- Armando está tudo bem? Te atrapalho? – Catalina perguntou, Armando tinha demorado quase cinco minutos para responder ao chamado da porta.

- Desculpe Cata, eu estava apenas revisando uns documentos e de tão distraído não ouvi a porta –

- Me desculpe, é que sua secretária não estava e eu acabei tomando o abuso de vir assim mesmo, mas se está ocupado, eu volto outra hora –

- Não é surpresa que Patricia não esteja aonde deveria, mas você não atrapalha, entre – Armando educadamente convidou Catalina a entrar – O que faz aqui? Não lembro de termos uma hora marcada –

- E não temos, eu vim te pedir um favor – Catalina disse como sempre doce.

- Peça, terei um prazer de te ajudar – Armando dizia verdadeiramente, Catalina Angel era não só uma profissional excelente, mas também parecia um ser-humano encantador, eles não era amigos íntimos, mas tão pouco eram apenas colegas de negócios, se conheciam a anos já.

Armando tinha um sorriso cordial no rosto.

- Eu quero que você me empreste a Betty – O sorriso de Armando morreu na hora, ele não podia acreditar que Catalina que sempre aparentava doçura e bondade vinha lhe tirar Beatriz e ainda dizia isso assim, como se fosse normal e pior, na sua cara.

- Por Deus Catalina, você bebeu? – Ele perguntou irritado, a pobre mulher se espantou a sua frente – Você acha por acaso que Beatriz é um objeto? – Ele disse já com tom de voz elevado – Você acha o que? Que vou e te empresto ela, você a leva para sua casa, para sua empresa, sei lá para aonde, e fica com ela, a usa e depois passa meses e um dia você olha e lembra – Ele já estava em pé nesse momento e tentou fazer uma voz fina como de mulher – Meus Deus, como pude, peguei Betty a tempos e esqueci de devolver ao Armando, caramba, deixa eu leva-la logo – Ele voltou a sua voz normal - Dai você a pega, coloca em seu carro e me trás novamente – Catalina estava com a boca levemente aberta, mas não sabia o que falar, jamais pensou que Armando reagiria assim, ele parecia transtornado.

- Armando, não seja maluco – Catalina conseguiu recuperar a fala – É claro que não é nesse sentindo, eu quero Betty emprestada por uma semana, eu estou organizando um evento em Cartagena e preciso de uma assistente eficiente como Betty é, obviamente tudo referente a passagem e estadia eu irei pagar, e além do mais, lhe darei um ordenamento pelos dias trabalhados que acredito eu seja quase o valor que você a paga por mês –

- Como? Cartagena? Você quer tira-la da cidade? – Armando parecia mais irritado agora e Catalina não conseguia entender – Você não pode tirar Beatriz daqui, não agora que tudo está se acertando – Armando abaixou a voz – Sabe Catalina, eu pensei que você era minha amiga, mas eu estava enganado, você quer tirar a minha Betty. Minha Beatriz! Não sei como você teve a coragem de vir me pedir isso – Catalina mais uma vez ficou muda, Armando não parecia um louco agora e sim magoado, e ainda falava de Betty como se ela pertencesse a ele, inicialmente ela se colocou pensando que talvez fosse ele que via  Betty como um objeto, porém tinha tanto carinho nos olhos dele que ela não pode entender o que se passava.

- Olha Armando, você está um pouco exaltado, então vou dar uma volta e ver o Hugo, depois eu retorno e conversamos – Catalina se levantou, queria sair daquela sala, Armando estava exaltado demais.

- Não tem o que conversar, Betty não vai sair daqui – Armando disse gravemente e Catalina saiu.

Betty não pode deixar de ouvir a conversa, ao menos não desde que ele tinha começado a gritar, pelo pouco que ela entendeu no meio da gritaria, Catalina tinha uma proposta de emprego para ela e ainda a levaria para outra cidade, era tudo que ela queria no momento, sair da Ecomoda, sair da cidade, ter um tempo só dela sem a pressão da empresa, a pressão de seus pais e até mesmo a pressão de Armando. Ela teria um tempo se ocupando de outras coisas, outro trabalho, conheceria uma cidade nova e todos os seus tempos livres gastaria sozinha colocando suas ideias em ordem. Ela precisava disso e ela teria isso. Foi com esse pensamento firme que ela saiu de sua sala e entrou na presidência. Armando no mesmo instante se assustou ao vê-la ali.

- Betty, você esta ai? Me disseram que você não tinha chegado, você estava ai o tempo todo? – Ele tinha a voz preocupada.

- Eu cheguei cedo e estava o tempo todo – Armando se aproximou dela e selou seus lábios nos de Beatriz.

- Por que não veio assim que viu que cheguei? Continuou ai escondida. – Ele agora tinha a voz curiosa e preocupada.

- Eu não ouvi você chegar – Ela preferiu mentir – Só percebi que tinha alguém ai quando ouvi seus gritos – Ela riu e ele se irritou.

- Eu não grito Beatriz, eu apenas falo mais alto – Armando se defendeu, odiava quando diziam que ele gritava.

- Ou seja, você grita – Ela riu novamente e ele relaxou, jamais poderia ficar irritado enquanto via a mulher de sua vida rindo, feliz – Eu não pude deixar de ouvir a conversa, não desde que você começou a gritar – Ele a olhou como se estivesse irritado e ela deu um sorriso e corrigiu – Falar alto – Beatriz não era burra, sabia que Armando não iria a deixar ir facilmente com Catalina, então resolveu testar um truque que ela sempre ouvia falar, mas não tinha a mínima ideia se realmente da resultados, o truque da sedução, esse era o único meio de Armando a deixar ir.

Betty se aproximou mais dele e o abraçou.

