha observação esse mês que terei uma reunião com eles na segunda, preciso deixar meus substitutos preparados. — Sorriu realizada ao ver tudo se encaminhar da forma correta, mas a garota a sua frente não parecia tão animada quanto ela.

— Sentiremos muito a sua falta, quando você for embora.

— Eu também sentirei a falta de vocês, aqui foi o meu lar por um longo tempo e nem tenho palavras para descrever como essa Vila me fez bem.

— Soiji pediu que você o encontrasse mais tarde. — Mayumi sorriu e se afastou, deixando Sakura com as bochechas manchadas de carmesim. O que poderia esperar dessa noite?

Seus desejos por um bom banho de banheira e uma coberta felpuda tinham acabado de descer ralo abaixo, por uma boa razão e por outra péssima, a parte mais chata de lecionar era corrigir. Sakura odiava a parte teórica de seu trabalho, perdia muito tempo corrigindo trabalhos e provas, algo monótono demais para alguém como ela. Definitivamente não se daria bem sendo a professora dos gennins na Academia, talvez como tutora se sairia melhor, o máximo que teria que fazer eram relatórios e nisso ela não via problema.

Sorriu, era engraçado como tinha se mantido afastada de sua Vila por tanto tempo, gostava nem de pensar muito na vida que corria naquele lugar, mas agora, com a cara de Naruto simplesmente não conseguia esquece-los, ou afugentar essa ideia. Talvez estivesse mesmo no tempo de voltar para casa e se estabelecer.

Observou os restaurantes voltarem a abrir as portas para a vida noturna, o cheiro de comida recém preparada lembrou-a de que tinha passado o dia a base de café e um sanduiche natural. Apressou o passo para comprar algo, mas antes de entrar em seu estabelecimento favorito um buchicho chamou sua atenção.

No final da rua a porta de um bar muito utilizado pelos ninjas da Vila e os que estavam de passagem havia um aglomerado de pessoas, era comum, geralmente ele estava cheio, mas o burburinho que ouvia lhe cheirava a confusão.

— Vocês de Konoha são todos iguais. — Voltou-se para frente ao ouvir aquela frase, franzindo o cenho. O que poderia estar ocorrendo no bar de Sanji? Apertou os papeis contra o peito e espremeu-se entre as pessoas, procurando brechas para se enfiar e conseguir ver o que ocorria dentro do estabelecimento. — Olhe para mim enquanto eu falo com você, se acha o bonzão não é mesmo... Vai ver só e aahh... — Um estrondo alto foi ouvido, risadas e muxoxos de desaprovação tomaram o lugar.

Desapontadas as pessoas começaram a dispersar e Sakura conseguiu enfim entrar no lugar, no entanto deveria ter previsto que algo de bom não poderia vir de tal ação, deveria saber que a palpitação que sentia era familiar e deveria ser evitada.

Toromi, o homem que discursava a alguns instantes estava caído no chão, uma mesa virada ao seu lado e duas garrafas quebradas. Não foi difícil deduzir que ele não conseguiu chegar ao seu alvo e com toda certeza trombou com a mesa, mas o que fazia o ar da Haruno escapar não era o estado do homem caído e sim a pessoa a quem ele direcionava seus insultos. Sentado no bar tomando sua bebida tranquilamente estava ninguém mais, ninguém menos que Uchiha Sasuke.

Ao menos estava tomando sua bebida tranquilamente já que não demorou muito para ele notar a presença da garota e desviar-se de sua ação para manter seus olhos soturnos de predador sobre ela.

"O Sasuke mandou 'o' olhar para você?"

Tentou não seguir aquela linha de pensamento e principalmente ignorar a pessoa que a encarava com tanto fervor, largou os papeis em cima de uma mesa e se aproximou do homem desfalecido. Médicos prestavam socorro a todos, até a bêbados inconsequentes.

— Sakura-sama... A única que presta daquela vila de antipáticos. — Meneou a cabeça, emanando chakra verde e averiguando se havia alguma lesão mais séria, por sorte apenas pequenas contusões e cortes superficiais, instruiu os homens que estavam ao seu lado a acompanharem ele até o hospital para cuidar dos hematomas e da dor de cabeça que viria.

