Soba Ni Iru Né... escrita por JúhChan


Capítulo 38
Capítulo trinta e oito – Lágrimas carinhosas


Notas iniciais do capítulo

Oi, oi pessoal! Como estão?? Dessa vez eu não demorei tanto assim né? Foram só alguns dias... Mas antes de vocês lerem as surpresas que preparei, por favor, LEIAM ESSA NOTA!! ;) (já agradeço pela pequena atenção)
Bom, faz três anos que Soba ni Iru né está em andamento e nesses anos, apesar de me assustar muito com isso, eu amadureci, percebi isso quando reli os capítulos da primeira fase da fic.... Por um momento pensei que a ideia para ter desenvolvido ela foi algo que não aconteceria na vida real, mas se comecei e já tenho todo o enredo bolado, vamos terminar né... hsuashuashau' - Foi isso que pensei enquanto escrevia este capítulo, além do mais não posso desistir de SNIN por vocês que acompanham e me apoiam tanto!! Então, muito obrigada, pessoal! De coração... ♥
Aproveitem o capítulo. Desejo uma boa leitura e preparem os corações, porque neste aqui temos Tsukimi e Tomoka - irmã da namorada do Itachi - mostrando como a vida é. E no próximo, sim vai ter post duplo hoje ô/, o que vocês me pedem tanto vai acontecer!!
Ahh, última coisa, esqueci de colocar isso no capítulo passado, Síndrome de Waardenburg e de Horner, são síndromes que faz com que a heterocromia aconteça.
Até lá em baixo!! ô/



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O hospital geral de Konoha nunca retirou sangue de tantas pessoas após um Natal. Aquilo causou estranhamento em todos os professionais que trabalhavam naquela tarde. Porém ao saberem do motivo, o andar da oncologia pediátrica ficou polvorosa, Sasuke pensou que o chefe do andar se ajoelharia diante dele e de seus amigos em agradecimento pela expressão facial do mesmo.    

Até a pequena Hyuuga quase foi submetida à coleta, mas se livrou da agulha quando a Nara se adiantou em explicar que apenas maiores de idade podiam fazer isso, a exceção era aberta quando o caso era de extrema urgência e a criança a única alternativa. O bico manhoso de Akemi arrancou risadas das duas enfermeiras e a oncologista que retiravam o sangue daquele grupo.

—Olha mamãe! – o chamado soou embolado.

—Ainda bem que a Tsukimi está ai para te ajudar. Ficou muito bom. – elogiou Tenten, acariciando o topo da cabeça da filha e da menina.

A resposta foi sorrisos realçados por bochechas avermelhadas.

—Eu também posso brincar com vocês? – a outra Hyuuga perguntou.

—Claro tia Hina! – exclamou a menina mais nova, mostrando um pequeno espaço ao seu lado.

—Também quero uma parte. – disse Naruto e se aproximou da cama, sentando-se sobre ela.

—Filha, assim você vai derrubar a Tsukimi. – alertou o pai.

—Desculpa. – e fez um bico. –Mas aonde a tia Hina vai sentar?

—Bem aqui, Akemi-chan. – disse e sentou ao lado noivo, de forma que ambos ficassem de frente para as duas crianças e sendo separados pela mesa acoplada na cama.

—Acho que podemos montar um quebra-cabeça maior.

—Será que a Akemi-chan vai conseguir?

—Eu a ajudo. – sorriu, mesmo com o cansaço estampado no rosto angelical. Ele ficou maior quando o casal correspondeu com sorrisos gentis. –Tio Sasuke, pega a caixa grande, por favor? – pediu enquanto guardava o quebra-cabeça anterior.

Com um assentir de cabeça, o Uchiha atendia ao pedido da Yamashita. Depositou a caixa desejada sobre a espécie de mesa para em seguida pegar a outra enquanto visualizava um sorriso de agradecimento da menina.

—Akemi-chan, nós vamos montar a parte da coruja.

—Então, eu vou ficar com o dragão e o dinossauro.

—Hyuuga-san pode montar a floresta, o jacaré e as borboletas. – um assentir leve foi a resposta.

E com a divisão feita, os quatros se concentraram em suas tarefas.

Assistir a interação da loirinha com a pequena Hyuuga trouxe uma sensação boa no Uchiha, a paciência e a forma em que Tsukimi ajudava a mais nova em encaixar as devidas peças era admirável, mesmo que só tivesse que usar a mão direita, pois a esquerda estava com o habitual soro injetado.

Desviou sua atenção da menina e se acomodou sobre a poltrona que havia ao lado da cama dela. Sasuke respirou fundo para conter o nervosismo, já se passava das dezesseis horas e o resultado não chegava. Havia prometido que ficaria junto à loirinha até que os benditos envelopes fossem entregues, mesmo ele estando ciente de que as chances de um deles ser compatível eram baixíssimas.

 No entanto o moreno tratou de espantar o pessimismo e pediu aos deuses que não decepcionassem a loirinha novamente, e para se distar mais um pouco dos pensamentos negativos, passou os olhos pelo quarto, observando os amigos. Shikamaru, Temari e Gaara estavam sentados no sofá encostado à parede, ora conversando ora brincando com Shikadai; Tenten e Neji sentados nos banquinhos, que ficavam guardados sob a bancada presa na parede oposta do sofá, observando a filha brincar; e, Hinata e Naruto montando o quebra-cabeça enquanto tentavam manter um dialogo entre todos os presentes.

