Kyo me deixou dormir num quarto pequeno perto da escada. Acordei pensando na minha vida de Kagami. Meu agente ia me matar com esse sumiço, mas eu realmente estava de férias antes de sumir. Me embebedei depois de me lembrar de Reita. Aquele idiota... o que ele diria se soubesse? Eu o amei tanto.

 

Ouvia a respiração de Kyo, ele pouco roncava. Mas quase não dormi, era uma garota insone. Kyo também devia ser, o vi se levantando de madrugada para fumar na varanda.

 

 - Que cara horrível. – exclamou ele no café da manhã – Parece uma coruja velha.

 

- Cala a boca.

 

- O que vai fazer hoje?- ele perguntou enquanto tomava uma xícara de café. Era onze da manhã, ele acordava tarde.

 

- Não sei. Algo normal. Colocar plantas no seu apartamento, fazer o jantar e lavar a pia da cozinha..coisas desse gênero.

 

- Não vá se meter em encrenca. Se comportar-se , te levarei para passear.

 

Ri. – OK.

 

- Tenho show em Sapporo hoje á noite. Volto tarde. Não vai me desejar sorte?

 

 - Good luck! – eu disse , ainda da cozinha.

 

 - Me refiro a outro boa sorte. – ele me olhou de um jeito pervertido e nojento.

 

 - Nojento imundo! O que dirá sua namorada?

 

- Quem precisa de uma quando se tem uma petto para satisfazer suas vontades?

 

Fiquei extremamente furiosa e joguei água na cara dele e quase gritei :

 

 -  Bakayaro!! Quando Reita souber disso.....

 

- Reita?- eu quase vi raios de ódio saindo dos olhos inchados de sono de Kyo.

 

  Falei demais.. mas não me  contive de novo. Parabéns a rainha dos ímpetos.

 

- Reita, o Reita do Gazette?

 

- Se for?

 

- Quê tem ele? É seu namorado ou algo assim?

 

- Não... talvez.. – disse vagamente. – Porquê? Isso é da sua conta, por acaso?

 

Kyo bufou.

 

- Detesto esse cara. Eu realmente odeio. Desde sempre.

 

 - Você não suporta ningúem. Porquê suportaria o Reita?

 

Ele ficou furioso. Nunca vi alguém tão nervoso.

 

  Ele apenas murmurou.

 

- Vocês se merecem. – e saiu, sem terminar o café.

 

 

 

 Não entendi. Porque ele detestava Reita? Por minha causa não seria. Kyo, aprendi eu, tinha a capacidade de acabar com meu dia em poucos minutos. Fiquei furiosa. Que motivos ele tinha para xingar o Reita? Ele era um verdadeiro anjo, se comparado ao Kyo.

 

 

 

Dinky DonG

 

 A campainha tocou  horas depois de Kyo sair .

 

Torci para que não fosse ele. Monstro. Nem o síndico, Motoi-san, que Kyo me preveniu que criava caos por um alfinete que caía no chão.

 

 

 

Abri a porta.

 

Era Toshiya. Alto, magro, cabelos negros e roxos  caindo nas costas, pálido e sorridente, com seus dentes tortos.

 

- Essa cueca é do Kyo?- foi a primeira coisa que lhe chamou atenção, e começou a rir- E você é Kagami!

 

- É uma longa história. –despistei , fechando a porta quando ele entrou.  – Procura o Kyo?

 

- O que faz aqui, Kagami-san?

 

Contei para ele toda a história e Toshiya gargalhava alucinadamente até ficar vermelho.

 

 - Você está dormindo com ele?

 

 - NÃO!!- quase gritei – Como pôde pensar isso, Toshiya-kun? Tenho cara que faço algo do tipo?

 

- Usando as roupas do Kyo, parece muito, ele não é fã de brincadeiras e coisas kawaii-chan.- Toshiya achava muita graça em tudo aquilo e ria e falava – Kyo não apareceu no estúdio e nem atende o celular, mas também não está em casa . Também me vou. Temos entrevista hoje, ensaio e show.

 

 

 

- Espere! – disse enquanto ele se virava .

 

- Nani?

 

- Você sabe porque Kyo detesta tanto  o Reita do Gazette? – Toshiya deveria saber e ia saciar minha curiosidade para o motivo de tanto ódio . Aliás, Reita sempre evitava Kyo mas nunca percebi.

 

- Ora, Kagami-san... ou melhor.. Yuusu-chan – riu ele novamente. – Reita era apaixonado pela ex-namorada de Kyo, Natsurumi-chan. Eles protagonizaram um triângulo bastante interessante.

 

 - Kyo a amava?- perguntei, abobada. Reita nunca me dissera sobre esta garota e Kyo parecia não ter coração. – Kyo sabe amar? Ele tem coração, sentimentos e coisas assim?

 

- Sim. Muito. Era doente por ela. Foi sua namorada de colégio, mas ela também gostava muito do Reita-kun. Mas não quis nenhum, foi embora do Japão. Mora em Hong Kong ou em Seoul, não sei. Bastante bonita, a Natsurumi. Depois dela, Kyo me disse que era incapaz de amar.

 

 

 

 Fiquei roxa de raiva,  e até inveja. Então era isso... até mesmo Reita envolvido nisso. Toshiya percebeu meu estado e riu. Ele ria demais. Me deu tchau e foi embora. Essa Natsurumi-chan devia ser importante – disputada por meu (ex) namorado e por meu dono.. fiquei com isso na cabeça? Ela era mais bonita que eu? Encantava a todos; ao contrário de mim, que sempre fazia pirraça e confusão.