Observou-os se afastar, evitando o quanto pode se virar e fita-lo, mas não tinha como isso durar para sempre. Levou uma das mãos ao bolso do jaleco pressionando a carta de Naruto entre seus dedos. Antes de voltar-se para o forasteiro tão conhecido por ela abriu a boca duas vezes, mas o que falaria? Não conseguia imaginar nenhuma frase decente para cumprimenta-lo, então respirou e apenas sorriu.

— Eu não sabia que estava aqui. — Respirou fundo para que não estremecesse ao som daquela voz. Ficar tanto tempo longe de Uchiha Sasuke lhe pareceu algo bom, que tinha enfim se curado, mas parecia que não era bem assim que as coisas funcionavam.

— A minha missão é aqui nessa Vila. — Manteve o pequeno sorriso nos lábios e virou-se, ansiando estar longe dele, no entanto sua fuga foi infrutífera, pois ele a seguiu.

Pagou pela bebida e saiu porta a fora, poucos passos atrás dela. Não voltou-se ou diminuiu os passos para que ele a acompanhasse, se manteve impassível como se nada tivesse ocorrido.

— Naruto me disse que sua missão é construir um pequeno pronto socorro.

— Sim.

— Muito bom, tenho certeza que essas pessoas precisam. Além de ser uma rota de viagem de diversos ninjas.

— Pois é, foi nisso que a Aliança Shinobi pensou. — Apertou as provas contra o corpo, observando-o de soslaio pode vê-lo ajeitar a capa sobre os ombros e se encolher. Com certeza não estava acostumado com o frio que fazia por ali.

— Hum... Aqui é frio, não é? — Mordeu o lábio inferior, segurando a vontade de rir das tentativas frustradas de puxar assunto.

— Bastante.

— Sakura... Nunca fui a pessoa que inicia a conversa — Suspirou, passando as mãos pelos cabelos um pouco mais comprido que o usual. — Você poderia colaborar.

— Eu queria saber por que está fazendo isso então? — Parou de caminhar e o fitou por um tempo, mas quando ele virou o rosto para o outro lado teve a certeza que nenhuma resposta viria.

— Eu senti sua falta. Só queria estar com você agora. — E essas palavras a quebraram, mas do que qualquer outro gesto por parte dele, encolheu os ombros.

— Eu preciso corrigir algumas provas se quiser pode me acompanhar até em casa.

— Posso mesmo? Não vou atrapalhar?

— Não e esses dias tem ameaçado nevar é melhor permanecer em ambientes fechados e quentes do que na rua e em bares.

Caminharam mais um pouco, cruzando duas ruas até chegarem a pequena e aconchegante casa que Sakura estava morando. Uma construção simples de um único piso. Não havia hall, a porta de entrada já dava para sala a sua frente podia ver o sofá, a porta para cozinha, a porta para os fundos e a esquerda o corredor para os quartos e banheiro.

— Eu tenho um quarto de hospedes caso você queira ficar, só deve está um pouco bagunçado. — Essa foi a vez dele quase rir ao ter o quarto de hóspedes ofertado, outros tempos com toda certeza

— Obrigado, belo lugar é bem a sua cara. — Havia alguns livros espalhados na mesa atrás do sofá, uma pilha de pergaminhos sobre a mesinha de centro e flores por toda a parte.

— Fique a vontade, o quarto de hospedes é a porta a esquerda, caso queira tomar banho é só se encaminhar a ultima porta do corredor. Tem toalhas limpas no armário embaixo da pia. — Ajustou o aquecedor e largou os papéis em cima da mesa, massageando os ombros e caminhando até a cozinha.

Sasuke aceitou a sugestão e foi tomar um banho, largou sua bolsa no quarto ao lado do banheiro como foi instruído por Sakura. Não demorou em seu banhou, vestiu roupas quentes e sorriu ao ver os detalhes no quarto em que estava, realmente bagunçado, mas tudo lhe parecia tão convidativo e confortavel.

