Eu tinha cinco anos de idade quando tive a oportunidade de conhecer a cidade juntamente com meu "pai", já que era assim que o padre gostava que eu me referisse a ele, e no fundo por mais que soubesse que ele não o era, mas, a ideia me confortava e aos outros meninos que viviam no abrigo e que possuíam a mentalidade e organização de uma família.

Apesar de ser muito criança tenho aquele dia nítido e perfeito como uma obra de arte, o dia começou com o nosso sacro ritual cotidiano, tia Helga (tomara que ela não veja isso, pois, ela me mataria) foi nos acordar por volta das seis da manhã, todos levantavam simultaneamente o que causava um congestionamento nos banheiros da casa. Por volta de seis e quinze com todos já banhados e arrumados descíamos para o salão de refeições onde ficávamos até as sete e meia que era quando o padre chegava com o restante dos homens da igreja para nos ensinar as orações católicas e as matérias escolares, mas,naquele dia, foi diferente, ele aproximou-se de mim dizendo:

– Hans que tal sair comigo hoje para dar uma volta pela cidade?

Eu prontamente aceitei o convite todo empolgado, já que além de não ter que assistir as aulas do dia, coisa que não gostava muito de fazer, teria a oportunidade de ficar mais próximo daquele que era a representação mais próxima que eu tinha do significado da palavra pai. Saímos do abrigo e caminhamos em direção a cidade. Ao caminhar estava extasiado com tudo o que via, as pessoas, os edifícios, as pessoas, os animais enfim,tudo que via me deslumbrava. E ele à medida que percebia todo o meu deslumbramento começava a sorrir, já haviam passadas algumas horas desde que saímos de casa quando ele olhando para o relógio e depois para mim, soltou um sorriso e depois disse:

– Que tal pararmos um pouco e sentarmos ali naqueles bancos?

Eu que estava muito cansado, não tinha sequer fôlego para responder, já que gastara todo apressando o passo para acompanhá-lo. Apenas acenei com a cabeça com um gesto de confirmação. Caminhamos para um dos bancos e sentamos, ele percebendo que eu estava cansado, esbaforido, creio que seria a palavra mais apropriada, levantou-se e foi em direção de um senhor que vendia sorvetes, e em seguida voltou quase que na mesma pisada, trazendo dois sorvetes. Olhando para mim sempre sorridente, falou:

– Está aqui para você, para poder repor suas energias perdidas com nossa caminhada. Ao terminar de falar entregou-me o sorvete.

Enquanto conversávamos eu vi de longe dois homens maltratando uma criança e falei para ele que levantou-se e foi em direção deles, que ao vê-lo saíram correndo.

Depois de alguns minutos ele voltou juntamente com a criança que estava sendo agredida, ele apenas sentou-se novamente como se nada tivesse acontecido e eu por minha vez falei:

– Pai o senhor é tão forte que aqueles homens correram para longe, quando crescer quero ser que nem você...

Antes que eu terminasse de falar qualquer coisa ele olhou para mim dizendo:

– Meu filho a força não está nos punhos,pernas ou como você luta, mas, sim de como você manifesta seu poder.

E em seguida acrescentou um comentário que dizia que diante de uma luta eu deveria me imaginar como um jogador de xadrez, jogasse sempre pensando na jogada posterior, depois de algum tempo ele fez sinal de estar com pressa para voltar para casa.

Eram cerca de duas horas da tarde quando retornamos para casa, e durante o caminho ele parou e disse para mim:

– Minha criança vê o que está em sua volta?

Eu respondi com um aceno com a cabeça afirmando que sim e ele em seguida olhando para mim, disse:

– Isso daqui que está vendo é, apenas uma parte de um todo que existe além disso aqui.

Eu continuei com os olhos fixos para "meu pai" e em algum momento irrelevante devido ao fato de não ter que me preocupar com nada, encontrei uma sombra a mais em relação as nossas e quando dei-me conta percebi que aquele garotinho de agora a pouco estava nos acompanhando e Hans ao ver a cena convidou-o a vir conosco.

Chegamos em casa, eram cerca de duas da tarde quando Hans chamou a gente e nos apresentou para o novato.