- Sabe meu amor – Ela disse suavemente as palavras mágicas e viu os olhos dele se iluminarem, ela roçou a unha levemente no rosto dele – Como eu disse, eu não pude deixar de ouvir seus gritos com a dona Catalina, mas eu não entendi muito bem o motivo – Armando a olhou, pensou em não contar a verdade, mas tinha se tornado impossível mentir para ela, de modo que ele não pode fazer nada a não ser contar toda a conversa que eles tiveram.

- E foi isso Beatriz, ela veio com essa proposta indecorosa de te levar por uma semana, mas eu já disse que não, seu lugar é ao meu lado – Ele era tão doce que por um segundo ela cogitou simplesmente ficar, porém ela precisava desse tempo longe para pensar e, uma semana, nem era tanto.

- Mas meu amor, se a dona Catalina te pediu algo assim é porque ela precisa e ... – Armando a cortou irritado.

- E nada Beatriz, você não vai para Cartagena com ela. Não vai. Entendeu? – Ela o beijou nos lábios, ele ingenuamente correspondeu ao beijo.

- Mas e se eu quiser ir Armando? – Ela perguntou e se preparou para a enxurrada de gritos, porém ele simplesmente baixou o olhar e ela sentiu o corpo dele que antes era firme e ereto, se torna cabisbaixo, aquilo a pegou desprevenida e ela se martirizou por ter falado daquela maneira. Acabou abraçando ele com mais força.

- Você quer ir? – Ele perguntou com a voz baixa – Se você quiser não vou te impedir, mas por que você quer ir Beatriz? Por que quer ficar longe de mim? – Ele estava tão frágil que ela chegou a pensar que ele fosse chorar.

- Não Armando, não é isso – Betty disse tão enfática que ele se ergueu um pouco mais e voltou a olha-la – Meu amor, essa noite eu pensei em muitas coisas, coisas horríveis – Ela foi sincera, era inútil mentir para ele – Eu queria um tempo longe da empresa, dos meus pais, da dona Marcela, até mesmo das meninas do quartel –

- E de mim? Você quer um tempo de mim? – Ele a olhou tão profundamente que ela sentiu sua saliva secar, porém ele estava sendo tão sincero com ela em tudo, não poderia ser contemplado com mentira e por isso ela lhe contou a verdade de como se sentia.

- Sim, de você também – Ele voltou a abaixar o olhar, mas dessa vez ela não permitiu, segurou em seu rosto e o fez olhar para ela – Meu amor, não significa que eu não te ame ou que queira distância de você. A única coisa que eu quero é pode pensar sozinha. –

- Pensar em que? – Ele pediu – Não está pensando em desistir do casamento? – Sua voz era temerosa e ela se apressou em responder.

- Não, eu quero me casar tanto quanto você Armando, eu ontem me comprometi com isso e vou fazer –

- Não Betty, não quero que case porque se comprometeu, nossa relação não é de comprometimentos de palavras e sim de sentimento, quero que case porquê me ama e não tem dúvidas de que vai ser feliz ao meu lado – Ela suspirou, não tinha como ele ser mais perfeito do que era.

- Não Armando, você não entendeu, eu quero me casar porquê te amo de uma maneira que nunca pensei ser possível, eu te amo acima de qualquer coisa, até mesmo acima de mim e sei que teremos um futuro lindo, o que me preocupa não é nosso futuro e sim nosso presente. Por Deus Armando, eu não consigo não pensar que estamos manipulando situações, pessoas. Dona Marcela acha que vai casar com você e nem em sonho sabe que você está de casamento marcado comigo –

- É Marcela? É ela que te preocupa? – Mentalmente ele xingou Marcela, ela sempre atrapalhando sua vida. Maldita seja, ele pensou.

- Armando, aquela mulher te ama e sonha que vai casar com você, estamos a iludindo tanto quanto você e Mario fizeram comigo – Ela enfim verbalizou seu pensamento e se sentiu mais leve.

- Beatriz, me escute só uma vez, ok? – Ela fez que sim – Você me ama? – Ela fez que sim com a cabeça novamente – Em palavras Betty, você me ama? – Ele tornou a perguntar.

- Sim Armando, eu te amo – Ela respondeu mesmo sem entender aonde ele queria chegar.

- E como você reagiria se soubesse concretamente que eu te traio? Que durmo com modelos e não sou fiel a nossa relação? – Ele viu o olhar dela escurecer e sua mandíbula ficar rígida.

- Eu nunca mais olharia para você – Ela disse decidida – Por que está perguntando isso? Aonde você quer chegar? – Sua voz irritada demonstrou que só a menção dele a trair tinha a irritado e ele sorriu.

- Viu meu amor, é isso que estou dizendo. Só de pensar você já se irritou e como você disse, não me olharia mais, seria o fim da nossa relação, mas isso por quê? Porquê você me ama e o amor é egoísta Betty, o amor não divide, ele não suporta ver a pessoa amada com outro - Armando respirou fundo buscando as palavras certa – Beatriz, Marcela não me ama, ela apenas colocou na cabeça dela desde pequena que iria casar comigo e ser a senhora Mendonza, a primeira dama da Ecomoda, ela está sempre montada, é uma boneca, com maquiagem, cabelo, vestido, bolsa, tudo de forma perfeita. Entenda Betty, o que Marcela tem comigo é uma cisma, ou sei lá, um plano de vida, porém não é amor – Betty ficou calada analisando as palavras dele, não teve como não dar razão a ele.

- Eu acho que você está certo – Ela voltou a abraça-lo, precisava sentir ele, sentir seu apoio e ele aceitou o abraço, ela era tão pequena comparada a ele que praticamente ele a escondia sobre seus braços e ela amava isso, se sentia protegida do mundo assim.