Garota-Gelo escrita por Bia


Capítulo 55
Minha Perdição


Notas iniciais do capítulo

Olá, onigiris u-u
Bom, antes das notinhas aqui de sempre, por favor, leiam esse meu comunicado u-u
Tem alguém muito feliz e saltitante no planeta Terra. E esse alguém sou eu. (ai, ai, ai, sou eu. Parei.)
Eu estou aqui exclusivamente para AGRADECER a todos vocês! Sério, vocês são incríveis. Recentemente, chegamos a um número incrível de visualizações, comentários e recomendações. E eu me sinto honrada de ter tanta gente legal comigo, acompanhando a história. Mesmo você, que não comenta, só lê, faz uma grande diferença no meu ânimo. "Por quê, tia Bia?" Porque, antes de começar a escrever, eu... Hã... Era depressiva. Passei por várias coisas ruins na minha vida, e a leitura e a escrita definitivamente me botaram para cima. E, principalmente, VOCÊS.
Todos vocês. O carinho que a história recebe, eu recebo, e os personagens recebem, é surpreendente! Eu me sinto de fato uma tia para vocês, e sempre, SEMPRE estarei aqui para apoiá-los. Eu amo todos vocês, do fundo do meu coração, porque além de serem extraordinários, são o meu refúgio desse mundo cheio de colapso.
Bom, agora vamos ao capítulo u-u Como vocês estão sempre colocando o carro na frente do bois, me pediram uma coisinha... Tá, eu atendi vocês. AHUSSUSAHUAHU Tá aí, o grande pepino da Katrina. Espero que vocês gostem. (Isso não soou muito bem. ASUHSAHHAUSAHU)
Boa Leitura! s2 (está muito difícil de se fazer coraçõezinhos hoje em dia ;-;)



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Fiquei encarando aquele velho que fedia a peixe podre.

– Você está me confundido. - Falei, cruzando os braços. - A sua esposa está morta. - Pensei nas possibilidades. - Nico não está aqui, então acho que você realmente é meio louco.

Tentei passar por ele, mas o cavalo deu uma relinchada e bloqueou o meu caminho. O velho ainda me encarava.

– Mas… Bel, você tem os cabelos vermelhos. As maçãs do rosto coradas e suas sardas são enormes. Como você pôde ter me deixado?

Sardas enormes?

Apalpei instintivamente meu rosto, deixando claro que eu não tinha gostado disso.

– Minhas sardas não são enormes. - Resmunguei.

O velho ia dizer alguma coisa, mas a professora de português apareceu do nada e ficou encarando o velho.

– Ei, peixeiro, vá encontrar o que fazer! - Ela ralhou, abanando os braços como se ele fosse um animal selvagem. - Deixe Katrina em paz! Vá, vá!

O velho me encarou por mais alguns segundos antes de estralar as rédeas em suas mãos, fazendo com que o pobre pangaré se mexesse como um pastelão.

Fitei a professora, que resmungava alguma coisa.

– Quem é aquele homem? - Perguntei.

Ela olhou para mim. Uma expressão engraçada estava em seu rosto, como se ela acabara de ver o Batman.

– Só o peixeiro da cidade. Ele é louco, não ligue. - De repente, a professora me lançou um olhar acusador. - Katrina, seu rosto está sem vida. - Ela vasculhou seu bolso, tirando um batom dali. - Passe um pouco.

Recuei, fazendo não com os braços.

– Não sou muito fã de batom, professora.

– É fã sim.

Ela se aproximou de mim rapidamente, e me agarrou pelo pulso. A professora passou uma camada de batom vermelho na minha boca, e depois retirou o borrado.

– Bem melhor.

Ela guardou aquele treco de volta no bolso, e olhou em sua volta.

A professora deu um suspiro pesado, como se estivesse cansada desse rotina cheia de gente espinhuda.

– Tenho tanto trabalho para fazer… - Ela suspirou, como se dissesse isso para si mesma.

E eu estava no estado ao contrário: não havia nada para eu fazer. Isso mesmo, nada, zero, bulhufas, coisa nenhuma, patavina, meu dinheiro, os seios da Valentina… - Não, espera.

