Undisclosed Desires escrita por Dama do Poente


Capítulo 18
17 - I Know You've Suffered


Notas iniciais do capítulo

Sabe aquela música que você ama, ama muito mesmo? Então, Undisclosed Desires é assim pra mim: tudo!!
E o título do capítulo de hoje é o primeiro verso da música, e ao longo da história, mais versos irão aparecer.
Agradeço a todos que comentam, que favoritaram a fic, e um especial obrigada a Cel Jackson, que leu e comentou todos os capítulos em questão de horas!! *atualização 20/10/2016* eu incluí trechos de Jesus Of Suburbia nesse capítulo, além de um pouco mais de narração.



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P. O. V Thalia:

Valentina voltou chorando para a sala de música, se jogando perto de nós e falando coisas desconexas que envolviam Nico, música, tristeza, irmã, e algo sobre ela ser um desastre ambulante que deveria ser proibida de cantar assim como Alexia... Não entendi o final, mas o início sim e não foi preciso muito mais para que todos começassem a me convencer ― para não dizer ofender, dizendo que eu deveria engolir meu orgulho ― a ir atrás de Nico... Coisa que eu já pretendia desde o momento em que ele saiu e não voltou.

Portanto, procurei por ele de novo, tendo que refazer toda a busca anterior; dessa vez, contudo, tive certa dificuldade para encontrá-lo: 70% dos discentes masculinos eram compostos por garotos de cabelos escuros e pele pálida. Para onde eu olhava, havia um emo, mas nenhum era o que eu procurava.

― Pelos deuses, Nico: onde você se enfiou? ― pergunto, passando pelo pátio onde as árvores frutíferas ficavam.

― Aqui em cima!

Foi por um triz que ele não me atingiu na cabeça enquanto balançava as pernas, sentado em um galho baixo de uma das macieiras. Lancei-lhe um olhar irritado, ao qual ele respondeu com um sorrisinho de desculpas que eu achei fofo o suficiente para que eu não me aborrecesse.

― Precisamos conversar! ― decreto, tentando olhar em seus olhos, e não conseguindo devido à distância.

― Suba! A vista é espetacular! ― ele sugere, olhando para além do prédio da escola, para o horizonte de Nova York.

― Sério?

― Quer ajuda?

― Eu já fui uma árvore sabe? Eu tenho certa habilidade no quesito galhos, macaquinho! ― segurei-me no galho mais baixo, impulsionei meu corpo para cima, como uma ginasta faria, e equilibrei-me em pé sobre o galho. ― E aí? ― encaro um di Angelo boquiaberto.

― Ah... Como você fez isso?

― Isso não vem ao caso, não subi para falarmos sobre minha ótima performance como ginasta! ― sentei-me no galho, abraçando o tronco que estava entre nós: a altura ainda me dava vertigem, porém não queria me concentrar em meu medo naquele momento. ― Como você está?

― Vou bem, e você?

― Não minta para mim, eu te conheço desde que você era um pirralho jogador de mitomagia; eu te vi ser cuspido de uma sombra no Carl Schurz, eu quis te usar contra a multidão de zumbis no shopping...

― Thalia, você me seqüestrou para isso uma vez! ― ele comentou, inclinando-se para sorrir para mim.

― Não me interrompa quando eu estiver falando, Nico di Angelo! Cuidamos do Percy juntos, descobri que você é um nerd em mitologia, portanto sei o bastante ao seu respeito para saber quando você ta bem ou não, agora confessa que não ta bem pra eu tentar te ajudar de uma vez! ― acho que finalizei gritando, porque ele me olhava assustado.

― Terminou? Ou acha que gritar vai ajudar em alguma coisa? ― ele questiona.

Seu tom sério me fez perceber que eu havia ultrapassado todos os limites da normalidade, então me obriguei a respirar fundo. Eu estava ali para ajudá-lo, consolá-lo, e não voltar a discutir por motivos bobos ― isso quando não havia motivos, o que era a realidade na maior parte do tempo.

― Ok! Conte-me, como se sente. ― peço, depois de estar mais calma.

― Sozinho! ― ele prontamente responde.

