Undisclosed Desires escrita por Dama do Poente


Capítulo 10
9 - Quiromancia


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo tá tão bipolar quanto eu, mas espero que gostem!! Eu o comecei com uma idéia, e acabou saindo totalmente ao contrário. *atualização em 18/08/2016* A coisa mais louca sobre esse capítulo foi que parte da ação dele foi inspirada em cenas reais que vivi no segundo ano do ensino médio. Espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/401223/chapter/10

P. O. V Nico:

Depois da brincadeirinha que fiz, consegui sair mais ou menos vivo, e tenho como lembrança apenas um olho roxo ― o que não interferiria caso alguém realmente quisesse me provar à parmegiana. Catarina não quis fazer alguma mágica de Apolo para me ajudar a curar mais rápido; ela disse que estava ocupada aprendendo Quiromancia.

De certa forma fora bom, pois aqui estou eu, dois dias depois, com apenas um olho roxo, e o time de líderes de torcida me paparicando: considerando a forma como meus amigos estavam me tratando, um pouco de gentileza e bondade alheia não me faria mal; eu estava descobrindo que chamar tanta atenção tinha suas vantagens...

― Coitadinho! Que brutalidade! ― uma ruiva exclamou, acariciando meu cabelo. Eu estava deitado no chão, com a cabeça em seu colo, contando a todos sobre as inúmeras viagens que fizera, escondendo o fato de não tê-las feito de modo convencional.

― Ah, coitadinho mesmo! Um bando de lambisgóia em volta! ― Thalia surge, me puxando pela perna, em seu melhor modo de “morte à Barbie”.

― Ah, pelos deuses, vai me espancar de novo? ― pergunto num misto de medo e desafio.

― De forma alguma, queridinho! Apenas te buscando para a Mãe Lyra e o Pai Johninho!

― Como é? ― perguntei, me levantando como o Chris Martin no clipe de The Scientist

― Quiromancia Avançada: toda sua vida na palma da mão. ― diz simplesmente, como se explicasse tudo.

― Nessa escola só tem louco. ― comentei, acompanhando-a.

― Acho que todos têm benção do Sr. D por aqui!

Ficamos em silêncio o resto do curto caminho, até que encontramos nosso imenso grupo de semideuses, sentados embaixo de uma grande árvore, fazendo diferentes e curiosas atividades. Havia caixas de madeira, tintas, notebooks, cadernos... Tive medo de perguntar o que estavam aprontando.

― Estica essa tinta! ― Steph brigava com Valentina.

― Me explica como é que se faz isso, que eu faço com prazer! ― ela grita de volta, e continua pintando uma caixa.

― O dedo de Apolo? Que louco, vei!! Tem um dedo do meu pai! ― Cathy disse, e puxou a mão da irmã. ― Não faz sentido! Você tem o “Dedo de Apolo” comprido, que está diretamente ligado a artes.

― É, como pintar com tinta! ― Steph fala ceticamente

― Alôo?! Eu sou ligada a artes: não sei se já perceberam, mas eu escrevo! ― ela revira os olhos e se solta de Cathy. ― Agora, licença, tenho que aprender a espalhar a tinta.

― Vocês são todos tão estranhos... Por que ainda ando com vocês? ― pergunto a quem possa me ouvir.

― Porque você nos ama! ― Cathy diz.

― Porque sou gata! – Aria afirma, humilde como de costume.

― Porque somos do mesmo acampamento! ― John ressalta.

― Porque você não sabe quem te mandou pra cá, e como só conhece a gente, tem que andar conosco! ― Thalia dá um direto no queixo.

― Ai meu coração! Se eu tivesse lágrimas, choraria. ― depois desse golpe na estima, me jogo na grama. ― Agatha, o que você ta fazendo? ― pergunto para a filha de Atena, sentada ao meu lado.

― Tentando gravar a tabela periódica, enquanto pesquiso maneiras de impedir que o Connor me stalkeei! Argh, filho da mã!! ― ela atira o notebook longe, assustando-nos.

― Ta maluca? Ta bebendo água da privada? Notebooks são caros, filha! ― Aria começa a brigar com a irmã, usando seu típico tom baixo de voz.  

