Garota-Gelo escrita por Bia


Capítulo 68
Planos da NASA Funcionam Com Ignorantes


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente! Como estão vocês?!
Aqui estou eu com um capítulo que amei de verdade escrever! Pedro e Katrina tiveram uma abertura e cumplicidade muito grande, hahahaha! Amo forte!
AAAH, aliás: este capítulo é um ponto final na história OU um grande ponto de partida, hahahahaha! Obrigada, mamãe Dias! -qqqqq Falando nisso, neste capítulo acontece uma coisa que TODOS estavam esperando xD
Dica rápida: Derek é muito criativo quando o assunto é a Marcela, risos. HUEHUEHEHUEHUHEU (todos já sacaram, Bia, larga de enrolar).
Bom, espero mesmo que gostem,
Boa Leitura!
PS.: ouçam esta música enquanto leem: http://www.youtube.com/watch?v=sYffFEIAzdE (vocês irão entender quando ler auhahuahuahuahua).



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Se havia uma palavra que pudesse me definir naquele momento, essa palavra seria ansiedade.

Ansiedade para espalhar o caos.

Para início de conversa, acordei vinte e três minutos antes do despertador. Saltei da cama o mais rápido que pude, indo de encontro ao guarda-roupa, grogue, vendo galáxias.

– Bosta - murmurei, apoiando-me na porta do móvel, coçando os olhos. Aquela manhã estava friazinha, já que todos os pelos não raspados das minhas pernas nuas (eu havia dormido só de calcinha naquela noite) arrepiaram-se.

Tratei de vestir logo a roupa do uniforme escolar, tendo dificuldades para subir a calça quando ela chegou na cintura. Botei um sutiã que se fechava atrás, percebendo, pelo espelho, que meus peitos haviam crescido - lindo. Já até podia ouvir a minha coluna dizer tchau. Quando vesti a camiseta, corri pelo corredor, abrindo a dispensa e olhando aquilo ali.

Agachei-me e fuxiquei a última prateleira, retirando de lá algumas latas spray coloridas. Tinha rosa, azul, amarelo e verde. Fiquei em dúvida por alguns segundos, mas no fim peguei todas. Sim, eu estava parecendo uma marginal, mas quem não é marginal no mundo de hoje?

Até o Pedro, ou melhor, O Anjo Pedro, não, não, melhor: O Santo Anjo Pedro, meu vizinho e recatado, acabou tornando-se um marginal, até sendo cúmplice de um plano de vingança - eu o pressionei, mas não que detalhes importassem neste momento.

Só sei que, quando ouvi o despertador tocando lá em cima, eu já estava no piso inferior, com tudo pronto. Mesmo que estivesse parecendo que eu havia enfiado uma embalagem de fraldas Pampers dentro da bolsa, estava tudo pronto. Caso alguém perguntasse, eu iria dizer que era o bebê morto da vizinha.

Quando cheguei na cozinha, vi Isadora, Jonas e mamãe conversando sobre alguma coisa. O café ainda estava coando. Serena me olhou de forma estranha, mais contente que cão com dois rabos.

– Tinha formigas na cama, Katrina? - Perguntou, atravessando o piso e abrindo a geladeira.

– Quase isso. - Sorri, colocando a mochila no chão enquanto me sentava à mesa.

– Você está de bom humor?! - Jonas indagou, parecendo genuinamente chocado.

– Estou, algum problema? - Devolvi a pergunta, desrosqueando a garrafa térmica e despejando café no meu copo.

Ele deu de ombros, como se não tivesse nenhum problema, mas desandou a sorrir de forma debochada - típico.

– Serena, sua filha está de bom humor, leva o guarda-chuva hoje para o trabalho, tá? Vai cair um toró daqueles!

Revirei os olhos enquanto abria o pacote de pão francês, tirando o miolo e comendo-o primeiro.

Só sei que quando eu estava comendo o terceiro, Marcela apareceu na porta, espreguiçando-se, parecendo ainda sonolenta.

– Bom-dia! - Cumprimentou-nos, sentando-se do meu lado.

– Bom-dia, oxigenada. - Cumprimentei-a, recebendo um olhar esquisito dela.

– O que foi isso? - Ela fingiu murmurar para Jonas.

– Não sei, Marcela, ela acordou vendo o passarinho verde.

– E eu acho que sei como é o nome desse passarinho… - Serena falou do nada, tomando o café e encarando o teto, fingindo estar distraída.

– Ah, qual é, não é só o Pedro que pode me fazer ficar feliz. - Retruquei, mas logo me liguei da merda que tinha saído. Katrina, sério, cala a boca.

– AHÁ! - Jonas e Marcela berraram, felizes, batendo a mão contra a mesa, como se tivessem descoberto que eu matei o presidente dos Estados Unidos.

– Você acabou de admitir que ele te faz feliz, Katrina! - Berrou Marcela, toda risos.

Revirei os olhos, levantando.

– Tá, tá, tá, tá. - Murmurei, indo para o banheiro. Os dois ainda continuaram grunhindo como ratos enquanto eu estava escovando os dentes.

Me apoiei na pia, encarando aqueles olhos cansados no espelho. Eu não havia dormido muito à noite, e por isso estava um pouco sonolenta. Mordi a escova, juntando as sobrancelhas. O olho é uma coisa terrivelmente estranha.

Por exemplo, quando vemos uma pessoa pela primeira vez, uma troca de olhares ideal é de apenas quatro segundos. O que é o suficiente para perceber qual é a cor dos olhos da pessoa.

Ou, talvez: uma piscada dura entre cem e cento e cinquenta milissegundos, sendo possível piscar cinco vezes em um segundo.

Estreitei os olhos, estranhando todo aquele conhecimento; realmente, aquele livro de biologia que eu havia lido tinha dado alguma ajuda. O que é estranho, já que eu odeio ciências/biologia.

Saí do banheiro com o cabelo penteado e solto - o que não dava muita diferença dele preso, como havia feito ontem -, dentes escovados e prontinha para a batalha que seria hoje. Peguei minha mochila sob os olhares que me lançavam e caminhei para sair da cozinha.

– Bom, tchau, tenho umas paradas para resolver. Vejo vocês mais tarde. - Me despedi, saindo como um raio em direção à sala.

Marcela gaguejou, me chamando, mas eu estava com um pouco de pressa, então acabei ignorando-a. Estudávamos juntas, ela poderia falar comigo em sala.

No momento em que eu saí de casa, percebi que Pedro estava na frente da entrada, provavelmente me esperando. Sorri para ele, fechando a porta e caminhando de forma apressada em sua direção.

– Oi. - Cumprimentei-o, sem jeito.

– Oi, megera… - Então ele olhou para a minha bolsa, arqueando uma sobrancelha. - Por acaso você sequestrou um cachorro hoje?

– Não, eu sequestrei um bebê. Vou vender seus órgãos para o mercadinho ali da esquina.

Pedro revirou os olhos, abrindo um sorrisinho.

– Tenho medo de você às vezes, Katrina. Bom, vamos? Temos umas coisas bem estranhas para fazer hoje.