― Puxa, muito obrigada!

― Você me entendeu! ― revirou os olhos escuros, escondidos por trás das lentes dos óculos, que estavam levemente escuras. ― Como se sentiu depois que perdeu Jason, quando você era mais nova?

― Como a pior irmã mais velha do mundo, filha de uma dependente! Eu me senti suja, como se toda minha vida acabasse ali... ― confessei, fazendo uma pausa antes que eu mergulhasse em lembranças dolorosas demais.

― É mais ou menos assim que me sinto: eu deveria ter protegido a Bianca! Eu sei que a culpa não é de ninguém, mas ainda acho que se eu não tivesse sido tão dependente dela, se eu não tivesse enchido tanto a paciência dela, talvez ela ainda estivesse viva. ― ele murmura cabisbaixo, com a tristeza tomando conta de sua voz.

― Você sabe que não é assim! Se fosse dessa forma, Jason nunca teria saído de perto de mim, e eu nunca teria fugido! Quer dizer, isso se eu nunca tivesse sido revoltada com tudo e todos.

― Seu caso é diferente: você tinha uma mãe! Eu não! Eu só tinha minha irmã, e ela só tinha a mim! ― argumenta, balançando negativamente a cabeça. ― Deve ser por isso que ela foi pra caçada: em busca de uma família!

― Ela tinha uma família com você, ela talvez só quisesse amigos! ― balbuciei, querendo acreditar no que defendia: se Bianca tivesse se juntado à caçada buscando uma família, ela não mereceria o carinho que Nico ainda nutria por ela.

Mas, considerando o sacrifício que ela fizera apenas para pegar a estatueta, talvez seus motivos fossem mais parecidos com os meus: para se proteger!

― É, mas ela só teve a morte!

― Não é verdade, Nico: ela se divertiu no tempo que passou conosco; se divertiu, e mostrou toda a sua bravura! ― olhei nos olhos escuros dele. Os mesmos olhos de Bianca ― E seu amor por você!

― Eu a encontrei no Mundo Inferior uma vez! ― ele continuou, encarando-me ― Ela me pediu para ser feliz! Disse que, se eu fosse feliz ela também seria: morta, viva ou renascida!

― O que aconteceu com ela? ― eu estava mesmo curiosa: nunca havia tido conversas tão profundas com Nico como estava tendo nos últimos meses.

Nas ocasiões em que nos encontrávamos nos anos anteriores, no máximo passávamos instruções de batalha um para o outro. Nunca havíamos sido tão próximos como estávamos sendo nesse ano, e não era para menos: 2013 estava nos mudando gradativamente.

― Foi para os Elíseos, mas, durante a guerra contra Gaia, resolveu renascer!

― Nunca procurou por ela depois disso?

― Eu não saberia reconhecê-la, eu acho! ― ele desviou o olhar, pensativo.

Não havia mais nada para se dizer, e eu não tinha a mínima idéia de como ajudá-lo. Eu havia perdido Jason, mas o reencontrara quando menos esperava. Para ser sincera, eu já não esperava mais que meu irmão estivesse vivo, e encontrá-lo deve ter sido a única benção que os deuses me deram ― que Hera, de uma forma torta, me proporcionara! Nico, no entanto, não teria mais a chance de reencontrar Bianca!

― Thalia? ― ele me chamou depois de um tempo. ― Agora que lhe contei, em parte, como me sinto... O que acha de me contar algo em troca?

― Manda a ver, fantasminha! ― sorrio para ele.

― Por que entrou na caçada? ― e sua pergunta me pega de surpresa.

Há poucos dias eu pensava sobre a mesma coisa; era como se ele tivesse lido meus pensamentos naquela hora.

― Decepções amorosas são, sem dúvida alguma, um dos maiores motivos para ter tantas caçadoras! E, não me orgulho de dizer isso, mas eu fui mais uma que entrou quase pelo mesmo motivo...

― Luke? ― ele me interrompe antes que eu pudesse terminar meu pensamento.

Eu não entrara na caçada por conta de uma decepção amorosa, não do tipo romântica, mas sim para me proteger de mim mesma. Eu tendia a fazer coisas absurdas por aqueles que amo.

