Undisclosed Desires escrita por Dama do Poente


Capítulo 17
16 - Principe Oscuro


Notas iniciais do capítulo

Até que eu não demorei pra escrever esse!! Levando em consideração a semana de provas :s
Espero que curtam! *Atualização 16/10/2016* Será que Hades nos odeia quando escrevemos caps assim ou ele só envenena nosso chá?!



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P. O. V Autora:

Se Nico assinara ou não sua própria sentença de morte, ninguém jamais saberia dizer ao certo, nem mesmo Thalia, que tentava se esquecer da cena, ou até se convencer de que nada não passara de um delírio seu enquanto estava sonâmbula. Porém, ao acordar na sexta-feira, dando de cara com a cama de Valentina vazia, a filha de Zeus apenas fechou os olhos e se perguntou o que estava acontecendo consigo.

Se entre as paredes do internato, Thalia se arrumava para assistir à primeira aula do dia, de sociologia, não muito longe dali sua companheira de dormitório corria de um lado para o outro, a fim de se apressar para sair do Greenwich Village e voltar para a Yancy Academy.

― Relaxa, môrmeu! É só dizer que estava passando mal, que perdeu a hora... ― Eleazar, já devidamente vestido, tomando uma xícara de café, aconselha Valentina.

― Isso é fácil pra você, que está na FACULDADE e não num INTERNATO! ― ela gritou, vestindo a camisola. ― E o que mais me dá raiva é o fato de você estar aí, todo arrumadinho, pronto para viver sua vida, e eu descabelada, de camisola, no lugar e hora errado.

― Eu tenho roupas suas aqui, mas não tenho um uniforme! ― ele tomou o último gole de café, lavando a xícara usada.

― Providencie isso da próxima vez. ― ela se encosta ao balcão da cozinha, e pega uma maçã.

― Próxima vez? Isso me agrada! ― ele passa por ela, dando-lhe um beijo no rosto.

― Eleazar, será que podemos ir logo? Quero ter tempo de trocar de roupa antes que procurem por mim. ― ela continua histérica, esperando que ele pegasse o próprio material de estudos.

― Acho que você precisa de mais algumas rodadas para desestressar! ― ele debocha, abrindo a porta da varanda, alçando vôo logo em seguida.

O caminho até a escola, de certo, demoraria muito mais se ele tivesse optado por fazê-lo de carro, e esta opção chamaria muito mais atenção do que voar. Usando seus poderes, ambos poderiam controlar a névoa e dar um jeito para que os mortais não achassem estranho o fato de um ruivo voador estar carregando sua namorada para a escola. Contudo, sabemos bem que nem todos podem ser enganados pela névoa...

― É um pássaro? É um avião? Ou seria eu ganhando uma aposta? Eu disse que ela se atrasaria! ― a voz ácida de Thalia se faz ouvir assim que Eleazar e Valentina se aproximam.

Ela estava sentada na própria cama, com as pernas esticadas sobre o colchão, sem se preocupar se seus coturnos sujariam ou não a colcha. Ao seu lado, com a cabeça sobre o travesseiro e uma das pernas pendurada sobre a cadeira da escrivaninha, estava um decepcionadíssimo Nico di Angelo.

― Droga! Você tem benção de Apolo agora?! ― resmunga, erguendo os quadris para puxar a carteira do bolso. ― Vou ficar te devendo essa, Lia!

― O que é que o Nico ta fazendo aqui? ― Valentina surta, lembrando-se que estava apenas de camisola.

― Pra que mentir, não é? Então, eu dormi com ela ontem: foi uma das melhores noites que já tive, você devia ter visto! ― Nico abraça a punk ao seu lado pela cintura, mas Thalia se desvencilha e o empurra. ― Olha, vou mostrar a Fluffy!

― Merda! ― Thalia sossega, voltando a se recostar na cabeceira da cama. ― Mas, Valentina, a pergunta não é o que o Nico faz aqui e sim o que você não fazia aqui.

― É nessa hora que eu vou embora? ― Eleazar questiona, tentando conter um sorriso debochado ― Porque vai ser uma pena perder essa cena: parece que vai ser engraçado.

― Cai fora! ― Valentina dá um beijo rápido em Eleazar e, literalmente, chuta o ruivo para fora do quarto.

― Quanto amor! ― Nico murmura.

― Quer ir junto, ou prefere a porta?