Assenti e nós dois começamos a andar rapidamente. Atravessamos a faixa de pedestres e logo demos de cara com aquele mar de estudantes barulhentos encaminhando-se à escola. A maioria nos lançava olhares entrecortados, como se estivessem pensando “o que um garoto como aquele está fazendo com uma garota como aquela?”.

Na boa, eles já viram o tamanho dos meus peitos?

– Megera… - Pedro me deu uma cotovelada de repente, chamando minha atenção. Olhei para ele.

– Quê?

– É o Luiz… - Falou baixinho, apontando discretamente para o outro lado da rua. Virei minha cabeça também de forma discreta, fitando aquele bicho nojento.

Luiz era alto e possuía o cabelo preto, além de ter uma baita de uma cara de marginal. Estava agarrado à uma garota de cabelos compridos, e os dois caminhavam quase tropeçando um no outro, mas não se desgrudavam nem um pouco. Sua mão estava na bunda da garota, que parecia aproveitar.

Fiz uma careta de nojo com a cena.

– Acho que eu acabei de pegar AIDS. - Murmurei para o italiano, que assentiu, a mesma careta de nojo no rosto.

– Quites. Sério mesmo que você vai tentar fisgar esse cara? Ele tem cara de quem inicia criancinhas em cocaína, Katrina.

– E você acha que eu vou tocá-lo ou deixar que ele me toque? - Perguntei, um pouco seca. - Não quero pegar nenhuma doença, Pedro. Caso ele vier para cima de mim enquanto eu estiver desprevenida, você entrará em ação. É por isso que deverá nos seguir.

– Posso usar o taco de beisebol?

– Pode, desde que você cause algum dano cerebral permanente.

*

As primeiras aulas foram um porre, porque eu estava ansiosa para botar o plano em prática. Ficava toda a hora batucando na mesa, querendo logo que tudo aquilo acabasse para eu acertar as contas com pessoas de pensamentos limitados.

Quando o sinal da terceira aula soou, me afundei na cadeira, sem paciência. Aliás, nunca fui paciente.

Marcela virou-se para mim, feliz, segurando algo que parecia ser um presente. Pelo menos, era um saquinho de presentes vermelho e cheio de lantejoulas rosas. Ergui uma sobrancelha, estranhando aquilo.

– É pra você, Katrina. - Explicou, alegre, empurrando o presente sobre a mesa na minha direção. Ajeitei minha posição na cadeira, olhando, surpresa, para ela.

– Sério?

– Aham. Eu queria dá-lo hoje cedo, mas você saiu correndo… Enfim, abre.

Sorri, pegando o saquinho e rasgando-o sem muita cerimônia. Enfiei minha mão ali e tirei de lá uma caneta. Mas não era uma caneta.

Enrolado do lado oposto da ponta, havia uma espécie de pena azul celeste do tamanho da minha mão. Toda sua extensão era coberta de detalhes em dourado. Aquela porra era tão chamativa, mas tão chamativa, que eu me senti envergonhada só de pegá-la.

– Ahn… - Comecei, sem palavras, ouvindo uma risadinha. Virei a cabeça discretamente para olhar quem era, e notei João rindo como um boboca da minha reação.

– E aí, gostou? - Marcela parecia simplesmente radiante.

Eu ia dizer um ‘nem para dar presentes você serve’, mas, como é aquele ditado?

– A...dorei. - Falei, pressionando meus lábios e abrindo um sorrisinho.

Ah, sim: cavalo dado não se olha os dentes.

Odeio esse ditado.

No fim das contas eu acabei usando a caneta, atraindo um “linda caneta, Katrina” do professor de geografia, fazendo várias pessoas rirem da minha cara. Somente ignorei-o, mas o mandei tomar naquele lugar mentalmente.

Só sei que, quando o sinal do intervalo bateu, meu coração estava a mil. Eu queria realmente fazer aquilo. Jonas e Marcela me acompanharam pelo refeitório, onde nos sentamos na mesma mesa que sempre nos sentávamos. Olhei discretamente ao meu redor, tentando raptar algum sinal de vida do Pedro ou do Luiz.

– Bom, só sei que a Katrina está estranha hoje. Não soltou nenhuma piadinha venenosa e nem fez comentários importunos. - Jonas disse, um olhar que parecia me ler.

Droga. Fiz minha melhor cara de deboche e me virei para ele, erguendo uma sobrancelha.

– Você sabe o que é humor? É, eu também tenho, porque eu sou humana. Se não sabe o que é isso, sugiro que volte para a quarta série. - Falei, seca, pegando o lanche da oxigenada e dando uma mordida gloriosa.

– Tá, ela voltou - Jonas decidiu por fim, mexendo no seu prato de comida.

– Bom-dia! - Uma voz animada cumprimentou-nos do nosso lado. Pedro sentou-se perto de mim, praticamente encostado, sorrindo para os dois. - Como vão?

– Bem, Pedro, e você? - Jonas rebateu a pergunta.

– Melhor impossível! Katrina, podemos ter uma conversa?

– Hã… - Murmurei, espiando o rosto de “aquela carinha” dos dois. - … Tá, pode ser… Já volto, não comam o resto do lanche. - Disse para os dois, que assentiram.

Pedro me puxou pelo cotovelo, me colocando bem perto dele enquanto caminhávamos.

– Notícias dele? - Perguntei como se estivéssemos prestes a assaltar um banco.

– Luiz está ali, perto daquelas garotas. Você pode ir até lá que eu te dou cobertura. Vou começar a conversar com o Jonas e a Marcela enquanto você tenta convencê-lo a levá-la para seu carro, tudo bem?

– Tá beleza. - Falei, confiante, virando a cabeça para onde ele havia apontado. Luiz estava sentado numa mesa de maneira despojada, se sentindo o pegador. Várias garotas estavam do seu lado, mexendo no cabelo de maneira provocadora enquanto conversavam com ele. Alguns garotos também estavam com ele, mas com um destaque menor. - Vai ser mamão com açúcar.

– Por que diz isso? - Pedro perguntou, erguendo uma sobrancelha. - Eu estou com medo, megera. - Riu de forma sofrida. - E não sou eu quem está tentando paquerar o cara!

Revirei os olhos, acostumada com aquele tipo de gente igual ao Luiz. Dei um suspiro, enfiando minha mão dentro do sutiã. Porque, francamente, há dois tipos de pessoas no mundo: aquelas que gostam de peitos e aquelas que não gostam de peitos. Bem simples.

Enquanto Pedro mordia as bochechas por dentro e tentava olhar para o teto (eu percebo as coisas), fiz com que minhas amiguinhas estivessem bem para cima, formando um ‘Y’ na gola da camiseta.

– Só com este ato eu já desbanquei quatro das sete meninas que estão com ele. - Falei, erguendo o queixo e apontando para meus escravos. - Agora vai lá.

– Sem problemas… - Pedro pigarreou, mas, antes de irmos, pegou meu pulso de leve. - Mas toma cuidado tá?

– Tá bom, agora vai… - Falei, sorrindo de canto quando ele começou a dar passos longos na direção dos dois.

Arrumei meu cabelo, jogando minha franja para trás (técnica infalível, aliás) e forçando um sorriso nos lábios. O.k., Katrina, tente engolir alguns sapos. Não voe na cara dele ainda. Você consegue, garota.