Um agradecimento cresceu dentro de si pelos amigos que optaram aguardar os resultados junto a ele, na mesma proporção que o medo por estar violando uma das essenciais regras de qualquer hospital: o número máximo de visitante por quarto.  

Pelo menos a bronca será por uma boa causa. — concluiu em pensamentos.

Sua atenção se focou em Tsukimi num piscar de olhos. A menina encarava o projeto de gente que era Shikadai com a cabeça levemente pendida para a direita em um claro sinal de confusão.

—Está tudo bem? –preocupou-se no momento em que o cenho infantil franziu.

—Ele também tem um olho de cada cor? – curiosidade brilhou nos olhos azuis, atraindo a atenção do casal Nara e do Sabaku.

—Não querida. O Shikadai só tem uma cor de olho. – respondeu gentilmente Temari.

—Poxa, eu pensei que todos os bebês nascessem assim. – falou desapontada. –Então quer dizer que o filho da Karin-san não é normal?

Uma onda de risos passou pelos adultos, a inocência de uma criança era graciosa, de certa forma.

—O Yuuta é normal, como qualquer bebê, Tsukimi. Acho que a Karin já explicou a você, mas o bebê dela escolheu nascer assim.

—Eu também podia ter nascido igual ao Yuuta?

—Claro. – respondeu mesmo sabendo que a probabilidade era quase nula. –Se isso acontecesse, quais seriam as cores de seus olhos?

A loirinha fez uma expressão engraçada, como se pusesse a pensar, até um som ela emitiu.

—Verde e preto! – exclamou alegre.

—Por quê? – perguntou Tenten.

—Hum... – a mesma expressão de antes. –Porque eu gosto da cor dos olhos da tia Sakura e do tio Sasuke. – respondeu inocentemente. –Essa peça não é ai, Akemi-chan. – falou logo em seguida, ignorando a trocas de olhares surpresos dos mais velhos.

Essa menina realmente gosta desses dois. — foi o pensamento que preencheu as mentes.

Porém a porta sendo deslizada para o lado interrompeu o momento, por ela passou a oncologista de mais cedo seguida de um homem, ambos de jaleco.

—Uau, não esperava me deparar com o quarto da Tsukimi tão cheio. – comentou o homem com as mãos nos bolsos e uma expressão relaxada.

—Tio Kouichi! – cumprimentou.

—Vejo que está tentando fazer esse quebra-cabeça, que ainda é fácil. O que tem lá em casa é de quinhentas peças. – e sorriu.

—Eu só tenho oito anos! – disse, fazendo um bico.

—Vejo que você só está cansada, Tsukimi. – falou e lançou um olhar cheio de compaixão à menina.

O Uchiha e os outros não estavam entendendo a troca de palavras. Contudo, antes que alguém pedisse por uma explicação, a mulher fingiu uma tosse.

—Agora que terminaram com os cumprimentos. Vamos ao que interessa. – falou séria, mostrando uma pasta preta. Outra tosse fingida. –Do jeito que o laboratório mandou eu trouxe os resultados então, nem eu ou o médico responsável, que é pediatra Kouchi, viu. Geralmente o que deu positivo é marcado com um adesivo. – continuou enquanto retirava os oito envelopes brancos. –Quero agradecer em nome do hospital pelo o que vocês fizeram. Com esse simples ato, vocês podem salvar uma vida. – falou, procurando algum sinal de esperança que era o adesivo. –Kouchi.

O clima no quarto incomodou até mesmo Tsukimi, que assistia cada movimento dos dois médicos, sentindo o coração bater aceleradamente.

Sasuke contava pela segunda vez até dez, numa tentativa de controlar o nervosismo que tomava conta de si novamente. Mas, a cada número dito no pensamento, sentia uma expectativa crescer no peito e para piorar, uma voz dizia que nenhum deles era compatível.

—Isso é um milagre. – a voz do médico ecoou pelo cômodo, soando assombrado. –Tsukimi, você... Quer dizer... – não conseguiu falar pela emoção que tomou conta de si.

O barulho do papel sendo rasgado soou, dando mais emoção aquele momento. As mulheres do recinto se encontravam emocionadas. O Uzumaki pegou a delicada mão da noiva entre as suas, apertando-a; o Nara abraçou a esposa de lado, ambos respirando aliviados; e o casal Hyuuga trocou olhares esperançosos de mãos dadas.

Gaara abaixou levemente a cabeça, sentindo uma alegria crescer no peito, apesar do pouco tempo que passou com a menina, foi o suficiente para ver que ela merecia aquele milagre. E Sasuke sentiu a expectativa se transformar em esperança.

—Quem é Uchiha Sasuke? – questionou a mulher, passando os olhos pelos rostos dos presentes.

Naquele momento, a voz pessimista, que atormentava o moreno, evaporou de dentro do mesmo. Um sorriso de canto se formou em seus lábios. Ele havia prometido e havia comprido. Não deixaria a loirinha ir sem aproveitar a vida de maneira correta.

E isso fez com que se levantasse da poltrona, dizendo em silêncio que era ele.

—Acho que encontramos um doador para você, Tsukimi. – a oncologista mostrou um enorme sorriso.

A Yamashita apenas arregalou os olhos, em seguida desviou seu olhar para o adorado pediatra, buscando algum traço de lorota, mas visualizou outro sorriso, que era acompanhado de finas lágrimas.

—Não é acho Oishi-san, temos certeza que o Uchiha-san é compatível com a nossa Tsukimi. – falou.

