Undisclosed Desires escrita por Dama do Poente


Capítulo 16
15 - Every Night You Spend


Notas iniciais do capítulo

Eu sei, demorei pra postar, mas eu tava sem ideias para escrever... E cheia de trabalhos e provas pra fazer.
Mas aqui está ele, e e um aviso: vou sumir por mais uma semana, acho, porque as últimas provas estão chegando, e eu preciso estudar!! Mas voltarei assim que terminar!! *atualização 16/10/2016* gente, Tique não está ao meu favor nessas edits, porque mais uma vez estou sem pc. Ele não conecta a internet, então só ta dando pra escrever nele, pra postar to usando o tablet e/ou pedindo pra amigos. Mas não vou desistir. Então aí vai a nova versão do capítulo



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P. O. V Valentina:

Ele sempre dizia a mesma coisa: vou mostrar como os anjos curtem! E sem dúvida ele fazia isso da melhor forma possível. O que eu sentia por Eleazar, e ele sentia por mim, era algo que eu rezava para que todos um dia pudessem ter. Principalmente, os que eram tão sem fé quanto eu.

Never had much faith in love or miracles (Nunca tive muita fé no amor ou em milagres)

Ele havia sido minha perdição, o motivo de muitas brigas com minha mãe quando eu era mais nova, também era minha fonte constante de preocupação: costumava me perguntar se eu deveria arriscar tudo o que eu tinha por causa de um garoto mais velho, que poderia me largar assim que visse uma garota de sua idade. Perguntava-me se valia à pena.

Never wanna put my heart on the line (Nunca quis pôr meu coração em jogo)

Mas sim, ele valia a pena todos os esforços e brigas, porque ele era minha redenção, minha chance de ser uma pessoa melhor, mais compreensiva, mais eu mesma, uma vez que foi graças a ele que eu soube a verdade sobre mim.

― Eu te amo! ― ele sussurrou em meu ouvido, quando aterrissou em seu quarto.

― Acredito nisso, mas eu duvido que ame mais que eu amo você! ― o joguei na cama e o beijei com voracidade, matando a falta que ele me fazia.

Talvez pudesse parecer insensibilidade da minha parte, mas eu não suportava mais a saudade que sentia dele, do corpo dele apertando-me contra si e de todas as sensações que ele me proporcionava. Suas asas ainda estavam abertas, e tomavam conta de quase todo o espaço restante do quarto. E aquilo era incrível, uma das melhores sensações: a de estar em seus braços, sob o manto arroxeado que eram suas asas. Era nesses momentos que eu me esquecia de qualquer problema que eu pudesse ter, era em seus braços que eu me sentia a criatura mais plena do mundo.

― Esqueci de avisar... ― ele gentilmente retirou minha camisola, e girou comigo na cama, abaixando-se para dispersar beijos por meu corpo. ― Eu fui expulso do céu. E a culpa é toda sua!

― Por quê? ― suspirei, sentindo meu corpo reagir ao dele.

― Porque eu caí de amores por uma Lolita, e eu fui impedido de chegar ao céu! ― e nisso, ele já estava beijando o vale entre meus seios. ― Preciso de você para me sentir no paraíso de novo.

Aquele era um pedido claramente endereçado para mim, evidenciando que ele sentia minha falta da mesma forma que eu sentia a dele, contudo era eu a que estava mais próxima de se sentir em algum lugar celestial: seus lábios finos e gélidos, deslizando por meu corpo, provocavam arrepios em mim, arrancando-me suspiros e gemidos altos demais, levando-me a esquecer que eu não deveria estar ali, que eu tinha responsabilidades e horários a cumprir.

Senti-me novamente com 13 anos, quando fugia de casa para vê-lo e ele tinha que me arrastar de volta, prometendo que ficaríamos juntos na hora certa.

Naquela época, éramos ele e eu contra tudo e todos, e bastava que estivéssemos juntos para que eu me sentisse em um lar. Eleazar era meu lar por mais clichê que isso pudesse parecer, porém essa era a minha realidade: sentia que só podia confiar completamente nele, considerando tudo pelo que passamos.

