Garota-Gelo escrita por Bia


Capítulo 67
Capítulo Extra: O Que é Fadiga?


Notas iniciais do capítulo

Olá, meus docinhos, como vocês estão? Antes de começarem a ler, quero alertá-los que este é um capítulo totalmente avulso da história (preparada para as pedradas daqueles que achavam que era um capítulo cronológico, help), ou seja: acontece em um momento não citado. Fiz como um presente de aniversário para a Asuka!
Sweet, desejo a você toda a felicidade que merece! Que todos os seus dias sejam iluminados, muita saúde, paz interior, amor e dindin!
O capítulo é puramente Pedrina, está fofíssimo, com o Ponto de Vista dos dois (autora coruja é fods, haha!). Na próxima atualização, irei trazê-los o capítulo onde o barraco fecha, aehooo /o/ (é bom ler esse aqui antes, já que tem um belo de um momento de descontração u.u)
Boa Leitura!



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Pedro

Aquela bem que poderia ser uma tarde normal, assim como todas as outras. É claro que poderia.

Mas, graças a Deus, não seria.

Não seria porque, às três horas, Katrina Dias, minha vizinha, estaria na soleira da minha porta, com a mesma cara de tédio de todo o sempre. E isso porque era a minha vez de ajudá-la com algumas questões de ciências, matéria na qual eu estou mais avançado que ela - o que era raro, sejamos francos.

E também não seria porque eu estava sem internet.

Fiquei praticamente a manhã toda daquele sábado de frente para a televisão, atirado no chão e encostado na cama, jogando jogos que eu já havia salvo há décadas… Mas relembrar é viver.

Duque, que estava lá embaixo, provavelmente dormindo no carpete, entrou no meu quarto com a mesma pose de Imperador que sempre teve. Eu havia achado na internet que ele era um persa. Não que importasse, já que gato é gato não importa a raça.

Ele veio correndo na minha direção e pulou em cima do meu colo, como se eu fosse seu troninho pessoal.

– Hey… - Reclamei, passando a mão na cabeça dele. Duque olhou-me desinteressado, só sentado-se ali porque queria e pronto. - Você é muito folgado, viu? Só sabe comer e dormir… Seu vagabundo. - Espremi o rosto dele, de uma maneira que ele pudesse me olhar diretamente. - Desse jeito você vai ficar todo cheio de gorduras, e as gatinhas não curtem gorduras. Elas curtem felinos rápidos que podem correr atrás de ratos, sabe? E eu quero netinhos. - Falei, sério, olhando-o nos olhos. - Quero muitos netinhos correndo desesperadamente por esta casa.

– O que você está fazendo?! - A voz de Rodrigo me despertou do transe, fazendo-me olhar na direção da porta. O garoto ria, sacana, observando eu falar com o gato.

Dei de ombros.

– Falando com o Duque…

– Amanhã mesmo eu vou olhar em suas gavetas para ver se eu encontro alguma cannabis, Pedro! - Soltou, apontando para meu guarda-roupa.

Revirei os olhos enquanto sorria. O pirralho estava próximo de fazer nove e já sabia o que era uma cannabis. Daqui a pouco, com dez, estaria apresentando sua namorada para nossos pais.

– Cozinhar que é bom, nada, né? - Pensei alto, fazendo-o rir.

– Vou estar no meu quarto enquanto você estiver… “Estudando” - fez questão de desenhar aspas no ar - com a Katrina.

Peguei meu travesseiro que estava em cima da cama e atirei-o contra a porta, espantando-o. Rodrigo foi embora rindo enquanto eu me apoiava novamente na cama. Duque se esfregou no meu peito enquanto ronronava, carinhoso. Esfreguei seu pelo, sem nada melhor para fazer.

Me levantei segurando-o pela barriga e verifiquei o relógio sobre a cômoda, que marcava duas e cinquenta. Deuses, ela estaria aqui dentro de alguns minutos. Será que faço alguma coisa para comer mais tarde?

De qualquer forma, desci as escadas apressadamente, indo para a cozinha. Minha mãe e Valentina haviam saído para fazer não sei o quê - oportunidade de ouro, convenhamos -, e deixou a casa sob minha tutela, o que não foi muito inteligente.

Abri a geladeira e peguei a gelatina de morango que estava sobre uma das prateleiras, fechando-a logo em seguida para não irritar o bichano debaixo dos meus braços.

Não havia sobrado muito, então eu decidi raspar o restante. Ninguém iria comer, de qualquer forma. Enfiei uma colher no pote e já ia subindo quando ouvi baterem na porta. Estacionei na escada como uma estátua, a colher já na minha boca e Duque quieto, as orelhas atiçadas e atenção voltada para a porta. Soltei o gato, que caiu nas escadas sem muito esforço com uma manobra pitoresca e dei alguns passos para abrir a porta.