 

 Resolvi ir comprar roupas. Não queria ir até minha casa. Usar roupas de Kyo andava gerando comentários maldosos.

 

Acabei passando o dia inteiro em Harajuku, gastando todo meu cartão de crédito. Usava máscara e tapa-olho e ninguém me reconheceu, até que :

 

 - Kami, é Kagami-sama!

 

 Fui reconhecida por um grupo de  meninas, vestidas de gothic lolitas. Não consegui escapar. Tirei fotos, dei autográfos, falei um pouco, mas quanto mais eu olava, mais pessoas surgiam de todos os lados falando “ Kagami-Sama!” e virou um tumulto completo.  Eu devia estar cercada de umas cem pessoas, sem escapatória, eu não tinha guarda-costas naquela hora.

 

No meio da confusão armada, corri e escapei e ainda ouvi “ aonde ela está? das pessoas me caçando. Consegui despistar a multidão, perdi meu sorvete e carregava várias sacolas de compras. Entrei num beco que nunca tinha visto , escuro e pequeno.

 

Depois eu senti um impacto e caí.

 

Quando abri os olhos de novo, ouvi gritos, quase não respirava direito, tinha a visão turva. Depois não vi mais nada, apenas ouvi barulhos estranhos.

 

 

 

 

 

 

 

 Abri os olhos.  Lugar quieto , cheiro de desinfetante. Estava um tanto escuro, eu mal enxergava. Vi o monitor cardíaco que monitorava meus batimentos. Estava no hospital- colchão desconfortável , lençol áspero, minhas sacolas de compras no chão.  Meus olhos se encontraram com outros olhos, macabros, mas que eu conhecia,  arregalados e cansados.

 

- Pedi para você não se meter em confusão, Yuusu.

 

 Kyo sorriu. Aquilo era raro, um sorriso sem maldade e honesto.  Ele estava arrumado impecavelmente para um show. Meu dono, o garoto de eroguro kei. Fiquei inexplicavelmente feliz em vê-lo, queria abraçá-lo pela primeira vez e meu coração batia forte.

 

- Kyo.- disse eu- O que aconteceu?

 

- Bateu a cabeça numa calçada de Harajuku. Quando não se embebeda, se acidenta, porém nunca deixa de cair! – riu ele.

 

Ri para não cair no choro;

 

- Kyo.. gomen nasai.

 

- Tudo bem. Não se esforce. Você perdeu sangue..

 

Sangue;... me lembrei repentinamente:

 

- E o show de Sapporo?

 

 - Ah. – ele olhou para o chão – não teve.

 

 - Como assim não teve show, Kyo? – perguntei, confusa e alterada.

 

- Recebi a notícia pouco antes de entrar no palco. Vim correndo. Sem vocalista, não tem banda. Sem banda, não tem show. Adiamos.

 

- Cancelou o show por minha culpa?- soluçei, chorando.

 

- Era uma emergência. – murmurou ele.

 

 Chorei descontroladamente:

 

-Cheguei a dois dias e estou estragando a sua vida!

 

Ele disse calmamente:

 

- Não me importo que a estrague.  Estrague o quanto quiser.

 

 Eu sorri entre as lagrimas salgadas. E kyo deu um sorriso tão puro, tão doce.. Eu estava abraçada por ele e Kyo me beijou, eu me surpreendi e o empurrei.

 

- KYO! Eu sou sua petto. Não pode fazer isso. Lembra das condições?

 

- É o Reita, seu namorado. – ele bufou. – Ainda gosta dele.

 

Fiquei indignada.

 

- Está louco? Não namoro mais com o Reita, bakayaro-jankai.

 

- Não gosta de mim?

 

- Kyo...

 

Dessa vez, eu acabei o beijando. Ele era macio e amável, mas logo o empurrei de volta.

 

- Louca!- murmurou Kyo- Porque faz isso comigo?

 

Eu sorri e apenas perguntei: - Quando poderei ir embora daqui?

 

 Kyo tinha os dedos sob a boca e estava muito corado e murmurou : - Amanhã. Você teve uma concussão séria mas não quebrou nada. Meça suas consequencias.

 

- Não me matou, ao menos- refleti. – Kyo, não posso mais ser sua petto-chan.

 

Ele fez uma careta de espanto e inacreditável desapontamento.

 

 - Porquê, Yuusu?

 

 - Veja bem, - começei – Meu destino é ser Kagami mesmo. No período em que fui a sua petto de estimação, me acidentei, arranjei confusão, te dei trabalho e até te beijei. – falei sem pensar.

 

- Quem vai se responsabilizar por você?

 

- Pare de choramingar. Fui sua pettochan por dois dias e você  fica com essa cara. – recriminei-o , Kyo parecia bravo. O relógio contava meia-noite.

 

 - Eu gosto muito de você, Yuusu.- ele falou rapido como se pronunciar aquela frase fosse uma tortura, um castigo. Ele era sádico, egôcentrico e isso o fazia ser frio. – Acho que estou apaixonado por você.

 

Eu sorri sem saber o que dizer.

 

- Como pode me amar ?

 

- Amando, baká; - eu ri devagar

 

- Me amaria para sempre??- brinquei – Casaria comigo?

 

- Claro. – Kyo disse, sério .

 

- Entao podemos casar.

 

- Está falando sério? – Kyo se animou . –

 

- Talvez. Oyasuminasai – virei de costas e fechei os olhos.

 

Adormeci logo. Noite sem sonhos.