Espera, que mentira! Eu tenho dinheiro, poxa.

Fiquei fitando o nada, enquanto ouvia campistas por aí, falando de alguém. Esfreguei meus lábios um nos outros, confiando no julgamento da professora. Coisa errada, eu sei.

Engraçado… Quando você está sem fazer nada, é como se o tempo simplesmente parasse.

Merda.

Observei tudo em minha volta, e eu parei meu olhar em uma árvore, um pouco afastada. Ela tinha galhos firmes e parecia ser velha. Suas flores eram brancas, e as folhas estavam verdinhas. Em um galho firme e robusto, a quatro metros do chão, um gato branco de olhos amarelos estava quase que petrificado, encarando a grama e tremendo.

Que irônico.

Me aproximei da árvore com passos lânguidos e fiquei fitando-o.

– Cai logo, gato. - O desafiei. - Vou ficar aqui e contemplar sua morte.

Já disse que odeio gatos?

São tão ariscos, bonitos e espertos. Argh. Além disso, são tenebrosos, porque lhe usam de escravo.

Parecem comigo.

O felino ficou me encarando com os olhos marejados, como se dissesse: humana, me salve, please. Juro que te mato por último.

O único problema é que eu não sou uma macaca, por isso não sei escalar árvores.

Dei de ombros.

– Se você se meteu aí o problema é seu, não meu.

Fiquei encarando aqueles olhos, que imploravam por socorro. Ele miou baixinho, e começou a tremer.

Um gato com medo de altura. Bem interessante.

Quando a gente faz uma coisa, não sabemos a densidade dela até que as consequências começam a aparecer.

Agarrei um galho e enfiei meu pé em um buraco no tronco. Usei minha força nos braços para me levantar, e agarrei um galho acima da minha cabeça.

Pisei na rama onde eu tinha pegado na última vez, e me lancei para cima.

Eu provavelmente já estava a um metro do chão, mas eis uma vantagem de ser eu: não tenho medo de altura.

Não mais.

Avancei mais um pouco, e coloquei meu cotovelo em um galho acima de mim. O desgraçado estava cheio de borboletas, e elas voaram na minha cara. Uma enorme pousou na minha testa, e se eu não estivesse a alguns metros do chão, teria um ataque epilético.

Balancei a cabeça para que a cretina saísse de mim, e ela voou para longe.

Dizem que se uma borboleta por acaso ficar apegado a você, significa que ela era um ente querido que já falecera. Ah, isso não ajudou muito, eu sei.

Estiquei minha mão para cima, agarrando outra rama. Usei este com as borboletas de apoio para os pés, e me sentei naquele mesmo. O gato não estava tão longe mim assim. Estávamos quase nivelados.

Me sentei nesse mesmo galho e fiquei balançando as pernas, me sentindo minúscula por estar tão longe do chão.

O gato me observava com atenção, como se estivesse cético que eu iria lhe salvar.

Espera… Meu Jesus.

Katrina” e “salvar algo” nem fazem sentido numa mesma frase.

Acho que é o meu fim.

– Ei, o que diabos você está fazendo? - Uma voz conhecida me pegou de surpresa.

Olhei para baixo, e sorri ao ver Jonas. Ele estava com o rosto vermelho, e a sombra de um quase-riso estava em seus lábios.

– Oi, cowboy. - O cumprimentei. - Para falar a verdade, nem eu sei.

– Você vai cair, cuidado. - Ele olhou para o gato. - Não me diga que… Você está salvando um gatinho?

Dei de ombros.

– Acho que sim.

Ele juntou as sobrancelhas.

– Quem é você e o que fez com a Katrina?

Soltei um risinho e olhei para o bichano.

– Vem aqui, gato. - Falei, esticando as mãos.

Mas ele apenas me ignorou e fincou suas garras no galho.

– Katrina… Desça, vamos chamar os professores… - Jonas me avisou. - Você vai cair.

– Bobagem. Não sou tão pesada assim. - Falei, dando de ombros.

Uma lição para você: nunca duvide de Jonas.