Ao voltar para a sala o ambiente estava com um cheiro de café e torradas, Sakura estava a mesa concentrada em corrigir as provas que tinha trago. Sentou-se na outra extremidade, fitando os papeis a sua volta.

— Patrulha do Bem-Estar. — Parou com as anotações ao ouvir o que ele dizia. — O que seria isso?

— Bem, essa foi uma ideia que eu tive e está sendo implementada há alguns meses. — Passou as mãos pela franja, arrumando-a sistematicamente. — A cada ano um grupo de médicos vai ser separado dos demais para servir na patrulha do bem-estar, é como se fosse uma comitiva médica que circula entre as cinco Vilas que tem por essa região. Aldeias pequenas e que não possuem atendimento médico próprio e as vezes a locomoção de alguns enfermos é impossível e eles acabam parecendo. Com essa rotatividade já foi comprovado que houve uma baixa nas mortes e na contenção de epidemias nos pequenos vilarejos. — Um sorriso mínimo surgiu nos lábios finos, queria contar a ela o quanto ficava linda ao falar sobre seus feitos que seus olhos brilhavam e que por mais tímida e sem jeito que estivesse era nítido o orgulho que sentia de seu trabalho.

— Uma ideia incrível. — Mexeu a caneta entre os dedos, sentindo suas bochechas queimarem, voltou a observa-lo e Sasuke parecia prestar atenção nos papeis espalhados a sua frente.

A presença dele era inebriante, sempre tão perturbadora, mas ao mesmo tempo em paz, não havia todo aquele conflito interno e incertezas, tinha dito tudo que precisava dizer. Observou o relógio sobre a cabeça dele e se ergueu em um pulo.

— Vou preparar algo para comermos. — Não era a melhor cozinheira no mundo, mas com o tempo tinha aprendido a fazer algumas coisas e tinha certeza que conseguia se sair bem. Por garantia não se arriscaria muito, ficaria no básico macarrão, era a melhor opção.

Pegou o pote no armário a sua cabeça e encheu a panela com água pondo a para ferver. Ao se virar, deparou-se com Sasuke separando alguns legumes e colocando um pote com carne picada em cima da pia.

— Yakisoba improvisado? — Deu de ombros. Por que não? Juntou-se a ele, pegando duas facas e começando a descascar o pimentão, enquanto ele trabalhava nos tomates. Tentou não pensar na intimidade daquele momento ou no fato da liberdade que ele já tinha tomado. Sentia-se bem, sentia-se quente. Um pedaço de seu lar parecia ter surgido naquela Vila, um pedaço muito bom. Um pedaço que ela sonhou a vida toda.

— O que vai fazer quando entregar essa última turma? — Seus braços roçaram bem de leve e um arrepiou subiu na espinha dela, mas tentou não focar seus pensamentos nesse contato.

— Voltar para casa, eu acho. Tsunade não me disse nada sobre novos polos já em andamento, ou se eu seria mandada para começar um novo depois desse, mas acho que agora terei que me reportar ao Kakashi, né? — Sasuke meneou com a cabeça, abrindo o pequeno pote e despejando a carne em uma frigideira que ele mesmo tinha pego. — Estranho pensar no nosso sensei dessa forma, você não acha? — Deu de ombros, jogando os legumes cortados junto com a carne.

— É porque você está a muito tempo fora da Vila. Já me acostumei com essa situação. — Sakura quebrou o macarrão e o colocou na panela com água.

"Atualmente estou com Sasuke, ele saiu em uma longa jornada e eu cuido do apartamento."

Mordeu o lábio inferior observando-o mexer a carne com calma e maestria, o cheiro estava ficando bom e seu estomago começava a revirar de fome.

— Você não parece estar em uma missão. — Deu de ombros.

— Não estou.

— O que está fazendo por aqui então? — Sakura escorou as costas no batente da pia, enquanto ele desligava o interruptor do fogão o refogado já pronto para receber o macarrão.