O pequeno coração da loirinha não aguentou e disparou a um ritmo incalculável. Não precisaria mais enfrentar as sessões de quimioterapia, nem sentir os efeitos colaterais dela. Estaria curada da leucemia e assim voltaria para escola. Teria seu cabelo longo novamente. E esperaria a médica predileta acordar com uma enorme novidade. De certa forma era um presente desejado na mesma intensidade que o seu pedido de Natal.

As lágrimas escorriam pelas bochechas coradas aos montes.

—Não chore Tsukimi. – falou o moreno, a pegando no colo.

—Tio Sasuke... – disse entre soluços, agarrada a camisa masculina.

O quarto foi tomado pela emoção. Todos estavam felizes por finalmente a luta de Tsukimi estar acabando, sorrisos e lágrimas de alegria tomavam conta das feições dos presentes.  Apenas a pequena Hyuuga não entendia o que estava acontecendo e até pensou que a nova amiga estaria mal, mas quando seus olhos se cruzaram, ela sentiu que algo maravilhosa estava prestes a acontecer, e assim sorriu também.

~~*~~*~~*~~

Já era o quinto suspiro que soltava em menos de dez minutos. O dia pós-Natal amanheceu cinzento com grande probabilidade de chuva, o que bastou para desanima-la, e para piorar seu humor se condenava por ter recusado acompanhar os pais numa viagem rápida à Bélgica. Agora se encontrava sentada na cafeteria mais distante do hotel, observando o movimento através da grande janela.

Não negava que a viagem para França serviu como uma válvula de escape para seus atuais problemas. Nem fazia cinco dias que havia desembarcado em Paris e já sentia a cabeça espairecer e o corpo menos tenso. Porém não poderia dar os créditos de sua melhora somente à viagem, pois seus pais contribuíram muito para ela estar tranquila e relaxada.

Fazer compras com a mãe, patinar com o pai e fazer refeições com os dois foram ótimas formas de ela acalmar a mente e suprir a falta que sentia de ambos. Admitia que foi a primeira vez, depois de três meses, que se divertia de verdade.

No entanto, a alegria e a satisfação desapareceram em um instante após Ino se dar conta que ainda estava na cafeteria. O senhor e senhora Yamanaka prometeram que até o dia trinta estariam de volta então até lá o tédio e a disposição quase nula de fazer algo seriam suas companhias.

Qualquer coisa eu posso ir amanhã e aparecer de surpresa na frente deles. — pensou de repente, sentindo-se animada.

Mas foi tirada de seus pensamentos com o barulho de uma cadeira sendo arrastada.

—Desculpe pela pergunta repentina, mas você é Yamanaka Ino? – uma voz feminina perguntou em um perfeito japonês.

A pergunta a pegou desprevenida, não imaginava que seria reconhecida no exterior, uma vez que não mencionou nada a respeito da viagem em suas redes sociais. Virou o rosto para direita enquanto se recuperava do pequeno susto.

—Sim, eu sou Yamanaka Ino. – e sorriu.

—Uau! Nunca imaginei que encontraria você em uma cafeteriazinha. – os olhos vermelhos brilharam em admiração. –Se não for incomodar, eu posso me sentar aqui?

—Bem, você já puxou a cadeira mesmo. – deu de ombros, analisando a mulher de cima a abaixo.

Ino não pode disfarçar a surpresa quando seus olhos focalizaram o cabelo branco que a outra possuía.

—Obrigada. – a mulher agradeceu.

Mesmo achando estranha a mulher ter o cabelo branco, a Yamanaka se deu conta que a coloração combinava com os olhos vermelhos e a feição delicada.

—Você não deve ser muito conhecida pela Europa por isso resolveu passar as festas de fim de ano por aqui? – perguntou curiosa, acomodando-se no assento. –Porque é mais tranquilo você andar pelas ruas sem ser parada por alguma fã.

—Isso é um dos motivos. Eu queria um tempo com os meus pais. – respondeu, mas no segundo seguinte se arrependeu. –Você não é paparazzi ou colunista, certo? – questionou de olhos estreitos, sentindo certo receio em continuar a conversar com a mulher.

Pelo período que se manteve afastada para tentar se recuperar do distúrbio alimentar, tentativa quase frustrante, as revistas de fofocas sempre a perseguiam para descobrir o que havia acontecido, e isso se intensificou quando fez a capa da revista de moda mais famosa do Japão de surpresa. Naquele momento, Ino desejava esquecer os e-mails e mensagens que recebia dos colunistas de plantão.

—O quê? Não Yamanaka-san, eu não sou nenhuma jornalista fofoqueira. Fique tranquila. – levantou as palmas das mãos em sinal de rendição. –Que grosseria a minha não me apresentar, me chamo Okada Tomoka. – recebeu um olhar sério em resposta. –Pode confiar. Eu te admiro muito, então não farei nada para prejudica-la. – garantiu com um sorriso.

—Você também é uma modelo?

—Só em uma vida passada. – disse e levou a enorme xícara de chocolate quente à boca. –Isso é melhor que o Starbucks do centro. – elogiou com uma expressão de satisfação. –Mas a padaria que fica há dez minutos daqui ganha de todas. – sussurrou para em seguida dar uma piscadela.

—Parece que você conhece a maioria dos pontos para se tomar um café. – comentou um pouco insegura.

—Se você quiser algumas dicas de cafeterias, lojas de doces e padarias, conte comigo, porque sempre que posso, venho para cá.

A Yamanaka teve que conter o impulso de perguntar o motivo de tantas vindas à Paris ao visualizar um semblante pesaroso no rosto delicado. Rapidamente desviou o olhar quando seus olhos se cruzaram.