A atenção do pessoal que estava naquela mesa foi parar completamente sobre mim enquanto eu andava na direção deles, tentando parecer confiante. Ergui o queixo, arqueando uma sobrancelha ao mesmo tempo, vendo Luiz fitar-me e tirar o braço de cima dos ombros de uma garota com os cabelos negros. Sério, elas estavam fazendo uma cara de nojo maravilhosa.

Apoiei meus punhos sobre a mesa e inclinei-me na direção do homofóbico, alargando mais o sorrisinho. Merda, eu estava ridícula.

– Oi. - Cumprimentei-o, movendo os lábios devagar.

– Hm, oi. - Falou ele, obviamente desconcertado. Nunca que ele esperava que uma garota do meu nível falasse com ele, óbvio.

Mordi o lábio inferior, olhando para baixo.

– Então, você é o Luiz, né? - Ele assentiu com convicção. - Você sabe quem eu sou, Luiz? - Que pergunta era aquela? É óbvio que ele sabia, humpf.

– Sim, com certeza! - Admitiu. - Você é a Katrina! Não dá para te desconhecer, gata! Todos falam que você é encrenca, mas eu sempre te achei a mais gostosa desse lugar!

Que ótimo elogio. Realmente, um homem muito cavalheiro e gentil.

De qualquer jeito, ignorei meus pensamentos homicidas e suspirei, inclinando-me mais, me apoiando nos cotovelos, ficando frente a frente com ele. Os garotos não paravam de olhar para os meus peitos, mas Luiz me encarava bem nos olhos, com certeza se desafiando a não olhar minhas bolas de boliche nem por um segundo.

Eu iria acabar com aquilo ali e agora, porque me fantasiar daquele jeito estava me mutilando por dentro.

– Então… - Comecei, traçando uma linha imaginária no punho dele. - Eu soube que você também tem uma fama bastante duvidosa, Luiz. Ou melhor, você e seu carro– mais uma vez, movi os lábios devagar, fazendo-o abrir um sorriso nojento. - Eu estava pensando, será que você poderia ser a novidade dos meus dias monótonos?

– Com toda a certeza, Katrina. - Falou, erguendo as sobrancelhas.

Dei um risinho, fingindo felicidade.

– O.k., então. Depois da aula, o que acha?

– Depois da aula ele irá se encontrar comigo. - A garota de cabelos negros exaltou-se, me encarando mortiferamente. Como eu queria dizer que estava pouco me lixando para o bofe dela!

– Oh, sério? - Fingi decepção, contraindo os lábios e as sobrancelhas. Essa foi a mesma cara que usei para chantagear o Pedro a carregar o Barney. É simplesmente infalível.

– Não, não, não, gata! - Desmentiu ele, olhando para a garota. - Olha, linda, vamo deixar para uma próxima, tá? A Katrina aqui vai ficar com a vaga dessa vez!

Como se eu estivesse procurando um emprego na empresa dele, por favor.

– Depois da aula a gente se encontra se é assim. Estarei te esperando no portão principal. - Encerrei o assunto, levantando-me e deixando-o à deriva. Era bem óbvio que ele estaria lá com a mesma cara de pateta que ficou há pouco.

Alguns homens são tão previsíveis…

Instantes antes de voltar para perto de Marcela e Jonas, baguncei meu cabelo e puxei meus peitos para baixo, sentindo um alívio tão grande que tive que parar por um ou dois segundos e suspirar. Sentei à mesa como se nada tivesse acontecido, não conseguindo atrapalhar aqueles olhinhos vidrados em cima do italiano.

Pedro estava em uma posição engraçada. Estava em cima do banco, agachado sem necessidade, com as pernas abertas como um sapo, os cotovelos em cima dos joelhos. Parecia estar contando uma história bastante divertida e interessante para os dois.

– … E aí, quando ele já estava bem no parapeito da janela… - Fez uma pausa dramática. - Peguei-o pela barriga e consegui tirá-lo de lá! Só sei que aquele dia foi bastante tenso. Me lembro que sangue espirrou na minha cara enquanto eu tentava afastá-los. Bartolomeo me deu uma mordida na perna, aqui… - E puxou a perna direita da calça para cima, revelando uma mordida enorme de cachorro, roxa e com pontinhos vermelhos. Marcela prendeu a respiração. - Enquanto Galileu tentava fugir. Felizmente o dono da loja chegou bem nesta hora e começou a se desculpar comigo, me dando os remédios para que eu pudesse passar no ferimento. E, bem, fim. Moral da história: meu salário, com apenas cinco dias de trabalho, aumentou dez por cento por causa dos danos físicos causados a mim. Yay.

Estreitei as sobrancelhas enquanto os dois riam.

– Você é sortudo! - Jonas exclamou, parecendo feliz.

– Do que estão falando? - Perguntei, caindo de para-quedas no assunto.

Pedro virou-se para mim, surpreso, como se não tivesse me notado lá antes.

– Estou contando do dia em que um São Bernardo e um rottweiler tretaram lá no meu serviço. O São Bernardo mexeu com a garota errada. - Riu-se, divertido.

– Você levou uma mordida de um rottweiler e ainda assim está no emprego? - Jonas perguntou, parecendo cético. - Se fosse eu já teria chutado o cachorro até a morte e me despedido.

Pedro deu de ombros, indiferente.

– Não dá. Eu adoro animais. Não consigo sentir raiva deles. Se fizeram isso, há um motivo. Não sei como é o dono dele, porque o comportamento do cão, gato, peixinho de aquário, tartaruga ou chupa-cabra se espelha diretamente em como ele é tratado dentro de sua casa, sabe? Além disso, há muitos animais traumatizados por aí. Se eu tenho que julgar alguém, esse alguém será o dono do cachorro.

– Own! - Marcela exclamou, feliz, dando um tapinha no ombro dele. - Concordo contigo! Aliás, Katrina, faz quanto tempo que você não dá um banho no Hércules? Ele tá precisando.

– Sei lá, nunca. - Admiti, mordendo o pedaço do lanche que havia sobrado. Pedro se virou para mim, espantado.

– Megera, eu posso levar o Hércules essa semana para ele tomar uma ducha. Tenho descontos já que sou funcionário. - Falou, feliz.

– Por mim, qualquer coisa tá ótima. - Falei, sem me importar realmente. Eu estava mais preocupada em fazer com que tudo o que estava acontecendo desse certo. Lancei um pequeno olhar de “pegamos o cara” para o italiano, que assentiu, sorrindo de canto, e virou-se para conversar novamente com os dois.

*

Assim que o sinal do fim daquele dia soou, voei em direção à saída, deixando, mais uma vez, Marcela no vácuo infinito. Provavelmente ela já havia notado que eu estava super estranha, mas não é como se eu fosse dizer algo. Aquilo tinha de ser mantido em segredo.

Caminhei rápido em meio à multidão, querendo encontrar Pedro ou o Luiz. Quando eu estava quase alcançando o portão, me puxaram pelo braço, e eu dei de cara com o italiano, que parecia preocupado.

