Aprendendo Amar ... escrita por MA


Capítulo 15
Recordações de um passado recente




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Armando saiu do carro e foi abrir a porta para Betty descer, ela continuava imóvel e ele entendeu o motivo, porém aquele era um lugar mágico para ele, era sua própria terra do nunca e Beatriz era a única pessoa no mundo que ele tinha compartilhado tal refugio. Acima de tudo, aquele lugar não tinha culpa em nada do que ele e Mario fizeram, tinha tido apenas o infortuno de ter abrigado a revelação dos fatos.

- Beatriz, venha comigo – A voz dele parecia tão distante para ela, em sua mente rondava um pesadelo – Betty, vamos – Tudo em volta era tão preto e branco que ela mal podia ouvir a voz de Armando – Betty, está me ouvindo? – A voz em tom severo a fez despertar e trazer seu corpo para junto de sua mente e então ela se deu conta que aquilo não era um pesadelo e sim a vida real. Novamente ela estava naquela pousada, ela o olhou, Armando estava parado com a mão pousada no ar esperando ela a segurar e sair do carro, foi o que ela fez, segurou sua mão e saiu de dentro da formosa Mercedes. Armando apenas chegou na recepção e já lhe entregaram a chave do chalé de número 19, ele nem precisava mais pedir, todos os funcionários já o conheciam e sabiam qual era o seu preferido.

- Betty você está bem? – Armando fechou a porta do chalé, Beatriz estava pálida e nada falava.

- Sim doutor – Ela respondeu no automático e ele apenas respirou fundo, a palavra doutor entrou nele como uma faca que cruzava seu peito, Betty estava na defensiva o que  tornou claro para ele que embora tivessem tido uma noite perfeita e uma bela manhã, eles ainda tinham muito a trabalhar entre eles e resolver os problemas que faziam Betty erguer um muro e lhe separarem.

- Beatriz, já passamos pela fase do doutor, vamos ter um bebê em poucos meses, fizemos amor ontem a noite e, acima de tudo, amamos um ao outro como homem e mulher, sem distinção social ou hierárquica, por isso nada de doutor, certo? – A voz dele era baixa e triste, ele não tinha força para mais uma conversa desgastante, porém ela tinha ganas de resposta, só depois que ela tinha as respostas é que ela podia se sentir livre.

- Por que aqui? Por que nesse maldito lugar? – Ela perguntou com ira e ele apenas tentou relaxar e responder de forma clara e rápida.

- Esse lugar não tem culpa do que fiz, nesse aspecto ele é simplesmente um lugar, paredes frias e sem vida, com mobília em madeira e uma vista magnifica, ele não se torna um lugar maldito por que foi o cenário da nossa conversa – Ela o olhava calada, sabia que ele tinha razão, porém no momento ela só podia se sentir passional e com ódio daquele lugar que a fazia ter tantas lembranças doloridas, como ela chorando escorada na parede do canto e sentindo vontade de morrer – Sabe Beatriz, eu nunca fui uma criança muito feliz, meu pai trabalhava o dia inteiro e todos os dias, para ele não existia fim de semana ou feriados, qualquer dia e qualquer hora era dia de trabalho. Minha mãe não trabalhava formalmente, porém estava sempre com a agenda lotada, corria o mundo vendo desfiles e colaborando com ideia para as coleções, quando estava no pais era cercada com eventos e festas da sociedade ou de caridade. Eu sempre gosto de pensar que foram os Valencia que me roubaram o afeto deles, mas a verdade é que não foi bem assim, talvez seja o motivo de que eu odeie tanto o Daniel, afinal depois que os pais dele morreram, meus pais faziam com ele coisas que nunca fizeram comigo. Meu pai ensinou o Daniel a montar, enquanto a mim ele pagou um professor, era o melhor professor que existia em Bogota, mas ainda assim eu preferia que tivesse sido ele. Entende? – A pergunta retórica não pedia resposta, mas ainda assim Betty balançou a cabeça em afirmação, embora ela não podia entender como um pai abandonava um filho de tal modo, Armando tinha os olhos vermelhos, estava a ponto de desmoronar – E então um dia os Valencia foram passar um fim de semana com uma velha tia do exterior e meu pai resolveu que apenas ele, minha mãe e eu iríamos tirar um fim de semana de folga. Naquele dia ele deixou toda as pastas da empresa em casa e minha mãe não levou nenhuma empregada com ela, nem mesmo Lupe, foi só nós três, a família, o lugar era exatamente essa pousada e nesse chalé. Aquele foi o melhor fim de semana da minha vida, eu conversei com meu pai sobre tudo, desde garotas e futebol a estudo,  minha mãe me deixou até dormir com eles mesmo eu já tendo meus 11 anos. Daquele dia em diante esse sempre foi meu lugar favorito, quando eu tinha já meus 15 anos e podia sair sozinho, vinha aqui para relaxar, esse lugar me ensinou que tudo tem solução. Eu sei que pode ser idiota e como eu mesmo te disse, são só paredes frias e mobílias de madeira, porém para mim é aqui aonde os milagres ocorrem, aonde podemos esquecer do mundo e simplesmente ser quem realmente somos. Eu sei que aqui para você pode ter sido um lugar triste, mas não pense que aqui ocorreu nossa desgraça, pense que aqui ocorreu nossa rendição, foi aqui que deixamos tudo as claras e por mais que foi doido, foi aqui que nossa relação passou de mentirosa e mesquinha, para verdadeira e clara – Armando chorava igual a um menino frágil, Betty já não conseguia e nem precisava mais ouvir nada, simplesmente agarrou ele o mais forte que seu pequeno corpo conseguiu e o beijou com volúpia. Armando correspondeu o beijo com intensidade e amor, quando o beijou acabou eles continuavam abraçados e Betty abriu os olhos e olhou em volta, o chalé já não parecia tão cinza, de certo modo para ela realmente era apenas um local, porém para o homem que ela amava aquilo era o paraíso e ela estava disposta a ver aquele lugar como no mínimo um bom lugar de paisagem bonita e quem sabe futuramente aquele também não seria o seu lugar de relaxar e esquecer dos problemas.