O galho onde eu estava fez um barulho estranho. Era como se ele… Rachasse.

Dei um grito meio histérico quando a rama se rachou por completo, e eu fui para o chão. Mas algo estranho aconteceu.

Jonas se esquivou bem na hora em que o galho caiu com força na grama, e ficou me encarando, cético.

Minha camiseta ficou enganchada em um galho forte logo abaixo. A ponta do galho arranhou as minhas costas num certo ponto, e saiu pela gola. Eu estava me sentindo igual a um poodle.

Várias borboletas e bichos estranhos voaram na minha cara. De novo. Uma lagarta verde começou a se mover no meu cabelo, e eu somente dei um peteleco nela, fazendo-a voar para longe.

Fiquei balançando minhas pernas a pelo menos dois metros do chão, e comecei a entrar em desespero, pois a camiseta estava começando a rasgar.

Acho que preciso fazer um regime.

Jonas veio correndo na minha direção; ele esticou os braços e ficou nas pontas dos pés, apertando minhas canelas. Estava com uma expressão de desespero no rosto.

– Katrina, calma! Eu vou chamar ajuda!

Eu estava com dor. Você já ficou pendurada pela camiseta?

É horrível. Parece que seus seios estão prestes a explodir ou voltar ao tamanho de uma ervilha.

Jonas corria de um lado para o outro, gritando por socorro.

– Grita mais alto, Jonas! - Berrei para ele. - Brasília ainda não escutou!

O galho começou a vergar, e eu entrei em um desespero controlado.

JONAS!– Gritei, agora impaciente - Estou morrendo!

Ele me olhou, desesperado. Antes que falasse alguma coisa, começou a correr em direção à quadra.

Bufei, completamente rendida e olhei para o gato um pouco acima de mim.

– E só para constar, eu te odeio. - Falei. - Tomara que caia daí e vire churrasco de cachorro.

Ele miou, parecendo indignado.

Meu ódio por gatos aumentou quando aquele felino desgraçado simplesmente pulou do galho dele e voou para o meu, se sentando na minha cabeça como se nada tivesse acontecido.

Tentei espantá-lo com as mãos, mas isso não adiantou.

O galho já vergado começou a se inclinar mais ainda, e eu escutei sons de rachaduras.

Eu fiz um som parecido com o de um hamster: “iiiiiiiiiiiiih” quando senti o galho balançar.

– Gato, sai de cima da minha cabeça, porque se não é gato e Katrina mortos. - Gritei, abanando os braços.

Ao longe, percebi um fuzuê de alunos vindo correndo para me ver.

Meu Deus, eu odeio o Jonas do fundo do meu esôfago.

Só que dá para piorar.

Sempre dá.

O gato infeliz, obviamente assustado, decidiu dar uma passeada pelo galho. Ele se sentou na minha camiseta, e para não cair, fincou as garras nela.

Que delícia, cara.

Minha camiseta rasgou por completo atrás, e eu fui beijar o chão. Dei um grito histérico enquanto caía, e fechei os olhos com força.

Eu pude ouvir vários tipos de sons. O farfalhar das folhas, gritos histéricos por todos os lados e a minha própria respiração. Depois de um breve tempo eu me toquei que não me choquei contra a grama. Na realidade, o que eu senti fora mãos prensando minhas pernas e minhas costas.

Eu fui pega.

Acho que posso começar a comemorar internamente.

Abri os olhos devagarinho, contemplando meus joelhos, e olhei para a pessoa que me segurava.

Meu Santo Cristo. Por que, sempre, ele? É armação para cima de mim, só pode.

Encarei um rosto todo suado e vermelho por causa de uma provável corrida. Os olhos geralmente enegrecidos, estavam com um toque de brilho especial.

Timing perfeito, eu diria. - Pedro comentou, soltando um riso cansado.

Sorri.

– Acho que sim.

Pedro me ajeitou nos braços - me jogando para cima de uma forma bruta - e escorregou sua mão para dentro da minha camiseta partida, tocando sem querer - ou não - o feixe do meu sutiã. Seus dedos tocaram meu corte causado pelo galho, e eu murmurei algo parecido como um “ai”.

