Undisclosed Desires escrita por Dama do Poente


Capítulo 48
47 - Trevas


Notas iniciais do capítulo

McLancheFeliz obrigaaaaaadaaaa pela recomendação!! Esse capítulo, que demorou para chegar, é todo seu!!
Mas também vai para todos que comentaram e esperaram por esse cap!!



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P. O. V Lorenzzo:

Definitivamente, aquele era o lugar: eu podia ver Catarina acorrentada, e horrorizada com algo que ocorria a sua frente. Havia mais três pessoas na clareira: um homem de cabelos negros, uma garota seminua – e que agora estava quase morta – e outra garota, completamente vestida de prata. Obviamente aquela era Phoebe, a traidora – que quase fora morta por uma flecha negra.

Embora não fosse um especialista em cartografia, meu cérebro mapeou a área assim que a flecha passou zunindo por nós.

O tiro veio de algum ponto a nordeste do centro e quase acertou Phoebe, que estava a sudoeste. Cathy estava a leste, e o homem de cabelos negros e a garota seminua estavam a oeste. De onde eu estava a noroeste, acompanhado por Eleazar, eu tinha uma ampla visão de tudo ao redor, incluindo uma movimentação nas árvores a sudeste.

Minha visão era privilegiada, mas isso não significa que eu conhecesse os planos de meus rivais. Tampouco importava: eu só queria salvar aquela maluca.

– Quem ousa impor-se contra mim? – cabelos negros vira-se, deixando a seminua tombar no chão

– Alguém com muito mais classe, obviamente! – a voz, vinda de nordeste, anuncia.

Ao meu lado, cada músculo de Eleazar paralisa e ele começa a hiperventilar. Eu conheço esses sintomas de cor e salteado: ele sofria de namorada bancando a heroína! Essa reação só podia significar que Valentina estava em campo, e que era dela a mira perfeita que quase matara a caçadora.

– Ah, claro! Os intrometidos filhos de Apolo; tão egocêntricos quanto o próprio! – o cara ergue uma das mãos e a adaga volta para ela, como uma pokébola retorna ao treinador.

– Oh, Cupido, quem é você para falar de egocentrismos? – e Valentina sai das sombras, irreconhecível.

– Uau! – eu só não tiro sarro da cara de Eleazar, porque minha reação é a mesma todas as vezes que vejo Catarina em batalhas.

Mas aquela que entrava em campo era o extremo oposto da Valentina que todos conhecemos. Essa se vestia completamente de negro, da calça ao espartiho, das luvas aos sapatos. Seu cabelo, sempre solto e cacheado, emoldurando o rosto fofo, estava agora preso em um rabo de cavalo alto, que esvoaçava com o vento.

– Ela... Ela..

– Tá te ouvindo suspirar e se excitar com o que está vendo, e também está se perguntando por que você ainda está aí, se escondendo e não está aqui, levando essa pobre mortal moribunda para a enfermaria! – até mesmo a voz dela estava diferente... Mais madura.

O ruivo me encarou, e eu encolho os ombros. Ele suspira e vai para o meio do campo.

– Veja lá o que está fazendo! – Eleazar resmunga, rispidamente, e logo em seguida um zunido corta o ar. Ele decolara.

– Não é lindo o modo como eles se preocupam? Acho que mamãe fez um bom trabalho com vocês duas... Embora eu ache que você, minha cara salvadora, deveria sofrer mais um pouco.

– Percebo isso pelo modo encantador como me recebe hoje! – Catarina ironiza

– E que modo melhor de vê-la sofrer, se não usando aquele que mais ama?!

Então, eu já não me comando mais.

Desespero... Era tudo o que passava pela mente de Catarina, enquanto ela assistia Cupido me torturar. Eu sufocava e tentava lutar contra mãos invisíveis, mas sentia-me perder o ar aos poucos.

– Sabia que eu já parti o coração do seu pai dezenas de vezes? Fiz-o apaixonar-se perdidamente por Dafne, e ela sequer lhe deu bola. E então, o fiz duvidar de si próprio quando pus Jacinto em sua frente. E sabe qual a melhor parte de tudo isso? Ambos terem “morrido” por causa dele. Foi gratificante vê-lo sofrer. – a risada maléfica de Cupido trovejou no ar – Foi tão gratificante quanto está sendo vê-la chorar.

Eu estava com muita raiva de Catarina, mas jamais gostaria de vê-la sofrendo e chorando por minha causa. Acima de tudo, eu a amava mais do que pensei ser possível, e até entendia – embora não apoiasse – a sua necessidade de salvar a todos. Ela não merecia sofrer por tentar ajudar seus amigos.

Por uma fração de segundo, consegui abaixar minha cabeça e a vi a leste. Era uma visão linda e torturante, como um quadro famoso. Ela chorava e movia as mãos freneticamente, como se quisesse lançar algo ou... Cortar.

Eu tentei sinalizar para que não fizesse mais burrada alguma, mas era tarde demais. Subitamente eu estava no chão, assim como Cupido...

Assim como Cathy!

P. O. V Catarina:

Eu deveria ter morrido há muito tempo, entretanto continuava escapando da morte com tanta facilidade que quase me convecia de que Tânatos não me quer em sua lista e que Hades não me quer em seu reino. Sinto-me honrada por eles me renegarem.