― Pensando bem, eu tenho aula de geografia mesmo. ― o filho de Hades sai do quarto, deixando as duas sozinhas.

Entre o deboche de Thalia e os minutos que faltavam para a próxima aula, Valentina corre para tomar banho e se arrumar, enquanto fingia não ouvir a pergunta sobre a noite anterior, e perguntava como fora a primeira aula daquela manhã.

― Sociológica! Sua irmã pirou por alguns minutos até ver que você voltaria com o Eleazar; a partir daí, ela se estressou, e ficou de cara fechada pelo resto do horário. ― Thalia responde de bom humor ― Já eu ganhei meu dia e 50 dólares!

Ignorando a aposta feita as suas custas, Valentina sai do banheiro, termina de arrumar sua mochila, e as duas partem para a próxima aula, que era de matemática― uma das poucas na qual Thalia era boa e realmente gostava: a dislexia e a hiperatividade não a afetavam ali ―; não é preciso dizer que a disciplina em nada animou a filha de Apolo.

― Preferia só ter aulas de música... ― Valentina suspirou, recebendo apoio de sua gêmea e de Maite, que também freqüentava aquela aula.

― Ou de anatomia humana, não é? ― Thalia debocha, abrindo um sorriso malicioso.

Maria Valentina quase se deixou levar pela raiva no momento, porém é nesses momentos que a inconveniência de ter visões se torna uma dádiva, especialmente em se tratando de poder ter vislumbres do passado, como era esse o caso: em sua mente, ela viu o exato momento do selinho entre Thalia e Nico ― e isso já era uma arma poderosa para ser usada a seu favor.

― Ah, agora sei por que o Nico estava na sua cama! ― o sorriso de Valentina espelhava o de Thalia, que não precisou de muito para notar que a “sobrinha” havia visto um vislumbre da noite anterior.

― Era pra ser um segredo. Amigas de quarto dividem segredos! ― e na tentativa de escapar de um interrogatório, a Grace tenta transformar tudo em brincadeira.

Felizmente, Tique parecia estar ao lado da filha de Zeus naquela sexta, pois as outras garotas apenas continuaram a debochar como de costume, com direito a Maite perguntando quando Nico e Thalia assumiriam que eram namorados. Segundo a garota, estava na cara e todos comentavam, especialmente depois do “incidente” do beijo em Diamond.

― Nosso relacionamento é aberto! ― Thalia dá de ombros, pensando que seu relacionamento com Nico era tão aberto ao ponto de ser inexistente, mas ela não estava a fim de explicar isso.

― Vocês são todas perdidas! Até você, que deveria ser um pouco recatada, levando em consideração sua antiga condição. ― Agatha, sentada ao lado de Aria, comenta, irritada por não poder prestar atenção na aula.

― Antiga! Não é mais! Posso mudar! E você, não vem bancar de santa não, porque todo mundo vê como você fica se engraçando pra cima do Connor. Não pode ver o Connor, que já fica em chamas! ― Thalia ralha com a filha de Atena.

Foi preciso que o professor se virasse e pedisse que as seis fizessem silêncio, mas o pedido foi atendido apenas em partes: as conversas paralelas continuaram, embora a atenção de todas não estivesse completamente focada no que falavam, e tampouco no que lhes era ensinado: havia uma infinidade de pensamentos tomando conta das mentes de Thalia e de Valentina, e mal sabiam elas que eles, futuramente, acabariam se cruzando em um único ponto em comum.

P. O. V Nico:

Como se não bastasse perder 50 dólares para Thalia, ainda tinha que agüentar a aula de geografia! Não existe nada que eu não goste menos do que essa matéria: tinha algumas recordações ruins sobre a geografia da Europa e do mundo inferior, então acho que dá pra entender porque detesto essa aula. Especialmente se ela for lecionada às sextas-feiras.

― Eu definitivamente não vou precisar disso na minha vida! ― reclamo sozinho, analisando um atlas.

― E se você for viajar muito por aí? ― a garota sentada ao meu lado, Lena, questiona.

Todas as aulas eram em duplas, e eu raramente tinha a sorte de ter a mesma pessoa como dupla. E quando tinha, a pessoa era sempre Thalia ou Diamond, então de uma forma ou de outra eu estava em desvantagem completa.