—Nessa padaria que mencionei, eles fazem um macaron próprio. Eu acabo comendo uns três quando vou lá. – disse sem resquícios do semblante pesaroso.

Um silêncio desconfortável se fez entre as duas.

—Estou pensando em provar aquele nakedcake. – falou no intuito de quebrar o clima desconfortável que pairou sobre elas.

Um sorriso se formou nos lábios de Tomoka.

—Super-recomendado. Pegue o de frutas vermelhas e se ainda tiver espaço experimente a torta de limão do outro lado, garanto que você vai gostar. – tomou o restante de seu cappuccino. –Agora eu tenho que ir. Foi um prazer conhece-la, Yamanaka-san. – falou, se levantando. –Até mais. - e saiu, lançando um último olhar para a loira.

~~*~~*~~*~~

“Filha, não se esqueça de comer algo a cada três horas. Nós depositamos um voto de confiança em você quando deixamos ficar ai, então se cuide hein. Amo você! Beijos. P.S. nada de vomitar, eu vou saber se tentar!!”

Leu a mensagem pela terceira vez, e mesmo com o cenho franzido em desgosto, ela sorriu apenas sua mãe teria a cara de pau em mandar um recado carinhoso que também soava intimidador.

Repassando as palavras do recado, Ino sentiu orgulho de si mesma, pois a ideia de pôr tudo que comeu não aparecia em sua mente desde o dia que contou aos pais sobre a bulimia. Graças a isso conseguiu ganhar os quinhentos gramas no final do mês passado e, provavelmente, mais alguns nas últimas semanas, já que vivia cercada das amigas e dos pais.

Um casal passou em sua frente, rindo e conversando, e de repente a falta o ruivo sem sobrancelhas veio em sua mente. Estava indo bem, na medida do possível, em sua recuperação, mas ainda o seu lado emocional se encontrava abalado. A Capital das Luzes era um lugar romântico, aonde as pessoas vinham acompanhadas de seus namorados, noivos ou maridos, mas no momento ela só tinha um ex-namorado que estava em Tóquio sem vontade alguma de conversar com ela e muito menos olha-la na cara.

A falta que Gaara fazia apertou o coração dela.  

Era triste, no mínimo.

Respirou fundo e se levantou do banco, já estava na hora de voltar para o hotel e comer alguma coisa para não quebrar a regra da dieta.

—Yamanaka-san? – a voz feminina conhecida lhe chamou.

Levantou o olhar, se deparando com a mulher de estranhos cabelos brancos.

—Nossa! Que coincidência encontra-la de novo. – e sorriu.

—Pois é. – concordou e tentou devolver o sorriso com um forçado.

—Está tudo bem? – perguntou preocupada, após visualizar o sorriso amarelo da loira. Aguardou a resposta, mas a viu apenas encolher os ombros e baixar o olhar. –Parece que não. – suspirou. –Olha, não vou ser curiosa, perguntando o que a está chateando, mas também não gosto de ver uma pessoa triste, então que tal a gente ir comer alguma coisa? – propôs.

—Não acho que seria uma boa ideia.

—Pelo contrário, Yamanaka-san. Sempre é uma boa ideia comer quando se está triste. – e pegou a mão esquerda da modelo. –Conheço um restaurante de comida mediterrânea do outro lado deste parque. Vamos.

Meio a contragosto, Ino acompanhou os passos apressados de Tomoka. Algo dentro de si dizia que não se arrependeria de ter aceitado forçadamente o convite.

Vinte minutos depois, estavam devidamente acomodadas em uma mesa próxima à lareira, que aquecia uma parte do restaurante. A loira admirava o interior enfeitado com plantas artificiais típicas da região mediterrânea que harmonizava com as paredes pintadas de um tom de marrom desgastado e os conjuntos de mesas e cadeiras de madeira rústica. De alguma forma, a acalmou.

—Se o restaurante de comida mediterrânea é assim, imagino o quão lindo deve ser um de comida italiana. – comentou maravilhada.

—É quase a mesma coisa, só tem uns pães e macarrões de mentira grudados nas paredes.

—Sério?

—Não. – e soltou uma risada. –Mas se pararmos para pensar, é o que vem na cabeça quando citamos a Itália.

—Geralmente eu imagino um senhor gorducho de meia-idade com um bigode, jogando a massa de pizza para o alto.

—Que imagem mais clichê, Yamanaka-san. Depois dessa, temos que perguntar a um italiano como ele enxerga os japoneses.

—Me dá um desconto, é a primeira vez que venho à Europa. – Ino segurou a risada ao visualizar a expressão atônita no rosto de Tomoka. –Não me olhe assim! Já fiz muitas viagens ao exterior, Estados Unidos, Singapura, Argentina, Coreia do Sul, Hong Kong. – listou os países que visitou.

—Imagino que foram todos a trabalho.

—A maioria, mas eu fui para a Argentina no ano passado com o meu... – e a expressão facial da loira se apagou.

—Vou chamar o garçom para fazermos os pedidos. – disse, vendo que ela não terminaria de falar.

O restante do jantar foi em silêncio, Tomoka não sabia como começar um diálogo, pois Ino permaneceu desanimada, encarando o próprio prato.

Já esta, apenas se recordava da expressão magoada do ruivo de quando eles terminaram. Qualquer tentativa de reaproximação que ela tentava, era impedida pelas respostas cortantes dele, o que a entristecia muito.

—O nakedcake de sexta foi aprovado? – perguntou Tomoka, despertando-a dos devaneios.