O fato, em si, é que a flecha de Skiés – que Valentina lançara para deter Cupdio, mas que me atingiu de raspão quando eu me joguei contra ele – deveria ter me matado, mas eu continuava ali, ouvindo o desespero de todos ao meu redor, sem poder dizer uma palavra ou mexer um músculo sequer.

– Não... Não, não, não, de novo não! – eu ouvi a angústia na voz de Lorenzzo, e me senti duas vezes pior: por estar paralisada por conta da flechada, e por ter me sacrificado no verão passado.

“Eu estou aqui... Eu estou bem!” – era o que eu gostaria de dizer, amenizar sua dor, mas acho que até mesmo minha mente estava entorpecida.

Um som gutural se faz ouvir, e no âmago de meus pensamentos paralisados, eu senti medo pela primeira vez... Ao mesmo tempo em que senti a mudança de algo no ar.

A transformação de Valentina começara!

P. O. V Autora:

Catarina estava certa; Valentina mudara.

Ao ver sua irmã, mais uma vez paralisada e supostamente morta, algo dentro de si despertou. As paredes de gelo que sua mãe fizera o favor de construir ao redor de seu coração, ruíram de uma única vez e toda a intensidade poética, herdada de seu pai, veio à tona violentamente.

– Eu não pretendia chegar a esse ponto. Tinha em mente que, se chegasse, estaria igualando-me a você! – ela começou sibilando, sussurrando tão suavemente quanto um amante sussurraria. – Mas as coisas mudaram um pouco de figura por aqui!

E se houve um dia em que um deus tremeu por conta de um Meio-Sangue, o dia foi quando Valentina encontrou sua natureza. Foi o dia em que o elo entre a menina, e seu instinto protetor, foi finalmente estabelecido corretamente. Nesse momento, Cupido temeu àquela que ele tanto admirava.

– Opa, o que aconteceu aqui não foi minha culpa! – ele começou a se afastar, procurando uma saída estratégica.

O que era impossível: não se escapa da morte, exceto se a própria lhe mostrar a saída. E se a mensageira da morte pudesse viajar na velocidade da luz, as chances de escapar dela eram menores ainda.

– Você não vai a lugar algum, manipulador barato! – ela o atravessou com seu arco, como se o mesmo fosse uma espada. – Sei que morrer você não vai, e muito menos irá para o Tártaro: o mundo não sobrevive sem o amor. Mas se há algo que eu posso fazer, é lhe machucar e torturar-lhe por todos os danos que causou até aqui.

Icor jorrava das costas do deus, no exato ponto em que suas asas cravavam-se em suas costas, no extremo oposto em que seu coração endurecido se encontrava.

– E-esse não sou eu! – o suposto anjo do amor resmungou, sofregamente.

– É, eu sei... Mas também não significa que eu vá ser boa com você! – a doce menina sorri sadicamente, rodeando o deus com tanta graça, que ele se envolveu na dança maníaca que ela encenava. – Deixe-me exorcizar os demônios que lhe corrompem!

Todos olhavam abismados àquela cena, incapazes de fazer um movimento que fosse. Mesmo os com mais experiências em batalhas estavam temerosos: nem mesmo seus piores pesadelos tinham tanta fúria em seus atos. Nem mesmo Phoebe, há muito acostumada com a violência e impunidade, conseguia crer no que vi. Entre todos, havia uma única pessoa que entendia o que estava acontecendo ali, aquele que entendia as trevas como ninguém...

Nico via – sem saber como – a aura de Valentina, aquele lado que ninguém nunca compreendeu dela: a parte que pressionava toda a pureza e todas as boas coisas que suas cores aurais representavam. Ele podia ver as trevas que nela habitavam. Era um padrão muito parecido com o seu, com a diferença de que em si era totalmente normal, e nela era quase prejudicial... Tóxico.

– O que está fazendo? – e a voz de Cupido mudara, mas Valentina sequer ligava. Vingança toldava-lhe a mente... Ou quase.

– Trazendo alguém que não deveria ter cedido. Alguém que merece seu lugar de destaque... Pena que para isso, eu preciso destruir algo tão perfeito! – ela ergue o rosto do deus, com o arco, e encara seus olhos rubros – Amor brilha em suas íris, mas seu coração foi tomado pelo ódio... O que uma guerra, e inúmeras perdas, podem fazer conoscos, não é mesmo?

– Nos muda, de maneiras inenarráveis! – ele diz, entredentes

– Entendo perfeitamente o que quer dizer! – ela lhe dá um sorriso mordaz, e o último golpe.

Uma explosão de trevas acontece quando o arco atravessa o coração de pedra de Cupido: a escuridão que impedia o aparecimento do verdadeiro dom do deus foi rompida, assim como o véu que cobria a aura de pureza de Valentina é derrubado. Até mesmo o negrume da noite no bosque, ganhou tons mais claros.

E no meio das trevas, a face má do amor some, enquanto o caminho da traição simplesmente muda.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!! Os próximos já estão prontos, mas não sei quando poderei postar!!
Beijos!!