No dia anterior, depois da tensa conversa com Armando, Marcela foi até sua sala e ligou para sua grande aliada, dona Margarida, contou tudo e desabafou com sua sogra, sabia que aquela mulher era a única capaz de fazer Armando voltar atrás com suas palavras.

Horas depois de ter desligado o telefone e começado a trabalhar, o mesmo tocou novamente e dessa vez foi Margarida quem tinha ligado, lhe contou que Armando esteve lá, na casa de seus pais e acabou confessando que amava outra mulher, Marcela sentiu seu mundo cair e tudo piorou quando Margarida lhe disse que dessa vez o filho parecia estar convencido em não retomar a relação com Marcela.

Marcela se viu sem chão, de repente foi como se todos os seus planos fossem embora, ela acabou saindo da Ecomoda e andando sem rumo, parou quando encontrou uma praça e ficou lá sentada, chorando sozinha, pensando em como mais uma vez tinha acabado sem família. Os Mendoza eram sua família desde que seus pais tinham morrido, porém ela sabia que não era realmente membro dessa família, era uma agregada apenas, a órfã acolhida, porém ela casando com Armando seria oficialmente uma Mendoza, ou seja, seria oficialmente da família. Mas ao que parece agora tudo tinha acabado por causa de alguma mulherzinha idiota, ela ficaria sem Armando e com isso sem pertencer a lugar algum novamente.

Ela ficou imersa em seus pensamentos chorando até que um homem lhe tocou o ombro, sua visão estava tão turva com as lágrimas que pouco pode ver ele, porém sua voz ela ouviu com perfeição. Uma voz distinta, anasalada, não era nem rouca e nem aguda e ele apenas lhe disse.

– Uma mulher tão bela como você não deveria chorar por nada nesse mundo, saiba que quando você chora, o mundo fica sem cor, basta olhar para o céu e ver o quanto está escuro e logo vai começar a chover – O homem lhe entregou um buquê de flores, as flores eram simples e com várias espécies distintas de flor do campo – Tome, uma mulher como você merece flores mais bonitas, porém é tudo que eu posso lhe oferecer – E sem esperar resposta o homem saiu, Marcela tentou o enxergar, mas apenas viu suas costas e depois viu ele pegando um ônibus.

Agora lá estava ele, no elevador ao seu lado, como ela não tinha chorado tanto ainda hoje, conseguia o ver nitidamente. Sua aparência era ... pouco convencional. Óculos enorme, o cabelo tinha tanto gel que parecia grudento, sua roupa era um caos, uma camisa xadrez azul com branca e calça e casaco caqui. Marcela logo tratou de enxugar suas poucas lágrimas, não sabia porque mas não queria que aquele homem a visse chorando.

– Ainda bem que eu trouxe um guarda-chuva hoje – Ele disse e ela não entendeu bem, talvez ele fosse um louco, isso explicaria muita coisa.

– Não entendo – Ela disse e ele pela primeira vez ouviu sua voz, foi como se escutasse os anjos falando.

– Como eu disse ontem, toda vez que você chora o mundo parece se compadecer de seu planto e chorar junto, ao menos hoje eu trouxe um guarda-chuva para me proteger da chuva – Ele lhe mostrou um grande guarda-chuva preto e ela sem nem saber o motivo, começou a rir.

Ele se sentiu feliz, se morresse ao sair daquele elevador estava feliz, ao menos a tinha feito parar de chorar e rir.

– Eu me chamo Marcela Valencia – Ela se apresentou e então ele se deu conta do porque ela lhe parecia família, tinha a visto na revista, ela era a noiva de Armando Mendoza e então ele se conta de mais uma coisa, o motivo porque ela chorava, certamente era devido a sua fracassada relação com seu noivo.

– Eu me chamo Nicolas Mora – Ele estendeu a mão e ela apertou, para ela o toque dele foi firme, seguro, ela sentiu que mesmo sem conhecer aquele homem, poderia confiar nele, já Nicolas sentiu o toque dela sensível, cálido e sentia que ela estava tão insegura e desprotegida, que daria sua vida para ela se fosse necessário.