― Infelizmente! Sabe: naquela época eu pensei que se conseguisse conversar com ele, Luke se lembraria dos velhos tempos, se lembraria de quando éramos uma família, e desistiria dessa idéia maluca de servir a Cronos.

― Mas não funcionou...

― Não! Ele queria a família de volta, mas também queria o poder! E não se pode servir a dois senhores ao mesmo tempo! Ou você seve ao amor, ou ao poder! ― reflito, desviando-me totalmente da pergunta feita por Nico ― Ele preferiu o poder, e ganhou a dor!

Minha constatação pesou entre nós, enquanto observávamos o panorama de Nova York. Abaixo de nós, adolescentes problemáticos passavam e nos encaravam, tentando descobrir qual era o nosso problema ― ou talvez apenas tentassem ver algo sob a minha saia ―, todavia eu estava tão entretida com a conversa que nada mais estava me importando naquele momento.

― Somos dois azarados! ― ele conclui depois que o silêncio se tornara quase opressor. ― Mesmo que minha irmã estivesse viva, eu continuaria sozinho, porque ela não ficaria no acampamento comigo e eu não poderia seguir a caçada com ela.

― E mesmo que eu tivesse decidido ficar com Luke, eu carregaria eternamente o peso da queda do Olimpo. Um peso bem maior do que a de uma tiara! ― sussurrei, lembrando-me do pesadelo da noite anterior.

― E por que saiu da caçada? Achei que fosse feliz lá!

― Eu era! E como era, mas estava perdendo as aventuras... ― disse por alto.

Eu pensava em várias justificativas para ter deixado a caçada, porém nenhuma parecia boa o suficiente, ou completa. Eu dissera a Ártemis que estava tendo dúvidas sobre aonde eu pertencia, e essas dúvidas ainda estavam comigo, mesmo após meses vivendo no Acampamento.

It says home is where your heart is (Dizem que lar é onde seu coração está)

But what a shame (Mas que vergonha)

Cause everyone’s heart (Porque o coração das pessoas)

Doesn’t beat the same (Não batem da mesma forma)

― E agora você ta mentindo pra mim! ― Nico sorri, e mais uma vez me perguntei se ele desenvolvera o poder de ler mentes.

― Mas pelo menos você ta sorrindo, o que significa que mais uma vez, o dia foi salvo, graças a Grace Poderosa! ― cantei vitória, fingindo polir minhas unhas.

O sinal indicando o almoço soou, assustando-me. Toda a atmosfera criada se quebrou, e enfim notei onde estávamos: muito longe do chão para o meu gosto. E acho que isso ficou claro na minha cara, pois no segundo seguinte, Nico pulava da árvore, e caminhava tranquilamente até onde eu estava, virando-se de costas para que eu mais uma vez me pendurasse nelas.

Devido às circunstâncias, não consegui negar a ajuda oferecida: soltei o tronco da árvore aos poucos, passando minhas pernas ao redor da cintura dele, constrangida com tal ato, mesmo sabendo que impulsivamente fizera o mesmo na noite anterior. Porém, ser carregada não era a única coisa da qual eu me lembrava.

― E então, Grace Poderosa, o que faremos agora? ― ele segura minhas pernas, ajeitando-me enquanto caminhava em direção a escola, despertando-me de meus pensamentos.

― O que fazemos todos os dias...

― Tentar dominar o mundo? Eu sou o Cérebro!

― Se você considera almoçar alguma espécie de dominação, então sim, vamos dominar o mundo, e depois eu vou fugir daquelas malucas! ― suspiro, pensando sobre a idéia absurda de Catarina e Maite de brincarem de SPA.

Não que eu repudiasse totalmente essas coisas, apesar de parecer ― se eu repudiasse, jamais saberia fazer uma maquiagem punk. Ficaria um estrago total ―, mas eu realmente não estava no clima para uma festa do pijama.

― Qual é Lia, participa: você merece um dia no SPA! Temos que estar todos belos amanhã!

― Não preciso de um dia no SPA para isso! ― a idéia não era soar presunçosa, mas acredito que tenha sido exatamente assim que a frase pareceu.