Então, no momento em que seus lábios voltaram para os meus, sussurrando juras em francês, fiz o favor de me concentrar apenas naquele momento e em nós dois. Nada mais importava, e eu tampouco acreditaria que algo extraordinário pudesse acontecer só porque eu resolvera fugir do internato para ficar um tempo com meu namorado. Não tinha como algo grandioso acontecer de uma hora para a outra.

P. O. V Autora:

Lamento dizer, mas, ao contrário de Will, Valentina nem sempre estava certa. Muita coisa pode acontecer de uma hora para a outra, sejam coisas pequenas, sejam grandiosas. O fato, contudo, é que se Afrodite estivesse envolvida ― como estava nessa situação ―, acontecimentos quase majestosos podem acontecer em questões de segundos... Como era o caso do “espetáculo” daquela madrugada.

Thalia não tinha a menor noção de que estava sozinha no quarto, tampouco tinha noção de onde realmente estava, contudo isto não a impediu de se aventurar pelos corredores da Yancy Academy. Ainda de olhos fechados, ela se levantou, calçou suas confortáveis pantufinhas de águia, abriu a porta, e seguiu em direção ao refeitório da escola.

Sei em que estão pensando: Thalia não é sonâmbula; afinal, se fosse, já teria morrido há muito tempo! Mas ela estava, como gosto de dizer, em paz demais, e isso a fez ficar em um estado não natural... Tá, vou parar de enrolar e dizer o que está mais claro do que água: isso tudo é obra de Afrodite!!

Enfim, lá estava a nossa querida filha de Zeus, andando para o refeitório, cantarolando Carpe Diem, do Green Day, a procura de algo que todos os adolescentes gostam: chocolate. O porquê disso eu não sei, mas devia fazer parte do plano da deusa do amor, pois ao chegar à cozinha, Thalia dá de cara com o primeiro e único Rei Espectral.

― O que você ta fazendo aqui? ― o garoto pergunta confuso, piscando para ajustar os olhos à iluminação repentina.

Este é Nico di Angelo, um filho de Hades que gosta de vagar sozinho por cozinhas escuras no meio da madrugada. Vai com calma, Nico, nunca se sabe quando vai encontrar um Punksonâmbula por aí, que já vai chegar acendendo as luzes e acabando com seus planos de ser sutil e roubar batatinhas chips.

― Você é sonâmbula? Ah, era só o que me faltava. E o pior é que eu não sei o que fazer! ― ele reclama consigo mesmo, enquanto vê a punk andando por ali, ainda cantarolando.

Carpe diem, a battle cry (Aproveite o dia, um grito de guerra)

Aren't we all too young to die? (Não somos jovens demais para morrer?)

― Sim, somos jovens demais para morrer! E acho que descobrimos isso há muito tempo. Mas agora, que tal, você voltar para o seu quarto? ― ele tenta guiar a garota de volta pelo corredor.

Mas, ao invés de acalmá-la, o toque dele dá início a um frenesi, como se a realidade se misturasse com o que estivesse se passando na mente adormecida da garota. A julgar pelos gritos dados em resposta ao contato, nada de agradável acontecia no subconsciente de Thalia.

― Não, não! Me solta! Socorro! ― ela começa a gritar.

O desespero era nítido em sua voz, o que deixou Nico desconfortável e assustado: de todo o tempo que a conhecia, não conseguia se lembrar de vê-la em tal estado. Nem mesmo quando Annabeth fora seqüestrada perto do antigo internato que ele estudava.

― Thalia, sou eu, Nico! ― ele tenta tranquilizá-la, porém nem mesmo seu suave tom de voz parecia ser suficiente para diminuir os tremores que tomaram conta dela ―Você tem que se acalmar, bambina; nada de ruim está acontecendo. Eu estou aqui, Lia!

Nico sentia que precisava acordá-la, dar um fim aquele sofrimento, porém não sabia como faria isso. Na tentativa de acalmá-la, ele toma uma atitude que, se ela estivesse acordada reprovaria e o puniria: passando seus braços ao redor do corpo esguio e pequeno, ele a abraça forte, apoiando a cabeça da garota contra seu peito, sussurrando-lhe suavemente, sem saber ao certo se estava falando em inglês ou italiano; seu maior interesse era livrá-la da agitação.

