Garota-Gelo escrita por Bia


Capítulo 54
O Jonas é Sau-dá-vel


Notas iniciais do capítulo

Gente, calma, TIA BIA ESTÁ VIVA!
Eu sei que o capítulo demorou séculos para ser postado. Eu sei. Me sinto mal até agora. ;-;
Mas, eu tenho as minhas razões. Domingo foi o meu aniversário, cof. Tive que ajudar as minhas tias a preparar TUTU, então já sabem, né?
Estou perdoada? :s Espero que sim ;-;
Bom, francamente, acho que o capítulo tá ENORME SAHUHASASHUAHUSAHU
Ele tá muito: "poker face", mas vocês gostam assim... Eu acho. SHUSSA
É isso, espero que vocês gostem,
Boa Leitura (não deu para fazer coraçãozinho, okay ç-ç)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/401604/chapter/54

E eu lá, morta de vontade de jogar, ganhar todos os DVDs do meu amor, Jason, quando recebi um soco na cara.

“Meninas não jogam no time.”

Falou rudemente o pau no cu do treinador, um velho barbudo desgraçado.

Abri a boca, completamente indignada.

– Isso é completamente machista, seu escroto! - Gritei, fervendo de raiva. - Se eu quisesse, daria um chute na bunda de todos esses caras aqui!

Ele olhou para mim, rindo.

– Temos pessoas suficientes para jogar, desculpe. Agora vá brincar de bonecas.

Queria dar uma voadora naquela cara cínica e machista dele.

Eu ia fazer exatamente isso quando me seguraram pelos cotovelos. Olhei para cima, e dei de cara com um Pedro parecendo preocupado. Ele olhou para o treinador, e os dois conversaram pelos olhos.

– Fale para ele me deixar jogar. Tenho dois braços e duas pernas. Posso muito bem jogar com vocês. - Pulei, animada, tentando realmente o convencer.

Pedro abriu um sorrisinho amigável.

– Treinador, seja bonzinho. Katrina é boa em queima.

O treinador se virou para encará-lo.

– Meninas não jogam no time. E eu sei que Katrina não é do gênero “jogo-limpo”. Principalmente quando é um assunto de seu interesse. Você não joga. - Ele apontou com o apito para mim.

Merda.

Já estão adivinhando minhas táticas. Preciso dar um fim nesse cara.

Pedro soltou um risinho e olhou para mim.

– Ele tem razão. - Quando viu minha cara, Pedro continuou, agora sério. - Mas, eu vou ser bonzinho. Se eu ganhar, vou te dar os prêmios.

Sorri, orgulhosa.

– Porém… - Ele continuou, me soltando. - Quero algo em troca.

Pisquei e cruzei os braços. Não gostei disso.

– Uhm… O que seria essa troca?

Não parecia ser algo muito inteligente fazer uma troca com ele, mas decidi arriscar.

Ele passou a mão no queixo, como se estivesse realmente se esforçando para pensar em algo.

– Não sei ainda. Mas pensarei em algo razoável. Agora vá se sentar e torça por mim. - Ele me deu um tapinha no ombro e foi para o outro lado da linha.

Corri para as arquibancadas, onde Jonas e Marcela estavam. Me sentei ao lado de Jonas e fiquei os observando.

Marcela estava enfiada em seu celular, cutucando a tela. Jonas observava a quadra de basquete, que ficava um pouco afastado da quadra principal. Ele tinha um ar sonhador, observando as meninas jogarem.

Jogarem muito mal, para ser sincera.

Pareciam gazelas com Parkinson.

Jonas suspirava, como se esperasse ver algo que não estava ali. Fiquei me perguntando se ele estava com fome.

Marcela resmungava algo como: “malditos pedidores de curtidas.”

Sorri e olhei para a quadra.

Depois de dez razoáveis minutos, o jogo estava bem desigual. Bem desigual para o lado do Pedro. Que estava com quatro meninos - contando com ele - e outro time estava com dez.

Me levantei em um salto e juntei toda a minha força para gritar:

– PEDRO, CARAMBA! GANHA ESSA MERDA!

A quadra inteira ouviu, e ele se encolheu, olhando de relance para mim.

– Tá difícil, sabia? - Um dos garotos gritou de volta.

Isso só acendeu a minha raiva.

– Não tá não! - Berrei. - Você que está fazendo corpo mole!

A quadra se encheu de risadinhas, e eu me sentei de volta no banco, emburrada.

– Qual é a dele? Diz que vai ganhar, mas está perdendo… Vou meter um soco na cara dele, para ver se ele acorda. - Resmunguei.

Marcela esticou sua mão pelas costas de Jonas e me deu um tapa na cabeça.

– Não resmungue. - Ela disse. - Sua velha.

Lhe dei língua, indignada.

O Sol queimava a nuca dos rapazes. Felizmente, o time do Pedro não estava mais perdendo gente. Eles se desviavam da bola com agilidade, como se a vida deles dependesse disso. E de fato, se eles perdessem, eu iria meter a porrada na cara deles.

*

O jogo acabou por um tris. Um garoto do time de Pedro conseguiu lançar a bola no último que restava, e eu gritei, vitoriosa. Não sabia ao certo quem estava mais suado: os meninos ou eu, já que fiquei eufórica e corria de um lado para o outro, desesperada.

