Orbes castanhos fitavam aquele céu azul que já estava ficando alaranjado conforme o entardecer. Viajava em seus pensamentos enquanto o sol começava a se pôr.

“Erza, olhe para você... Não é a mesma de alguns anos atrás... Você mudou tanto, e também nos afastamos demais. Você mudou por fora, mas eu sei que por dentro ainda existe aquela Erza que eu conhecia! Eu sei disso!”

Lembrou-se das palavras ditas por Jellal. Embora ela tenha mudado, seus sentimentos continuavam os mesmos... Mesmo que prefira morrer á admitir isto... Mas era a mais pura verdade...

“O que verdadeiramente somos é aquilo que o impossível cria em nós.” – Clarice Lispector.

Escutou um toque familiar que a despertou de seus pensamentos, pegou sua bolsa e encontrou o seu celular, olhou o nome na tela, atendeu disfarçando a voz para não ser possível perceber que tinha chorado.

– Diga, Lucy.

– Erza, que bom que finalmente atendeu! Eu estava tentando te ligar a horas e...

– Tá, tá, para de dar sermão. Fale logo o porquê de ter me ligado.

– Está nervosa hoje é? Humf... Bom, Queria te chamar para vim aqui em casa, eu já terminei meu trabalho, mas se estiver ocupada eu entendo.

– Não, estou livre, daqui a pouco estou ai... Tchau. – Desligou sem esperar a loira responder.

“Vai ser ótimo para esfriar a cabeça um pouco.” Pensou a ruiva, olhando para o sol que quase já não estava visível, coberto pela montanha.

Levantou-se da grama e caminhou até a moto, montou-se nela e guiou-a até sua casa, abriu a porta subindo as escadas em seguida. Foi até o banheiro e tomou um banho, enrolou-se na toalha e pegou o secador de cabelo para secar suas madeixas.

Abriu a porta do closet e escolheu uma roupa para ir até a casa de Lucy. Arrumou-se e saiu. Chegou rapidamente na casa da loira. Tocou a campainha, logo a porta foi aberta por Lucy com um sorriso estampado em seu rosto.

– Ah! Você chegou Erza! – A loira deu licença para a ruiva passar.

Ela, então, olhou à sua frente e percebeu duas pessoas sentadas no sofá da sala de estar: Levy e Juvia. Elas eram mais duas amigas de Erza, as quatro – contando com Lucy – sempre se reuniam quando acabavam seus trabalhos.

– Oi gente! – Disse a ruiva para as duas azuladas.

– Erza! – Levantaram-se surpresas indo em direção à Scarlet, abraçando-a em seguida. – Quanto tempo! – Disse Levy soltando-se

– Pois é... – Ela respondeu. – Como vocês se viraram sem mim? – Deu sum sorriso debochado.

As duas – ou melhor, as três – rolaram os olhos.

– Argh, Erza! – A loira se pronunciou. – Você sabe que é totalmente ao contrário!

– Há! Até parece! – Riu a ruiva – Bom, vamos comer? Estou morrendo de fome! – Ela disse caminhando em direção à cozinha.

– Abusada! – Sussurrou Lucy, seguindo Erza, logo as duas azuladas fizeram o mesmo.

Erza fazia um bolo, enquanto as outras meninas estavam ocupadas com outras receitas. A ruiva foi pegar a farinha, encarou o pacote por alguns segundos, em seguida deu um sorriso brincalhão, olhou para a loira ao seu lado que preparava algo – devido aos seus ‘excelentes’ dons culinários – impossível de se distinguir. Scarlet abriu o pacote, enchendo uma das mãos de farinha, jogou sem pena no rosto da loira que a olhou surpresa.

– Ah é? – Disse Lucy com um sorriso maligno nos lábios, ela estava perto da pia, quando puxou a boca da torneira, abrindo a mangueira para lavar pratos, mirou na ruiva e ligou o jato d’água, ela conseguiu desviar, mas acabou acertando a azulada Levy, que se assustou.

– Mas o quê?! – Gritou a pequena azulada, que então, pegou a lata spray de chantilly que segurava, apertou o botão, lançando a espuma em Lucy, logo elas começaram uma guerra de utensílios culinários e comidas, fazendo uma ‘linda’ bagunça no local.

Bem ali no canto, a outra azulada apenas observava. Prestava atenção no livro em suas mãos e, de vez em quando, levantava seu olhar para reparar na confusão à sua frente.

Depois de algum tempo, elas terminaram com a guerra, gargalhadas altas eram omitidas por toda a casa.

– Hahahá... Ai ai... Já chega. Melhor pararmos. – Disse a ruiva que secou uma lágrima, provocada pelo riso, do canto de seu olho.

– Vocês sujaram minha cozinha. – Disse a loira enquanto limpava sua saia, que estava coberta de chantilly.

– Como assim “vocês”? Você também sujou! – Exclamou Levy, enfatizando o ‘você’. – Falando nisso... Juvia, você está tão quieta. – Olhou para a outra azulada.

“Falando nisso? Mas o que tem a ver?” Pensaram a ruiva e a loira, juntas.

– Ér... J-Juvia só estava pensando... – Respondeu Juvia com a voz baixa, voltando sua atenção para o livro.

– Hum... Está pensando no Gray, não é? – Disse Lucy dando um sorriso malicioso, que fez a azulada corar.

– N-Não! Juvia já te disse que não existe nada entre nós dois! – Seu rosto já estava da cor do cabelo de Erza.

– Hum... É mesmo? – A ruiva decidiu entrar na brincadeira.

– Parem com isso! – Exclamou Juvia, usando o livro para cobrir seu rosto envergonhado. As outras meninas riram, fazendo a azulada irritar-se. – Vocês ficam me provocando, mas Levy, todos sabemos de você e do Gajeel. – A outra azulada arregalou seus orbes. – Lucy, enquanto ao Natsu, hein? – A loira arqueou as sobrancelhas. – E você, Erza... – A ruiva a olhou surpresa. – Eu sei e todo mundo sabe, que desde a época do orfanato que você gosta do Jella--

– É mentira! – Exaltou-se Erza. – Sua filha de uma mulher que presta favores sexuais em troca de dinheiro! Considere-se morta! – A ruiva correu atrás de Juvia que fugia e ria descontroladamente.

Enquanto isso, Ultear já tinha voltado para sua rotina, assim como Jellal, os dois trabalhavam na delegacia.

– Jellal, você não acha melhor deixar esse serviço comigo? Eu posso muito bem capturar o chefe deles! – A morena estava se referindo o grupo de Erza, e como Ultear atrasou a execução do azulado, eles estavam quase desvendando o caso.

– Não, deixe isso para mim. Ele é mais perigoso que você pensa. Não vai ser tão fácil assim prendê-lo. – Jellal levantou-se e foi em direção a um armário, de onde tirou uma S&W M29, entregando-a para Ultear a seguir. – Guarde isso com você, ela é bem poderosa, mas só use em casos de emergência, pois assim que começar a busca por ele, com certeza virão atrás de você também.

– Ok, eu entendi. – Ela respondeu. – Mas... Por favor, tome cuidado. Sabe que eu me preocupo com você.

– Eu sei. – O azulado deu um sorriso. – Vou para casa me preparar, partirei de madrugada. – Ele disse pegando seu casaco e o resto das suas coisas, caminhando até a porta da saída. – Até mais!

– Até.

Aquela noite, certamente não será tranquila, não apenas por começar a busca pelo chefe do bando, mas também por Jellal tentar captura-lo pessoalmente. Desta vez não será Erza que virá atrás de Jellal...