E ele ficou ali, parado no meio da cozinha da escola, abraçado a ela até que, aos poucos, Thalia foi despertando, e tranqüilizando a própria respiração. Quando abriu seus olhos, as íris azuis brilhavam pelas lágrimas derramadas durante a alucinação.

― O que... O que aconteceu? ― ela pergunta, ainda tremendo.

A última coisa de que se lembrava era de estar conversando com Ártemis antes de dormir, sobre como a deusa não se ressentia por ter perdido sua tenente ― a conversa fora boa o suficiente para que Thalia se sentisse aliviada e pudesse dormir tranquilamente... Pelo menos por um tempo ―, e agora estava ali, se perguntando por que seu rosto estava colado ao tórax nu de Nico.

― Eu estava aqui, entediado e com fome, procurando algo para comer, quando você chegou, dormindo. ― ele responde, afastando-a levemente, mas ainda acariciando-a nos cabelos escuros.

― Dormindo? ― ela se afasta abruptamente, deixando-se cair em uma das várias cadeiras dispostas por ali.

― Sonâmbula! Você chegou aqui, sonâmbula, cantando Green Day, e começou a procurar por algo. E eu tentei te fazer voltar pro quarto, mas quando toquei em você, você começou a gritar desesperadamente, e eu tentei te acalmar, e to tão perdido quanto você! ― ele suspirou exasperado, deixando os braços caírem ao lado do próprio corpo. ― Thalia, o que você viu enquanto dormia?

A preocupação e a curiosidade eram genuínas na voz grave e suave e Nico, mas Thalia quase as deixou passar, pois ainda estava presa no sonho. Ou melhor, no pesadelo. Pesadelo esse em que Luke ainda estava vivo, e não havia sido possuído, mas observava enquanto um dos capangas de Cronos forçava a filha de Zeus a algo abominável.

“― Se quer que Luke viva, torne-se serva de Cronos! Vire-se contra seu pai. Ele nunca ligou para você mesmo! Ajoelhe-se diante de seu novo mestre! ― o servo a agarrara pelos cabelos, forçando-a a se ajoelhar diante do trono em que o loiro estava sentado.

Ela começara a gritar, pedindo para que não a tocassem. Por alguma razão que desconhecia, não conseguia se mover e não pôde lutar para se libertar; tudo o que podia fazer era suplicar para que não a forçassem a nada, porém seus protestos eram totalmente ignorados por aquele que um dia dissera amá-la, e até mesmo a chamara de família.

Ela estava prestes a sucumbir ao desespero, quando ouvira uma voz soar ao longe. Usou todas as forças que lhe restavam para se agarrar aquele fio de realidade e, de alguma forma que julgou ser intervenção divina, conseguiu sair daquele cenário desconfortável, fazendo uma parada antes de voltar a abrir os olhos.

Era um tranqüilo e belíssimo campo, com flores tão altas que cercavam a filha de Zeus por todos os lados. No meio dele, três jovens damas se encontravam para um chá, porém uma delas deixou a mesa e suas companheiras, seguindo na direção de Thalia, que não conseguia focalizar seu rosto, por mais que conseguisse descrevê-lo como belo. E se tornou ainda mais belo quando se inclinou e sorriu na direção dela antes de falar.

― O rapaz tem razão, minha querida: você precisa se acalmar, e despertar! Nada de ruim irá lhe acontecer se confiar nele. Confie e conte para ele, se sentir confortável para tanto. ― e com um toque da mulher misteriosa, Thalia despertara nos braços de Nico.”

― Thalia? Você ta me ouvindo? ― Nico a sacudia, trazendo-a de volta a realidade. ― Por que está chorando?

― Eu... ― ela pigarreia, ao sentir a voz embargada ― Eu tive um pesadelo com Luke!

Por mais que quisesse dividir o que havia visto, pois sentia que isso seria a única coisa que a impediria de surtar, estava claro que naquele momento ambos se sentiam desconfortáveis. Thalia, na tentativa de escapar dos olhos sondadores de Nico, levantou-se e foi até a geladeira buscar água; ele, por sua vez, encarou o pacote de batatas que havia pegado. Luke era um assunto complicado para ambos: por mais que ela o tivesse perdoado, ainda seria parte de sua história, e por mais que Nico entendesse o que Luke sofrera, jamais conseguiria esquecer que fora graças ao erro do filho de Hermes que ele perdera a irmã.