Afinal, ninguém queria o prêmio. Só eu.

Por que será, né?

Somente ignorei esses pequenos detalhes e corri lá para baixo, pulando o pessoal que estava sentado na arquibancada. Fui parando quando dei de cara com os rapazes, que estavam mais suados do que não sei o quê. Eles se cumprimentavam, agradecendo o jogo de hoje. Pedro estava mais afastado da quadra, quicando a bola.

O treinador tirou a folha de prêmios do meio de sua pasta, e a entregou para o menino que fez o último lance. Ele pegou a folha, receoso, e olhou com compaixão - pena - para Pedro. Ele veio andando na nossa direção, com os olhos espremidos por causa do Sol forte, e esticou a folha para Pedro.

– Toma, cara. Você precisa dela mais do que eu. - Ele falou, soltando um riso.

Pedro agradeceu e a pegou. Depois ele olhou presunçosamente para mim.

– Viu? Ganhei.

Sorri.

– Não é a mesma coisa. Mas tudo bem, se vire. - Falei, abanando em sua direção.

Pedro se virou e se curvou um pouco, e eu usei suas costas de apoio. Assinalei onde havia marcado em letras vermelhas: “Jason” e fiquei mais do que satisfeita.

Após assinar aquilo, caminhei presunçosamente em direção ao gordo-barbudo.

O treinador estava conversando com um aluno, mas quando me viu, cerrou os dentes.

– O que é? - Perguntou, seco, quase gritando.

Sorri.

– Olha a TPM! - Gritei de volta. Entreguei a folha para ele, e o treinador a pegou, bruto. - Viu, treinador? Consigo as coisas que eu quero.

Ele me deu uma última fuzilada com o olhar e se virou para o aluno.

Fui, saltitante, em direção ao Pedro, que me olhava rindo. Quando cheguei perto, ele mordeu o lábio.

– Quê? - Perguntei, seca.

Ele cruzou os braços, agora me olhando de cabo-a-rabo.

– Estou pensando em minha recompensa.

Pisquei, tentando me lembrar do que se tratava. Fiquei vagando por aí, sem me recordar de algo assim.

Ah, claro. Recompensa; acordo; troca. Com o Pedro.

Ai não.

Katrina, como você é burra. Fez um acordo com um cara que quer seu corpo nu. Parabéns.

Eu fiquei discutindo comigo mesma até que o Pedro estralou seus dedos na frente do meu rosto.

Pisquei, voltando à realidade e o encarei.

– Hã?

Ele abriu um sorriso.

– Está fazendo uma cara engraçada. No que está pensando?

– Em nada. - Menti. - Por quê?

– O treinador está nos chamando. - Ele falou, apontando para a quadra de basquete. - Ele disse algo sobre… Você… E a diretora.

– Ótimo, vamos logo, estou torrando nesse Sol.

*

A quadra de basquete era arejada. Tinha duas arquibancadas de cada lado da quadra. O chão da quadra era inteiramente de madeira, e haviam desenhos que eu nunca entendia.

O treinador conversava com a diretora do acampamento, e ela era mais decente do que eu pensei.

Usava um cardigã preto sobre uma camisa de lã branca, e uma saia comprida.

Ela olhou para nós dois com aqueles olhos castanhos penetrantes.

– Você é a Katrina… - Ela falou. - Quis te conhecer.

Sorri.

– É, causo essa impressão nas pessoas.

– Receio que o treinador fora um tanto quanto… Selvagem com a senhorita. - Ela falou, colocando a mão sobre o ombro do coitado. - Que tal… Vamos recompensá-la, querida.

Sorri.

– Vão me dar dinheiro? Opa, estou aceitando.

Ela sorriu.

– Não. Você quis jogar, então jogará. Só que outro esporte. Gosta de basquete? - Ela perguntou. E depois colocou a mão no ombro de Pedro. - Jogará limpo com esse rapaz.

Pisquei.

– Eu só jogo limpo! Olha a injustiça comigo!

Que grande mentira.

A diretora estreitou os olhos.

– O treinador me disse que a senhorita tem fama de trapaceira. Afinal, ele lhe dá algumas aulas já faz algum tempo. - Ela olhou para Pedro. - Isso é verdade?

Vish. Ferrou.

Pedro fez que não com a cabeça. Como é falso, nossa.

– Estudo com ela há dois anos, diretora. Nunca a vi trapacear. - Ele olhou de esguilha para mim. - Seria uma prova ela jogar comigo, certo?

Isso me deu uma leve impressão de: minha recompensa aumentará agora. Dançou, queridinha.

A diretora assentiu.

– Seria. Se eu ver que o treinador mentiu, ele se verá comigo.

Ela jogou uma bola para Pedro, e ele sorriu quando ela foi embora.

– Essa passou perto, megera. Me deve uma.

Ri.

– Te devo várias.

Marcela e Jonas irromperam do nada, e sorriram, tímidos, para mim. Eles se sentaram na arquibancada direita, acenando.

As nuvens começaram a se intensificar, e esconderam o Sol. O dia estava completamente claro, e o céu estava parcialmente límpido e azul.

Fomos para o meio da quadra, e colocamos nossos pés na linha de partida. O treinador veio resmungando na nossa direção, e pegou a bola, a colocando em cima de nossas cabeças.