—Claro, estava delicioso. – disse e continuou a brincar com algumas uvas de sua salada de frutas.

Sua consciência pesou ao se lembrar de que havia comido apenas a metade da fatia do bolo com muito esforço, porque alimentos doces ainda eram difíceis de serem ingeridos por ela, mesmo a loira desejando comer chocolate ou qualquer coisa do gênero.

—Sabe Yamanaka-san, antes de ontem eu percebi que você estava entediada, e hoje quando a vi no parque pensei a mesma coisa, mas parece que você não está bem. Se não quiser falar, não tem problema, mas é bom desabafar quando algo está te incomodando. – disse compreensiva.

—Eu sei disso, mas é difícil conversar com as amigas quando elas têm outras preocupações como cuidar dos filhos e planejar o casamento, sem contar que há as que nos abandonam. – contrapôs rancorosa e os rostos da Shiroki e da Haruno surgiram em sua mente.

—Não precisa ser com suas amigas, você pode desabafar comigo. Eu sou uma ótima ouvinte.

—Eu nem te conheço direito. Quem me garante que você não é uma jornalista fofoqueira se passando por uma pessoa legal? – irritou-se, falar de seus problemas com desconhecidos deixava-a desconfiada.

Foi a vez da Okada suspirar.

—Pode parecer estranho, mas conversar com um desconhecido, pode te aliviar, experiência própria. Porém ele tem que ter boas intenções. – lançou um olhar pesaroso à loira. -Na época em que eu me formei na faculdade, tinha a mesma expressão que a sua, porque eu havia acabado de perder a minha melhor amiga. Nós tínhamos muitos planos juntas, desejávamos crescer profissionalmente com o apoio uma da outra. Porém ela se foi e parecia que eu tinha perdido uma parte minha afinal a considerava uma irmã. Foi aí que conheci a senhora Lamartine. – fez uma pausa para tomar o restante do vinho. –Era o sétimo dia da Kathia e eu estava arrasada, a senhora Lamartine me levou para um restaurante mexicano, onde a gente se entupiu de tacos e ela me fez contar o que estava sentindo. No final da noite, eu já não sentia tão mal como antes. – terminou com um sorriso.

Ouviu o relato da Okada encarando fixamente o centro da mesa. A Yamanaka sabia que apenas colocar tudo o que sentia para fora não resolveria o problema, pois apenas quando o ruivo desse o braço a torcer, que ela estaria com os ombros relaxados. No entanto, retribuiria o voto de confiança que Tomoka lhe deu ao contar sobre a melhor amiga.

Contou até três mentalmente.

—Quero meu namorado de volta, mas ele não quer uma reaproximação. Eu sei que errei quando disse que ele precisava me apoiar em todas as decisões, mesmo as idiotas ou inconsequentes. Naquele dia eu estava muito brava, afinal ele chamou a minha amiga de falsa, sendo que ela me consolou quando minha amiga de infância me abandonou. – respirou. –Além do mais, o Gaara é orgulhoso e não entende que a aparência para o meu trabalho é muito importante. – sentiu os olhos vermelhos analisando-a.

—Ele entende isso, não duvide, mas você acha que ele gosta de vê-la se destruir pelo trabalho?

O barulho do talher se chocando contra a tigela de vidro interrompeu a conversa entre as duas mulheres. A loira encarava-a com os olhos semicerrados.

—Eu não estou me destruindo, se não tivesse encontrando uma maneira rápida de perder peso, minha carreira como modelo estaria terminada.

—O seu agente não falou isso para você. – não foi uma pergunta.

—É lógico que não, mas todos sabem que se a modelo engorda é despedida, além do mais eu amo meu trabalho.

—Seu amor é explicito nas sessões de fotos que você faz. – falou séria enquanto desbloqueava o celular. –Mas a Yamanaka Ino que fez a edição especial de primavera brilhava mais que a que fez a edição de Natal. – e estendeu o aparelho em direção da loira, mostrando uma montagem das duas capas de revistas postas lado a lado. –Quando eu a vi ontem, percebi logo de cara que você não está enfrentando apenas um término de namoro, porque eu já convivi tempo o bastante com pessoas que sofrem de transtornos alimentares.

—Que absurdo! – irritou-se e jogou o celular sobre a mesa. –Eu não preciso da sua pena, Okada-san, até porque você também não me entende e nem te conheço direito. – elevou a voz a uma oitava, chamando a atenção das pessoas ao redor. –E quem disse a você que eu tenho algum problema alimentar?

—É você quem não está me entendendo, eu só quero te ajudar.

—Não, obrigada! Já tenho ideia de como você vai me ajudar, mas eu não preciso de mais uma pessoa falando o que devo comer ou me advertindo com o olhar a cada vez que vou ao banheiro! – contrapôs nervosa.

—Não vou ser uma babá, eu só quero te ajudar. – disse com a voz um pouco elevada, ao vê-la se levantar. –Me encontre na cafeteria de sexta às oito da manhã. Juro a você que não vou dar nenhuma lição de moral ou algo do tipo. – continuou, dizendo apressadamente.

—Obrigada pelo jantar. – agradeceu com certo cinismo na voz e virou sobre os calcanhares, contorcendo o cenho em irritação.

~~*~~*~~*~~

Colocou a toca de lã, finalizando look do dia. Bufou em desagrado, justo na manhã que ela havia despertado com um péssimo humor, o céu se apresentava azul e com o sol brilhando, apesar de estar na época de nevar.