Entretanto, não era nisso que deveria pensar naquele momento.

― Quer me contar? ― ele pergunta, voltando a comer batatas chips, numa tentativa de se manter calmo: Thalia ainda precisava dele, e não de uma sessão de auto-piedade.

― Vai dividir isso aí comigo? Acho que estava procurando por algo para comer. ― ela volta a se sentar na sua frente.

Sorrindo minimamente, ele lhe oferece as batatas enquanto ouvia-a retratar o que se passara em seu pesadelo. Segundo Thalia, já tivera sonhos assim, porém jamais tivera um episódio de sonambulismo, muito menos sonhara com a tal mulher do campo.

― Certeza de que não era um milharal? Poderia ser Deméter... ― Nico sugeriu, abrindo outro pacote de batatas, aproveitando para roubar um gole da garrafa d’água que Thalia pegara.

― Se fosse pra sonhar com milho, eu preferiria que fosse com pipocas bem suculentas, sabor manteiga! ― ela murmura debochando, pegando a garrafa de suas mãos e jogando as pernas sobre a mesa.

Nico poderia ter protestado a respeito do milho e da pipoca, dito que isto lhe trazia péssimas memórias, mas assim que reparou nas pernas de Thalia ― que mal eram cobertas pelo short do pijama ―, nada mais se passou por sua cabeça.

― Você usa pantufas de animais? ― ele pergunta de repente, soando uma oitava mais alta, engasgando-se com as batatas.

― Ai, deuses! Hipnos me odeia! ― Thalia esconde o rosto nas mãos, tirando as pernas do alcance das vistas de Nico.

― Quem diria que a Grace tem um lado fofo?! Awwn, eu vou te zoar eternamente! ― ele continua rindo.

― Nico di Angelo, não se atreva sequer a começar! Isso vai ser nosso pequeno segredinho, ok? ― ela propõe a barganha.

Mas, mal sabia Thalia, nada se propõe quando Nico di Angelo está de bom humor e disposto a ser espontâneo.

P. O. V Nico:

Eu passei dois anos ouvindo de Will e Jason que eu precisava ser espontâneo, e desde que eu entrara para a Yancy Academy eu estava sendo o mais espontâneo possível. Meus melhores amigos provavelmente se orgulhariam de mim se me vissem, e eu esperava de coração que Jason Grace não quisesse me matar quando notasse que a razão de minha espontaneidade era sua querida irmãzinha.

― Foi mal, mas eu não resisto ao instagram! ― viro o celular e mostro a foto para ela.

Nela, Thalia estava com o rosto escondido entre as mãos, e suas pernas ainda estavam sobre a mesa, dando-me uma visão privilegiada do par de pantufas de águia. Eu sabia que pantufas de animais existiam, porém não sabia que havia um design de águias... Tentava entender se ela estava sendo patriota, ou se era uma homenagem bizarra a Zeus ― o que seria estranho, visto que ela estaria “pisando” no pai.

Minhas indagações, contudo, tiveram que ficar para depois, uma vez que minha morte chegara mais cedo, na forma de uma menina dona de olhos azuis elétricos e amedrontadores.

― Corre! ― ela tira as pantufas, preparando-se para o ataque.

― Pera, só mais uma foto! ― em meu surto de espontaneidade e idiotice, bato uma foto da poker face dela ― #RagazzaGrace #pantufasdeáguia #vousermorto #paiatédaquiapouco #Gracetabolada #voumorrerrindo #partiuHades

― Posso te matar agora, meu querido? ― ela questiona, sorrindo ironicamente.

― Pode tentar, bambina! ― acenei e saí correndo, esquecendo-me do horário do toque de recolher e todas as regras daquele internato.

Alguns poderiam estar se perguntando: “Mas, Nico, por que você não viajou pelas sombras?”. Bom, primeiramente, eu não gastaria meu poder para isso, era só uma brincadeira. Segundo: era uma perseguição com a Thalia, eu poderia enviar pra TV Hefesto e ser feliz no submundo. Já estava claro que perturbá-la era minha função como ser, ta na minha ficha.

Nome: Nico di Angelo. Filiação: Hades e Maria di Angelo. Função: sofrer, ir pra várias guerras, viajar aleatoriamente, ser adotado por vários semideuses, perturbar Thalia Grace.