– Bom jogo. - Resmungou, e soprou seu apito agudo.

A bola foi lá para cima, e eu pulei, tentando pegá-la. Pedro, a princípio, nem se mexeu, mas quando eu voltei para o chão, ele bateu em minha mão, para que a bola saísse de meu controle.

Pedro a ajeitou na mão e lançou para a cesta atrás de mim.

Era óbvio que ele não acertaria. Mas a minha definição de “óbvio” é um pouco errada.

A bola bateu no aro e entrou, fazendo com que as arquibancadas fizessem uma balbúrdia desgraçada.

– Três a zero, Katrina. - Ele falou com um ar presunçoso. - Se você não se apressar, vai perder.

Pedro foi na direção da bola, e começou a quicá-la para me perturbar. Isso estava dando certíssimo.

Desgraçado.

Corri na direção da bola, mas na hora em que iria pegá-la, ele se virou. Fiquei enroscada em suas costas, e eu estava apostando que ele estava gostando daquilo. Estiquei meu braço por baixo dos dele, e consegui alcançar a bola.

A quiquei para fora de seu alcance, e Pedro praguejou quando pisei em seu pé.

Comecei a correr, quicando a bola, e percebi que as arquibancadas começaram a rugir de excitação. Pedro já estava cansado, afinal, já tinha participado de atividades anteriormente. Eu estava embaixo da cesta, e lancei a bola para cima. Ela quicou no aro três vezes e entrou.

Ótimo, isso já era um começo.

*

Depois de dez minutos, eu já estava muito cansada. Pedro era um filho da mãe, e parecia ser muito bom no basquete.

Porém, o cansaço é maior do que a habilidade. Logo ele já estava arfando e pingando de suor, enquanto eu empatava o placar.

15/15

Acredite, isso foi difícil.

Porque…

Primeiro: Pedro era dez centímetros maior do que eu, e já fez duas enterradas;

Segundo: as arquibancadas estavam torcendo por ele;

E, terceiro, mas não menos importante: é difícil se concentrar quando você está jogando com o Pedro.

Se é que vocês me entendem.

A bola estava em minhas mãos, e eu não estava aguentando minhas pernas. Pedro arfava embaixo da minha cesta, obviamente me desafiando.

Nós tínhamos três minutos restantes para concluir o jogo, e eu sentia o olhar da diretora em minhas costas. Acredite, não havia trapaceado nenhuma vez, o que dificultou o jogo.

Porém, eu tinha que fazer alguma coisa. Caso não, eu perdia.

O.k., o.k. Vamos observar a situação. Não, não há coisas para serem observadas.

Eu estava frita.

A bola já doía quando tocava em meus dedos, e eu levei um susto quando Pedro voou na minha direção, disposto a ganhar essa parada.

Engoli em seco e o circundei, tentando alcançar a cesta. Pedro derrapou no chão e começou a me seguir.

Olhei de relance para trás, e percebi que ele já estava nos meus calcanhares. Escorreguei no chão molhado de suor e desequilibrei.

O italiano pegou o meu pulso com força.

Pior erro.

A bola sambou nas minhas mãos, e foi para a direita. Pedro, sem querer, acabou pisado na coitada.

Ele escorregou e foi beijar o chão, obviamente me levando junto.

Eu vi tudo em câmera lenta.

Vi as arquibancadas começarem a abrir a boca para dar risada, vi Pedro caindo de costas no chão e eu voando em cima dele e…

Espera.

Ai meu Deus.

Sabe quando dá aquele friozinho na barriga de: eu sei que tal coisa vai acontecer, mas não sei parar? Era exatamente isso que eu estava sentindo.

Ele estava soltando meu pulso devagar, então eu estiquei meus braços para que um beijou-mas-não-beijou não acontecesse ali.

Minhas duas mãos foram parar uma de cada lado de seu rosto. O barulho do atrito delas com o chão foi agudo e penetrante. Me inclinei inevitavelmente, e a ponta de nossos narizes se encontraram. Pedro tinha uma expressão de espanto, surpresa e adoração no rosto. Eu estava provavelmente com uma expressão de: estou tendo um ataque epilético, help. Minhas pernas estavam enroscadas em volta da cintura dele, o que não ajudou muito.

As arquibancadas explodiram de gritos histéricos e de: “BEIJA! BEIJA! BEIJA!

Pedro provavelmente estava louco para obedecer à maioria, mas eu não estava com vontade de expôr minhas intimidades. Sou uma garota decente.

Jonas e Marcela vieram correndo de onde eles estavam para nos ajudar.

Marcela enroscou suas mãos em volta dos meus braços, e me subiu. Olhei, confusa, para ela.

– Onde estou? De onde eu vim? Quem sou eu? - Brinquei, olhando para ela.

Marcela revirou os olhos e sorriu.

– Você está bem?

Sorri.

– Ham-ham. Me senti um pouco estuprada ali atrás, mas está tudo bem.

– Katrina, que horror! - Ela me deu um tapa no braço. - Não diga asneiras!

Ri.

– Estou brincando, estou brincando. - Olhei de cara feia para Pedro. - O moço aí não tem vergonha na cara. Quis me matar?