— Uma jornada. Pedi um tempo para Tsunade e para o Kakashi. — Franziu o cenho, não conseguia entender bem o que ele estava querendo dizer. Estava tirando férias? Simplesmente não conseguia imaginar Sasuke relaxado dessa maneira. — Durante muito tempo eu busquei as coisas erradas, perdi meu tempo desacreditando em muita coisa, ignorando outras. Estou tirando o atraso, buscando conhecer o mundo, ver como ele funciona de forma limpa, sem as regras, sem o rancor e a raiva, sem missões, sem universo ninja.

— Hum... Sua viagem vai ser longa então?

— O tempo que for preciso. — Um sorriso de canto surgiu nos lábios finos dele, sorriu de volta, desencostando-se e apagando o fogo do macarrão também. Não podia ficar bancando a boba. — Acho que o macarrão já está bom. — Com cuidado despejo-o em um escorredor e entregando-o logo em seguida a Sasuke que o misturou com o seu refogado, despejando molho shoyu por cima.

Enquanto ele finalizava a refeição, Sakura pôs a mesa, preparando um rápido refresco para eles. Não era yakisoba, os dois sabiam disso, mas era o que tinha no improviso e estava muito bom. O dom de temperar que ela não possui, Sasuke tinha em dobro.

Jantaram juntos, um de frente para o outro, em um silêncio contemplativo. Volta e meia Sakura observava-o e vice-versa. Tanta coisa a se dizer entre eles, mas nenhum dos dois parecia interessado em começar.

Sakura aproveitou o momento e abriu a garrafa de saquê dada por Tsunade, talvez assim tivesse coragem. No entanto a jovem médica havia esquecido de um pequeno detalhe: era fraca para bebidas. Não demorou muito mais que começasse a dar pequenas risadinhas e suas bochechas ruborizarem. Por sorte Sasuke não se encontrava em um estado melhor que o dela.

— A refeição estava boa? — Seus dedos roçaram um no outro e ela acabou deitando a cabeça no ombro dele.

— Surpreendente boa. Você cozinha melhor do que eu imaginava. Por que era sempre eu a obrigada a fazer nas missões? — Uma risada baixa escapou e ela pode sentir uma caricia suave em sua cabeça. — Queria ter provado dela antes, eu ia amar.

"Você teria" era o que ele diria. Contaria a ela o fatídico dia que seus sentimentos tomaram outra proporção. O dia que os revelaria. O dia que nunca aconteceu. Ele cutucou seu ombro e ela ergueu a cabeça, os lábios próximos demais. As palavras se perderam, mas não foi o quase beijo que o impediu de dizer o que queria dizer, foi um som estridente que ecoou por toda a casa silenciosa.

A Harano fitou o relógio e ficou tensa. Ergueu-se em um pulo e correu para atende-lo. Obviamente ele não teria sorte, nunca teve de qualquer forma. Tudo sempre conspirava contra seus raros momentos de afeição, afundou a cabeça nas próprias mãos, remexendo os cabelos exasperado.

Resolveu ir atrás de Sakura, desligaria o telefone e a agarraria no meio do corredor.

— Eu sei a Mayumi passou o recado, mas Soiji eu estou com visita. Não vou poder ir até ai. — Ela enrolou o fio do telefone entre os dedos, sorriu e ele sentiu a bebida em seu estomago revirar perante aquela visão. — Não! Claro que eu queria. Eu sempre quero. Não sei por quanto tempo ele vai ficar. Seria rude perguntar. — Outra risada contida, ela encostou a cabeça na parede e por um breve momento voltar a sentir aquela mesma sensação que experimentava todas as vezes que a via com Naruto. — Sim, é ele. Um velho companheiro de time.

Afastou-se. Não tinha porque continuar a ouvir aquela conversa. Abriu a torneira e aos poucos começou a lavar a louça deixada por eles. - Um velho companheiro de time.– Chegava a ser cômico ver que tinha sido reduzido a tanto. O que pensou afinal? Que saindo de um bar e a seguindo tudo ficaria bem? Quanto absurdo.

— Sasuke! Você não precisa lavar essa louça. — Ajeitou a postura, esfregando a esponja na louça com mais força.

— Não me incomodo. — Ouviu a suspirar e se aproximar, tocou um pequeno botão em cima do registro da torneira e agua passou a correr morda. Um grande alívio, até agradeceria se não estivesse com raiva.