– Megera, se não for muito constrangedor, pode me dizer o que raios estava fazendo lá em cima?

Eu ia abrir a boca e dizer algo super sensato, como: estava escalando uma árvore para salvar um gato; mas, como seu disse, “salvar” e “Katrina” não são palavras que passariam uma noite de amor.

Os alunos que estavam acompanhando Pedro começaram a xeretar nossa conversa, provavelmente intrigados com a minha situação… Uhm… Digamos, inusitada.

Empurrei meu carregador pelo peito.

– Me coloca no chão. - Falei, de forma seca.

Pedro deu um risinho de forma matreira.

– Não antes de me disser o motivo de estar pendurada em uma árvore. - Ele estreitou os olhos. - Acho que mereço saber.

Balancei a cabeça de forma tediosa.

– Estava tentando salvando um gato. Satisfeito? Chão. Please.

Pedro me olhou, completamente espantado.

Fiquei um pouco decepcionada, admito.

– Duvida de mim. - Falei, cutucando seu ombro de forma exasperada. - É, eu sei, até eu duvido de mim. Faz parte. Agora me desça antes que nos fotografem e inventem coisas na internet.

Fiquei encarando o pessoal atrás de nós, que murmurava, impaciente. Jonas tentava espantá-los, dizendo que “não há nada aqui para vocês!”, sendo que a culpa da multidão era exclusivamente dele.

Voltei meu olhar a Pedro, que me encarava com uma sobrancelha levantada. Já ia obrigá-lo a me largar no chão, mas algo em sua expressão me impediu. Não havia um pingo de acanhamento, espanto, surpresa, nem nada do gênero.

Só… Admiração. É, é esta a palavra.

Não sei exatamente o porquê daquilo, mas sempre que Pedro me olhava de uma forma diferente do habitual, um relâmpago de espasmos me atingia em áreas extremamente estratégicas.

Engoli em seco, e pensei em algo muito bom para dizer, para afugentar o constrangimento. Mas ele foi mais rápido verbalmente.

– Não estou duvidando de você.

Olhei para ele.

– Pedro… É absolutamente normal você desconfiar de mim. Eu mesma desconfio de mim. É óbvio que eu não me encaixo no requisito “boa menina, estudiosa e inocente”, estou mais para “marginal, descontrolada, vendedora de órgãos e traficante”. Por isso, é mais do que óbvio que alguém desconfiaria de mim. - Falei, piscando os cílios.

Pedro me encarava apático. Os alunos já estavam se dispersando, indo embora para seus respectivos lugares e afazeres, um pouco chateados por não haver mortes.

Ele não me colocou no chão. Bati levemente em seu ombro proeminente, e, não sei porquê, passei a unha no seu pescoço.

Pedro me colocou no chão com brutalidade, de repente, como se eu fosse um saco de batatas.

Cambaleei para trás, surpresa com o toque repentino dos meus pés de encontro ao chão.

– Meu Deus, é bom estar no chão novamente. - Falei, animada. Olhei de relance para Pedro, e acho que ele não estava muito satisfeito. - Você não disse nada em relação as minhas cruéis verdades. Então, devo justificar seu silêncio como…

Mas eu fui calada.

E que forma de calar alguém.

Pedro juntou nossos lábios com violência, fazendo com que a minha mente muito sábia, distinta e voraz se transformasse em um simples pepino.

*

Aquilo definitivamente foi a minha perdição.

Por que, Katrina? Não é macho o suficiente para aguentar um beijinho do Pedro?

Não, rapá. Você não está entendendo a situação.

Pedro, com a mão direita, deslizou sua mão para a minha cintura, me aproximando de si. E com a esquerda, segurou o meu queixo para o beijo nada formal.

Como minha mente tinha virado um pepino, eu não estava conseguindo raciocinar.

Lancei minhas mãos para o seu pescoço e agarrei seus cabelos. Tentava corresponder seus movimentos, mas ele beijava com habilidade; uma habilidade que no caso, eu não tenho.

Ele largou o meu queixo e segurou a minha cintura com ambas as mãos, tentando me nivelar com a sua altura. Acabei ficando nas pontas dos pés.