Pedro ia dizer alguma coisa, mas o treinador desceu as escadas da arquibancada correndo, com suas banhas dançando macarena. Ele deu um tapa na cabeça do italiano.

– Está louco?! Quer matar a doida da Katrina?! Quer me demitir, digo, demitir a diretora?

Pedro coçou a cabeça onde fora atingido.

Scusi… - Falou, fechando os olhos. - Não fiz por mal, treinador. A Katrina… Pensei que ela iria cair. Então a segurei. - Ele estreitou os olhos. - Mesmo que isso tenha causado o efeito contrário.

Não pude deixar de sorrir. Pedro levantou-se com a ajuda de Jonas, e lhe deu um tapinha nas costas como agradecimento.

Pude ver borboletas exalando do garoto.

Pedro olhou para mim.

– Tudo bem?

Assenti.

– Já disse que eu estou bem. Vocês me amam, só pode. - Acariciei as palmas das minhas mãos, que estavam doloridas.

A diretora veio andando calmamente na nossa direção. Ela lançou um olhar severo ao treinador.

– Que isso lhe sirva de lição.

Cruzei os braços.

– É, treinador. Sei jogar limpo quando quero… E quando me interessa, também.

Pedro cruzou os braços.

– Aliás, megera... O que você faria para me ver perder? - Ele tinha uma certa malícia em seus olhos. - Estou curioso agora.

Pensei por um instante.

Peguei a barra da minha camiseta e a subi na altura de sua gola, fazendo com que meu sutiã branco aparecesse por completo. Das arquibancadas, um grito de surpresa se alastrou, fazendo com que meus tímpanos vibrassem. Pedro ficou estupefato. Seus olhos se arregalaram, e ele tentou evitar olhar para mim. Só tentou, mesmo. Jonas e Marcela nem se importavam mais, por isso só balançaram a cabeça em negativa. O treinador fechou os olhos e começou a murmurar coisas. A diretora ficou me olhando com os olhos arregalados.

– Talvez isto. - Falei.

*

Eu recebi vários sermões do gênero: “como pôde se expôr desse jeito? Você não é uma garota decente?”, “Sabia que eu não queria ver seus peitos?”, “Você tem sanidade?” Obviamente, a minha resposta para todas as perguntas foi: Não.

E eu não estou ligando para o que me chamam. Pessoas inúteis, opiniões inúteis. Resta-nos observar quem são as pessoas inúteis na nossa vida.

Eu estava morrendo de fome, por isso fomos comer alguma coisa.

Entramos naquela pensão enorme e branca, e eu levei um susto quando vi que eram dez horas.

– Brincou. - Murmurei, olhando para o relógio.

– Pois é… O tempo não para. - Jonas disse. Ele pegou uma maçã de uma fruteira alheia e a mordeu com vontade.

– Nossa, que frase mais… Velha. - Marcela o olhou. - Minha mãe falava isso.

Nos sentamos em uma mesa de mármore lá dentro. Os alunos corriam desesperados pelos corredores branquíssemos e ilustrados. Usei o chão de espelho. Fiquei imaginando que seria ótimo entrar com os pés cheios de lama e dar uma passeada por aí.

Uma mulher de uniforme branco veio resmungando com uma bandeja cheia de petiscos. Ela era pálida feito papel, e suas marcas de expressões a deixavam velha. Seu nariz parecia um tomate, vermelho e gordo.

Ela praticamente jogou a bandeja na nossa frente e voltou à cozinha murmurando.

Jonas arregalou os olhos.

– Todo mundo nesse lugar é mal-humorado. Gente.

Peguei um brownie e o fiquei observando.

– Se eu trabalhasse em um lugar onde deveria ficar com pessoas como eu… - Mordi o bolinho. - Ficaria com certeza nervosa. Imagina… Quatro Katrinas em torno de você, gritando para que você lave as calcinhas delas. - Estremeci. - Acho que eu iria enlouquecer.

Jonas olhou para o meu brownie.

– Isso engorda. Credo, que nojo.

O observei com a boca cheia.

– De quem é o bolinho? - Perguntei, mastigando com raiva. - Meu, licença. E para de botar olho gordo. Se eu tiver uma diarreia irei te culpar.

– Gente… - Marcela começou, mas não lhe demos importância.

Jonas bateu na mesa e mordeu sua maçã.

– Pelo menos eu sou sau-dá-vel, diferente de você.

– Não estou nem aí. - Falei. - Quero que você morra com o seu “sau-dá-vel”.

– Vocês dois… - Marcela recomeçou.

– Minha queridinha… Se eu sou saudável, não morrerei tão cedo como você. Vai ficar diabética, gorda, anêmica e um monte de coisa aí. Por quê? - Ele pareceu surpreso. - Você pensa que vai ficar com essa pose para a vida inteira? Daqui a pouco seus peitos estão lá nos pés.

Eu ia rebater com um argumento muito bom, mas Marcela bateu na mesa com força.

– OOH! - Ela berrou. Nós dois prestamos atenção nela, apáticos. - Querem parar de discutir sobre coisas banais e prestarem atenção em mim pelo menos por um minuto?

Jonas se entreolhou comigo, assustado.

– Que isso, novinha? - Brinquei, soltando uma risada de Marcela.