E lá estava Katrina. A mesma Katrina bonita de sempre, com a mesma cara de tédio de talvez para sempre. Ela ergueu os olhos para mim e abriu um sorrisinho discreto que me fez engasgar.

– Tentando comer tudo para não deixar para mim, né? - Falou com um ar de quem sabia muito das coisas, adentrando na minha casa com intimidade. Sob seu braço havia um caderno de capa preta e um estojo quase vazio. - Trauma da última vez?

Sorri de um jeito boboca, retirando a colher da boca antes que eu fizesse alguma besteira.

– Sim, com certeza. Você é um soldado esfomeado das trincheiras, Katrina. - Brinquei também, fechando a porta e seguindo-a para as escadas.

A ruiva parou de andar quando avistou Duque, que também estava encarando-a. Os dois se odiavam, mas eu sabia que num fundo bem escuro do coração de ambos eles se amavam. Bem escuro mesmo, praticamente invisível e inexistente. Mas detalhes são detalhes.

– Eu tô com vontade de chutá-lo. - A garota declarou, um sorriso perverso se espalhando em seus lábios.

– Vai ficar só na vontade mesmo, vamos, vamos… - Empurrei-a de leve, fazendo a megera andar a contragosto, como se estivesse indo para a guerra. Katrina entrou no meu quarto e jogou seu material em cima de uma mesinha que eu tinha, sentando-se numa cadeira de forma confortável.

Era como se ela estivesse em casa.

– O.k., senhorita Eu Sei Tudo de Matemática, qual é seu problema? - Perguntei depois que ela se acomodou.

Katrina riu, abrindo seu caderno e mostrando algumas atividades a mim quando puxei uma cadeira para me sentar ao seu lado.

– O.k., senhor Eu Sei Tudo de Ciências. Preciso resolver essas questões e não faço nem ideia do que está escrito aí. Para mim, tá mais ou menos assim: “Joãozinho comeu três bananas ao meio-dia, mas foi assaltado em Porto Alegre por dois ladrões com cachorros. Qual é a raça do cachorro da direita?” Se eu não tirar um dez nesse questionário, o bagulho fica louco.

Coloquei a mão sobre a boca, rindo. Era incrível como ela podia achar cômico sua própria miséria. Ao ler as perguntas, percebi que havia feito o mesmo ano passado.

– Eu também já havia feito isso… Sei de letra. Ó, por exemplo, na quatro: “Mariana perdeu seis quilos de forma inexplicada em apenas duas semanas. O que pode ter ocorrido com ela?”, poderíamos colocar, hm… - Katrina pegou a caneta e estava pronta para redigir. - A perda de peso excessivo e inexplicado pode ser causada por vários fatores, entre eles, dois pontos… Câncer…

– Eita porra - A megera opinou, surpresa.

Continuei, ignorando-a.

– … Depressão, doenças no fígado, doença na tireoide, ou hipertireoidismo, diabetes mellitus ou um distúrbio de má absorção. Viu, mamão com açúcar!

– Aham, claro, e transar sem camisinha é seguro. - Murmurou, erguendo uma sobrancelha. - Bom, o.k., vamos voltar para a primeira. “Doença pulmonar é qualquer doença ou distúrbio que ocorra nos pulmões ou que leve os pulmões a não funcionarem adequadamente. Existem três tipos principais de doenças pulmonares, quais são elas?”

Estralei a língua, esforçando-me para lembrar. Eu sabia dessa também, mas a resposta simplesmente não vinha.

– Hm… Existem três, né?

– É o que tá escrito aqui.

– Bom, eu sei que existem as doenças da circulação pulmonar, que afetam os vasos sanguíneos dos pulmões.

Megera sorriu, como se também se lembrasse.

– Há também as doenças de vias respiratórias… É, falta uma.

– Ah! Sim, claro, tem também as doenças dos tecidos pulmonares, que é uma inflamação que incapacita os pulmões de se expandirem totalmente.

– Ui! - Katrina brincou, erguendo os braços e fazendo a mesma careta de um meme famoso na internet. - Ele sabe!

Sorri, mas não estávamos ali para brincadeiras. Ela conseguia se dispersar muito rápido de um assunto.

– Não enrola, megera… Próxima pergunta?

– “O que é a fadiga? (mínimo cinco linhas)” tomar no cu! - Ela berrou de repente, batendo na mesa com ódio. - É só colocar que é o que o Jaiminho, o carteiro, tem, cabô!