No final eles fizeram o trabalho junto, Sasuke lavando e Sakura secando, dando pequenas risadas volta e meia.

— Acho que neva essa noite. — Comentou no caminho para os quartos, ele apenas meneou com a cabeça.

— Sakura...

O fitou a espera de uma resposta, levando ambas as mãos para trás do corpo, escondendo seu atual estado de ansiedade. Nenhuma palavra foi dita, um sorriso fraco surgiu em seus lábios, preparou-se para entrar em seu quarto quando seu braço foi puxado de uma vez e seu corpo foi pressionado contra o dele em um beijo voluptuoso.

Queria dizer que não tinha correspondido, mas seria uma mentira, pois não foi preciso muito esforço para que seus braços ganhassem vida e se enroscassem no pescoço másculo. Seu corpo foi pressionado a parede. Arfou baixo, queria dizer muitas coisas.

Mas foi preciso apenas um olhar para que tudo se perdesse, para que não houvesse outra necessidade a não ser ele. As mãos ávidas desceram pela lateral de sua cintura. Levando-a a estremecer com o atrito entre os seus corpos.

Suas coxas foram erguidas e entrelaçadas a cintura dele, com um dos braços apoiados no ombro forte, permitiu que o outro explorasse as costas bem torneadas. Podia sentir todo o desejo de Sasuke pulsar entre suas coxas, ouvi-lo gemer entre seus lábios, excitando-a ainda mais.

Quando os dedos dele tocaram seus seios sua mente já estava entregue a luxuria. Perdeu-se no acalento daquelas mãos e na saudade desenfreada que a consumia. Entregaram-se a paixão, uma, duas, três vezes aquela noite.

Agarrou-se a coberta felpuda e quente, estava certa, tinha nevado durante a madrugada. Mas ao que tudo indicava não tinha sido uma tempestade de neve, apenas uma geada. Logo toda a Vila estaria toda coberta de neve. Sorveu um pouco do café, aconchegando-se ao lado da janela.

— O que está fazendo? — Virou-se a tempo de vê-lo em um dos seus raros momentos de fofura, os olhos pequenos pela claridade e a expressão enchiada e sonolenta.

— Observando o tempo, vendo se existe alguma possibilidade de sair sem ficar presa em algum lugar.

— Tsc. Volte para cama. Você mesmo disse que o Hospital já está incaminhado.

— Não irei ao Hospital. — Terminou de tomar seu café, deixando a xicará sobre o criado mudo, ia se virar quando a risada dele ecoou pelo quarto, voltou-se para o rapaz na cama com o cenho franzido.

— Não é possivel que você vá fazer isso de novo e de novo e de novo.

— Isso o que?

— Isso! Eu, você e uma outra pessoa. Eu estou aqui e você...

— Foi você quem saiu da ultima vez, foi você quem não me enxergou.

— Parece que terei que pagar por esse pecado durante toda a minha vida. — Sentou-se na cama de costas para ele. Era essa a sua história com Sasuke, um emaranhado de desencontros e desintendimentos.

Sentiu os lábios dele roçarem em suas costas, não moveu um musculo sequer, um dia, uma noite e estava exausta. Os dedos dele tocaram os fios de seu cabelo, enrolando-os.

— Eu nunca disse o quanto eu gosto dos seus cabelos dessa forma. Eu nunca disse muitas coisas. E na maior parte do tempo eu temo dize-las... Porque existem verdades que não cabem a mim proferi-las. — Fitou aqueles olhos negros e intensos.

— Mas as vezes é preciso dizer, é preciso algum tipo de compensação para que tudo não pareça em vão.

— Eu a enxergo agora, enxergo como nunca e eu não quero deixar de vê-la. — Os lábios dele roçaram os dela em uma caricia suave, esqueceu o que tinha que fazer for a daquele quarto, daquela casa, apenas o que ecoava em sua cabeça eram aquelas palavras e as que vieram logo em seguida.

(...)

Querido, Naruto.

