Anteriormente em A Escolhida...

“–As vezes, eu também me sinto presa em uma jaula, sem liberdade, sem conseguir respirar.”

“No fundo do meu coração, ainda estou incerta.”

“–As aparências enganam anjo.”

“–Quer dizer que salvar sua amiga de chibatadas é uma causa errada?”

“–Nós, nortistas, sabemos de tudo que ocorre ao nosso redor.”

“–Mais não se preocupe anjo, eu não sou o vilão da história, comparado aos revolucionários, eu sou o mocinho deste circo todo.”

“–Anjo, pelo que vi nas câmeras, o jogo apenas começou, e acredite, quando toda verdade se esclarecer, tocar em você, será um dos meus menores atos.”

Agora...

A verdade pode enlouquecer enraivecer, entristecer e tirar qualquer resquício de sanidade que ainda resta em um ser humano.

Levá-lo à beira da loucura e tirá-lo das estribeiras dos sussurros, os tornando gritos. Ou vice-versa, e no meu caso, era totalmente o contrário.

Quando uma verdade é jogada de forma bruta e pesada sobre um ser humano, pode destruí-lo. E às vezes, apenas a mentira pode te salvar.

No meu caso não era assim.

A verdade me destruiu, e nem a mentira poderia me salvar.

Na verdade, eu estava em transição.

Estava rachada, porém sabia que a um alerta de perigo, eu poderia quebrar por completo. Eu não aguentaria.

Imaginem se Maxon me magoasse, eu me fecharia por completo.

Eu não falei com Mason durante todo o voo de volta, ele até tentou falar comigo, ou sentar-se ao meu lado, mas depois de fugir dele muitas vezes, ele finalmente desistiu e me dar um pouco de espaço.

Lembrei-me de ontem, quando Mason falou sobre me tocar. Lembro de soltar um “nem nos seus sonhos” e sair de lá correndo, sem me importar com os guardas que ficavam no corredor. Mason nem se abateu com minhas palavras, apenas começou a rir, provavelmente pensando que eu estava errada, que algum momento iria ceder.

Porém, além daquilo tudo, havia algo mexendo com minha mente de uma maneira que eu queria ignorar.

Como assim o dia da escolha seria no mesmo dia que seria o aniversário de casamento do rei Clarckson e da rainha Amberly?

E o mais importante desse assunto: Porquê Maxon não me avisou tal fato?

Tudo bem que ele não confiava plenamente em mim, mas não me contar isso, já é demais. Tudo bem que eu também não contei sobre Aspen para ele, mas para quê? Eu sei que se eu fizer isso ele vai ser compreensivo, ou até um pouco agressivo. Mas a raiva que sentirá de mim vai passar. Afinal ele me ama.

Ele me ama?

Recapitulando as palavras de Mason, ele poderia estar certo em alguns pontos. Não absolutamente certo, mas sim, certo o bastante para me fazer refletir.

Poderia ele querer me mudar?

Afinal, se analisarmos foi isso que ele fez nos últimos meses, ou pelo menos tentou. Ele tentou criar uma imagem perfeita para o povo de Illéa. A imagem que todos amasse.

Porém não se pode agradar a todos.

E como ele já vai fazer a escolha, ele provavelmente já me apta para governar. Afinal ele não faria se não tivesse certeza que eu estaria pronta para assumir tal responsabilidade.

Porém...e seu eu não estivesse pronta?

E se...eu ainda não estivesse apta?

Ele iria me escolher? Ou escolheria outra? Kriss? Celeste talvez? Ou até Elise?

E porque quatro? Porquê ele não dispensou Elise ainda, ou até mesmo Celeste?

Talvez eu já estivesse apta para governar e ele quisesse me fazer uma bela surpresa.

Pois eu já falei eu o amava, e esse era o que impediria todos os outros entretantos ou portantos.

Outra pergunta começou a assolar beiradas da minha mente, para depois tomá-la por inteira. O que eu faria com a informação de Mason?

Aquilo poderia mudar toda província.

E outra, porque Mason tinha tanta certeza que eu seria a escolhida dele de acordo com o que viu nas câmeras? Afinal, o que ele havia visto de tão ruim que poderia mudar tanto, ou o fazer ter tanta certeza de uma coisa, que agora, era completamente impossível?

Cogitei imaginar minha vida sem Maxon ao meu lado.

Imaginei ele e Kriss se abarcando no momento da escolha. Dando seu primeiro beijo em público.

Imaginei ele me dando seu último olhar de despedidas, ou até mesmo tocando sua relha me afirmando que íamos conversar sobre isso.

Imaginei a multidão urrando o nome de sua escolhida, feliz pela escolha dele. Porém doeu muito mais imaginar que eu não teria ele ao meu lado pela minha vida, e que nunca mais poderia ver o brilho em seus olhos ao vivo, pois o adeus definitivo já havia sido dado.

Só de pensar naquela possibilidade, meu coração se apertou contra suas artérias ante angústia e desespero por algo tão sonhado não acontecer.