A sutileza de costume, - presente até em sua escrita - desapareceu por completo. Na realidade, o beijo do Pedro não chegava a ser feito com violência, e sim com ferocidade.

Os alunos, graças a Deus, já tinham ido embora, e só sobrou Jonas, que murmurou, ríspido, algo como encontrar uma camiseta para mim.

Sua mão passeava em torno das minhas costas, por cima da roupa, me apertando cada vez mais para si. Pedro começou a andar - praticamente me carregando -, e bateu minhas costas de leve no tronco da árvore. O ferimento causado pelo galho foi arranhado, e eu gemi algo como resposta.

Eu já estava ficando sem ar, por isso, me afastei, empurrando seu peito. Aquele movimento foi feito com uma dificuldade excessiva. Ele ainda me segurava pela cintura, ofegante.

Fiquei encarando aqueles olhos negros, que estavam com um brilho agigantado. Sua boca estava toda vermelha por conta do batom, e ele sorria, sacana.

Ofeguei alguns instantes, passando a mão no cabelo.

– O que foi isso? - Perguntei, um pouco envergonhada.

Pedro deu de ombros, enquanto limpava de leve a boca borrada.

– Um beijo, é claro.

O fuzilei com o olhar.

Por que fez isso?

– Você não ficava quieta. Apenas te calei do meu jeito. - Ele disse, como se aquilo fosse absolutamente normal. - E também… - Ele pareceu pensar por alguns instantes. - Temos alguns assuntos pendentes.

Meu coração estava descompassado. O meu cérebro - lê-se “pepino” -, não estava raciocinando. Eu me esqueci até do meu nome naquele instante. Era algo terminado com “a”, eu acho.

A boca do garoto estava entreaberta, também respirando com dificuldade. Ele me olhava com travessura, pronto para atacar novamente.

Ele colocou seu braço no tronco da árvore, bem em cima da minha cabeça.

Eu queria que um buraco se abrisse sob os meus pés, bem naquele instante.

Antes que eu fugisse, Pedro pressionou seus lábios novamente nos meus, com calma. Fechei os olhos, e deslizei minhas mãos pelo seu peito, apertando seus ombros. Ele deslizou a mão que estava no tronco para minhas costas, me aconchegando contra ele.

E aí eu fiz besteira.

Ah, fiz sim.

Mordi seu lábio com vontade. E muita força, também.

Acho que o italiano levou um susto com o toque repentino. Ele murmurou algo enquanto nossos lábios guerreavam, e deslizou uma de suas mãos para a minha cabeça, apertando-me com suavidade. Ele intensificou o beijo, o tornando um tanto quanto rude.

Era como se jogassem brasa nas minhas pernas. Além de terem ficado bambas.

Pedro beijava bem.

Eu acho.

Eu não tenho experiência no quesito relacionamento, porque eu só beijei dois caras na minha vida.

Mas eu sabia que era diferente com ele.

Pedro era prudente em seus toques cálidos. Respeitando-me ao espalhar carícias pelo meu corpo. Porém, ele ainda conseguia fazer com que alguém como eu perdesse as pernas em algum lugar por aí.

Meu machucado raspou novamente na árvore, e eu abri a boca para reclamar no meio do nosso toque íntimo. Pedro retirou seus lábios dos meus com dificuldade, logo depois apertando minha bochecha com suavidade. Ele me encarou, parecendo extasiado. Agora, sua boca estava ainda mais vermelha, e havia um corte no lábio inferior. A minha boca não devia estar diferente.

Ele lambeu os lábios, satisfeitíssimo e sorriu para mim.

Isso que eu chamo de beijo, Katrina. Tente salvar mais gatos por aí. - Ele acariciou a minha orelha.

Lhe dei língua.

– Cadê toda aquela sutileza, senhor eu-sei-beijar-muito-bem?– Falei em tom de ironia.

Ele deu de ombros e olhou para os lados.

– Deixei em São Paulo. Em alguns momentos, nós temos que deixar a delicadeza de lado. - Ele ergueu uma sobrancelha. - Não acha?