― Tem razão! ― ele concorda, sentando-me sobre uma das mesas do refeitório, e virando-se para me encarar ― Mas, em todo caso, alguém precisa tomar conta da punkâmbula aqui ― ele aperta a ponta de meu nariz, para logo em seguida apoiar suas mãos ao lado de meus quadris ―, e eu vou estar ocupado jogando vídeo-game...

Cara a cara com ele, pude ver que seus olhos ainda estavam abatidos, mas um resquício do brilho de diversão estava começando a aparecer. Por um momento, me senti como Catarina vivia dizendo se sentir: altruísta, bem por ter feito algo para alguém; mas eu ainda tinha meus dramas para viver.

― Por que não posso ficar jogando com você? Seria muito mais legal e...

Porém não consegui terminar meu raciocínio/tentativa de chantagem emocional ― eu estava desesperada mesmo para escapar ―, pois uma das responsáveis por meu futuro cárcere se aproximava, e tinha um estranho sorriso estampado em seu rosto.

P. O. V Nico:

― GENTE! ― Maite corria em nossa direção, já sem o uniforme, mas para quando estava próxima o suficiente para nos ver claramente. ― Nossa, parece que você realmente tem uma namorada, não é Nico?

Levei um segundo para entender, até que voltei meus olhos para os azuis elétricos de Thalia. Os dela estavam arregalados sobre as bochechas rosadas, e por um momento a achei fofa ao ponto de eu ter de comprimir meus lábios, reprimindo um sorrisinho e um comentário que insistiriam em sair. Seus lábios estavam, mais uma vez, entreabertos, e a cena da noite passada voltou a minha mente, fazendo com que uma sensação de calor tomasse conta de mim.

― Quem me dera! ― soltei essa, apertando mais uma vez o nariz quase diminuto de Thalia, antes de me afastar e sentar-me ao seu lado. ― O que foi?

Os olhos verdes de Maite ainda faiscavam, captando a mentira no ar. Só não sabia qual mentira ela achava que era: eu mentir sobre não ter um relacionamento com Thalia, ou eu mentir sobre ter um relacionamento qualquer. Mais solitário que eu não deveria existir...

― O diretor acabou de liberar a todos para irmos à cidade comprar as roupas para a festa de amanhã. ― ela informa, fingindo desinteresse na cena anterior.

Thalia e eu nos entreolhamos, e acho que pensávamos a mesma coisa: “legal, não pensei em trazer dinheiro para isso!”... O que era verdade, no entanto eu tinha alguns segredos na minha carteira... Como um cartão de crédito, que eu não tinha idéia de como fora parar lá, mas que seria extremamente útil naquele momento.

― E, ele também nos liberou para ver o Sam! ― Maite continuou ― E eu to indo pro hospital agora, junto com o resto do povo!

― Espera cinco minutos, que eu vou trocar de roupa e voltar correndo! ― e Thalia some, antes que eu pudesse dizer McLanche Feliz.

― O que você ta esperando para trocar de roupa? ― Maite pergunta, e eu noto o sorriso malicioso voltando a tomar conta de seu rosto. ― Porque se ta esperando alguém para te ajudar, eu sinto dizer que a Thalia já sumiu de vista. A menos que esteja apreciando a vista dela correndo: pode confessar que gosta dela, Nico. A escola toda já desconfia, e a Diamond está uma fera com isso.

― A escola toda pode ter certeza de que gosto da Thalia: somos amigos afinal! ― reviro os olhos ― E o que a Diamond sente não está no topo das minhas prioridades... Então, se me der licença... ― sigo para dentro da escola, sem esperar que ela retrucasse.

― VOCÊ NÃO PODE MENTIR PARA UMA MITOMANÍACA, NICO! E SE VOCÊ CORRER, TALVEZ AINDA ALCANCE A THALIA! ― Maite grita rindo, levando-me a ficar ainda mais vermelho de vergonha.