― Maluca é você! Chama seu namorado de Matinho, cuida de uma gata chamada Cevada, é melhor amiga de um ruivo estranho, psicodélico e pálido, e ainda sai chamando qualquer um por aí de gato ou gata! ― a loira grita, obviamente estressada.

Vou me afastando aos poucos. Eu sabia lidar com Annabeth e Thalia estressadas, e já considerava perigoso. Não gostaria de testar para saber como seria lidar com Aria e Agatha nervosas, discutindo e atirando notebooks por aí.

― Escute aqui, lambisgóia loira, ainda bem que sou “maluca”. Afinal, o que seria de mim se não fosse louca?

― Você seria tipo, aquela parada de sal e açúcar... ― Steph começou o que seria uma das conversas mais loucas que eu já ouvira.

― Sem açúcar? – sugeriu John.

― Não, é sem sal. É tipo, uma pessoa chata. ― Lyra diz, parando de analisar a mão de John.

― Mas também tem sem açúcar! Acho! ― Agatha diz, tirando a grama de seu notebook, aparentemente mais calma depois da distração.

― Gente, é aquela paradinha de pó branco... Eu não lembro. Tudo bem eu não lembrar, sou canadense, mas vocês, brasileiras, não sabem?! Poxa hein! ― Aria parecia genuinamente decepcionada com Agatha e Catarina.

― Os únicos pós brancos que conheço são sal, açúcar, farinha, e cocaína! ― Thalia resolve opinar, e eu me controlo para não espalmar meu rosto.

― Isso porque você é chegada num pó branco, né não, Lia? ― pergunta Valentina.

― Não sou você que manja das drogas! ― a trovoada devolve, desconsiderando a brincadeira feita.

― Você quer dizer que não é certa pessoa, que tem nome de certa coisa, que a Hazel encontrava por aí o tempo todo? ― Valentina pergunta ― Porque aquela ali manja, e como manja dos pós brancos!

― A mina nunca foi ao Brasil, e já fala como se morasse lá há anos! ― Lyra diz. ― Nico, me dê sua mão.

― Não! Eu não quero me casar com você! ― digo.

― Ridículo. ― ela puxa minha mão com tanta força que me fez cair por cima das meninas sentadas ali. ― Vejamos, cadê a linha de saturno? Achei. Fina e rasa... Vê aí, pai Johninho.

― Linha de Saturno fina e rasa: é sinal de dificuldade pelo caminho que vão exigir força de vontade acima de tudo. ― John leu. ― Vish, Nico! Parece que alguém não terá uma vida muito fácil.

Quando foi que eu tive vida fácil? Provavelmente quando era um feto, só pode.

― Pera, a versão romana de Cronos tem uma linha?? ― Thalia pergunta, se interessando pelo assunto. ― Agora ta explicado porque a vida dele vai ser uma merda.

― Shiu, vamos ser a linha do meu papi te dá um help! A sua linha é fraca, e...

― Indica dificuldades no amor! ― John olha a própria mão. ― Ah, agora se explica porque eu apanhei tanto.

― Cala a boca, Mato! ― Aria fala, interrompendo o namorado.

― Sabe que esse apelido é ridículo! ― John reclama.

― Olha a dificuldade no amor aí, gente! ― Valentina diz.

― Continuando! Agora vamos à linha mais polêmica. ― mãe Lyra corta as discussões, antes que estas se transformassem em confusões catastróficas.

― A linha da vida? ― perguntei, reparando que ela não lera essa. 

― Não. A Linha de Mercúrio, baby! ― ela sorriu e examinou atentamente minha mão. ― Fique feliz, a sua é sem cortes!

― Olha, Nico, algo bom: linha de mercúrio sem cortes significa vida longa, saúde de ferro. ― John anuncia, e começo a achar que talvez quiromancia fizesse algum sentido: eu estava vivo há tanto tempo, que sequer conseguia conciliar alguns momentos.

Algumas vezes até me atrapalhava com memórias e comportamentos, parecendo mais velho do que aparentava ser. Quem me conhecia relevava essas coisas, porém isso era confuso quando eu me encontrava em ambientes como a Yancy.

― Ainda bem que é sem cortes, amiguinho! ― Valentina riu, junto com a irmã.