Queria responder algo muito sensato. Como: “vá se lascar”, mas o máximo que saiu foi um grunhido alto.

Olha só, pepino entrando em ação.

Isso não soou muito bem.

*

Olha, eu não sou de ficar vermelha. Mas eu tinha ficado. Minha boca estava toda borrada, e eu parecia o Coringa. Me limpei com a barra da camiseta, mesmo, e fiquei espiando enquanto Pedro observava o gatinho que eu supostamente salvara, e que esse tempo todo ficou escondido numa moita.

Ele se sentou no chão, encostou-se ao tronco da árvore e carregou o gatinho como se ele fosse um bebê. Eu estava agachada em um canto qualquer, usando seu celular de espelho.

Arrumei meu cabelo - já que estava parecendo um ninho de ratos - e o rubor das minhas bochechas desaparecera.

Voltei a ser a Katrina de sempre. Sem o pepino, é claro. Ele só vem em momentos como estes; onde eu ficava sem raciocinar.

Acariciei meus seios, que ainda estava doloridos, e me virei para andar na direção dele, e, quando cheguei perto, lhe estendi o celular. Pedro o pegou, tocando de propósito meus dedos - isso causou uma cócega no meu rim - e o guardou no bolso da calça. Depois que ficamos em um pequeno silêncio, ele me deu um olhar astuto.

– Acho que vou ficar com ele.

Pisquei.

– “Ele”?

Pedro assentiu e olhou para o bichano.

– Provavelmente ele não tem um dono. Me corta o coração ver eles abandonados assim. Vou levá-lo para casa. - Ele pareceu pensar por um instante. - Não tem um nome ainda. Tem alguma ideia?

O bicho se contorcia e ronronava nos braços de Pedro. A ideia de ser levado para casa pareceu lhe cair muito bem.

Pensei por um instante.

– Que tal… Uhm… Duque?

Pedro juntou as sobrancelhas, e olhou para seu novo amigo.

– Duque. - Ele repetiu. - Está mais para um nome de cachorro. Mas, como foi você que escolheu… Talvez eu leve-o em consideração.

E foi aí que me toquei.

Que… Que… Calúnia! Isso é falta de gratidão da parte do gato. Eu o salvei, não o Pedro.

– Gato ingrato. - Rosnei. - Até rimou, olha só.

Por que será que todos os seres vivos correm do meu, para o colo do Pedro? Isso é uma escolha ridícula. Aposto que é por causa da culinária dele. Qual é, o que vocês têm contra miojo?

Eu já ia armar o maior barraco ali, mas Jonas pintou ao longe, saltitando na nossa direção. Pigarreei, lembrando que ele viu… Aquilo.

Algo quente dominou novamente meu corpo. Meu Deus. Hora de ter uma conversa bem pessoal comigo mesma. Ah… Isso foi um tanto quanto redundante.

Então, um súbito pensamento veio passear na minha mente.

Pedro meio que teve um beijo-não-beijo com a professora de português. Isso me fez dar risada.

Antes que eu voltasse à realidade, Jonas parou na minha frente, com cara de quem sabe as coisas. Um pouco malicioso, mas não tiro a razão dele. Ele fez um movimento estranho com as sobrancelhas, me me entregou uma camiseta regata nova.

– Olá, Pedro. - Ele o cumprimentou.

Pedro ergueu o olhar do seu mais novo bicho de estimação.

– Oi.

Peguei a camiseta de suas mãos com brutalidade e me encaminhei para trás da árvore.

Tirei aquele pedaço de pano e vesti rapidamente a regata. Ela era soltinha, e as alças era pretas, e todo o resto branco. Minhas costas ardiam por conta do machucado, que provavelmente estava sangrando.

Não iria perder a oportunidade de jogar aquele gato pela janela.

Joguei aquele pedaço de pano na cara do Jonas, e ele praguejou alguma coisa. Jonas estendeu a peça e ficou bobo.

– Tem sangue aqui. - Ele pareceu ficar preocupado. - Nesse pedaço cortado da camiseta.

Pedro ergueu o olhar do felino e olhou para mim, as sobrancelhas juntas.