Eles ficaram abraçados por muitos minutos, ela sentia Armando relaxar em seus braços e ele apenas sentia pela primeira vez que não estava mais sozinho, desde que conheceu Beatriz ela sempre estava lá para ele,  por mais idiota que ele agisse ou fizesse coisas que ela não entendia o motivo, ela simplesmente continuava lá disposta a lhe dar uma chance de se explicar. O sentimento de não esta sozinho no mundo o fazia sentir-se como um rei.

- Eu amo você, não quero nunca te perder, não poderia mais viver sem você – Ele rompeu o silencio e mais uma vez declarou seu amor.

- Eu também amo você e não suportaria viver sem ti – As palavras dela foram o suficiente para ele voltar ao normal e deixar toda a tristeza para trás, enfim eles se separaram daquele longo abraço, era nítido a qualquer um que ele tinha chorado, mas também era nítido a qualquer um que seja lá qual foi o motivo, tinha passado, afinal o sorriso que ele tinha no rosto era tão amplo e verdadeiro que não poderia estar triste.

- Vamos deixar esses arquivos aqui que tenho que te mostrar toda a pousada – Armando agora segurava a mão dela e a puxava em direção a porta.

- Calma Armando, nos estamos aqui a trabalho, lembra? – Ela tentou o conter, mas foi em vão, ele a puxou até saírem do chalé.

- Vai dizer que esse não é o lugar mais lindo do mundo? – Betty  olhou em volta, tudo era realmente muito bonito, o chão todo era coberto por uma grama pequena e verde, existia espécies diversas de flores espalhadas pelo local, assim como uma grande macieira e podia se ouvir o barulho da cachoeira. Ela sorriu para ele.

- Eu não sabia que você gostava de locais assim – Armando tinha os olhos brilhantes como os de uma criança.

- Eu gosto, amo essa coisa toda de natureza – Ela riu, para quem cresceu em uma fazenda, aquilo em nada parecia natural, era nítido que tudo ali foi criado por paisagistas – O que foi, vai dizer que não gosta? – Ele perguntou descrente.

- Gosto, mas não acho que esse seja o local mais bonito do mundo – Ele a olhou incrédulo, não entendia como alguém não poderia ficar maravilhado com aquilo tudo.

- Venha, vou te levar até os animais – Ele voltou a puxá-la e ela apenas ia olhando tudo em volta e desfrutando da companhia dele. O que ele chamava de animais era alguns patos, três cavalos e algumas cabras – Todos eles são bonzinhos, pode mexer neles sem se preocupar – Ela sorriu, mas uma prova que nada lá era natural, Armando foi logo para os cavalos, sua paixão declarada, ela se aproximou com ele e logo um grande cavalo de cor marrom se aproximou dela e abaixou levemente a cabeça, ela riu do modo que o animal pedia carinho  e lhe acariciou.

- Você sabe o nome deles? – Armando estava encantado com o modo confortável que Betty estava em volta dos cavalos, eles eram animais grandes que sempre deixavam medo em um primeiro contato, porém ela estava totalmente a vontade com eles.

- Claro que sim, esse mesmo foi eu quem dei o nome, se chama Simon – Armando se aproximou dela – Betty, você por acaso já tinha tido contato com cavalos antes? – Betty sorriu, ela sempre foi louca pelos cavalos e audaciosamente montava escondido desde muito pequena, acabou aprendendo de forma natural a lidar com eles, mas Armando não precisava saber disso, não agora.

- Digamos doutor – Ele sorriu, entendeu pela voz dela que o doutor era apenas uma forma dela brincar com ele – Que um dia eu te levarei para conhecer o lugar mais lindo desse mundo – Ele a beijou com paixão, tinha entendido que mesmo ela sem responder enfaticamente sua pergunta, tinha lhe dito que sim, que ela já estava acostumada aos cavalos, e ele pode notar que existia mais coisas em comum entre os dois do que ele imaginava.


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