― Já fui há muitos lugares, e definitivamente, geografia não me ajudou. ― respondi convicto, lançando um meio sorriso educado para ela.

― Ei, você não é o garoto que ficou com a Diamond? ― ela mudou repentinamente de assunto, e subitamente eu quis continuar falando sobre a matéria.

― Teoricamente... Mas olha aqui esse gráfico sobre a teoria Malthusiana...

― Teoricamente? ― Lena me interrompe, e eu me pergunto, novamente, o que fizera de errado aos deuses ― Se aquilo foi um beijo só na teoria, gostaria de provar a prática com você!

― Nossa, estou acostumado a receber cantadas, mas nunca elas foram tão francas quanto esta foi! ― disse surpreso, resistindo ao impulso de perguntar se ela tinha algum parentesco com Afrodite.

Em momentos como esse, eu ainda me espantava com os comportamentos do século XXI. Era bem verdade que eu estava mais consciente sobre os anos 2000 do que estive sobre os anos 1940, mas ainda havia costumes antigos que estavam intrínsecos em mim. De qualquer forma, o choque não impedia meu ego de ser alimentado.

― Tem aula de que depois? ― ela me pergunta, sentando-se um pouco mais perto.

― Música! E você? ― pergunto, notando a sombra de decepção passando por seu rosto.

― Sociologia! É sexta: todas as turmas, alguma hora do dia, terão aula de sociologia!

― Minhas amigas tiveram hoje mais cedo! Todas saíram reclamando!

― Normal por aqui... As únicas aulas que o pessoal preza por aqui são as de música, dança, e às vezes, latim!

― Já sei italiano, não preciso aprender o antepassado dele! ― murmurei, apesar de soar irônico: além de ser o Rei Espectral, eu tinha o cargo de Embaixador de Plutão, e os romanos eram bastante apegados ao latim, então tive que aprender.

A aula se arrastou por mais uma infinidade de tempo, com o professor monologando enquanto quase todos cochilavam ― e confesso estar nesse meio: grandes poderes requerem cochilos colossais ―; quando o sinal tocou, Lena me para por um instante.

― Ainda estou esperando pela aula técnica, messere! ― ela pisca, dando-me as costas antes de seguir pelo corredor, passando por meus amigos que vinham em quantidade me encontrar.

― O que perdemos aqui? ― Aria questiona, com todo o grupo atrás dela.

― Mas uma conquista do Sr. di Angelo! Isso mesmo, senhoras e senhores, Nico, conseguiu! ― Thalia anuncia, de bom humor.

― Não vai reclamar ou me arrastar pela orelha dessa vez, não?

Eu a conhecia há muito tempo para saber que quando ela agia de forma passiva agressiva significava que estava tramando alguma coisa. Não que eu fosse o tipo de pessoa que teme muitas coisas, mas se você beija, sem querer, alguém que pode te fritar inteiro, temer pela vida me parece algo sábio.

― Por quê? Tá querendo que eu te arraste? Se quiser, faço isso com o maior prazer! ― ela sorri inocentemente, e todas as terminações nervosas de meu corpo começaram a me alertar do perigo.

― Não! Apenas uma pergunta idiota, vamos para a aula! ― arregalo os olhos, pronto para segui-los. ― Cadê a Valentina?

― Afinando o piano! Ela pediu a professora para cantar uma música aí que ela disse que sonhou com a bendita, quase chorou pra conseguir isso, e a professora permitiu porque queria evitar a crise de choro. ― Catarina revira os olhos, parecendo ainda irritada por sua gêmea ter fugido na noite anterior. ― Só quero ver o que ela vai nos aprontar!

A curiosidade era mútua, assim como a pressa para chegarmos à aula, então o resto do caminho até o auditório foi em silêncio; não que eu não estivesse acostumado a ficar em silêncio, mas, depois dessa semana, o silêncio se tornou algo estranho! Quase gritei pedindo que alguém falasse alguma coisa, porém assim que entramos na sala de música, a quietude não era mais um problema: ninguém ficava quieto por ali! Inclusive nós mesmos: fomos obrigados a assistir uma briga entre Steph e Aria, onde as duas disputavam uma almofada rosa.

― Eu preciso dessa almofada. É fúcsia, tem noção disso? ― Aria fala, segurando um lado da almofada.