– Você viu ele? - Perguntou, como se estivéssemos em uma missão secreta da NASA.

– Não. - Respondi, olhando-o. - Vim correndo para cá, não quero que a Marcela me faça perguntas desnecessárias e nem que me veja. Seria estranho se ela me visse com aquele cara.

Então Pedro arqueou as duas sobrancelhas e mordeu as bochechas por dentro, como se estivesse querendo rir de algo que acabou de se lembrar.

– Katrina, sobre a Marcela… O Derek me enviou uma mensagem há uns dois minutos, falando para eu fazer ela esperar aqui, porque ele iria vir rápido… - Então ele balançou a cabeça. - Até tenho ideia do que ele vai aprontar….

Ergui uma sobrancelha. Estávamos falando do Derek. Tudo era possível para aquele cara.

– O que você acha que ele vai fazer desta vez?

– Olha, eu suponho que… Bom, está envolvendo a Marcela… E nós dois sabemos qual é o relacionamento dos dois. - Falou, sagaz.

– Puta que pariu! - Exclamei, esbugalhando os olhos quando percebi do que se tratava. - Ele vai se declarar! Em público! Porra!

– Exatamente, megera. Ele tem bosta na cabeça. - Concluiu, revirando os olhos e olhando para o portão. - Oddio!– Exclamou de repente, arregalando os olhos, em choque.

– O quê?! - Perguntei, curiosa, também girando a cabeça para tentar ver… - Meu Deus!

E lá estava Derek. Mas não era simplesmente o Derek. O garoto vestia uma saia de palha, daquelas de dançarinas de hula-hula, dois cocos cobrindo os mamilos, tênis e uma tiara de flores em volta da cabeça. Além de um violão nos braços.

Enquanto o garoto se aproximava da gente, percebi que vários amigos antigos dele assobiavam, tirando de Derek uns “eu sei, eu sei” bastante convencidos. Ele parecia muito confiante. Derek ficou apenas a três passos de nós, o violão sobre o ombro esquerdo, sorrindo de lado.

– Oi. Como vão vocês, meros mortais? - Perguntou a nós.

Pedro se virou para mim enquanto eu fazia o mesmo. Nos encaramos por dois segundos antes de cairmos na gargalhada. Minha barriga doía de tanto rir, e após alguns minutos eu já tinha me curvado, batendo nos joelhos. A risada do Pedro estava ficando muda, e parecia que ele também ficava sem oxigênio, já que estava vermelho.

Derek era orgulhoso que nem um bicho, e vê-lo num estado como aquele por causa da Marcela era hilário.

Nós dois estávamos nos matando de tanto rir. Literalmente.

Chegou um momento em que nós três ficamos cercados de telespectadores, a maioria tirando fotos de Derek, que parecia não se importar. Ele olhou em volta, obviamente à procura de Marcela, e sorriu abertamente num instante.

Parei de dar risada e me apoiei no italiano, enxugando lágrimas que teimavam em escorrer. Pedro tentava recuperar o ar, pigarreando e tentando manter a compostura. Ele enfiou a mão no bolso e sacou o celular, apontando para Derek e tirando repetidas fotos.

– Ah, Derek… Você não será perdoado… - Falou ele, rindo e enviando-as para a internet.

– Coloca como legenda… É nesses momentos que você percebe que teu amigo saiu do armário. – Opinei, xeretando no aparelho dele. Pedro abriu um sorrisinho, digitando.

– Nossos amigos nos odeiam, Katrina. - Falou, rindo e olhando para mim. Sorri também, concordando.

Por cima do ombro de Pedro, notei que Marcela saía de dentro da escola junto com Jonas; ambos conversavam animadamente até verem aquilo ali. O queixo da garota despencou quando ela viu Derek vestido daquela forma. Mas a vergonha absoluta não parou por aí, não.

– MARCELA! - Derek berrou em plenos pulmões, assustando todos que estavam assistindo a cena.

– Jesus! - Pedro exclamou baixinho, cético. - Tô com vergonha por ela, na boa.

Derek ajeitou o violão sobre o peito e começou a tocá-lo. Pelo meu conhecimento musical, suspeitei que era Beatles. Deuses, que piegas.

I give her all my love! – Começou, sob os aplausos e assobios de várias pessoas, deixando Marcela mais vermelha do que tudo. - That’s all I do! And if you saw my love, you’d love her too!

Pedro cruzou os braços e começou a rir, balançando a cabeça.

– Esse Derek é uma figura mesmo! Que vergonha, cara! - Disse enquanto observava o amigo dando alguns passos na direção da oxigenada, que ainda estava de frente à porta de entrada, incapaz de mover-se. Jonas afastou-se e foi correndo para perto de um grupinho de garotas, isolando-a ali.

Decidi alfinetar o Pedro.

– Nem pense em fazer isso comigo. - Brinquei, erguendo uma sobrancelha.

Pedro tirou os olhos de Derek e pousou-os em mim, um brilho confortável reluzindo naquela negritude toda.

– Realmente, eu não faria. Nossa música é Wonderwall, não And I Love Her. – Me alfinetou de volta, ciente dos resultados.

Bosta. Por que ele é tão eficiente no quesito fazer o coração da Katrina pular uma batida?

De qualquer maneira, decidi ignorar as falhas do meu organismo e prestar atenção no que estava rolando ali. Derek era bom em inovar, e tinha certeza de que Marcela havia gostado disso. Ela gostava de Beatles - não que eu não gostasse, mas músicas muito melosas não fazem meu estilo.

O garoto já estava na última parte da música - provavelmente adaptada para ser uma coisa rápida -, além de estar bem próximo a ela, cantando sem retirar os olhos da garota.

– Bright are the stars that shine, dark is the sky, I know this love of mine will never die! And I love her! Ooh, ooh!– Fez um charme no final, passando os dedos rapidamente pelas cordas, fazendo o pessoal todo bater palmas fortemente enquanto assobiavam, obviamente gostando de tudo aquilo.

– Eu não acredito que você está fazendo isso! - Marcela exclamou, as mãos coladas ao rosto vermelho.

– Nada que você não mereça. - Falou Derek, colocando o violão no chão e pegando nas mãos da garota, apertando-as com força. Um grupo de rapazes soltou um “oooown!”. - Marcela, sabe, eu não sou muito bom com palavras… Na realidade, eu nunca fui bom em nada além de arranjar encrenca à toa.

– Verdade! - Berrei interrompendo-os, fazendo Marcela e todos ali rirem.

– Não complica, KitKat! - Ele gritou por cima do ombro, não nervoso de verdade. - O.k., Marcela, sei bem que nós não começamos com o pé direito, sei que brigamos várias vezes e que aparentemente somos uma merda de casal, mas eu estou disposto a fazer com que tudo dê certo. Desculpa se eu não sou o cara que você merece, mas eu gosto de você mais do que tudo no mundo. Tenho certeza que você vai me dar um belo de um chute na bunda quando perceber que eu sou um merda, mas eu te prometo que enquanto isso não acontecer, vou amá-la profundamente e intensamente, nunca te fazendo infeliz. Agora, você…

– Sim! - Ela nem deixou Derek terminar para responder e abraçá-lo com força, pegando o garoto de surpresa.