Ino não sabia por qual motivo estava se preparando para encontrar a mulher de estranhos cabelos brancos, sendo que a noite anterior não terminou bem. Seu humor piorava ao lembrar-se das palavras de Tomoka e graças a elas, fez com que se remexesse sobre a cama durante grande parte da noite. Então por que estava prestes a cumprir com o combinado que ela ignorou?

Suspirou derrotada, tendo consciência de que não poderia responder a pergunta.

É melhor do que passar o dia sozinha. — disse em pensamentos, enquanto assistia o painel do elevador contar em sentido descrente os andares que passavam.

O agudo sinal indicando que havia chegado ao andar desejado soou e no segundo seguinte a loira já saia da caixa de metal com uma expressão de tédio.

—Você veio! – a viu comemorar.

O sorriso alegre, que Tomoka lhe direcionou, mostrava que ela não se chateou pela forma que a tratou na noite passada.

—Fico feliz que tenha vindo e me desculpe por ser intrometida ontem, mas eu quero de verdade te ajudar, Yamanaka-san. – disse e a lançou um olhar determinado.

—Aonde você vai me levar? – cortou os pedidos da Okada.

—Vamos fazer uma visita. – respondeu animada, já puxando a loira pelo braço. –Vamos ter de ir de ônibus, se não se incomodar, porque fica do outro lado da cidade. – avisou.

A Yamanaka deu de ombros, se voltassem antes do escurecer estava tudo bem.

—Você deveria tirar essa cara de tédio. – comentou. –Não está combinando com essa manhã de sol.

—Não vou ficar alegre as oito e quinze da matina! – falou emburrada, sentindo o arrependimento surgir.

—Bom, aonde nós vamos o pessoal também é mal-humorado. Talvez você e eles se deem bem. – contrapôs e subiu para o ônibus que havia parado momentos antes.

A loira revirou os olhos e a imitou. Fazia quanto tempo que não andava de transporte público? Sete, oito anos? Não sabia direito. Respirou fundo e seguiu Tomoka, por sorte o ônibus não estava lotado e com uma troca rápida de olhares, Ino conseguiu sentar ao lado da janela.

Rapidamente puxou os fones de ouvido do bolso do casaco, conectando-os ao celular. O balançar do transporte e a voz de Adele a fizeram relaxar de modo que acabou se entregando ao sono, para compensar a noite mal dormida.

Foi acordada com Tomoka balançando seu ombro direito.

—Vamos descer. – avisou.

Um resmungou foi sua resposta enquanto se levantava e seguia a Okada.

Quando seus pés tocaram o concreto, a loira percebeu que estava de frente para um prédio branco de janelas espelhadas da cor verde azulado. Lançou um olhar interrogativo à Okada.

—Eu estava falando a verdade quando disse que sabia se uma pessoa sofre com algum transtorno alimentar ou não. – e ajeitou a bolsa no ombro. –Aqui é uma casa de reabilitação. Na época do Natal, eu venho visitar as meninas que estão internadas. Eu quero que veja uma coisa. – explicou para em seguida passar o braço esquerdo no direito da Yamanaka.

—Você me trouxe para um lugar onde eu vou ver pessoas no mesmo estado que o meu? – inqueriu incrédula, sentindo o coração disparar.

—Não, eu a trouxe para um lugar onde verá o quão destruidor são os transtornos alimentares.

—Quer me mostrar meninas desnutridas em forma de lição de moral?

—Então você as acha desnutridas, porque estão em uma casa de reabilitação enquanto que se considera uma pessoa saudável por não estar lá dentro? – respondeu com outra pergunta. –Aliás, eu tinha dito que não te daria nenhum sermão, afinal não tenho esse direito. Porém, para você passar para o lado de dentro é só voltar a forçar o vômito. – comentou séria, começando a andar em direção da entrada.

Intrometida! — exclamou em pensamentos enquanto bufava em irritação.

Seu corpo ficou tenso no momento em que recebeu o crachá de visitante. A irritação seu lugar ao nervosismo ao se dar conta que veria jovens que alcançaram o limite da magreza. Uma realidade que ela poderia viver se levasse os logos jejuns e os vômitos forçados à diante.

—Esse lugar é dividido em duas alas, a ala de recuperação de dependência química e a ala dos distúrbios alimentares. – explicou Tomoka. –Espero que você não se assuste com as meninas.

Atravessaram um extenso corredor até passarem por uma porta que dava acesso a um jardim. Ino respirou fundo, tentando acalmar o coração que batia num ritmo acelerado. Andaram pelos caminhos de cimentos, aproximando-se de um grupo de quatro garotas, desabrigada da sombra.

—Bom dia. – a Okada cumprimentou num francês impecável. As garotas responderam em murmúrios entre desanimados a mal-humorados. –Vocês entendem o inglês? – perguntou e o balançar das cabeças em afirmação foi a resposta. –Ai que bom, assim será mais fácil de conversar. – o inglês também saiu impecável.

Os olhos azuis analisaram as quatro garotas minuciosamente. Elas não deveriam ter menos que vinte anos, a magreza era visível pelas mãos de dedos longos e murchos, e pelas roupas serem para lá de folgadas. Os olhos escurecidos por conta das olheiras e o rosto fino pela falta da gordura. Elas pareciam tão quebráveis.

Engoliu em seco enquanto levava a mão livre até as costelas na tentativa de encontra-las saltadas de forma exagerada. Em suas lembranças ela não parecia tão magra como as jovens em sua frente aparentavam muito pelo contrário, sentia-se cheia com a pela ressacada e muito cansada.