― Seu filho da mãe! ― dava para sentir que ela se controlava com as palavras, mas em compensação, corria a toda velocidade atrás de mim, afetando toda a rede elétrica com sua raiva.

As luzes de emergência piscavam, as lâmpadas estouravam por onde passávamos... Talvez minha real função fosse enraivecer Thalia Grace, e eu estava fazendo isso muito bem para o meu gosto. Definitivamente, meus amigos amariam ver isso em full HD.

― E do pai também! ― gritei e desviei de uma pantufa voadora. ― Olha, obrigada pelo presente! Vou guardar com todo o carinho! ― pego o sapato de pelúcia e continuo correndo.

― Merda! Devolve o Fluffy!

― Isso não era o nome de um Pokémon? ― grito por sobre o ombro, não sabendo se me espantava por ela nomear pantufas ou por ela nomear pantufas com nome de um Pokémon elétrico.

― Não interessa! Devolve minha pantufa; eu tive muito trabalho para mantê-la viva durante as caçadas.

― Já era! Você perdeu o Fluffy esquerdo! ― continuei correndo, indo em direção a ala dos garotos.

― Nico di Angelo, volte já aqui! Não ouse... Erres es korakas!! ― apenas ouço seu grito antes de sentir o peso em minhas costas aumentar.

Ela estava em cima de mim. Havia pulado para minhas costas, obrigando-me a diminuir o ritmo da corrida na tentativa de nos equilibrar. Eu achava que estava perdendo a noção, mas ver Thalia enlouquecer por uma pantufa, ao ponto de puxar meu cabelo, me fez crer que havia gente pior por aí.

― Se você não devolver minha pantufa, eu vou continuar puxando!

― E a gente vai cair! ― argumento, contendo uma careta devido o puxão forte.

― Eu vou ser esmagada: você é um obeso!

― Para de recalque, garota! Você sabe que sou gostoso!

― De novo esse papo? ― ela enfim desiste de puxar meu cabelo, e põe os braços ao redor do meu pescoço, tentando se equilibrar.

― Quer voltar na cozinha e ver se tem queijo? ― viro meu rosto para ela, sentindo-a perigosamente próxima.

― E quem é que vai te cozinhar? Acho que ainda vai ficar faltando uns temperos... ― ela murmura perto de meu ouvido.

Seu hálito quente fazia cócegas em minha nuca, deixando-me arrepiado. Precisei de muito esforço para clarear a mente e lembrar-me do que estava acontecendo.

― Deuses! ― seguro suas pernas, para que ela não caia. ― Você deve ter batido a cabeça em algum lugar enquanto estava sonâmbula!

― Não tenho dados para te responder isso! ― ela boceja, encostando o rosto em meu ombro. ― Me leve para o quarto, escravo! Mas não se anime muito: você é apenas a minha carona para a minha caminha!

― Aaah, poxa! Pensei que hoje eu comprovaria a teoria da Maite! ― debochei, caminhando na direção contrária.

― Quem sabe um dia? Talvez eu me sinta generosa um dia, di Angelo, e te deixe conhecer o paraíso! ― ela diz pensativa.

Era uma tentativa de me provocar, assim como eu tentava provocá-la ao me oferecer com queijo e/ou salsa e cebola, porém sua voz carregada de sono apenas tornava a situação quase fofa, e bastante engraçada.

― Thalia, você é muito mais divertida na madrugada! Nunca imaginei esses pensamentos em uma ex-caçadora!

― Eu era caçadora, prometi ficar longe de garotos, mas não era paranóica! ― ela se defende, despertando de repente. ― Meu quarto é aquele ali... E cadê a Valentina?

Entro no quarto, com a Punk ainda nas minhas costas, e vejo que a janela ainda está aberta, apesar de o relógio digital sobre a escrivaninha indicar ser três da manhã. Antes que eu pudesse murmurar alguma teoria a respeito do paradeiro de Val, Thalia apontou para algo no parapeito da janela; chego mais perto, e vejo que se trata de uma pena com várias tonalidades de roxo.

― Já sabemos com quem está a Cria Maluca II ― entrego-lhe a pena.