– Não, não, não! - Comecei a dar risada, agarrando o seu punho para que ela não escrevesse qualquer baboseira no questionário e tirasse um belo de um zero. Ainda me lembrava do episódio do boi. - Calma, calma… Vamos ver no dicionário, aí a gente complementa a resposta, pronto.

– Tá, né. Pera. - Ela esticou o braço e fisgou o Aurélio que estava sobre uns cadernos em cima da mesinha, folheando as páginas à procura de “fadiga”. - Muito bem… “Sensação penosa causada pelo esforço ou pelo trabalho intenso. Trabalho excessivamente cansativo; estafa ou esgotamento. Diminuição gradativa da força de um equipamento, de um mecanismo etc., causada pelo seu uso contínuo.” Copio?

– Não. Vamos colocar que é uma sensação natural do corpo dos seres vivos, causada pelo grande esforço em determinada tarefa… - Então Katrina começou a rir, obviamente pensando em coisas obscenas. Dei um tapinha em sua nuca, fazendo-a rir ainda mais. - Eu sei muito bem no que está pensando, senhorita Dias. Pode parar.

– Não estou pensando em nada, oras! - Ela tentou protestar, mas o sorriso enorme no rosto a entregava. - Tá, tô pensando exatamente nisso. Por que, vai me dizer que você não pensa?

Coloquei os cotovelos sobre a mesa, aproximando-me dela.

– O que uma informação dessa mudaria em sua vida? - Perguntei de maneira gentil, olhando-a bem fundo nos olhos.

– Mataria minha curiosidade. - Ponderou ela, erguendo o queixo.

Sabe quando eu disse que não estávamos ali para brincadeiras?

Descarte essa ideia.

Katrina

Eu sabia muito bem que estava dando carne aos leões, mas era muito maior que eu. Era do meu feitio fazer as pessoas se irritarem, saírem de sua área de conforto propositalmente; envergonhá-las com perguntas obscenas vindas do nada senão dessa minha cabeça meio podre.

– O que você faria se eu respondesse? - Pedro perguntou, próximo, os olhos negros oscilando de uma maneira engraçada.

– Depende da sua resposta. - Retruquei, prática, mas sem nunca deixar de encará-lo; não, não estávamos flertando. Encarar de forma desafiadora e flertar são coisas diferentes, please.

Mas parecia que Pedro não entendia muito bem a diferença entre os dois. O garoto puxou a minha cadeira para que eu fosse até ele, me assustando um pouco. Inclinei a cabeça para trás, surpresa com o movimento repentino.

O garoto inclinou-se na minha direção devagarinho, como se estivesse hesitando ou pedindo permissão. Só sei que, em uma hora de estudos marcados entre Pedro e eu, somente a metade desse tempo é realmente usada para estudar.

Nota mental adicionada: evitar de ficar sozinha num cômodo com o Pedro por mais de trinta minutos. Porque, caso isso acontecer, meus hormônios entrarão em erupção, e eu provavelmente não conseguirei me controlar.

Ser adolescente é um porre, cansei; cadê o botão de pular para a idade onde eu já estou morando na Austrália numa casa de campo com meus hormônios controlados?

Respirei fundo e fechei os olhos, incapaz de evitar um contato mais íntimo com ele. Pedro roçou os lábios na minha bochecha, beijando-me de maneira terna enquanto eu suspirava e passava meus braços em volta de seus ombros. Pedro começou a trilhar um caminho com a boca até o meu pescoço, me causando uns arrepios em áreas estratégicas.

Minha pele estava formigando e eu sentia dificuldade para poder me controlar. Sorri meio de lado quando ele me fez uma cosquinha no pescoço usando o nariz, me sentindo mais à vontade e abraçando-o no automático. Ele também reagiu, me abraçando fortemente a ponto da cadeira vacilar e ficarmos ainda mais próximos, se é que aquilo era possível.

O.k., aquilo estava perigoso. Um apito no fundo da minha mente começou a soar, alertando-me da entrada no terreno baldio cheio de bandidos. Até tentei empurrá-lo, mas toda minha força havia desaparecido misteriosamente. O garoto deslizou os dedos habilidosamente para baixo da alça da minha camiseta, puxando-a para o lado enquanto selava os lábios no meu ombro.

O.k., agora aquilo estava ficando muito mais do que perigoso.

– PEDRO!!! - Alguém berrou abruptamente lá embaixo, fazendo com que um choque de realidade me atingisse como um relâmpago. Não pensei muito e empurrei o italiano, descolando os lábios dele do meu ombro.

Pedro não sabia se ficava mais aturdido com o chamado desesperado lá embaixo ou com o empurrão que eu havia dado nele. De qualquer forma, ele fez um sinal para que eu esperasse por um minuto e desceu correndo as escadas, gritando um “o que foi?!” de volta.

