P. O. V Nico:

Eu considerava química desnecessária... Considerava a escola desnecessária, para ser sincero, no entanto até que estava gostando da forma como a Sra. Eastwick explicava a matéria para nós e nos deixava a vontade para tirarmos dúvidas e tudo mais. Me senti tão inspirado, que até mesmo tirei da mochila os óculos que raramente usava ― conseqüência de tanto viajar pelas sombras e ter uma péssima alimentação. ―, e os coloquei para enxergar melhor. Porém, o que eu realmente gostaria de ter, era algo que tampasse meus ouvidos.

― Eu odeio química! ― Thalia reclama pela enésima vez ao meu lado, e eu finjo mais uma vez que não estou ouvindo. ― Nico, fala alguma coisa!

― Alguma coisa! ― murmurei no automático, enquanto tentava encontrar o número de átomos existentes em dois mols de cloro.

― Affs, para de criancice, conversa comigo! ― ela pediu, puxando a manga do meu blazer.

― Thalia, minha fofa, não sei se você reparou, mas temos alguns exercícios para fazer! ― puxei o braço para longe dela. E ao fazer isso, reparei nos nossos pés. ― Resolveu me imitar?

― Como? – ela perguntou e eu apontei para baixo, para nossos coturnos. ―Ah, bom, não tenho culpa se temos gostos parecidos! ― ela deu de ombros.

― Bom, turma, eu quero esses exercícios prontos, na próxima aula. As duplas que entregarem tudo correto, ganha meio ponto na média. Estão dispensados! ― a professora nos libera, no exato momento que o sinal toca.

― Próxima aula? ― Diamond pergunta, se aproximando de nossas mesas.

― Matemática! ― exclamei decepcionado.

― Inglês! ― Thalia disse, com uma careta... Provavelmente muito parecida com a minha.

― O que foi? ― Diamond questiona, preocupada

― Tenho dislexia! ― Thalia fecha ainda mais a cara.

― Não tem problema, a Catarina também tem, e tem um tutor ajudando-a! Acho que você também consegue um! ― ela sorri. ― Venha, vou levá-la para a sua aula, e depois, nós vamos para a nossa, Nico!

― Quantas aulas temos juntos? ― perguntei, sentindo-me um pouco incomodado por sua presença.

― Hoje só essas duas, mas pelo que to vendo no seu horário, temos mais duas ao longo da semana, então, são quatro por semana! ― ela sorri.

Só eu me sinto incomodado com tantos sorrisos?! Estamos em uma escola, não em um consultório dentário.

― Ok! ― respondo e a sigo, junto com Thalia, para a sala de Inglês.

― Vocês estão combinando! – Diamond repara.

― Temos estilos parecidos! ― respondemos ao mesmo tempo, nos encarando por um tempo. Chego a me sentir tentado a fazer alguma brincadeira com Thalia, a respeito de falarmos juntos, mas desisto: ela parecia tão irritada quanto eu, e eu não estava a fim de levar um choque.

― Ah, sim! ― ela perde o interesse, voltando a olhar para frente. ― Sam!

― Di, e aí? ― um menino de olhos verdes aparece, e abraça Diamond por um tempo ― Oi, princesa!

― E aí, Skater? ― Thalia o cumprimenta, e tenho que me segurar para não rir.

Thalia uma princesa... Pois sim... Era mais fácil eu ter esse título...

― Conhece ele? ― pergunto no que deveria ser um sussurro, mas acredito que perdi a habilidade de ser discreto desde que comecei a andar com o chalé sete.

― Relaxa, bro! Se ela é tua mina, pode acreditar que não rola nada! ― o tal de Sam responde ― Sou Sam Becket!

― Nico di Angelo, e ela é só minha amiga! ― respondi constrangido.

― Ah! Mas você falou com tanto... ciúme, que... Enfim, esquece! Que aulas vocês têm agora? ― Sam, por sua vez, parecia estar desconfortável também.

― Matemática, e você? ― Diamond pergunta.