― Por quê? ― curiosidade mandou lembranças, Thalia.

― Quando a linha de mercúrio tem cortes, significa problemas sexuais. Tipo, impotência, e esse tipo de coisa. ― Catarina dá de ombros, como se fosse a coisa mais normal do mundo.

― Acho que você leu a do Nico errado, Lyra! ― Thalia ri.

― Como pode ter tanta certeza? Já provou pra saber, Thalia? ― Maite pergunta, surgindo do nada.

P. O. V Thalia:

Qual o problema dessas pessoas que acham que eu peguei o Caveira? Será que pensavam isso pelo tanto que discutimos por besteiras?

― Já sim! Ele é mó broxa, sabe! ― revirei os olhos, sem um pingo de paciência para brincadeiras.

― Aham. Por isso você ficou tipo, anh, mais Nico, continua, vai-vai-vai. ― Nico começou a gemer, comprando a ironia.

― Nossa, até gozei com essa informação! ― Maite ri, juntando-se ao nosso grupo, jogando-se sob a sombra da árvore também.

Antes que eu pudesse retrucar, ou fazer qualquer comentário irônico, Lyra pediu que eu lhe mostrasse minha mão, e eu preferi entrar na onda da quiromancia: eu não queria ser detida na escola por ter agredido uma das alunas, porque isso aconteceria se eu não me distraísse logo.

― Vai ler as linhas com nomes de deuses também? ― perguntei, tentando demonstrar um pouco de interesse.

― Não, tia. Vou ver qual o seu tipo de mão. ― ela responde, analisando atentamente as minhas mãos. ― Belo esmalte, mas, pai Johninho, qual o seu veredicto?

― Creio que seja uma mão mista: possui uma forma indeterminada, tendo características de todas as outras mãos; revela versatilidade, mas indecisão para realizar as próprias idéias e projetos. Tem temperamento instável, é versátil e mutável em seus propósitos.

― É. Concordo plenamente. Principalmente na parte do tem temperamento instável. ― Nico murmura, adotando uma postura séria e reflexiva.

― Principalmente na cama, ou em tudo? ― Maite provoca.

― Em tudo! ― ele assente, me provocando.

― Quem é você pra falar que tenho temperamento instável, senhor “não to gostando daqui, vou ver minha irmã, dois beijos assombrados”?

― A pessoa por aqui que te conhece há mais tempo. ― ele diz calmamente, e, infelizmente, eu não tinha como contestá-lo.

― Há quanto tempo se conhecem? ― Steph questiona, parando de brigar com Valentina.

― Uns bons 5 ou 6 anos. ― ele responde, despertando memórias que eu nem sabia que ainda tinha.

― Você era um pirralho jogador de mitomagia. ― sorri, saudosa.

― Ele ainda é um jogador de mitomagia. ― Valentina revira os olhos. ― E ainda tenta levar meu namorado para o mau caminho.

 ― Que culpa tenho se ele prefere a mim?

― Não desmunheca, Nico!!

― Nicole, por favor! ― ele piscou, e lhe mandou um beijo.

― Que triste, eu crente, crente, que ia das uns pega nesse emo aí! ― fingi desapontamento, tentando não rir das palhaçadas que ele fazia.

― Não se preocupe, benzinho! As segundas eu sou todo seu! ― ele pisca galanteador, abrindo um sorriso para mim.

― Gente, é muito amor! ― Agatha solta de repente, despertando-nos da brincadeira. ― O que o Connor sente por mim! É muito amor, um amor que machuca! ― ela fecha o notebook, e Aria o tira das mãos da irmã.

― Sabe como é, só pro caso de você tentar arremessar alguma coisa! ― Aria murmura, se afastando com o computador portátil.

― Se você era um pirralho jogador de mitomagia, seja lá o que isso for, o que a Lia era? ― Maite, pelo visto, também era curiosa, além de pseudoninfomaníaca.

― Não me lembro muito bem, eu tinha 10 anos, mas acho que ela era uma punk irritada. Só lembro que ela começou a brigar com o Percyana, e que foi muito engraçado. ― Nico disse, e de repente fechou a cara.

E eu sabia bem o porquê!

Todos à nossa volta continuaram conversando, lendo mãos, esticando tintas ou o qualquer outra coisa, mas eu estava mergulhada no passado assim como ele.