Só sei que neste meio-tempo, me recostei na cadeira e me abanei, arrumando a alça da regata com vergonha, sentindo que minha temperatura estava um pouco febril. Sério, eu tinha que dar um apelido a ele por causa disso - caso não, o clima ia ficar tenso demais e eu ficaria perdida.

Pensei nas possibilidades.

Pedro, Boca de Fornalha.

Hm, não, clichê - é mais usado em zoação, o que não se aplica neste caso.

Italiano do Fervor.

É, também não.

Cocei o queixo, pensativa. Deuses, eu era mais criativa do que aquilo!

Hot dog Italiano;

Zuko Loiro;

Cabeça de Batata Frita;

Wheeler (sim, o fulano do Capitão Planeta);

Atirador de Raio Laser Pela Boca.

– Ah, você estava com a KatKetchup, por isto não queria que eu subisse! - A voz de Derek atrapalhou o resto do meu raciocínio. Lá estava ele com a mesma pose de vagabundo de sempre, um sorriso atrevido nos lábios. - E aí?

– Oi. - Falei, sem muita emoção na voz. Pedro apareceu logo depois na escada, olhando de forma mortal para o amigo.

– Derek? - O italiano deu um tapa em sua nuca, chamando sua atenção. - O que você quer?

– Só rever os bons amigos!

Pedro deu um suspiro, olhando para mim como se dissesse “desculpa”. Não entendi o porquê; na realidade, eu estava até agradecida por Derek ter atrapalhado tudo. Meus hormônios sendo jogados na cara do Pedro não era bom. E nem vice-versa.

– Bom… - Falei, erguendo-me da cadeira e pegando meus materiais. - Eu vou para casa. O questionário é só para segunda, então… Hm, amanhã eu passo aqui ou você passa lá em casa, não sei. Tchau. - Me despedi, dando alguns passos para passar por eles.

– Manda um beijo para a Marcela! - Derek pediu, obviamente de bom humor.

– Tenho cara de mensageira por acaso? Se quer mandar um beijo para ela, vá você mesmo até lá. - Grunhi, grossa, descendo as escadas, seguida por Pedro.

– Não, megera, espera, eu já vou chutar o Derek daqui, fica. Aí a gente pode continuar o que estávamos fazendo. - Pediu, pegando no meu pulso.

Pipipipipi, duplo sentido detectado.

– Hm, não, vamos continuar o que estávamos fazendo amanhã, ou seja– completei com ênfase antes que um sorriso presunçoso se formasse nos lábios dele - responder o questionário… Só.

– Veremos então. - Falou como se soubesse muito das coisas, abrindo a porta para mim e me dando um beijo na bochecha. - Até amanhã então, megera.

– Até, hot dog italiano - falei sem pensar, obviamente avoada. Tapei minha boca de forma rápida quando percebi, os olhos arregalados. Pedro me encarou como se eu dissesse que era um gnomo que soltava purpurina pelas axilas. - Hm, tchau. - Falei ríspida, dando uma corridinha para não ouvir perguntas.

Quando alcancei a calçada, tropiquei na diferença mínima da guia, indo para frente com tudo, catando cavaco até eu sentir a textura do chão na ponta dos meus dedos, lá na frente da porta. Quando me recuperei daquilo, ouvi uma risadinha do outro lado da rua.

Me virei mordendo os lábios, fingindo indiferença como se minha dignidade não tivesse caído ali na calçada. Pedro ria pressionando os olhos, fechando a porta devagarinho enquanto me observava.

Mostrei a língua para ele enquanto o garoto me mandava um beijo, carinhoso. Merda. Abri a porta e entrei em casa rapidamente, sentindo como se tivesse corrido uma maratona por conta do suor.

Eu estava toda mulambenta, suada e, consequentemente, nem um pouquinho cheirosa. Como uma pessoa teria vontade de me beijar neste estado? Se bem que eu havia lido que o suor feminino pode acabar sendo um estimulante sexual para os homens… Espera, oi?

Fechei os olhos com força, tentando tirar esses pensamentos toscos da cabeça.

Ah, como eu odeio esses italianos.


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Notas finais do capítulo

Não odeia não, Katrina, só admite xD Enfim, espero não ter esmagado as esperanças de vocês, mas acho que ele valeu a pena, já que está mostrando um momento Pedrina E tem a maldita pegação que vocês tanto gostam, hahahaha! Asuka, espero meeeesmo que você tenha gostado, desculpa ter demorado tanto para postar!
Enfim, vejo vocês nos comentários e/ou na próxima atualização! :3333
Comentem bastante! ;)