Todos ali presentes começaram a aplaudir, e eu percebi que algumas pessoas filmavam, emocionadas. O que os suburbanos têm de pobres, têm de amorosos - ou não, já que aqui a maioria das coisas é baseada em tiro, porrada e bomba. Não bati palmas porque sabia que aqueles dois faziam o tipo casal amoroso, mereço. Ia sofrer muito na mão daqueles enjoativos.

– Katrina! - Ouvi me chamarem e me virei, dando de cara com Luiz, que sorria abertamente. - Eu tava te procurando como um condenado, pensei que você tinha me dado um bolo, gata!

– Aaan… - Comecei, tentando bolar algo inteligente. - Nunca faria algo assim, haha! Eu só estava vendo essa confissão em público, foi bem engraçada! - Discretamente, cutuquei Pedro com o cotovelo, fazendo-o se ligar novamente para a vida real.

– Vamos? - Perguntou malicioso, e eu assenti, fingindo indiferença.

– Claro! - Arrumei a mala sobre o ombro e acompanhei-o enquanto Pedro falava alguma coisa para um colega.

Luiz tentava puxar alguns assuntos, mas eu sempre o respondia com poucas palavras - aquele cara era nojento, vamos ser francos.

Atravessamos a avenida e logo viramos uma ruazinha feita de barro, com alguns drogados ajoelhados e empoleirados em calçadas enquanto algumas crianças empinavam pipas ali perto. Era um lugar simples, mas comum.

Luiz parou na frente de uma casa com portão baixo e vermelho, com lanças em cima. No quintal havia um pitbull negro, grandalhão e com cara de poucos amigos deitado. Engoli em seco.

– Nossa, que cachorro… Grande e… Forte… - Grunhi quando ele abriu o portão, entrando e dando dois passos para o lado para que eu entrasse. Luiz riu.

– Relaxa, o César só morde desconhecidos. Ele não irá te tocar agora que me viu contigo.

– Confortador… - Falei, entrando e percebendo que ele ergueu a cabeçorra, me encarando de maneira mortal. Aquele cachorro veio do inferno, tenho certeza. O ruim era que Pedro e eu teríamos que dar um jeito nele quando eu apagar o Luiz, porque, caso não, aconteceria um churrasco de Katrina à molho italiano.

E isso definitivamente não era muito legal.

– Vamos entrando, Katrina. - Disse Luiz, andando na minha frente e abrindo a porta de uma garagem, empurrando-a para cima com força. Enquanto ele fazia aquilo, dei uma pequena espiada na esquina e avistei Pedro andando devagar, assobiando e olhando as casas com atenção.

Suspirei em alívio e dei uma corridinha para alcançar o dono da casa, que já estava dentro da garagem. O carro do Luiz era um impala à la Winchesters, só que de cor cinza e parecendo desgastado por causa do tempo; os bancos de couro estavam sujos por alguma coisa que eu não estava com vontade de descobrir, além de estarem esburacados e arranhados. Claro que eu iria transar com ele ali dentro, aham, senta lá.

A garagem era bastante quente, com um teto de telhas soltas. As paredes eram de um verde doentio tampadas por prateleiras de materiais de conserto para automóveis. Dava para abrir uma oficina só com o que tinha ali.

Deslizei minha mochila pelo ombro e repousei-a perto da parede, encostando-a ali. Pensei em formas de abordá-lo… Poderia dar um chute em sua barriga e depois empurrar sua cabeça contra o parachoque… Hm, boa.

Mas não tive mais tempo para pensar em possibilidades. Quando dei por mim, Luiz estava me prensando na parede, uma mão em cada lado da minha cabeça. Merda, merda, merda, merda, merda… Pensa, Katrina! O desgraçado inclinou sua cabeça e me deu um beijo na boca sem pensar duas vezes; fiz uma careta involuntária, juntando as sobrancelhas, completamente enojada.

Caralho, aquilo era tão… Tão diferente e ruim! Não sabia se era porque:

a) ele beijava mal;

b) eu só estava acostumada a beijar o Pedro;

c) eu não queria beijá-lo.

Considerei as três alternativas como corretas.

Como eu estava sem muitos movimentos disponíveis ali, fiz o que pude. Enfiei meus braços entre nós dois e empurrei-o com força, fazendo-o se desgrudar de mim com um estalo. O garoto me encarou confuso, mas não dei a ele tempo para fazer perguntas.

Chutei seu saco.

Chutei mesmo, e se eu pudesse voltar no tempo, chutaria de novo, só que mais forte.

Ele fez uma cara de dor absoluta, colocando as mãos sobre a virilha, curvando-se. Aproveitei a brecha e agarrei seus cabelos, empurrando sua cabeça com força contra o parachoque… Umas três vezes. Quando Luiz caiu com um baque surdo no chão de cimento, suspirei, aliviada. Lambi as costas da minha mão, convicta que poderia me livrar de seus germes.

Neste mesmo instante, Pedro brotou no portão, encarando estupefato Luiz.

– Que é? - Perguntei, bruta, cuspindo no chão.

– Já?! Caramba, megera! - Então ele olhou a forma como eu lambia meu pulso. - Ele te beijou?

– Sim, credo! Aliás, você tem água aí?

– Tenho - riu-se, agarrando o portão e chacoalhando-o. - Oh, você tem que abrir aqui, né.

– Pera. - Falei, me curvando e enfiando as mãos nos bolsos da calça do garoto desmaiado. Achei um molho de chaves e constatei que eram aquelas mesmo. - Tó, usa aí. - Falei, atirando-as para Pedro, que as pegou no ar.

– Boa… - Enquanto o italiano ia testando uma a uma, me agachei e abri a mochila, pegando um spray vermelho e olhando para o carro. Hmmm… Como eu poderia zoá-lo? Desenhando um pênis? Ou umas frases do tipo “sou homofóbico mas quero dar o cu”?

– Pedro, o que você acha de psicologia inversa?! - Perguntei num grito a ele, encarando o carro.

– Legal, mas eu estou enfrentando um problema maior aqui… - Guinchou ele. Olhei na direção do portão e vi César daquele tamanho todo latindo ferozmente para o garoto, que estava segurando o portão meio fechado, encarando o cão.

Mas Pedro não parecia assustado. Ele observava o cachorro com atenção, como se quisesse ver alguma coisa errada nele.

– Eu vou aí te ajudar, pera. - Falei, me erguendo e procurando algum objeto para amarrar César ou algo do gênero.

– Não, não precisa. - Pedro disse, ainda centrado. Ele enfiou a mão no bolso traseiro da calça e tirou de lá um saquinho com petiscos para cachorros. O rabo de César que estava balançando compassadamente de forma ameaçadora e os latidos agressivos pararam completamente. Agora ele estava mais para: “PETISCO, ME DÁ, ME DÁ, EU QUERO, AMO VOCÊ, HUMANO, EU QUERO, ME DÁ AGORA!” enquanto pulava para tentar pegar os ossinhos feitos de comida que Pedro segurava na altura de seus ombros.