Mesmo doendo, eu continuava a acreditar, eu continuava a crer que ele iria me escolher, pois ele me ama, e disso não tenho dúvida alguma.

Afinal, eu ainda acredito em contos de fadas.

E em finais felizes, mesmo que eles não aconteçam da maneira que desejemos.

(...)

Eu não posso falhar agora.

Eu não posso cair e muito menos gritar, eu preciso guardar isso, e tentar aceitar que foi para meu próprio bem.

–Vocês tem certeza disso?

Perguntei para Anne, Mary e Lucy, que tinham acabado de confirmar minha dúvida. Sim, a escolha vai ser daqui a 2 dias. Mason não estava mentindo, seria dali a dois dias.

–Sim senhorita- Mary respondeu enquanto se encaminhava para trás de mim na penteadeira, me ajudando a terminar minha trança embutida transversal.

–Mas...não pode ser. Ainda falta alguém sair. Afinal, são três garotas.

–Será avisado hoje no jantar, senhorita- respondeu dessa vez Anne.

A olhei pelo espelho vendo-a arrumando pela quarta vez desnecessariamente minha cama.

–Quando vocês vão parar com isso?- sorri.

–A Seleção já está no fim e vocês ainda não pararam de me chamar de senhorita.

–Está bem, vamos parar, porém quando você for a escolhida, vamos chamá-la de senhora na frente dos outros- falou Mary.

A escolhida.

Estava tão perto de acontecer o que me levou até aqui.

–Vocês estão tão certas que Maxon vai me escolher...

–Somo confiantes, e além do mais, ele seria um idiota se não te escolhesse- Lucy falou enquanto se curvava atrás de mim, colocando as mãos em meus ombros e me olhando através do espelho.

–Lucy!- Repreendeu Anne.

–Não podemos falar assim da alteza- continuou Anne- se bem que...ele seria muito bobo se não te escolhesse.

Lucy virou a cabeça para ela, com olhos arregalados. Porém deu um sorrisinho do gênero: estamos no mesmo barco agora.

Soltei uma risada melódica. Ao longo da Seleção, fiz amigos e muitas amigas. Também tive muitas inimigas, das quais não me orgulho de ter. Quanto a escolha, eu sentia algo diferente...um mau pressentimento, algo de muito ruim estava prestes a acontecer.

::::*::::

Eu precisava falar com Marlee.

Eu precisava conversar com ela. Sentia que precisava.

E se Maxon não me escolher?

Quer dizer, ele ia me escolher, afinal, porque me levaria para conhecer o quarto princesa naquele dia.

E Aspen?

Eu evitei tanto nossas conversas, nossos encontros, mas a escolha é daqui a dois dias. Era agora ou nunca.

Entretanto, minha prioridade agora era Marlee.

Na cozinha, todos trabalhavam a todo vapor. Avistei Marlee no fundo da cozinha, e assim que ela me viu, sorriu para mim.

–Marlee- Fui até ela, para em seguida a abraçar. Seu avental de cozinha feito de linho, e aparentemente caro, estava parcialmente sujo, e suas mãos que levaram a chibatadas, estavam bem melhores que da última vez. Estavam quase da mesma forma de antes, porém ainda se podia ver as marcas brancas das cicatrizes, relembrando a todos que vissem, o que aconteceu naquele fatídico dia.

–America!

Ela me abraçou de volta. Seu cheiro era de verduras, legumes e frutas com aromas marcantes.

–Ela me uxou para um canto da cozinha aonde ninguém estava, e nesse momento, pude perceber a preocupação em seus olhos.

–O que aconteceu?

–America...a escolha vai ser daqui a dois dias.

–Isso eu já sabia- respondi enquanto me sentava em um banco que tinha naquele espaço. Um cozinheiro passou por ali, sem deixar de me reverenciar, em seguida Marlee sentou também.

–America, estou preocupada.

–Com o que?

–Os rumores, os boatos, essa calma está muito estranha. Você lembra a ultima vez que houve um ataque?

Tentei lembrar da ultima vez...fazia muito tempo. Se não me engano, foi no dia em que fiquei presa com os Aspen, Maxon e Mason no abrigo.

–Faz muito tempo- falei a olhando- isso é bom, não é?

–Não America, isso não é bom!- sua voz tinha ficado com um timbre desesperado- Está tudo muito estranho...Não é esquisito, como logo dois dias antes da escolha, não houve nenhum ataque?

Arregalei meus olhos ao perceber aonde ela queria chegar.

–Eles vão atacar no dia da escolha- constatei.

Ela assentiu com a cabeça. Seus olhos estavam atentos, e bem abertos.

O que ela falou em seguida poderia ser considerado como uma tentativa de piada, ou simplesmente um comentário sarcástico. Porém, aquilo me deixou apenas amedrontada e temerosa quanto aos dias que se seguiriam.

Ela suspirou e falou.

–É...parece que eles querem fazer um gran finale.