O que dizer daquela sua carta? Simplesmente fantástica! Eu passei a maior parte do tempo com um sorriso no rosto e apesar de estar consciente da falta que você e todos da vila me fazem, eu só pude notar a real grandeza lendo as suas tão queridas palavras. Eu queria que aquela carta nunca acabasse, fechava meus olhos e imaginava cada mínimo detalhe relatado naquelas linhas acontecendo bem na minha frente.

Queria ter visto seu primeiro encontro com a Hinata, a descoberta do seu sentimento, a posse do Kakashi-sensei, o despertar do sentimento de Ino (por favor, diga a ela que preciso saber os detalhes disso), o noivado do Shika, eu queria ter vivenciado tudo isso, mas não pude então só posso me alegrar e imaginar agora.

Fico imensamente feliz em saber que você e Hinata estão se acertando, torço para que tudo ocorra bem, que o clã dela não seja um empecilho e que vocês consigam alugar esse apartamento, comprar essa casa e preencher esses "quartos vazios".

Meu deus, não consigo imaginar nosso pervertido sensei como Hokage. Kakashi não muda, um homem da lei me enviando pornografia (eu não li, fique tranquilo), quanto ao Choujo vocês já tem alguma suspeita? Alguma missão louca que ele tenha ase quer contar a fofoca faça o trabalho bem feito.

Mas Ino... Há! Queria estar ai para esfregar na cara dessa porca metida a besta que eu estive certa durante todo esse tempo, estou gargalhando. Avise-a que quando nos encontrarmos é bom ela está preparada porque eu irie perturba-la até ela pedir arrego.

Bem, com relação a Vila em que estou morando é tudo muito fofo e agradável. Um lugar tranquilo e pitoresco. Uma pequena vila situada no pais da Cachoeira, rodeada de várias outras pequenas vilas. O trabalho ninja é escasso, mas a necessidade é abundante.

Devo dizer que me orgulho por demais do trabalho que venho exercendo por aqui. Vi esse pequeno e inóspito vilarejo começar a se firmar nas pernas, erguer-se e aprumar-se. Nada como uma grande potencia, mas alto o suficiente para proteger os seus.

Queria ter passado pelo festival com vocês, queria estar em casa agora. Seria perfeito, mas devo avisa-lo que minha missão vai se estender mais um pouco, ou melhor, uma nova missão vai se iniciar.

Anexado a essa carta, envio uma foto do local onde eu fiquei, a neve caiu e eu achei que você fosse gostar de ver, porque é uma das visões mais belas que eu já presenciei. Tsunade acredita que eu estou a caminho de casa, no entanto eu estou me encaminhando para outro lugar, estou mandando a você o anexo de um documento redigido a punho por mim, pedindo uma solene permissão a ela e ao atual Hokage da Vila.

Aguardado a resposta com ansiedade.

Ps.: Amei todos os meus presentes e diga ao Kakashi que apesar de não ter lido fico feliz em saber que ele conhece outros livros (pornôs) que não sejam o Icha Icha.

Ps².: Pare de dizer por ai que o Sasuke é solteiro.

Atenciosamente,

Uchiha Sakura.

Fim!

Página no face: Fleur D'Hiver


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Notas finais do capítulo

Chegamos ao final dessa trajetória. Bem, eu não vou dizer que essa é a melhor das minhas obras e que ela me enche de satisfação, no entanto passo por uma sensação indescritível ao estar colocando o ultimo ponto no 'i'.
Apesar dos trancos e barrancos e da sensação de que eu devo mais do que dei a essa história ela chegou ao seu final e eu agradeço a cada uma dessas lindas pessoas que gastaram seu tempo lendo minha história e comentando, as 100 pessoas que acompanham e as 17 que a colocaram entre os seus favoritos, se eu cheguei até aqui foi por vocês.
Um dia eu posso voltar com Entre Amigos, quando me sentir segura o suficiente para leva-la além... Mas agora eu me despeço e espero que todos tenham gostado de acompanhar essa longa aventura comigo e que continuem a me acompanhar em minhas outras trajetórias.
Não deixem de ir até minha página ver minhas outras histórias.
Um beijo e um abraço muito grande a todos vocês e um adeus a essa história! Bjos;*