― Dependência de Inglês! Sorte minha eu ser tutor de uma poetisa!

― Ah, é mesmo, você é tutor da Lyra! Ou seja, tem aula junto com a Thalinda aqui! ― Diamond abre mais um de seus sorrisos. ― Se incomoda de ir com ele para a aula? Assim não nos atrasamos!

― Imagine! Boa aula! ― Thalia rapidamente diz e sai com o skatista.

Quase pedi que ela voltasse e me livrasse da senhorita sorrisos, no entanto mal tive tempo para isso: logo estava sendo arrastado para a aula de matemática que, diferente da aula de química, em nada me interessou.

P. O. V Valentina:

Estar, praticamente, em família foi o que me impediu de surtar na primeira aula. Tanto minha cunhada, quanto minha gêmea, tiveram aula de história comigo, e poder conversar com Stephanye e Catarina foi reconfortante. 

― Quantas mensagens você recebeu desde que saiu do Acampamento? ― Steph pergunta. Estávamos caminhando para a aula e Inglês, a segunda do dia. 

― Acho que mais de 50! ― respondi, digitando uma resposta para Eleazar, que me contava sobre seu dia na faculdade, e seu colega geek.

― Quantas não têm a expressão “eu te amo” nelas? ― Lyra pergunta.

― Muitas! – mentira, só duas não tinham.

― Aposto que ta mentindo! ― e chegou quem faltava.

― Pelo menos alguém me ama! ― assenti para Thalia, que estava pegando no meu pé desde que voltamos da missão. Ainda não conseguira decifrar se era uma brincadeira, ou se ela realmente me odiava.

― Gente, não rasguem seda! É muito cara, e preciosa! ― um menino de olhos verdes, que andava ao lado de Thalia, disse.

― Ele é filho de Afrodite? ― perguntei mentalmente à Lyra.

Esse era um poder incomum, que sequer fazia parte dos inúmeros poderes de Apolo. Havíamos herdado essa habilidade mental de nossa mãe, que mesmo humana parecia ter uma mente forte... O que era um desperdício, considerando o quão malévola aquela mulher podia ser.

― Não que eu saiba! Mas bem que poderia.

― Ei, você tem namorado!

― Vai dizer que ele não é bonito?

― Ele é, mas...

― Maninha, somos filhas de Apolo, pra que você acha que ele tem 9 musas?Pra se inspirar. Eu tenho um namorado, amigos loucos, irmãos pirados, e o pessoal da escola.

― Ué, Cathy, ta andando com um espelho por aí agora? ― o garoto pergunta, e sinto a mente de Catarina se toldar para a comunicação.  

― Sam, essa é minha gêmea, Maria Valentina! Maninha, esse é Sam Becket, meu tutor de inglês! ― ela nos apresenta brevemente.

― Ei, você também escreve poemas? ― Sam se aproxima, parecendo ser simpático.

― Se escreve, todos são sobre amor! ― Thalia zoa.

― É porque eu tenho um coração, Lia! Diferente de certas capricornianas que conheço...  ― sim, eu sabia que aquarianos não eram muito diferentes de capricornianos, mas é sempre bom ressaltar que Thalia Grace, geralmente, agia como se tivesse uma pedra no lugar do coração.

― Vocês se odeiam? ― Sam solta a pergunta de ouro, para a qual eu não tinha resposta.

― Não sei! Pergunte a ela! Talvez seja apenas inveja por eu ter um namorado e ela não!

― Ai, você é má! ― Steph ri, balançando a cabeça negativamente para nós. .

― Mas é verdade, ela começou a implicar comigo de um dia pro outro, eu hein!

― Sem meias verdades, ela vem se apresentado. Ei você, é da minha gêmea que to falando. ― Catarina começou ― Acho que vou virar rapper!

― Seu papai morreria de orgulho! ― Thalia ironiza, revirando os olhos.

― Tia Dite surtaria e eu não posso fazê-la surtar agora! ― Catarina murmura, parecendo perdida em pensamentos.