 

― Aposto 50 dólares que ela não chega a tempo da primeira aula. ― ela atira a pena pela janela, apertando-se ainda mais contra minhas costas.

― Aposto que ela ainda te acorda antes do café! ― entro na onda, usando uma das mãos para fechar a janela e a cortina.

― Se isso acontecer, acho que entro para o grupo da Diamond, faço mechas cor-de-rosa no meu cabelo, e aprendo a dançar tango com o Leo!

― Tá apostando alto, em Grace! Reyna não curtiu! ― olho o quarto ao meu redor.

É bem parecido com o meu próprio quarto, com a grande diferença apenas nas cores deste. De um lado a parede era rosa bebê, cheia de fotos, recadinhos, poemas etc.; do outro um pôster de The Walking Dead, e outro do Green Day estavam colados na parede clara, deixando sobressair às cores escuras dos pôsteres e as pichações.

― O que tem a Reyna a ver com isso? ― ela pergunta confusa, quando sento em sua cama.

― Tá rolando uma aposta entre os Stolls, onde Travis acha que Reyna ta a fim do Leo. Aposta que muito me beneficia, mas deixa certa filha de Atena mais pobre. ― sorrio, pensando em como Annabeth discordava, achando que Leo jamais superaria a queda por Calipso...

O que, convenhamos, deveria acontecer, uma vez que esta agora era minha cunhada. Eu já tinha certas ressalvas com o Valdez, e se ele se engraçasse de novo para cima de Calipso ― que deu muito trabalho para juntar, mais uma vez, com Lucas ―, teríamos sérios problemas naquele acampamento. E se eu superei certas quedas, Leo também podia superar esta. 

― Você só sabe apostar! ― Thalia me repreende, mas não parecia falar sério.

― Passei mais de 50 anos dentro de um cassino, o que você queria? ― me solto de seus braços e pernas, e giro para encará-la ― Apostar é um dos meus prazeres, bambina!

― E quais são os outros? ― ela questiona, franzindo o cenho.

― Quem sabe um dia, quando eu estiver generoso, eu não te mostre? ― pisco para ela, sorrindo ― Boa madrugada, Thalia. E não vá a cozinha sem mim!

― Você está proibido de comer batatas sem mim! E devolva minha pantufa! ― ela me puxa de volta, pelo cabelo.

Maldita hora em que resolvi dormir sem camisa. Pelo menos eu sofreria menos... Se bem que ela poderia ter me puxado pela calça...

― Não mesmo! Ela será o meu habeas corpus: ameace-me, e eu terei um contra-ataque! ― balancei a pantufa na frente do seu rosto. ― Você quer de volta?

― O que você acha?!

― Não vai ter! ― e foi aqui que uma “merda” aconteceu.

Minha intenção era apenas beijar a ponta de seu nariz, como da última vez, mas Thalia se inclinou um pouco para trás, e eu acabei lhe beijando os lábios.

Foi um toque estranho: curto demais para ser considerado um beijo escandaloso, porém longo demais para ser apenas um selinho. Eu cheguei a sentir seus lábios se separarem e acomodarem os meus, contudo eu sabia que se me permitisse continuar, morreria no segundo em que finalizasse o contato.

― É... ― ela murmurou quando me afastei.

Estávamos ofegantes, e ela estava vermelha de vergonha ― o que me levava a crer que eu estava no mesmo estado. Eu precisava sair dali antes que agisse de forma tão espontânea, que chegaria a ser irracional.

― Eu... eu... boite noa! ― murmurei qualquer coisa, saindo do quarto ainda com a pantufa em mãos.

Voltei para meu quarto atordoado, necessitando de um conselho ou de um choque de realidade, porém John já estava dormindo e não havia com quem eu pudesse comentar sobre o que acontecera ― se eu contasse para os dois melhores amigos que o destino me arranjou, um provavelmente me mataria, e o outro me zoaria tanto que eu pediria para morrer... Seria melhor não colocá-los no meio disso―, portanto apenas escondi meu habeas corpus, e deitei-me, com a mente meio nublada.

Eu, provavelmente, havia acabado de assinar minha sentença de morte.


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Notas finais do capítulo

E então?? Estão gostando desse Nico espontâneo? E o que me dizem sobre esse final? Contem-me tudo nos reviews. Beijoos