Estava em minha casa, sentada no sofá da sala assistindo tv, enquanto meu irmão estava dormindo e eu acabei ouvindo um barulho. Como toda pessoa normal, fui a procurar o que causou o barulho. Depois de poucos segundos de silêncio, o barulho retornou. E percebi que não era apenas um barulho, e sim, um toque continuo. Andei a minha casa inteira a procura da causa desse toque, mas não o encontrei. Sai pela porta em direção a rua e percebi que ao lado da porta, do lado de fora de casa, havia um tijolinho meio torto e fora do lugar. Demorei pouco tempo para perceber o que eu tinha que fazer, tinha que girar o tijolinho. Mas para que lado? O que aconteceria caso eu o girasse? Resolvi seguir meu sexto sentido e girar o tijolinho para a esquerda e o que acontecer é resultado. Após gira-lo, não aconteceu nada de imediato, mas depois de aproximadamente 10 segundos, a porta se trancou e destrancou.

Abri a porta e me deparei com o inesperado: minha sala não estava mais lá. No lugar da minha sala estava "aquele lugar". Aquele simples lugar em que eu passei os melhores dias de minha vida. Aquele lugar onde eu sempre imaginava quando brigavam comigo e eu ia triste para meu quarto. Aquele lugar onde eu simplesmente achei que nunca veria de novo. Após reconhecer a casa de praia, não hesitei por nem mais um segundo: sai correndo para dentro da simples casa.

Quando entrei na casa vi que ela estava idêntica a ultima vez que estive lá. Isso fazia 10 anos. Foram os 10 anos mais longos de minha curta vida. Quando eu era pequena, fim de semana meus pais mandavam eu e minha irmã mais velha para a casa de meus avós. Nós chegávamos na sexta a tarde e ia embora domingo a tardinha. E era sempre assim.

Em um desses fins de semana eu estava muito animada para chegar lá, pois vovó tinha dito que levaria eu e minha irmã para uma feirinha que havia de vez em quando. Mamãe e papai nos deixaram lá, e nós jantamos e conversamos com a vovó e com o vovô até dar 20h40, que foi a hora em que a vovó mandou eu e minha irmã irmos trocar de roupa. Nos trocamos e saímos de casa mais ou menos as 21h00. Eu e minha irmã ligamos o rádio e começamos a cantar a música preferida dela enquanto nossos avós riam da nossa alegria. Estávamos a uma quadra de distância da feirinha, que já podia ser vista a várias quadras de distância, devido a sua iluminação. Meu avô passou pelo farol, que estava aberto para nós, quando eu vi uma luz vinda do lado oposto onde eu estava. Senti um impacto e não me lembro de quase mais nada.

Acordo dois dias depois do ocorrido no hospital e percebo que ao lado da minha cama, está a minha mãe, com os olhos vermelhos e inchados e na hora em que ela percebe que estou acordada, ela se levanta rapidamente e vem em minha direção. Ela me abraça e chora, dizendo que está extremamente feliz de não ter perdido sua pequena. Ela me diz algo do tipo "Houve um acidente enquanto vocês estavam chegando à feirinha e você foi a única que sobreviveu". Eu não acredito nisso que minha mãe me disse, pois se somente eu teria sobrevivido porque eu estaria vendo a minha irmã encostada ali na porta me dizendo para ajudar a mamãe?

Essa foi à última vez que eu estive lá na casa de meus avós.

Acordei no sofá de minha casa ofegante e cansada. Foi meu irmão que me acordou, pois ele disse que parecia que eu estava tendo um pesadelo quando eu caí no sono enquanto estávamos assistindo tv. Então tudo aquilo havia sido um sonho? Não, foi apenas uma lembrança de um tempo ruim de minha vida. Sai novamente pela porta para ver se havia um tijolinho torto e fora do lugar. E adivinhem. O tijolinho estava torto e fora do lugar. Mas dessa vez, em vez de gira-lo, eu o empurrei para voltar ao lugar certo. Quando percebi que estava no lugar correto, percebi que estava chorando. Voltei para dentro de casa e fui para meu quarto. Chegando lá deitei em minha cama e chorei, chorei silenciosamente, assim como tenho chorado desde meus 6 anos.