—Bem meu nome é Tomoka Okada e essa é Ino Yamanaka. – despertou com a voz de Tomoka e chegou a estranhar ser apresentada com a ordem sobrenome-nome invertida.

—Olá. – arriscou o seu enferrujado inglês.

—O que vocês acham que viemos fazer aqui?

—Sei lá. – respondeu a única que possuía o cabelo encaracolado enquanto que as outras davam de ombros, desinteressadas. –Mas se vieram nos passar alguma dinâmica de conscientização sobre transtornos alimentícios, já aviso que fizemos isso na véspera do Natal.

—Só querermos conversar. – disse Tomoka meio sem graça.

—Se ainda não percebeu, não estamos com saco para conversas. – a garota loira platinada, porém desbotada, falou ácida.

—Senhoritas, não sejam más educadas! – uma das inspetoras, que passava perto do grupo, as repreendeu. –Elas vieram conhecê-las por espontânea vontade, o mínimo que vocês devem fazer é serem respeitosas. – e saiu com as mãos atrás das costas.

—Olha, a Alice não teve a intenção de ser rude, mas não estamos num bom momento para conversas. Nos fizeram comer todo o café da manhã agora pouco, estamos lutando contra a vontade ir para um banheiro vomitar. – explicou a menina sentada na extremidade esquerda do banco, a comprida franja jogada para o lado, cobrindo o olho, dava a impressão de ser a mais marrenta do grupo. –Desculpe.

—Sem problema. Vamos deixa-las em paz. – Tomoka apenas repuxou os cantos dos lábios, em um sorriso sem dentes. –Venha Ino.

Com uma última olhada nas quatro meninas, a loira começou a acompanhar os passos da outra.

O próximo grupo foi mais receptível as duas mulheres, composto por cinco garotas entre dezesseis a dezoito anos, que entraram na casa há pouco tempo. A Yamanaka não pode deixar de reparar na aparência quebrável das jovens daquele grupo também.

A manhã passou em um piscar de olhos para a loira que ouvia atentamente os relatos das internas. Os motivos para elas terem desenvolvido algum distúrbio alimentar geralmente eram atribuídos a apenas uma coisa: idealização do corpo perfeito. Havia alguns casos que eram pela baixa autoestima e pelos problemas familiares também.

—Para vocês, a Ino precisa emagrecer? – perguntou Tomoka de repente.

O segundo grupo que eram apenas cinco garotas, havia crescido para uma roda de vinte pessoas, entre internas, inspetoras, psicólogas, nutricionistas e as duas mulheres.

As vozes femininas tomaram conta do enorme grupo em NÃO e ELA NÃO PRECISA. Porém uma voz se sobressaiu.

—Nem pensar. – uma das garotas que apresentava um quadro sério de anorexia respondeu. -Você é linda. Então no dia em que você cogitar a ideia de fazer uma dieta radical, lembre-se disso aqui. – e levantou a blusa de moletom, mostrando a abdômen. 

 Aquilo foi como um tapa no rosto da loira. Se deparar com expressões cansadas e marcadas por olheiras profundas, pele ressecada e mãos que só deviam ter o osso e a pele foi algo que ela conseguiu suportar. No entanto, o tronco franzino, sem nenhum depósito de gordura e com todos os ossos daquela região marcados pela pele seria a imagem que ela guardaria para o resto de sua vida na memória.

—Eu me arrependo todos os dias por ter feito isso comigo mesma. – a garota falou com a blusa em seu devido lugar.

—Você foi corajosa, Hafiza. – elogiou uma das psicólogas. –Obrigada por compartilhar isso conosco.

—Obrigada mesmo Hafiza. – agradeceu Tomoka, sorrindo. –Mas vamos encerrar por aqui, porque o nosso horário já vai acabar. Foi muito bom conversar com vocês, meninas. Espero que até o ano que vem vocês se recuperem.

Ino apenas sorriu.

—Sei que vocês não gostam, mas me disseram que o almoço de vocês já está pronto. – Tomoka continuou.

No mesmo instante, um barulho de sinos soou por todo o local, fazendo com que a maioria soltasse muxoxos em desagrado enquanto levantavam-se para andar em direção ao refeitório.  

Alguns minutos depois, restou a Yamanaka e a Okada no enorme jardim.

—Qual foi o intuito de me trazer até aqui? – perguntou Ino curiosa.

—Eu só queria que você visse o quanto pensar apenas na aparência pode ser prejudicial, Yamanaka-san.

—Ino, pode me chamar assim. – falou meio constrangida.

—Ok. Então me chame de Tomoka. – e sorriu, mas o sorriso durou pouco. A expressão séria voltou ao rosto da Okada. –Quando terminei o ensino fundamental, fiz uma prova para fazer intercambio na Inglaterra e passei. Foi lá que conheci a Kathia, ela trabalhava como modelo desde muito nova e ganhou muitos concursos de beleza. – fez uma pausa para respirar. –No segundo ano, ela começou com as dietas mirabolantes, no ano seguinte ela veio com a ideia de ficar sem comer por vários dias. Em nossa formatura, ela pesava quarentas quilos com um metro e setenta e dois. Sinceramente, ela estava horrível de magra.

“Consegui renovar meu visto por causa da faculdade, e no mesmo ano que a iniciei, ela foi para uma clínica de reabilitação. Eu sempre a visitava nas férias e feriados, e quando ela saiu da clínica eu já estava entrando no terceiro ano de moda. Kathia me disse que havia mudado, e que o sonho dela era se tornar uma top model, igual a Gisele Bündchen. Então fizemos um acordo, eu seria a estilista dela e ela a minha modelo. “

Um suspiro pesaroso foi solto por Tomoka.