― Não perguntarei por que isso, mas acho que você poderia seguir com o rap! ― dei de ombros. ― Enfim, me perdi: sobre o que falávamos?

― Se você escrevia poemas! ― Sam me recorda.

― Ah, sim, eu escrevo! Faz tempo que não faço isso, mas eu escrevo! ― respondo, embora ainda não entendesse o porquê de seu interesse.

― Vai se dar bem nessa aula então! Steph, vai ter inglês também?

― Não! Eu tenho Artes agora, junto com a Agatha e a Aria! Aliás, eu tenho que ir! ― e minha cunhada colorida sai correndo.

― Então, sobramos nós três e a Maite, que já deve estar na sala. – Sam diz, nos apressando em direção à aula, seguindo por um corredor longo, que dava em uma porta vermelha que, ao ser aberta revelou uma enorme sala, que mais parecia uma biblioteca. ― Falem com a senhora Delavie, ela irá lhes indicar um tutor e o lugar para sentarem. ― ele disse, e se afastou junto com Cathy, que se sentou ao seu lado, numa mesa redonda.

― Espero que não fiquemos na mesma mesa. ― Thalia sussurra para mim.

― É, porque passar duas horas com você, sem fazer sua alma sair do seu corpo, vai ser bem difícil! ― minha paciência já tinha morrido.

P. O. V Thalia:

Eu adorava Valentina, de verdade. Adorava-a tanto quanto gostava de Catarina: as gêmeas muito me lembravam de Annabeth, quando éramos mais novas. Lidar com as duas me fazia questionar se teria sido assim caso eu não tivesse ido para a caçada e sim seguido uma “vida normal”. Eu as tratava da mesma forma implicante que tratava Percy e Annabeth, e adorava ver suas reações a isso: Catarina já se acostumara, mas Valentina ainda me encarava como se quisesse me matar.

Isso me matava era de rir.

― Tá andando muito com o Nico! ― reclamei, após a ameaça de morte.

― Com ciúmes dele? ― ela perguntou, e aquele mesmo brilho brincalhão dos olhos de Apolo estava presente nos olhos azuis dela.

― Seria falta de tempo, não? Com todo o chalé 10 caindo aos pés dele! ― respondi, lembrando-me do verão: os suspiros das filhas de Afrodite eram audíveis por todo o acampamento quando Nico resolvia aparecer. ― E além do que...

― Você se garante: é, eu sei! ― ela sorriu, e foi até a mesa da professora. ― Licencinha, somos novas aqui, e...

― Ah, sim, as meninas com dislexia! ― a professora se levantou, observando as mesas. ― Hum, vejamos, cada tutor pode ficar com até dois iniciados. Bom, vocês podem escolher ficar com o Sheldon e a Maite, ou com o Sam e a Catarina!

― Eu vou...

― Hey, Cathy, boas notícias, vai estudar com sua tia! ― disse, enquanto andava até a mesa dela, impedindo Valentina de falar.

― Senhora Delavie, não posso estudar com minha gêmea, não? Ela é legal, bonita, inteligente, poetiza e não vai tentar me matar. ― Catarina pergunta.

― Não! ― a professora respondeu, e começou a aula.

― Relaxe, acho que sua irmã vai se dar bem com sua amiguinha! ― eu disse, sentando-me ao seu lado.

― Não se Maite começar a dar em cima do Eleazar, ou falar em como ela quer um ménage! ― Lyra diz. ― Não queremos uma cena de assassinato aqui...

― Acredite-me, ninguém consegue conter a Maite! ― Sam disse, ajudando Lyra a ler uma palavra ― Experiência própria!

― Ah, uau! ― me senti envergonhada ao ouvir aquilo.

― Ah, meu Deus, você ainda é virgem! ― ele diz, um pouco alto demais, fazendo os outros rirem ― Foi mau!

― Foi péssimo, e agora todos sabem! ― eu disse, sentindo meu rosto enrubescer cada vez mais.