– Sangue? - Ele perguntou, com preocupação exalando de seus ouvidos.

Assenti, já sabendo do que se tratava.

– É o meu machucado. Mas não tem nada de mais.

Jonas, de uma maneira bem atrevida, me pegou pelos cotovelos e me virou de costas. Ele ergueu a minha camiseta, revelando minha costas. Jonas soltou um grito de horror.

– Você está brincando! O machucado está cheio de terra e só falta jorrar seu cérebro daqui.

Revirei os olhos.

– Dramático.

Pedro se levantou em um sobressalto, vindo na nossa direção. Ele colocou o gato no ombro, e eu abaixei a minha camiseta instintivamente.

– Katrina, vamos; vou levá-la à enfermaria. - Ele pegou o meu punho. - Isso pode inflamar.

Engraçado, isso não é uma pergunta. E sim uma afirmação.

Como se eu concordasse.

Jonas agarrou o braço de Pedro. O italiano olhou, surpreso para ele.

– Não se preocupe tanto com a megera. Eu cuido dela.

Pisquei, incrédula.

Jonas me pegou pela mão e me levou - completamente a força - para a enfermaria.

Pedro só concordou com a cabeça e voltou sua atenção ao gato. Achei que ele estava prestando atenção demais naquele bichano.

Quando já estávamos longe dele, me aproximei de Jonas.

– O que está fazendo? - Cochichei.

Ele sorriu, de modo malicioso.

– Preciso saber os detalhes.

Pisquei.

– Que detalhes? E do quê?

Ele parou bruscamente sua caminhada, me encarando, tedioso.

– Do beijo, é claro! - Ele semicerrou os olhos. - Vi Pedro em ação, tenho que saber os detalhes; e, na minha humilde opinião, você estava completamente acalorada.

Mordi o lábio, não querendo contar absolutamente nada, com vergonha exalando.

*

Quando chegamos à enfermaria, eu acabei dando com a língua nos dentes.

Tirei a camisa e fiquei sentada em uma maca, enquanto Jonas limpava o ferimento.

– Uhm… - Ele observou. - Então, o negócio foi bom, hã? Da última vez que vocês dois tiveram algo assim… - Ele deu um muxoxo e pressionou o algodão cheio de água oxigenada no machucado. Gritei por causa da dor.

– Ei! - Berrei, desaprovando completamente sua ação. - Isso dói!

Ele riu.

– Em parte, você merece. Em outra, obrigado.

Pressionei os lábios.

– Hã… “Obrigado”? Devo saber quais das minhas várias ações boas foram finalmente valorizadas?

Ele apertou o algodão com mais força.

– Você me ajudou com… Hã… Você sabe, aquele meu problema amoroso.

– Uhm, sei. - Apertei minha camiseta, que estava no meu colo, por conta da dor. - E qual foi o resultado? - Grunhi.

Jonas fez um pequeno curativo ali. Ele me deu um tapinha nas costas, sinalizando para que eu me vista.

Coloquei a camiseta antes que você pudesse dizer: “almôndega”. Jonas se sentou na maca, parecendo pensativo.

– Acho que… Se eu tiver um pouquinho de sorte, aconteça. - Ele deu de ombros.

Bati no ombro dele.

– Eu não sei o que dizer, mas… Hã… Boa-sorte.

Ele olhou para mim, sincero.

– Muito obrigado. E… Boa-sorte, também. Você precisa mais do que eu.

Eu ia dizer alguma coisa, só que a professora de português entrou, parecendo irritada.

– Aí estão vocês, bonitos! Estou procurando-os faz tempo!

Me entreolhei com Jonas.

– Estão atrasados! - Ela ralhou, jogando as mãos para a cintura.

Instintivamente, olhei para o relógio.

Eu não podia acreditar no que os meus olhos viam.

Duas e cinquenta e três.

– Mentira! - Gritei, estupefata. - Só se passou alguns minutos!

Ela bateu com a pasta na minha cabeça.

– Ainda bem que eu chequei! Vocês dois ficariam aí, que nem dois bocós, pensando que ainda não é hora da Caça! Vão, vão!