Há seis anos, eu havia acabado de voltar à vida, e estava determinada a trazer Luke de volta para o Acampamento, mas ele já não podia ser salvo. Ele estava mais dominado pela vingança do que Quione esteve no verão; ele estava mais dominado pelo ódio do que qualquer um que eu tenha conhecido. Ele era tão Cronos, que não precisaria ter sido possuído para sê-lo.

E foi ao constatar isso que resolvi entrar para a caçada. E também depois de perceber o mal que nossa missão fez às pessoas inocentes, como Nico e Ártemis. Nico perdeu a irmã: a única pessoa que o amava realmente. E Ártemis perdeu sua caçadora mais antiga, e talvez sua melhor amiga. Nunca saberei. Mas sempre me sentirei imensamente culpada, assim como sei que Percy se sente até hoje.

Nico é o que é hoje em dia por nossa causa, a pressão que fizemos por causa daquela missão, e todas as confusões que nos metemos graças a ela. E vê-lo agora, em seus 16 anos, quase sempre melancólico, me dava uma pontada de culpa, que às vezes quase me levava às lágrimas, porque eu sabia a dor de perder um irmão.

A grande diferença entre nós, era que eu tinha Jason mais uma vez; já Nico nunca teria Bianca de volta.

― Pensando sobre o passado? ― perguntei, quando o silêncio entre nós atingiu um nível assustador.

― Era tudo mais fácil quando Westover Hall era meu lar, e eu não sabia a verdade sobre nada! ― ele respondeu, abraçando as pernas compridas. ― E você, Cara de Pinheiro? Por que o silêncio?

― Apenas percebendo o quanto somos parecidos, além do gosto musical! ― dei de ombros.

― Com pequenas diferenças!

― Pois é, filho de Hades!

― Nem me diga, menina! ― ele sorriu. Aquele mesmo sorriso bobo dos seus doces 10 anos.

― Há mais que isso! ― murmurei pensativa.

― Mais que o quê? ― ele pergunta confuso.

― Deve haver mais do que esses impasses de semideuses! Tem que haver aventuras normais de adolescentes em nossas vidas também! Somos meio-humanos também! ― falei algo totalmente diferente do que pensava.

― Como o que, por exemplo? Descobrir porque estamos aqui? ― ele diz, em zombaria.

E então uma luz se ascendeu em minha cabeça, e eu me senti meio filha de Atena.

― Nico, você acaba de me dar uma boa idéia! E uma ótima aventura! ― sorri para ele.

P. O. V. Nico:

Ela tinha os mesmos olhos brilhantes de seis anos atrás, e eu continuava com medo deles, mesmo depois de todos esses anos.

― Ai não, eu to criando um monstro! ― murmurei, mais para mim, do que para ela ouvir. ― Qual foi sua idéia, Thalia?

― Você não sabe quem te matriculou aqui, e eu também não sei o que estou fazendo numa escola. Nunca sentiu curiosidade em saber?

― Senti! No dia que recebi a carta senti uma curiosidade mórbida, mas tudo o que consegui descobrir foi que o remetente não deu ratos a George. ― respondi, lembrando da conversa estranha que tive com o caduceu. ― Não sei como Percy consegue conversar com aquelas cobras.

― Não vou falar nada, porque Hermes e eu temos nossas diferenças e você sabe muito bem porque, mas enfim, quem nos matriculou teve que trazer documentos e coisas do tipo, certo?

― Sei lá! Pode ser só mais uma Benevolente! ― eu me lembrava de como fora parar em Westover.

― Aham, claro, e ela é tão boazinha que me trouxe pra te fazer companhia na prisão?! Pode até ser que essa seja a sua explicação, mas e para mim? Qual seria o motivo de eu estar aqui?

― Bom... ― fui interrompido pelo estridente barulho do sinal, anunciando o fim do intervalo ― Agora temos mais uma aula de música.

― Isso não vai ficar assim! ― ela disse, enquanto me seguia para o auditório.

E pelo que eu a conhecia, não ficaria mesmo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que acharam? Tentarei postar mais rápido, apesar de que esse mês é difícil, mas não custa nada tentar.BJS