Em que eu estava pensando? Que poderia simplesmente entrar em um colégio, agir como se nada de diferente tivesse acontecido comigo? Caçadoras não falavam sobre sexo, eu não teria como opinar em assuntos como aquele... Mesmo que tenha passado um verão inteiro conversando com mentes mais “liberais” do que estava acostumada.

― Pensa que assim você abre concorrência, e pode ganhar um dinheiro leiloando sua virgindade! ― ele riu, tentando amenizar a situação.

― Ah, eu acho que ela não vai precisar fazer isso! ― Lyra diz.

― Como é? ― ambos perguntamos.

― Disse isso em voz alta? ― ela ergueu os olhos de seu caderno, confusa.

― Em alto e bom som, maninha! ― Valentina, que estava há duas mesas de distância, responde.

Sob um olhar ameaçador meu, Catarina tenta consertar sua gafe, desconversando e dizendo que era todo brincadeirinha. A turma deixou de prestar atenção em nossa mesa quando a professora chamou a atenção de todos, e a aula correu relativamente bem, com Sam parando para me ajudar ou ajudar Lyra, que se virava um pouco melhor que eu, graças aos seus poderes super desenvolvidos. Mas nem mesmo seus poderes poderiam livrá-la da minha curiosidade.

― Que aula você tem agora, Thalia? Quero dizer, depois do intervalo. ― Sam perguntou ao fim da aula de inglês, quando todos guardavam o material e seguiam para onde quer que fossem durante o intervalo.

― Nada! Eu tenho tempo vago. ― o que pra mim significava dormir até o celular despertar, ou até mesmo ignorá-lo.

― Na verdade, você terá aulas de música. ― Lyra anuncia, como se isso fosse normal.

― É O QUE? ― berrei, sem entender nada.

― Aww, que legal, teremos aulas juntas! ― Maite nos abraça, puxando Valentina junto. ― Menos o Sam, porque ele é um velhote, que vai pra aula de física aplicada.

― Não era velhote no último mês! ― ele diz, se erguendo.

Troco um olhar cúmplice com Valentina: climão tenso estava no ar, e nós estávamos atrapalhando. Juntas, nos desfizemos do abraço de Maite, e ficamos observando o que estaria por vir.

― Sam, supere isso! Você sabe que... bem, não é minha culpa! Vejo vocês na aula de música. ― Maite saiu, parecendo chateada.

Sam fechou os olhos por um tempo, respirou fundo, e deixou a sala também. Ele já não exibia mais seu característico sorriso simpático, nem a postura era a mesma: ele pareceu diminuir alguns centímetros quando se afastou, como se o peso do que disse estivesse pesando fisicamente sobre suas costas.

― Olha, sei que está curiosa para saber do que Catarina estava falando naquela hora, mas já aviso que ela não vai te contar, porque mesmo praticando, ela não gosta de falar sobre sexo. ― Valentina esclarece, me levando a encará-la de lhos esbugalhados ― Eu vi, que ela viu você tendo sua primeira vez! ― ela dispara, deixando-me boquiaberta. ― Agora eu vazo, pra não ser morta!

― Como é que é, dona Cria Maluca do Meu Meio Irmão?

― Eu não tenho culpa. É involuntário, e às vezes uma merda, como agora. Por que, se você acha que é legal vê os outros se engolindo, saiba que não é. ― Catarina discursou, se defendendo. ― Ah, você usava uma lingerie vermelha.

― Mas eu nem tenho um dessas! ― eu sequer uso vermelho, quanto mais teria uma lingerie dessa cor.

― Vou te dar uma de presente, então! ― ela sorriu, e saiu da sala. ― Na verdade, vou comprar antes: é sexy!

Enquanto as seguia, além de pensar o quanto eu sofreria naquele lugar, fiquei me perguntando quando a visão de Catarina se realizaria... Ou se iria mesmo se realizar. E o mais importante: me perguntava com quem se realizaria.