― É claro que tenho: eu sei a diferença entre cada cor, cada nuance e cada porra que você quiser sobre uma boa palheta e uma boa aquarela, agora me dá essa almofada! ― minha quase cunhada, Steph, berra, puxando do outro lado.

― Cara, você não vai mesmo fazer nada? ― pergunto a John, que estava tão interessado quanto eu.

― Eu gosto de estar vivo! ― ele respondeu, se recostando numa almofada azul.

Sexta era o dia em que aquela sala mais lotava, o que nos deixava com poucas opções de almofadas hipsters para nos aconchegarmos. Assim sendo, Catarina se recostou em uma branca, Maite em uma verde, e eu em uma preta bem macia; se aquela fosse uma outra aula qualquer, eu dormiria assim que encostasse minha cabeça na almofada, mas coisas estranhas acontecem nas aulas de música. Tipo a falta de paz e minha vontade de tricotar almofadas e as bocas das pessoas que me irritavam.

― Gente, tem mais uma almofada fúcsia bem aqui! ― Thalia atira o objeto entre as duas garotas, e a paz volta ― E eu fiquei sem almofada!

― Use sua mochila como almofada, Lia! ― inocentemente, como sempre fui, dei a idéia.

― Ah, não, tenho outros métodos! ― ela apertou minha barriga

― O que você ta fazendo? ― perguntei, pensando se seria naquele momento que minha morte começaria: primeiro um ataque de cócegas e depois só os deuses saberiam.

― Testando! ― ela dá de ombros, e aperta a de John ― Nhá, a dele é melhor, mas ele é compromissado, então me contento com a sua mesmo! ― e se joga sobre minha barriga.

― Este é Nico di Angelo, ele pegou a almofada preta: vai com calma, Nico, nunca se sabe quando uma punk vai te usar como almofada! ― Cathy diz, me cutucando com a ponta da sapatilha.

― Shh, ela vai começar! ― Maite bate na amiga, e me lança um olhar malicioso que eu preferi ignorar.

Sentada ao piano, Valentina começa a narrar o sonho que tivera com a tal música que nos apresentaria; ela não se demora muito falando, virando-se logo para as teclas, estalando os próprios dedos antes de começar a tocar. Era um ritual que eu costumava fazer desde que lembrara como tocar, porém havia músicas que eu propositalmente evitava. As notas que Valentina tocava, por exemplo, eram claras, fáceis de gostar, sutilmente me lembravam algo... E então, quando ela começou a cantar, minhas dúvidas se foram.

Close your eyes; I know what you see (Feche seus olhos, eu sei o que você vê)

The darkness is high, and you're in ten feet deep (A escuridão é grande, e você está caindo à dez pés de profundidade)

But we've survived more terrible monsters than sleep (Mas nós sobrevivemos a monstros mais terríveis que o sono)

Imediatamente reconheci a letra da canção de ninar que Bianca cantava para mim quando éramos pequenos, e a mentira por trás dela. Eu sobrevivi, e vinha sobrevivendo, aos monstros mais terríveis que o sono, mas ela não: ela morreu! E a pior parte, foi vê-la e não poder mais abraçá-la, não poder mais me confortar em seus braços para dormir

And you know I will be here to tell you to breathe (E você sabe que eu estarei aqui para dizer-lhe para respirar)

E não ter mais minha irmã por perto para simplesmente me acalmar, era insuportável.

― Thalia, levanta aí, rapidinho! ― eu peço me desencostando da almofada, tentando manter o controle de minhas emoções.

― Qual é, eu não sou tão pesada assim! ― ela reclama.

― Não, não é isso. É só... Ah, eu preciso pegar um negócio na sala de geografia. Já volto! Não se preocupe! ― lhe ofereci meu melhor sorriso amarelo.

― Tentarei! ― por sua vez, ela me lançou seu melhor olhar desconfiado e se encostou a almofada, voltando a prestar atenção na música.
Parei por apenas um instante, admirado com a fluência de Valentina em cantar o refrão em italiano.

Tu sei il mio soldatino (Você é meu soldadinho)

La ragione per cui vivo (A razão pelo que vivo)

Non ti scordar di me (Não se esqueça de mim)

Io veglierò su di te (Eu estou cuidando de você)

Senti-me de novo com 10 anos, preso em Westover Hall, com medo dos corredores escuros nos quais eu era obrigado a viver. Bianca sempre cuidava de mim ali, porém isso nunca mais aconteceria. Eu estava sozinho agora, e sozinho deixei a sala de música, antes que minha tristeza ficasse aparente para todos.