—Kathia voltou a trabalhar em uma agência até que famosa em Cambridge. Mas a fixação dela por um corpo perfeito nunca foi superada. Ela me dizia que precisava fazer regime, mas logo ria, dizendo que era brincadeira, então eu não dava muita importância.

“Mas eu me arrependo disso. Pois quando estava na metade do meu último ano da faculdade, a mãe da Kathia me liga, avisando que ela foi internada novamente, agora na clínica de reabilitação mais conhecida de Londres pela agência dela. Kathia nunca havia superado o transtorno alimentar dela e como não a deixavam sair nem quando ela tinha uma pequena melhora, caiu nas garras da depressão.

Nas visitas que eu a fiz, ela estava acabada: não tinha mais vontade de fazer nada, recusava-se a comer e ficava repetindo ‘sonho destruído’ e ‘sou uma inútil’. Todo brilho dela havia sido apagado. Os especialistas da clínica não viram outra opção a não ser interna-la no hospital.

Foram longos três meses, a visitando e vendo que ela recuperava o peso de uma pessoa normal. Kathia ganhou alta e pôde voltar para casa, mas o médico a proibiu de voltar a trabalhar como modelo.

Bem, foi aí que o mundo dela parou, porque não havia mais nada para ela fazer, só se culpar mais ainda. A minha última visita pareceu mesmo uma despedida, porque ela me abraçou, me agradeceu pela amizade e me pediu desculpas por não ter cumprido o lado dela do acordo.

Eu sentia que Kathia planejava algo, fui embora com essa sensação. No dia seguinte a mãe dela me liga.

Kathia havia cometido suicídio, cortou o dois pulsos com um vidro de perfume.”

Encerrou a narrativa e sentiu ser abraçada. Tanto Ino quanto Tomoka se encontravam emocionada.

—Eu não visito essa casa de reabilitação por pena dessas meninas, nem lhe ofereci ajuda por achar que você mereça piedade, eu faço tudo isso pela Katy, que não conseguiu perceber que magreza não é tudo nessa vida, e para que ninguém mais passe pela mesma situação que a dela. – disse com a voz embargada.

Naquele momento, algo dentro da Yamanaka se remexeu.

~~*~~*~~*~~

Estavam dentro do ônibus, voltando para o centro de Paris. Desta vez, Tomoka foi ao lado da janela para apreciar os raios solares da final da tarde, pois ali era onde batia mais sol.

Após se recuperavam do choro, foram atrás de um restaurante. O restante da tarde foi como a ‘’quinta de compras’’ que a loira sempre fazia com a Shiroki. Puderam se conhecer melhor e descobriram que partilhavam do mesmo gosto de moda ao mesmo tempo em que divergiam no gosto musical.

Com sorte, conseguiram pegar o último ônibus que atravessaria a cidade naquela tarde.

—Tomoka, me desculpe se fui grosseira com você ontem e hoje. – pediu, encarando um ponto fixo na janela.

—Está desculpada. – sorriu. –Espero que esse passeio tenha feito bem a você, porque são poucas pessoas que sabem sobre a Katy. – completou enquanto abria a bolsa e pegava um caderno de desenho. –Agora durma, porque tenho que trabalhar!

—Trabalhar? Não é recesso de final de ano?

—Não para quem tem que desenhar um dos modelos que abrirá o festival invernal de moda.* - falou, folheando o caderno em busca da última folha rabiscada.

—Uau! – exclamou ao observar o esboço da roupa desenhada. –Quando foi a última vez que fiz isso? – pensou em voz alta.

—Como?

—Quero lembrar a última vez que desenhei alguma roupa. Acho que foi no meu último ano de faculdade para o TCC.

—Se não me engano você também é formada em moda. – comentou.

—Isso mesmo, mas eu só fiz para meus pais não enxerem o saco, dizendo que só eu não tenho diploma universitário, enquanto todos os meus amigos possuem. – torceu o cenho. –Garota, você tem uma habilidade! – elogiou, olhando os outros desenhos de forma a não atrapalha-la.

—Obrigada, vindo de você o elogio é mais especial.

—Me deu até saudade em desenhar. – suspirou. –Eu já tinha um emprego meio que garantido na agência por estar com eles desde o começo do meu ensino médio. Mas, falando a verdade, eu adorava as aulas de designer, eram as únicas que me interessei.

—Eu fiz moda, porque foi a única faculdade em que eu passei. Naquela época estava fazendo de tudo para permanecer na Inglaterra. – comentou com os olhos fixados no esboço. –Isso não está bom. – reclamou, franzindo o cenho.

—Se você trocar esse skinny pela flare e por um casaco de cintura demarcada? Assim não precisará de acessórios, somente um enfeite no cabelo. – sugeriu.

Um sorriso presunçoso tomou conta dos lábios da Okada.

—Acho que não sou apenas eu que é habilidosa. – comentou.


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Notas finais do capítulo

Juro para vocês que o encontro da Ino e da Tomoka aconteceu de última hora.... A maioria desconfiou dela, mas ela é inofensiva, olha o que ela passou.... xD (só que vou deixar uma coisa aqui para vocês, releiam a primeira fase da fic - do capítulo 1 ao 18 - para conseguirem entender o capítulo 40)
Danizita, me desculpe, mas estava na cara que o nosso bundão seria o doador... ;)
Enfim, gente, daqui a uma hora venho trazer o capítulo 39! Beijos, até lá! ;D



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