– Tá, seus bestas. - Ela começou a cutucar no celular e ampliou uma imagem, me deixando boquiaberta. - Olhem isso.

Era uma página no Facebook com o nome: “Pérolas de fevereiro”, onde todos os babados desse mês eram postados.

A cena do meu beijo com o Pedro na peça do Romeu e Julieta estava lá, e do lado a imagem de alguns minutos atrás, onde eu estava em cima do cretino. A legenda dizia:

Pois é, pessoal. Esse casal estava realmente dando o que falar esses meses. O pior é que combinam perfeitamente. FÃ CLUBE PEKA ABERTO!

Minha reação foi mais ou menos essa:

'Cause I don't wanna fall in love

If I ever did that

I think I'd have a heart attack!

I think I'd have a heart attack!

I think I'd have a heart attack!

Deus, o que eu fiz para merecer isso?

Tudo, eu sei.

Jonas deixou seu queixo lá no pé, e Marcela me lançou um olhar amigo.

– É, fizeram um fã clube de vocês dois. Com um nome horrível, eu sei. Se fosse eu, colocaria: “Misterioso caso de amor proibido: o Lobo Mau e o Caçador!”. Ficaria mais fofinho.

– O Lobo Mau e o Caçador são gays? - Jonas perguntou, encarando-a com curiosidade.

Eu deixei minha boca lá no chão.

O.k., eu sei que nós dois não temos nada… Mas… Não, isso era terrível.

Eu já estava prevendo os boatos, cochichos e todas essas paradas aí.

Que lindo.

E foi aí que a vida decidiu sambar um pouco mais na minha cara. As gazelas com Parkinson - líderes de torcida - entraram de repente nos nossos aposentos rebolando, e pararam do nosso lado.

Uma garota com cabelos castanhos compridos depositou sua mão na mesa, e se inclinou na minha direção, com um olhar altamente simpático.

– Você é a Katrina, certo?

Olhei para ela.

– Não, sou a Madonna. O que você quer?

Ela arqueou os cantos de sua boca, e deslizou pela mesa, sentando-se.

– Vim lhe fazer uma proposta.

– Não estou interessada. - Falei, empurrando seu quadril para que eu pudesse pegar um pão de queijo.

– Mas você nem sabe o que é. Pode isso, garotas? - Ela olhou, com as sobrancelhas levantadas para as três meninas que a acompanhava.

Uma delas, com a pele morena e os cabelos pretos, se aproximou de mim e colocou sua mão no meu ombro.

– Katrina… Queremos lhe convidar para participar do nosso time. Vimos a sua exibição com o Pedro hoje. Você estava fantástica! Precisamos de sua ajuda. O jogo é muito simples. É só um vôlei básico.

A garota de cabelos castanhos sorriu.

– Soube que o Pedro estará no time inimigo. E vi, também, que vocês dois têm um pequeno… Hã… Atrito. E estão em uma… - Ela olhou para as meninas, em busca de ajuda.

– Uma situação complicada. - Falaram todas, finalmente.

Peguei uma latinha de refrigerante, enquanto Marcela e Jonas observavam a cena com atenção. A abri com as unhas, que estavam curtas. Tomei o refrigerante sob o olhar de todos.

Depositei a latinha na mesa e encarei as meninas.

– Como disse anteriormente, não estou interessada.

Quê? Você está pensando que eu vou perder para o italiano de novo? Nem pensar. Porque… Aquilo ali não foi de longe fantástico, e sim vergonhoso. Se nós dois não tivéssemos caído e parado o jogo, era óbvio que eu não conseguiria fazer a cesta.

É muita vergonha para uma pessoa só. Meu orgulho iria para o saco.

As líderes de torcida suspiraram. A menina de cabelos castanhos deslizou pela mesa e foi para o chão, e me lançou um olhar de tristeza.

– Tudo bem, respeitamos sua escolha. Mas, caso você queira entrar… - Ela deu de ombros. - Estamos aceitando.

As garotas foram embora cabisbaixas, como se tivessem perdido um grande guerreiro.

E perderam mesmo.

Marcela ficou me encarando, com cara de quem sabe as coisas.

– Você… - Ela pegou uma coxinha e mordeu o bico. - Pensa que… Já perdera para o Pedro. E, se jogar novamente contra ele, pensa que irá perder de novo. Você não quer perder porque acha que o resto de seu orgulho irá para a merda.

Engasguei com a minha saliva e encarei, estupefata, Marcela.

– Como você fez isso?! - Arregalei os olhos, realmente assustada.

Ela sorriu.

– Quando a gente conhece uma pessoa há um tempo, é normal que nós a decifremos facilmente. Principalmente quando essa pessoa é você, que expressa seus pensamentos.

Juntei as sobrancelhas.

– Estão descobrindo meus segredos. Isso é ruim. Preciso de amigos novos.

Ela riu de novo.

– Boba.

*

Jonas estava estranho demais para um único dia. Ele suspirava, mexia no prato vazio e não falava aquelas frases de efeito que ele geralmente falava.

Marcela não parava de cutucar no celular e resmungar, e eu fiquei perdida em pensamentos.

Coisa que eu não deveria fazer.

Fiquei me perguntando se Isadora estava bem com a maratona de Roberto Carlos da minha mãe. Nem queria imaginar o que aquela mulher iria fazer com Rei cantando exclusivamente para ela.