P. O. V Thalia:

 

Há seis anos conheci um menino nerd de 10 anos, que estudava na mesma escola que sua irmã, alguns anos mais velha que ele. Nunca cheguei a descobrir ao certo a idade dela, apenas sei que faleceu cedo demais. Contudo, seu irmãozinho era estranho, embora fosse esperto. Ele era estranho, cresceu e continuou mais estranho, mas pelo menos era um bom travesseiro. Mas Nico continuava tendo reações estranhas, enquanto todos ao redor agiam normalmente.

― Alguém conhece essa música? ― Aria pergunta, segundos depois de Nico ter deixado o auditório.

― Eu acho que conheço, não tenho certeza! ― murmurei, enquanto Valentina cantava a segunda estrofe, em inglês.

Stumbling lost; the last choice of all that you meet (Tropeçando perdido, a última escolha de tudo o que você conhece)

It's the cost of ruling those 'neath your feet (É o custo de governar aqueles 'Sob seus pés)

Paths you've crossed, and trust you're trying to keep (Caminhos você cruzou e confia em que você está tentando manter)

You're exhausted, listening for a voice that can't speak (Você está exausto, ouvindo uma voz que não pode falar)

Eu ainda não reconhecia a letra, mas a música sim! Lembrava-me de meu renascimento, minha primeira e única missão antes de me juntar às caçadoras, e me lembrava de alguém mais...

Ma Nico, mio caro (Mas Nico, meu querido)

E com o refrão veio a percepção: a música me lembrava Bianca!

Na minha primeira missão, tive a oportunidade de conviver por um tempo com Bianca di Angelo, a irmã mais velha de Nico. Certa noite, quando estávamos de guarda, ela estava cantarolando essa música, enquanto chorava baixinho. Lembro-me de ter ficado tentada a perguntar o que havia acontecido, mas minhas emoções estavam igualmente conturbadas naquela época.

So you run; through shadows you roam (Então você corre, através de sombras você se move)

― Aonde você vai? ― Maite pergunta.

― Vou... Ali! ― saí pela porta mais próxima, sem me preocupar em disfarçar a pressa.

A escola era enorme, porém seus corredores vazios me facilitaram a vida enquanto eu procurava pelo meu jogador favorito de mitomagia. Contrariando as regras ― que eram sempre quebradas, mas tudo bem ―, fui até os dormitórios masculinos e não vi um sinal dele em seu quarto, deixando-me a opção de procurá-lo no pátio externo. 

Não foi tão difícil reconhecê-lo sentado em um banco, parecendo um pouco desconfortável por estar conversando com Diamond; essa seria uma situação que me faria revirar os olhos como ele tinha mania de fazer, mas dada as circunstâncias, resolvi ser legal com o menino di Angelo.

― Nico? ― o chamo, e ele se vira para mim, lançando-me um olhar de alivio― A professora pediu para te chamar: ela quer dar um recado! ― dou o falso aviso e volto pelo mesmo caminho, não querendo dar tempo para Diamond falar comigo.

― Ei, não custa nada esperar, ok? Thalia, me espera! Eu era sedentário! ― ouço a voz de Nico me chamar, e logo ele caminhava ao meu lado.

― Sério? Ma Nico, mio caro, eri um soldatino! ― digo, lançando um olhar de raiva para a oxigenada que passou ao nosso lado.

― Reconhece a música? ― o choque em seu rosto quase apagou os vestígios de angústia.

― Passei tempo o suficiente com ela para reconhecer sua canção! ― confesso, sentindo-me constrangida por saber de algo tão pessoal.

― Eu não... Suportaria ficar lá dentro! ― ele murmura.

― Está tudo bem, Nico: eu te entendo! ― sorrio, tentando criar um clima confortável. ― Acho que as meninas não notaram, e se alguma notou, não vai falar nada... Exceto se você falar. ― entreabro a porta do auditório, vendo que Valentina acabava de deixar o palco ― E pelo visto, a professora realmente quer dar um aviso.

Entramos no auditório, e para minha total surpresa voltamos à posição inicial, com direito a ele me ceder a almofada e apoiar-se em sua própria mochila. Fiquei na dúvida se ele apenas tentava manter as aparências, ou se era seu modo de reagir a momentos constrangedores. De qualquer forma, eu tinha certeza de que uma hora ou outra eu descobriria.