Ela abanou as mãos de um jeito bruto, então eu e Jonas saímos correndo do cômodo.

*

Eu não sei como eles fizeram aquilo, mas chegava a ser tenebroso.

As mesas do café da manhã desapareceram.

No lugar, vários campistas murmuravam alguma coisa.

Eu não havia notado, mas aquela “floresta” era enorme. Cobria desde o espaço onde estávamos com a barraca desde a outra ponta do campo, se perdendo das minhas vistas.

Era praticamente impossível encontrar simples cinco ovinhos por aí.

Isso me deixou mais animada.

O clima já não estava tão quente como antes. Nuvens cobriam o céu, e brisas batiam de leve nos meus cabelos desgrenhados.

O treinador deu para mim uma cestinha. Dentro dela, um pano branco de algodão se acomodava, obviamente para que os ovos não se choquem e quebrem. O paninho de Jonas era vermelho, e creio que ele não gostou muito.

Marcela tinha desaparecido desde a ligação para o pai. E, por incrível que pareça, eu fiquei preocupada. Pedro entregara o gato para algumas meninas que observavam tudo, acanhadas.

O pano dele era azul. O maldito estava uns cinco campistas longe de mim.

– Tudo bem, turma! - O treinador gritou, soprando o apito logo depois. - Quando vocês terminarem de achar todos os ovos, retornem. Felizmente, somente dois alunos encontrarão todos. Quando os dois tiverem voltado, assoaremos um apito que dá para ser ouvido a uma distância de cinquenta quilômetros. Tomem cuidado, e não sejam mortos.

Ótimo incentivo.

Ele soou um apito, e os estudantes foram de forma lenta de encontro o lugar.

E… Meu Deus.

As árvores eram todas agrupadas, e a luz invadia fracamente o lugar. Se ouvia sons estranhos, como de pássaros sendo enforcados, cachorros sendo mortos e… Galhos se rachando.

Eu sempre fui reto, em uma trilha um pouco iluminada. O som que as folhas faziam era relaxante, e se via todo tipo de flor. De certo modo, o lugar era agradável. Se eu não tivesse a terrível sensação de estar sendo observada.

Eu estava tão hipnotizada, olhando a copa das árvores, o jeito com que elas se mexiam, os sons magníficos de certos pássaros que eu não notei que Jonas tinha tomado outro rumo.

Quando percebi, parei bruscamente, atordoada. Não havia nada em volta de mim. Somente árvores, arbustos, uma trilha que dava para o escuro e…

Um esquilo que me encarava de uma maneira assustadora.

Ele segurava algo parecido com uma noz. Só que era maior e… Azul.

Sorri angelicalmente para ele. O esquilo fungava o nada com o nariz pequenino, e estava um tanto acomodada em um galho forte.

– Ei, amigo… - Comecei, me aproximando dele. Torci para que o meu destino seja melhor do que o da Veruca Salt. - Engraçado o que você tem em mãos, hein? Não quer dá-lo para a tia?

O esquilo me encarou. Eu estava me cagando de medo, admito. Porque ele se parecia com um rato.

Agarrei com força e rapidez o ovinho em suas patas. Olha, se não fosse um absurdo, diria que ele fez uma cara dramática, como se estivesse realmente chateado.

Engoli em seco e coloquei o ovo cuidadosamente na cesta.

Fiz tchau para o coitado, e me senti meramente vitoriosa.

– Isso é um começo… - Murmurei. - Ótimo, agora só faltam quatro.

Mas, ainda sim, é um começo.


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Notas finais do capítulo

Olá, onigiris *u*
Tá, eu não resisti. Esse esquilo me seduziu, hahaha u-u
E então, o que acharam do pepino da Katrina? UHSUSAUHSHUSAHU Já ficaram com o pepino alguma vez? HUASHSASHAUSAHU
Bom, espero que vocês tenham gostado,
Comentem Bastante!
PS: O capítulo era para sair ontem, só que deu uma chuva desgraçada, e a net não pegou. O.k., universo, pode parar de conspirar contra mim. Obrigada, de nada. -n