O italiano entrou calmamente no quintal, fechou o portão sem trancá-lo e jogou o petisco perto de César, que correu para pegá-lo. Enquanto o cachorro saboreava sua comida, o garoto, assim, do nada, chegou perto dele e pegou suas patas dianteiras, virando-o de barriga para cima, analisando a falta de pelos ali como se nada estivesse errado.

– Tá de brincadeira com a minha cara! - Gritei, apontando para ele, cética.

Pedro começou a rir, divertido.

– Cães são previsíveis, megera. Logo notei que algo estava errado nele… - Disse, agora sério. - Esse desgraçado maltrata o coitadinho, olha isso. São marcas de queimadura. E ele maltrata na barriga para ninguém ver. É por isso que o cachorro é tão agressivo. - Concluiu, fazendo um cafuné na cabeça de César.

O.k., o cão não parecia tão intimidador agora. Olhei para Luiz e tive realmente vontade de machucá-lo em um lugar onde o Sol não batia. Se você chutou “pênis”, acertou.

Pisei no saco dele de novo.

E, não, eu não estava sendo cruel; o cara batia em gays porque eles eram gays, queimava o cachorro dele em locais escondidos para ninguém ver e provavelmente era um estuprador.

Ele não merecia a morte. Merecia um destino pior.

E provavelmente Pedro havia pensado na mesma coisa, pois colocou sua mochila no chão e a abriu, tirando de lá o taco de beisebol e olhando convicto para o carro.

– Vamos fazer isso, Katrina. - Falou, sua voz emanando ódio.

Pois é, as pessoas só precisam de alguns motivos certos para fazerem coisas erradas.

*

Nós simplesmente destruímos o carro. Para começar, Pedro fez um Home Run com os retrovisores enquanto eu abria o motor e detonava tudo, retirando fios, pregos, peças, molas, até deixá-lo com uma aparência meio… Hm, vazia. Pedro quebrou todos os vidros usando o apoio do taco e eu pichei um pinto gigante no teto, com direito a cores.

Usei a caneta que a Marcela havia me dado para escrever frases não-homofóbicas em toda a extensão dos bancos de couro - usando, obviamente, letra de forma. Enquanto eu estava agachada fora do carro e evitando tocar ali mais que o necessário, olhei para Pedro, que estava na frente do carro fazendo alguma coisa.

– Pedro, tira a roupa do Luiz. - Instruí, sem vê-lo.

– Quê? - Perguntou ele, parecendo surpreso.

– É sério, tira, deixa ele só de cueca.

A cabeça dele apareceu por cima do capô, uma careta misturando nojo e dúvida.

– Por que diabos tenho que fazer isso?

– Você prefere que eu faça? - Devolvi a pergunta, inexpressiva.

É, ele ficou sem argumentos. Pedro deu um muxoxo e sua cabeça novamente desapareceu.

– Tá, eu faço, mas por quê?– Vi uma camiseta voando para o outro lado da garagem. - Ah, Katrina, novidade: ele se depila.

Espera, oi?

Me ergui rapidamente, achando-os na frente do carro. A axila de Luiz era tão sem pelos como a bunda de um neném. É, eu não resisti. Gargalhei ali mesmo, me curvando para me apoiar nos joelhos. Pedro soltou um “pff” descrente e continuou a retirar as peças do garoto, jogando o tênis lá para o quintal, fazendo César comê-lo com vontade.

Peguei antes que ele tirasse as calças do garoto seu celular, ligando-o e comemorando internamente o fato de que não tinha senha para entrar. As calças de Luiz voaram longe, revelando o corpo de um garoto esguio e bronzeado, usando uma cueca listrada e larga. Broxante.

– Tá, e agora? - Perguntou Pedro, erguendo o olhar para mim.

– Vira ele de costas.

– Meu Deus… - Murmurou, pegando Luiz pelos cotovelos e virando-o de maneira bruta. Me agachei perto dos dois e, com a caneta de Marcela, escrevi em uma de suas nádegas “me”. Na outra, um “comam” escapuliu, fazendo Pedro gargalhar. - Da próxima vez que esse cara te ver, irá mudar de calçada!

Sorri, me erguendo e olhando para um canto específico da garagem.

– Olha, tem umas cordas aqui… Podemos usá-las… - Me encaminhei por ali e peguei as cordas, olhando depois para Luiz. - Coloca ele no carro. Se ele acordar, será um problema…

– É, você tem razão. - Pedro pegou o garoto sem cuidados e o arrastou até a porta do carro, enfiando-o lá dentro pela janela. Suas pernas ficaram para fora. O italiano pegou as cordas que estavam na minha mão e enrolou o calcanhar do garoto, fazendo um pequeno nó ali. Depois ele amarrou a ponta que estava sobrando no volante, fazendo um nó de marinheiro.

– Se esse cara sair daí, vou começar a chamá-lo de Chuck Norris. - Brinquei, voltando para a frente do carro enquanto ligava seu celular; entrei em seu facebook, logo ficando cega por conta das várias fotos obscenas que iam aparecendo. Fuxiquei um pouco e acabei por ver sua lista de amigos. 978.

Oh, que beleza.

– Pedro, pega o que for necessário, estamos indo nessa. - Falei, encarando aquele “no que você está pensando?” na tela do celular. Andei um pouco, indo lá para o quintal, percebendo que o italiano havia pego nossas mochilas. César sentou-se do meu lado e ficou me encarando. - Oi. - Cumprimentei-o, vendo lamber o nariz rapidamente. - Seu dono é um cara que não será perdoado, sabia disso?

César continuou me encarando com aquelas bolinhas de gude negras. De perto, parecia muito dócil. Arrisquei e estiquei minha mão, tocando sua cabeça felpuda. Ele não se moveu. Apenas me encarou, aberto a carinhos.

– Megera, podemos ir… Hm… - Pedro disse de repente, mas parou, olhando para César. - Não quero deixá-lo aí sozinho. Vamos levá-lo.

– E colocá-lo onde? - Perguntei, irônica. - No freezer? Não temos espaço, Pedro. E se minha mãe me ver com outro cachorro, é capaz dela me botar para fora e ficar com ele.

– Eu posso, hm, sei lá, pegá-lo e levá-lo ao meu trabalho. Tenho certeza que irão mandá-lo a um veterinário bom, coisa que não tem aqui por perto, e ele poderá ser adotado por alguém legal, né, garoto? - Falou, terminando sua frase coçando a cabeça dele também.

– Tá bom, então. - Concordei, pegando o celular e digitando naquele espaço. - Festa aqui em casa, galera… – Falei enquanto digitava. - Tem comida e bebida de graça, é só chegar e pegar! Está aberta desde já, APAREÇAM!!!!!!!

– Você não está fazendo isso! - Pedro exclamou, chocado.

– Já fiz. - Falei apressada quando apertei o botão de “enviar”, atacando o celular para perto do carro. - Agora é questão de correr. Quando chegar em casa, cheque seu perfil nessa bosta para ver as notícias. - Peguei minha bolsa de seu ombro e abri o portão com tudo.

O garoto enlaçou César pela barriga e…

Corremos.

Pra caralho.