Entro na escola, balançando a cabeça, seguindo direto para meu dormitório, que estava vazio, com exceção de Cevada, que cochilava tranquilamente sobre a escrivaninha de John. Como não tinha muito tempo para ficar escolhendo roupas, ignorei a gatinha e abri meu armário, encarando minha antiga jaqueta de aviador por um momento, sentindo a nostalgia tomar conta de mim. Embora eu tivesse comprado uma parecida, não conseguia me desfazer da antiga e a carregava comigo por aí.

― Sem tempo para lembranças agora, Nico! ― suspiro, fechando a porta do armário.

Caminho para o banheiro, tomando um banho rápido e vestindo a roupa que havia escolhido, voltando para a entrada da escola enquanto ainda tentava arrumar meus cabelos. Quase conseguia ouvir Valentina falando que eu precisava cortá-los, mas geralmente eu a ignorava nesse assunto.

Estavam todos na entrada conversando e, pelos meus cálculos, mais de 15 minutos haviam se passado antes que Thalia enfim saísse de dentro da escola.

― Nico, como eu te dizia, garotas sempre vão demorar mais que garotos para se arrumar! ― Maite debocha, impaciente ― Não importa o tipo de roupa que elas vão vestir.

― Muito engraçada! ― Thalia revira os olhos.

― Por que vocês sempre se vestem igual? ― Maite pergunta, e sou obrigado a nos analisar.

A temperatura naquela semana já estava bem próxima do frio, portanto vesti jeans pretos, uma camisa do Guns N Roses, usando uma jaqueta de couro preto sobre ela, e calcei meu velho par de converse. Já Thalia vestia sua tradicional jaqueta de couro com spikes ― que ainda cabia nela depois de seis anos sem envelhecer ―, calças pretas também de couro, coturnos, e uma camisa do Guns N Roses.

― Vou trocar de roupa! ― ela diz, depois de nos entreolharmos.

― NÃO! ― Maite e eu gritamos ao mesmo tempo.

― Tá ótima assim, Thalia! Eu até te pegaria, se não soubesse que poderia morrer depois disso! ― puxo minha sósia de roupa para perto do grupo.

― Se peguem, eu aposto que vale a pena só por prazer! ― Maite opina, nos seguindo.

O resto do grupo nos analisa por meros segundos, talvez já acostumados com toda a esquisitice entre nós. Não era a primeira vez que Thalia e eu usávamos roupas parecidas; eu estava quase esperando o dia em que ela apareceria no meu quarto para roubar alguma roupa minha... Juro que a vi cobiçando a camisa dos Ramones.

― Pensei que vocês nunca mais fossem aparecer! ― Valentina franze o cenho, sendo a única estranhando a combinação.

― O que ele ta fazendo aqui? ― Maite aponta para Eleazar, que estava abraçado a Valentina.

― Minhas aulas acabaram, e minha turma foi convidada para cobrir o evento de amanhã. Então, porque não aproveitar o tempo que terei com ela?! ― ele levanta o rosto da namorada e a beija.

Catarina faz uma careta, semelhante à de Thalia e a minha. Demonstrações públicas de afeto me incomodavam um pouco.

― Parem de inveja! ― um cara ri, e não é John.

― Will? ― estranho o fato de o loiro estar por ali.

A bem da verdade, era estranho Will estar em qualquer lugar que não fosse sua amada enfermaria. Eu quase tinha pena de Stephanye, que precisava dividir o namorado com tantas bandagens e doentes, mas se ela gostava, quem era eu para debochar e criticar? Pelo menos isso me fez perder o cargo indesejado de assistente. Mas, voltando ao raciocínio: era estranho tê-lo ali, em um momento que eu precisava desabafar.

― Fala, Caveirinha! ― ele me cumprimenta com um piscar dos olhos muito azuis, antes de se virar para a irmã mais nova. ― E você sabe que ele vai vir, Cathy!

― Tá demorando muito! ― Cathy resmunga, fazendo aquela voz fofa que me dava vontade de adotá-la.

Seria estranho ter uma filha um ano mais nova que eu? Como Will se sentia agindo como meu pai e de Aria? Eu precisava descobrir isso...