P. O. V Nico:

Quando Lucy anunciou que não teríamos mais aulas naquele dia, a primeira coisa que se passou pela minha cabeça foram as próximas 72 horas de sono. Até segunda, eu dormiria até segunda e ai de quem me tirasse do dormitório: depois daquela música, eu merecia meu momento depressivo ao som de Green Day.

― Não se esqueçam de que amanhã será nossa festa de volta às aulas! ― mais gritos e comemorações foram ouvidos.

― Como assim, festa? Eu preciso dormir!

― Qual é Nico, até parece que você não era o último a sair das festas dos chalés 11 e 7!

― A diferença é que, lá, eu tinha um diretor meio bêbado, e um diretor de atividades legal que entendia meu lado depressivo.

― Você não é depressivo, Will atestou isso. E ninguém contesta o que ele atesta! ― Catarina entra em defesa do loiro louco que amávamos.

― Continuando, Quíron me entendia, e me deixava no meu chalé, de boas, comendo salgadinhos e assistindo séries!

Continuamos a discutir e reclamar, até que Thalia se revoltasse o suficiente para tacar a almofada na cara de Catarina e decretar que eu iria à festa, ou ela se encarregaria de me bater. Pedindo com tanta meiguice, não pude dizer não, e no momento seguinte as outras garotas já haviam me esquecido e planejavam uma festa do pijama.

― Eu prefiro ficar jogando vídeo-game! Vocês não farão nada de especial hoje à noite, garotos? ― Thalia pergunta para John e eu.

― Eu vou dormir, serve? ― pergunto, resistindo ao impulso de perguntar se ela gostaria de me acompanhar.

― Eu vou cuidar das minhas plantas, e da Cevada! ― John responde, parecendo um pouco desanimado também.

― Você conseguiu trazê-la para cá? Onde ela ta? ― Aria pergunta feliz.

― Escondida no nosso quarto... No meu travesseiro, melhor dizendo! ― reviro os olhos, embora não estivesse realmente chateado com a situação.

― Quem é Cevada? ― Maite pergunta confusa.

― A gata de estimação dele! Que eu quero fora do meu travesseiro, e espero que ela não tenha rasgado meus pôsteres!

― Ok, ignorem a Cevada, vamos falar sobre a festa do pijama: como assim, você não vai, Thalia? ― Catarina me interrompe e recomeça a histeria.

― Enquanto elas vão discutir, posso falar com você? ― peço à Valentina.

― Claro! ― ela levanta e eu faço mesmo, aproveitando que Thalia estava sentada de frente para Cathy. ― Então, o que você quer falar comigo? Se for pra me passar alguma espécie de sermão sobre não ter dormido na escola...

― Não, nada disso! A vida é sua, você faz dela o que bem entender! ― ergo as mãos, impedindo-a de continuar ― Na verdade, vim falar sobre a música.

― Ah! Você não gostou? Foi por isso que você saiu correndo da sala? ― ela pergunta, e quase me sinto culpado por ter saído.

― Definitivamente, não tinha como não gostar: você canta como os anjos! O problema é: como você conseguiu aquela música?

― Eu estava dormindo, no apartamento do Eleazar, e de repente uma garota apareceu no meu sonho, e ela cantava essa música enquanto vigiava um grupo. E ela chorava muito. Por quê? Digo, por que perguntou sobre a música?

― Sabe aquelas música que ficam com você por toda uma eternidade?

― Tipo, nossas músicas favoritas, ou as que marcaram nossa vida?

― Então! Você percebeu o idioma do refrão? E o nome que aparece nessa música? ― pergunto um tanto constrangido com o assunto.

Ela pareceu pensar por um instante, provavelmente repassando a música em sua mente, e então me encara confusa.

― Quem era a garota do meu sonho, Nico? O que você tem a ver com essa música?

― Era a minha canção de ninar, e a garota chorando provavelmente era minha irmã mais velha!

Com um meio sorriso amargo, deixo Valentina para trás, sem saber como ela se sentiria com tal informação, e sem conseguir socializar por muito mais tempo.


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Notas finais do capítulo

O próximo já está pronto, e o 18 está sendo escrito!!
Bjs, comentem e façam uma autora feliz!!
P.s.: perdoem as bads causadas.



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