No caminho encontramos vários conhecidos festeiros, que nem se tocaram que era nós passando por eles. Estávamos ofegantes, suados e praticamente mortos por causa daquele sol infernal sobre nossas cabeças. César estava com a língua para fora, apreciando o “passeio”.

Até que a polícia nos barrou. Um carro começou a andar do nosso lado, buzinando. Freei na hora e fisguei o braço do Pedro com força, fazendo-o parar também com um solavanco. Olhei para a rua e vi o carro da polícia estacionando na nossa frente, o vidro abaixando-se, revelando um homem negro, carrancudo e com cara de quem tivera um dia péssimo. O coxinha saiu do carro ajeitando seu cinto e olhando-nos enquanto tirava seus óculos escuros.

– O que os bonitos estão fazendo? - Perguntou-nos, semicerrando os olhos por conta da claridade.

– Hã… - Comecei, apertando involuntariamente o antebraço do italiano, que me olhou, tenso. César chiou baixinho, provavelmente sentindo a tensão do ambiente. - Estávamos, hm…

– Vou perguntar novamente. - Disse, colocando as mãos na cintura. - Por que estavam correndo? E com um cachorro nos braços, aliás? O roubaram?

Meu Deus, pensa, Katrina, pensa! Desculpas boas são seu forte, se lembra? Forcei meu cérebro a bolar algo inteligente - sem sucesso.

– Enquanto voltávamos da escola, encontramos este cachorro num terreno baldio próximo, queimado nas costelas. - Pedro começou a disparar, inexpressivo, como se não estivesse mentindo. - Como trabalho meio-período num pet shop que tem encaminhamento para o veterinário, pensamos automaticamente em levá-lo até lá o mais rápido possível.

Tentei não encará-lo como uma idiota para não estragar a desculpa perfeita, então optei por sorrir inocentemente enquanto forçava o aperto em seu braço, como se dissesse: good job. O policial parou de encarar Pedro e me encarou, espremendo as sobrancelhas. Me amaldiçoei internamente por ter sujado minhas mãos de tinta spray.

– Eu também tenho uma cadela vítima de queimaduras. Ela se chama Melissa. - Falou, retirando do bolso da farda uma foto de um chihuahua encolhido num bercinho cor-de-rosa. - Ela é minha única companhia e sei bem como é ver um cachorro neste estado. Ótima atitude de vocês, mas, por favor, deixem isso comigo. - Disse por fim, pegando César dos braços de Pedro. - Uau, ele é pesado! Deram nome a ele?

– Pensamos em César. - Falei, sorrindo de canto.

– César, hah? - Sorriu ele, abrindo a porta do carro e enfiando o cão lá dentro. - Ótimo, meninos, agora vão para casa descansar. Não se metam em encrencas! - Falou, agora bem sério, também entrando no veículo e buzinando antes de sair a toda velocidade.

– Isso foi… Estranho. - Confessei, olhando para Pedro.

Ele assentiu com convicção, me olhando também.

– O mais estranho foi eu ter conseguido mentir tão descaradamente. Estou andando demais com você, megera.

O que era uma verdade.

*

Cheguei em casa mais ou menos duas da tarde. Pedro me deu um beijo na testa, apressado, e correu para dentro de sua casa, atrasado para o trabalho. Ah, eles crescem tão rápido!

Assim que cheguei à porta, vi um bilhetinho:

Oi, Katrina, aqui é a Marcela. Saí com o Jonas para fazermos compras porque ele está para baixo hoje, não sei porquê - mas talvez você saiba, por isto trate de me contar! - você sabe, comprar umas coisas sempre nos anima! Isadora saiu com a Camila e Hércules para um passeio, ou seja: só Serena está em casa.

xx Aliás, não coma o pedaço da torta de queijo! É meu, hum!”

Hm, tonta, se ela não tivesse citado essa torta, eu nem teria notado. Mas agora é tarde, vou comer só de pirraça.

Entrei em casa e logo notei um silêncio absoluto. Caso minha mãe estivesse em casa, provavelmente estava dormindo. Larguei minha mochila no chão e fui para a cozinha, encaminhando-me para a geladeira, caçando e pegando o pote com o pedaço de torta. Comi gelado mesmo, apoiando meu antebraço na porta do eletrodoméstico.

Olhei em volta, percebendo que aquela casa estava meio vazia. Não era uma residência grande, por isso achei estranho.

Percebi passos apressados descendo as escadas, e vi Serena Dias vestida de um jeito que achei que nunca mais a veria outra vez: ela ia para um encontro. De certeza.

Seus cabelos louros e enrolados estavam soltos, brilhosos e formando cachos mais que perfeitos nas costas. Ela vestia um vestido florido verde-água que ia até os joelhos, simples porém lindo, além do salto alto negro. Deixei até uns pedaços da minha torta caírem no chão.

Mamãe veio na minha direção colocando brincos, enquanto segurava um espelho, rímel, batom e pó.

– Segura. - Falou, botando o espelho na minha mão e erguendo-a na altura de seus olhos. Ela começou a passar o rímel de maneira habilidosa, fazendo algumas caretas espontâneas. - Não desce a mão, Katrina.

– Encontro com o Chris? - Perguntei, erguendo as sobrancelhas.

Ela sorriu abertamente.

– Aham.

– Você realmente está apaixonada por esse cara, né, mãe?

Ela suspirou, o sorriso ainda no rosto.

– Sim… Só não sei se é recíproco.

– Claro que é, cala a boca. - Brinquei, fazendo-a rir e me dar um tapa no braço.

– Não manda sua mãe calar a boca, menina.

– Desculpa… - Sorri, tendo a posição do espelho novamente sendo arrumada.

Serena passou o batom vermelho na boca e esfregou seus lábios, sorrindo satisfeita com o resultado.

– E é claro que ele está apaixonado por mim, também, sejamos francos… - Ela brincou de volta, pegando o espelhinho da minha mão. - Obrigadinha. Aliás, Katrina… - Fechei a geladeira, me sentando à mesa. - Por que chegou atrasada hoje?

– Hm… - Mastiguei com dificuldade, surpresa com a pergunta. - Eu tava com o Pedro. - Acabei confessando.

– Hmmm… - Ela fez, com “aquela carinha” estampada no rosto.

– O quê? Não aconteceu nada!

– E não sei o porquê! - Reclamou ela, sentando-se à minha frente. - Se dependesse do Pedro vocês já estariam casados morando em Roma. Mas minha filha tem algum problema mental, então isso não pôde acontecer.

– Mãe… - Censurei-a, apoiando minha testa na mão. Lá vem…

– Ah, o quê? Estou mentindo? Sério, eu não sei o que te impede.

– É complicado e eu não quero discutir isso com você.

Ela suspirou e apoiou os antebraços na mesa, me olhando intensamente. Aquele tipo de olhar me incomodava.

– Que é?

– Estou tentando te ler. Sabe, sou boa nisso.

Cocei a cabeça, pensando seriamente em sair de lá e correr para meu quarto.

– Katrina, ele é um garoto tão bom… - Tentou, erguendo uma sobrancelha.

– E é por isso mesmo, mãe… - Grunhi, cutucando um farelo de torta.

– Por isso mesmo o quê?