Neste exato momento, um pensamento repentino invadiu a minha mente. Me peguei pensando no que o Pedro estava fazendo.

Viu? Nada de se perder em pensamentos.

Chacoalhei a minha cabeça, olhando para Marcela. Percebi que ela estava cutucando furiosamente a tela do seu celular, e ampliou uma imagem.

Fiquei estupefata por alguns segundos. Ela havia ampliado uma imagem de um vestido. Mas não era um vestido qualquer.

Era típico de uma princesa. Parecia ser de noiva, mas era um tomara que caia bem apertadinho. A parte de baixo do vestido era felpudo, e eu estimei o valor daquela peça:

– Vale mais do que a minha casa. - Falei.

Marcela olhou, surpresa, para mim.

– O quê?

– O vestido. - Repeti. - Ele vale mais do que a minha casa.

Ela deu um risinho bobo.

– Isso é impossível, Katrina. Não tem como ele valer mais do que a sua casa.

Bufei e cruzei os braços.

– Qualquer coisa vale mais do que a minha casa, para ser precisa.

Ela riu. Marcela ia falar mais alguma coisa, só que a professora de português apareceu saltitante no comodo.

Ela parou diante de nós com uma planilha em mãos.

– Olá, queridos. Irão participar da Caça aos Ovos?

– Caça ao quê? - Perguntei, confusa.

Ela deu um sorriso amigável, do gênero que ela só dá quando um aluno tirou zero em uma prova.

– Caça aos Ovos, querida. É uma prova onde é cada um por si. Bastante alunos participarão. O time de basquete inteiro irá participar.

Jonas se remexeu no banco. Olhei para a professora.

– No que consiste essa prova?

Ela se sentou na mesa.

– Existem cerca de mil ovos espalhados pela floresta. O trabalho dos alunos será recolher os ovos de cor: verde, azul, amarelo, roxo e rosa. Porém, existe apenas dois ovos cor-de-rosa. Então, apenas dois alunos irão ganhar os prêmios. Isso, caso eles consigam recolher todos os outros. Bem simples.

Jonas se ajoelhou no banco e esticou sua mão para pegar a planilha e a caneta nas mãos da professora.

– Eu participo, eu participo! - Ele falou, abanando na direção dela.

A professora juntou as sobrancelhas.

– Que interesse repentino é esse? - Ela sorriu, maliciosa. - Está apaixonado, Jonas? Quem é a sortuda?

Jonas abriu a boca e corou. Ele se sentou de volta no banco.

– Pode anotar meu nome. - Falou baixinho.

Ele não discordou.

Ah, o.k.

Já saquei tudo.

A professora sorria enquanto escrevia o nome de Jonas na planilha.

– Mais alguém? Posso garantir que é diversão na certa.

Olhei para Marcela.

– Não vai participar?

Ela fez que não com a cabeça.

– Ficar no meio de uma floresta sozinha? Com sons estranhos e o risco de ser abduzida? Não, obrigada.

– Katrina? - A professora sorriu.

Pensei por um instante.

O.k., talvez isso seja melhor do que eu posso imaginar. Corujas bêbadas, sons estranhos de galhos se partindo e insetos do demônio.

– Tô dentro. - Falei, batendo na mesa.

A professora sorriu e me deu a planilha.

Achei um espaço em branco, e anotei com a minha letra miudinha: Katrina Dias.

Passei de leve o olho nos nomes da lista, e percebi que estava mais ferrada do que imaginei.

A professora passou - provavelmente - em primeiro lugar na quadra, pois, lá em segundo lugar, se via escrito o nome: Pedro Marconni :D. A letra dele era mais sutil do que o próprio dono. E ainda havia uma carinha. Pois é. Todo o meu plano tecnicamente elaborado para justamente o evitar, foi pelo ralo.

Será que é macumba?

A professora recolheu a planilha antes que eu destruísse tudo e sorriu para nós.

– Muito obrigada por participarem. Boa-sorte na caçada. Ela começa três da tarde, não se esqueçam.

Ela saiu andando devagarinho pelo comodo, passando pela porta com gentileza.

Marcela deu um suspiro.

– Vocês são loucos. Ficarei com quem quando forem embora?

Tomei mais um pouquinho do refrigerante e olhei para ela.

– Sei lá. Fica com o tiozinho que está cuidando da nossa barraca.

Ela me olhou com sarcasmo.

– Espero que seus órgãos sejam retirados pelas corujas.

Lhe dei língua. Escutamos um suspiro. Eu e Marcela nos viramos para encarar Jonas, que sonhava acordado.

– O que ele tem? - Ela cochichou.

Ri.

– Sei exatamente o que ele tem. - O cutuquei forte nas costelas, e Jonas deu um pulo, olhando para mim.

– O quê? - Perguntou, ajeitando os cabelos.

– Você está apaixonado.

Ele arregalou os olhos de um jeito impressionante e engasgou.

– É óbvio que não! - Ele falou, batendo em seu peito. - Eu… - Ele tossiu mais um pouco e se recuperou. - Eu não estou apaixonado. Isso seria idiotice.

Marcela olhou de um jeito presunçoso para mim.