― Não lembrava que você reclamava tanto assim! Uma semana te deixou mais amargurada, gatinha? ― Lorenzzo chega, tirando uma com a cara de Catarina, como sempre.

― Você está atrasado! ― ela reclama, mas vejo um sorriso surgindo no canto dos lábios dela.

― Eles se merecem! ― Thalia me puxa para murmurar em meu ouvido.

― Concordo! ― murmurei sorrindo, lembrando de como o romance dos dois começara ― Só falta o Connor chega aqui para dar uma animada na Agatha!

― Daremos um jeito nisso! ―Thalia promete, piscando para mim também.

― Agora que todos estão aqui, como vamos nos dividir? ― Mai pergunta.

― Thalia e Nico vêm com a gente, porque os dois curtem rock e não vão ficar se pegando e... Por que estão vestidos iguais?! ― Catarina dispara a falar, como de costume, deixando-nos tontos. ― Enfim, não respondam, vocês estão bonitos de qualquer forma! John e Aria vão com Eleazar e Valentina, pois se por acaso se entediarem com o amor do casal da frente, podem se agarrar a vontade no banco de trás. E Maite e Agatha vão com Will e Steph, porque eles são fofos, mas sabem a hora certa de se pegar. Resolvidos nossos problemas, vamos pro hospital!

― Ótimo! Então a gente continua o papo no hospital. ― Maite nos apressa, empurrando seus companheiros de Road Trip.

Sem mais delongas, vamos para os carros destinados, e Catarina já escolhia a trilha sonora da viagem antes mesmo de entrarmos no Porshe de Lorenzzo.

― Você não trouxe o Living Things? ― ela reclama, checando o porta-luvas.

― Nem o Meteora, nem o Hybrid Theory, muito menos o A Thousand Suns! Mas trouxe um que nossa amiguinha ali vai amar! ― ele liga o rádio, e o álbum American Idiot começa a tocar.

― Por Apolo, finalmente música boa após essa semana toda! ― Thalia escorrega no banco ao meu lado, cantando junto com Billie Joe ― Eu me casaria com o Billie Joe neste exato momento!

― Thalia, você quer ficar com o CD? É o máximo que posso proporcionar. ― Lorenzzo pergunta rindo, assim como Cathy e eu.

― Não, eu quero o Billie! ― Thalia faz manha, o que era de se estranhar, mas ainda assim fofo.

Por que ela estava fofa naquele dia? Por que eu a estava achando fofa? Estaria eu doente? Chalé sete, me ajude!

― Nico, aceita lentes de contato e delineador? ― Catarina sugere.

― Não! Ela vai morrer solteira! ― digo, me contorcendo de rir também.

― Vocês não têm jeito! ― ela ri também, e entra em algum tipo de transe mental, ou conversa mental com Lorenzzo.

Thalia continuava a cantarolar do meu lado, mas dessa vez olhava pela janela. Parecia tranqüila, embora os acordes da faixa homônima fossem o extremo oposto, cantarolando baixo enquanto batucava o banco. Por algum motivo, um sorriso se abriu em meu rosto ao vê-la assim.

― Obrigado! ― inclinei-me e sussurrei perto de sua orelha.

― Pelo quê? ― ela questiona distraída.

― Por me entender, quando ninguém mais consegue! Por me ouvir! ― respondo, tão perto que acabo beijando seu pescoço.

Um arrepio percorre nossos corpos, e por um minuto sinto medo de qual seria sua reação. Eu passara uma parte da noite acordado, pensando em como me senti ao dar-lhe um simples selinho, e agora que tivera a oportunidade de tocá-la novamente não hesitei em fazê-lo.

― Eu posso dizer o mesmo! ― ela diz, e me surpreende ao se recostar em mim.

― Disponha! ― murmuro, apoiando meu queixo no topo de sua cabeça, abraçando-a.

E ao som de Jesus Of Suburbia, permito-me esquecer um pouco de minhas dores, e das conseqüências de meus atos.

I don’t care if you don’t care (Eu não me importo se você não se importar)


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Notas finais do capítulo

Vou correr com o próximo, porque eu to amando escrever essa fic
BJS
P.s.: eu ainda to amando escrever/editar UD



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