Suspirei, relaxando os ombros e encostando-me na cadeira. Serena não ia sair dali antes que eu dissesse o que estava rolando. Eu conhecia minha mãe. E, mesmo que ela saísse, mais tarde iria me abordar e me forçar a contar.

– O.k., mãe. Primeiro de tudo, eu sou uma pessoa meio, hm, podre. Sabe, eu não tenho lá muitos pontos positivos, e os que eu tenho são insignificantes comparados ao que eu tenho de, hm, “mau”. - Ela arqueou uma sobrancelha, atenta. - E o Pedro… Ele é completamente diferente de mim, sabe? Tipo, ele é gentil com as pessoas, gosta de animais e todos gostam dele. Eu só acho que nós dois não… Ah, sei lá. É isso.

Serena apoiou o queixo no punho, me encarando novamente com aquela profundidade típica de mães.

– É, eu já te entendi, Katrina. Você acha que o Pedro merece alguém melhor que você…

– Não faça isso… - Pedi, massageando as têmporas e olhando para os lados.

– … Alguém que tenha uma personalidade diferente da sua, alguém que tenha capacidade de amá-lo sem hesitar porque não tem uma bagagem emocional igual a sua…

Me ergui da cadeira e ela fez o mesmo, disposta a me enfrentar. Aquilo estava acabando comigo. Uma coisa é você pensar sobre você mesma. Outra coisa é alguém jogar na sua cara.

– Tá bom, chega, já entendemos.

– … E que esteja disposto a se machucar já que nunca fora de verdade antes. Ou seja, você se acha insuficiente para alguém como ele. - Terminou, aproximando-se de mim com um sorriso confortador. - Eu entendo você, porque se estivesse na sua situação, faria o mesmo. Mas é bom descobrir o que está rolando na sua mente, Katrina. Realmente, você tem alguns pensamentos confusos.

Espremi os olhos, tentando me afastar.

– Tá, tá, vou para o meu quarto, depois a gente se fala.

– Não, Katrina, venha aqui… - Ela me puxou pelo pulso. Fiquei encarando-a, realmente sem gostar nada daquilo. - Olha, eu sei que é difícil para você, mas vou te dar um conselho, e quero que você pegue-o.

Suspirei, querendo ir logo para o meu quarto.

– Tá, manda.

– Em primeiro lugar, você não pode ditar o que é o correto para o Pedro. Não dá para dizer por quem irá se apaixonar, e ele teve o azar de cair nas suas redes. Em segundo lugar, vocês são adolescentes com hormônios em polvorosa, loucos para tirarem a roupa um do outro enquanto rolam numa cama.

– Mãe! - Censurei-a, batendo na testa. - O.k., chega, é isso? Porque eu não quero ouvir, tá bem?

Ela riu, mas logo ficou séria de novo.

– Não é tudo, calma aí. Agora a parte séria da história. Vocês dois se gostam. Muito. Não há sentido em se sentir imprópria num relacionamento quando na verdade você é o ideal dele. Pedro, mesmo vendo que você tem uma personalidade difícil, está loucamente apaixonado por você. E você por ele, mesmo que não admita, mas só o fato de se importar com o “não parecer suficiente” já mostra o quanto você gosta dele. E nem vem com esse papinho de ser uma megera de sete cabeças soltadoras de fogo, porque nós duas sabemos que não é assim. Se você fosse um monstro, Katrina, nunca iria abrigar um cara que foi rejeitado pela mãe e chamá-lo de “amigo”, não iria defender a honra de sua mãe mesmo sabendo que levaria uma suspensão e uma bronca da mulher que protegeu e absolutamente nunca faria bichinhos de pelúcia para ajudar idosas que nunca viu antes na vida.

– Como… Você sabe sobre isso? - Perguntei, agora já sem graça. Não tinha argumentos para debater com aquilo; ela sabia de mais coisas sobre mim do que eu mesma.

– Uma delas te ligou semana passada e a gente bateu um papo. Eu acabei esquecendo. Enfim, você sabe aonde quero chegar? Você é uma pessoa maravilhosa, Katrina. Tenta agir certo por meios errados, mas não é de uma hora para outra que as pessoas mudam, sabe?

Fiquei ouvindo tudo, inexpressiva, olhando-a. Minha mãe tinha o maravilhoso dom de me deixar sem palavras.

– A única coisa que eu quero para você, neste exato instante, é que busque qualquer meio para tentar. Não perca essas oportunidades, porque outra pessoa pode pegá-las bem abaixo do seus olhos. Ou você pensa que não há ninguém no mundo além de você que tem sentimentos românticos por ele? Pff, nós duas sabemos que não.

– Ele é o tipo de cara que tem fãs usando camisetas com as fotos dele.

– Não duvido. Agora, se voltarmos na sua teoria… - Ela suspirou, me largando. - Você aguentaria vê-lo todos os dias, bem embaixo do seu nariz, saindo com outra pessoa senão você?

Mordi os lábios de novo, desta vez com mais força. Eu não tinha realmente parado para pensar sobre este assunto, mas só de imaginar isso, sentia como se algo estivesse me esfaqueando por dentro.

– … Não.

Ela sorriu. E, quando sorriu, a buzina de um carro soou lá fora. Mamãe me deu um beijo vermelho na testa, acariciando meu rosto logo em seguida.

– Então ache uma forma bem criativa e direta de dizer como se sente. - Ela deu uma piscadela e começou a andar, mas virou-se quando estava perto da escada. - E provavelmente só vou chegar amanhã de tarde porque… Hã… Eu tenho alguns planos para nós dois… Você me entendeu! Bye!– Despediu-se alegre, pegando sua bolsa em cima do sofá e saindo de casa aos pulinhos.

Cruzei os braços. Era como se uma chaleira tivesse explodido de tanto cantar na minha cabeça, acabando por acender uma lâmpada escondida num canto escuro - não faz muito sentido, mas acabei por me sentir assim.

E esse canto escuro recém-iluminado começou a me dizer, alto e em bom som: “a parada tá louca, Katrina. Você vai perdê-lo se continuar com essas porras. Pedro sabe tudo sobre você, e você sabe bastante coisas sobre ele. Não deixe que outra pessoa comece a saber o resto.”

E então eu notei uma coisa: eu odiava esse canto recém-iluminado do meu cérebro.

Mas, enquanto ele estivesse correto, o melhor era mantê-lo aceso.

Quero dizer, por enquanto.


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Notas finais do capítulo

Leitores: BIA, ISSO QUER DIZER QUE A KITKAT VAI PARAR DE ENROLAR E VAI SE CONFESSAR?
Bia: SIM, MOÇADA.
AHJFKAMHJADAHFJAD FINALMENTE, HONEYS! Mamãe da Katrina é diva demais, gente do céu. Também pode ser representada como Mamãe Dináh -qqqq
Derek amorzinho, gente! Cantando Beatles para a Marcelita, amo forte! HAHUHAUAHUUAHHAHU Muito corajoso, aliás, viu? UHAHUAHUAUAHU
Enfim, espero mesmo que vocês tenham gostado! Qualquer errinho, por favor, me avisem!
Comentem Bastante! o/