– Hum-hum, sei. Você e a Katrina estão mais mentirosos do que o normal. - Ela sorriu, olhando para ele. - Quem é o boy magia?

– Não há ninguém! - Ele exclamou.

Eu ia dizer alguma coisa, só que a porta se abriu de repente. Olhamos para trás, e eu percebi na hora que aquele era o time de basquete. Pelo amor de Deus, os garotos eram gigantes. Como que eu nunca tinha reparado neles antes?

Obviamente eles iam para o banho, porque estavam com toalhas enroladas nos braços. O time inteiro passou, e quando um ala entrou por último, Jonas perdeu o ar.

O garoto tinha pelo menos um metro e oitenta, e os cabelos eram escuríssimos. Os olhos eram claros e ele andava calmamente, como se não se importasse com nada.

Ele passou por nós e olhou por alguns segundos para Jonas. Eu pensei que ele apenas o ignoraria, mas o ala deu um riso amigável ao garoto.

Depois que todo o time passou, Marcela olhou com pressa para Jonas.

– É ele?!

– Sim. - Ele exclamou, enterrando a cabeça nos braços. - Acho que eu vou morrer.

Comecei a dar risada das expressões engraçadas de ambos, já que Marcela insistia para que ele revelasse seus sentimentos. Ela agarrou em sua gola e ficou o apertando.

– VOCÊ NÃO É SAU-DÁ-VEL?! - Ela gritou. - É SAUDÁVEL ADMITIR SEUS SENTIMENTOS!

– EU NUNCA VOU ADMITIR UMA COISA QUE EU NÃO TENHO! - Ele gritava de volta, se sacudindo por causa do peso da garota. De repente, os dois pararam e Jonas começou a pensar. - Tipo, eu não vou dizer: olha, que lindo, gente, eu tenho uma vagina!, sendo que eu tenho o buraquinho da felicidade.

Eu estava tomando refrigerante quando eu ouvi isso. Engasguei de um jeito fenomenal e o coitado saiu pelo meu nariz. Comecei a tossir enquanto ria, e Marcela me acudiu, dando tapinhas nas minhas costas.

Recuperei o meu fôlego com dificuldade e olhei para Jonas, que estava com uma cara de bunda desgraçada, olhando para mim.

– Por que isso? Quer me matar, garoto? Você estava que nem queijo derretido quando viu esse moleque passando. Só admite, Jonas. Até eu admiti.

Ele se ajeitou no banco.

– Talvez eu admita… Mas preciso ter certeza dos meus sentimentos antes. Vou dar uma volta. - Ele circundou o banco e saiu pela porta, apressado.

Marcela deu um suspiro pesado e olhou seu celular. Sua expressão foi de surpresa, e ela olhou para mim como se pedisse desculpas.

– Meu pai. Tenho que atendê-lo. Já volto.

Ela saiu correndo com o telefone perto de sua orelha.

Dei um suspiro pesado e relaxei os ombros, observando meu prato ainda cheio. Fiquei mastigando calmamente, invadida de silêncio - coisa que não acontecia fazia um tempo.

Eu sempre me senti bem estando sozinha. Nunca me sentira solitária antes, e se isso acontecesse, seria extremamente hipócrita. Eu só queria ficar longe das pessoas.

Criei uma parede em volta de mim mesma, com medo de ser machucada outra vez. E agora, no momento em que eu estou sozinha, me dei conta de que minha vida antes era extremamente solitária. Mesmo eu pensando que não.

Talvez eu esteja quebrando tijolo por tijolo, para que algumas pessoas possam entrar na minha vida. Meu coração já fora despedaçado uma vez… Mas talvez alguém possa o colar com Super Bonder.

E foi aí que eu percebi que alguém estava estralando seus dedos na frente do meu rosto. Tomei um susto e fui para trás, e percebi que Pedro estava comendo um pão de queijo.

– Terra chamando Katrina. - Ele brincou. - Você está presa em pensamentos novamente. Há algo lhe incomodando?

Fiz que não com a cabeça.

– “Mente vazia, oficina do diabo”, se enquadra na minha situação.

Eu estava extremamente desconfortável. Sou orgulhosa demais para admitir que eu queria socá-lo por me vencer.

Pedro assentiu.

– Sei. Ouvi dizer que participará da Caça aos Ovos. Só ia porque me obrigaram. - Ele olhou para mim. - Não mais.

Sorri.

– Só vou porque… Hã… Acho que será emocionante. - Balancei minhas mãos. - Florestas, sons estranhos… Serras-elétricas. Algo assim.

Ele ergueu os cantos da boca.

– Entendo.

Ficamos em um silêncio constrangedor.

Eu queria me matar. Por que raios ele tinha que aparecer quando eu estava comendo porcarias? Arrisquei e olhei para ele.

Pedro estava encarando alguma coisa atrás de mim. Ele estava praticamente jogado no banco, na posição contrária que eu estava. Provavelmente estava perdido em pensamentos, por isso não se ligou muito.

– O que veio fazer aqui? - Perguntei, quebrando o silêncio.

– Vim dar uma relaxada. Estava lá fora já fazia um tempão. O Sol estava queimando minhas costas. - Ele se espreguiçou. - Tomei água, falei “oi” para as tias, comi umas frutas… E te achei aqui.

Assenti.

Ficamos em um silêncio de novo. Odeio quando isso acontece.

– Sabe… - Ele começou. - Eu não sei que fantasia irei usar na festa da Marcela.

Pisquei.

– Você também vai?

Ele deu de ombros, rindo.

– Me convidaram, poxa. Soube que vai ter umas piratas bem legais lá. - Ele falou casualmente.

Ri.

– Piratas são perigosas. Cuidado para não ser agredido pelos pássaros delas.

Pedro abriu a boca para dizer alguma coisa, mas a fechou instantaneamente, como se uma ideia lhe invadisse a mente.

– Já sei do que eu vou. - Falou, se sentando direito no banco.

– Do quê? - Perguntei.

Ele balançou a cabeça.

– Segredo.

Bati na mesa.

– Você em deixou curiosa. Fala! - Agarrei sua gola e o chacoalhei.

Ele sorria enquanto era chacoalhado.

– Katrina, você quer me desnudar? Que coisa feia.

Ele apertou minhas mãos e olhou meus lábios, travesso.

Ri.

– Olha, isso não passou pela minha cabeça. Mas pensando bem, é uma ótima ideia. - Brinquei, pegando a barra de sua camisa e a levantando com dificuldade, enquanto Pedro tentava bloquear as minhas mãos.

Ele pegou os meus pulsos e os colocou em cima da minha cabeça. Depois, ficou me encarando.

– Uma pena, pois eu não sou do tipo que é desnudado. Sou do tipo que desnuda.

Abri e fechei a boca.

– Uhm… - Ironizei, para desviar meu constrangimento repentino. - Quer dizer que você é do tipo que desnuda? Irei contar essa para o Jonas.

Pedro soltou meus punhos de leve. Ele me olhou por completo.

– Estou ansioso para sermos inimigos de novo. Quero ver seu potencial o máximo possível, bella.

Ele soltou os meus pulsos e se levantou antes que eu lhe desse uma bofetada. Pedro se afastou rindo, e me mandou um beijo ao sair. Lhe dei língua o caminho todo, e quando a porta do salão foi fechada, me sentei corretamente no banco.

Bati com as pontas dos dedos na mesa, e fitei a latinha de refrigerante à minha frente.

Dei um suspiro pesado, e quando dei por mim, o time de basquete já estava indo embora. O ala "boy magia" do Jonas foi embora olhando a mesa, como se procurasse por ele. Ele mordeu o lábio e andou na minha direção.

– Hã... Com licença, mas... Você viu o Jonas? - Sua voz era intimidadora, mas não havia sinal de crueldade em seus olhos.

– Ele... Saiu para pensar. - Falei simplesmente. - Talvez esteja confuso em relação aos seus sentimentos. - Dei de ombros. - Tá na hora de agir, rapaz. Pegue o Jonas.

Meu Deus. Como eu sou ruim no quesito relacionamento.

O garoto pareceu levar muito a sério o que eu disse. Foi embora assentindo e coçando a cabeça, como se estivesse matutando.

Comecei a me remexer no banco.

Olhei no relógio.

Onze e meia.

Me levantei devagarinho, e fui andando até a porta de saída calmamente.

Quando eu abri a porta, pensei que iria dar de cara com um Sol de rachar a cuca, mas ele - graças a Deus - fora tampado por uma nuvem gigante.

Ela parecia uma espaçonave feita de algodão doce. Pisei no gramado e fui andando entre os campistas, que estavam todos suados e ofegantes. Tentei achar Jonas ou Marcela, mas acho que os dois foram abduzidos.

Os monumentos de mármore daquele pequeno vilarejo estavam mais lindos do que nunca, se isso era possível. Fiquei hipnotizada por aquele relógio gigante, que avisava que eram onze e trinta e três. Os ponteiros eram todos de cobre, e os números estavam em romano.

Um vento forte soprou, fazendo com que os meus cabelos ficassem loucos, mesmo presos. Era mais do que óbvio que o lindo dia iria ficar chuvoso e frio.

Ótimo.

Quando achei que as coisas não poderiam ficar mais estranhas, uma carroça brotou na minha frente do nada. O cavalo que puxava a carroça era um pangaré branco. Mas o homem que a controlava era mais esquisito ainda.

Os cabelos eram grisalhos, e o rosto era enrugado. Tinha os dentes podres e usava um chapéu vermelho imundo. Ele ficou me olhando com atenção, enquanto mastigava algo que parecia ser capim. Do seu lado, em um saco mais sujo ainda, um cheiro horrível de peixe se alastrava por toda sua volta.

Tapei o nariz e tentei circundá-lo, mas o cavalo deu ré. Meu Deus, me senti uma idiota falando isso.

– Você… - Ele começou, me encarando. - É a minha esposa, Bel? Por que você morreu? Só porque eu sou peixeiro não quer dizer que você tenha que me abandonar. Sinto sua falta. - Ele começou a fungar.

Hã… Está mais do que comprovado que eu atraio gente estranha.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Olá novamente u-u
E aí, gostaram do capítulo? Sei que tá enorme, e era para ficar maior ainda, mas decidi cortá-lo no meio. É. AHUSUASHUAHUAS
Espero meeeesmo que vocês tenham gostado onigiris,
Comentem Bastante!