Crônicas da meia noite. escrita por JeeffLemos


Capítulo 9
Sangue no Egito


Notas iniciais do capítulo

Não achei que tenha ficado bom, mas to colocando assim mesmo. achei a ideia válida, só não sei se consegui expor da melhor maneira.



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Estavam todos reunidos em um grande salão.

   O salão reluzia no mais fino ouro. Seu brilho era tão intenso que chegava a ofuscar os olhos menos “adaptados”.

   Mas todos ali naquele lugar já estavam “acostumados” àquela rotina.

   Conforme iam chegando, formavam um semicírculo de frente para um cadeirão, que ficava em cima de uma pequena elevação. O cadeirão, assim como tudo ali, era de ouro maciço também. Pura luz.

   Após todos reunidos, um homem velho e de aparência arrogante e austera veio caminhando lentamente em direção ao cadeirão, se apoiando em uma bengala. Auxiliado de uma jovem garota, linda ao seu jeito incomum. Com seus grandes olhos felinos e sua pele cor de caramelo.

   Os dois subiram lentamente a pequena saliência, e então, a jovem garota colocou o velho sentado em seu cadeirão.

   Todos a sua volta abaixaram a cabeça quando ele se sentou. Ele fez um sinal com sua bengala para que se levantasse e também se pôs de pé.

– Eu venho aqui lhes comunicar que essa situação não pode mais se estender.

   O homem que estava a sua direita, alto, com um ar intelectual e culto, concordou com o que o velho senhor havia dito.

– Eu concordo meu senhor – disse o homem – mas o que faremos nós em relação a isso?

– É verdade meu avô – disse o jovem rapaz que se encontrava ao lado do homem intelectual – hoje já não somos como antigamente, as pessoas nem sequer confiam em nossos julgamentos, ou o que representamos.

– Acreditando ou não, eles terão que pagar pelo o que fizeram a nossa terra! – disse o velho, que agora já se sentava novamente em seu cadeirão.

– Mas meu pai – disse o outro homem que se encontrava ali. Este também tinha um ar régio e uma postura ereta. Usava uma roupa leve e de pouco tecido, e por todo seu corpo era possível ver cicatrizes. – é como eles disseram. Não nos aceitam mais como reis. Nem mesmo se lembram de nós. Não há um lá que agradeça pelo nosso trabalho. Porque deveríamos nos importar?

– Por mim, que morram todos! – Disse um outro homem que estava na parte mais afastada do semicírculo. Ele usava roupas escuras. Um vermelho sangue. E seu olhar era o mais maléfico possível.

– Para você tudo é morte né!? – exclamou a mulher que estava ao lado do homem com cicatrizes. Vestia um vestido de tecido colorido e era a mais bela no salão. – Espere só até que venha a sua!

– Irmã, por favor, tenha mais respeito – rebateu uma outra mulher que se encontrava ao lado do homem de vermelho. Essa tinha um jeito mais tímido e trajava um vestido de tecido leve, todo azulado.

   A discussão se generalizou naquele momento, e insultos começaram a ser cuspidos de todos os lados. A maior parte dos insultos era direcionada ao homem de vermelho. Eles falaram todos juntos durante alguns segundos, até que uma voz os calou.

– CALEM-SE TODOS!

   Na mesma hora, todos se calaram e direcionaram os olhares ao velho homem sentado na cadeira.

   Assim como tudo ali, o homem também começava a brilhar. E todos entenderam o que aquilo queria dizer.

– Eu chamei vocês aqui apenas para que pudessem ser avisados do que eu iria fazer – disse o velho, agora com uma voz mais firme e que chegava aos quatro cantos daquele imenso salão. – e não para pedir a permissão de vocês. O que eu irei fazer está decidido e não voltarei atrás com a minha palavra. Espero que fiquem em casa por hoje, porque o que está feito, está feito, e os infratores irão pagar o preço de agredir a paz da nossa terra.

   Todos acenaram a cabeça em forma de aceitação enquanto o homem chamava a garota de olhos felinos que se encontrava ao seu lado.

– Ailuros – disse ele – que inicie o castigo. Liberte “a poderosa” e que todos sofram a ira dos deuses!

   Ailuros saiu rapidamente do salão e atravessou a cortina que levava para fora dali, enquanto o velho se mantinha sentado em seu cadeirão, e os outros a sua volta, apenas aguardando que o espetáculo começasse.

   EGITO, CIDADE DO CAIRO. (Uma semana atrás)

    Na ultima semana de junho, os protestos de oposição à ditadura de Hosni Mubarak, começaram pacificamente. Os manifestantes usavam faixas e cartazes e passeavam pelas ruas com pedidos de “Abaixo Mubarak” e “O povo quer que o regime caia”.  Durante quase uma semana o clima era calmo e não houve focos de violência.

   Mas após as rezas da sexta feira, a população atendeu em massa ao chamado de “rebelião” em prol da democracia e dos direitos liberais, e então, a confusão se deu início.

   Os manifestos começaram a tomar uma forma mais agressiva conforme o número de pessoas aumentava e a população a cada dia ficava mais impaciente. Os manifestantes se reuniram em frente à mesquita de Al-Azhar e de uma das residências presidenciais e foi ai que o manifesto tomou forma de massacre.

   Tudo começou quando o presidente eleito de forma democrática (pela primeira vez no país) foi deposto de seu cargo por um golpe militar. A Irmandade Muçulmana, que se encontrava do lado que saiu perdendo nessa disputa, não ficou satisfeita e instigou que o povo fosse às ruas e pusesse abaixo a ditadura que se instalara no país a 30 anos e perdura até hoje. Em resposta aos protestos da população, o exército colocou seus homens na rua e foi de confronto aos rebeldes com ordens expressas de tolerância. Até certo ponto era tolerável que houvesse manifestações, a partir dali, não era permitido e as ordens eram para que abrisse fogo contra os rebeldes e a Irmandade Muçulmana.

   O resultado disso foi um massacre ao acampamento muçulmano que estava localizado no centro da cidade, onde houve pelo menos 500 mortes e mais de 3.000 feridos.

   Os confrontos no Egito vêm se intensificando durante alguns anos conforme a população se vê insatisfeita com a forma do governo. Cada dia mais pessoas se juntam aos protestos e os militares ditadores sem vem cada vez mais encurralados. E sua resposta a tudo isso, é derrubar quem se opuser ao seu governo.

   Enquanto os homens lutam por sua liberdade, o governo sangra a terra e vidas inocentes são perdidas a cada dia. Porém, o mundo já está cansado disso, e mais do que o mundo ou os próprios egípcios, os deuses também estão, e Rá quer por um ponto final nisso.

   EGITO, CIDADE DO CAIRO. (Atualmente)

   O clima na cidade era de tensão total. A todo o instante, manifestantes corriam para todos os lados enquanto o exército disparava para todos os lados, sem distinção de gêneros ou idade. As pessoas se viam mergulhadas em um inferno.

   Mães se escondiam dentro de suas casas desprotegidas, com seus filhos embaixo de cama ou de mesas.

   Nas ruas, paus e pedras voavam do lado dos manifestantes enquanto do lado do exército, AK’s 47 eram empunhadas e granadas eram lançadas para dispersar a multidão.

   O dia já ia terminando e a imagem do caos imperava naquele lugar. Mortos espalhados pelo chão, escombros até aonde os olhos podiam ver. Lojas depredadas, casas destruídas e o sonho da população sendo despedaçado.

   Naquele dia incomum, onde já era quase crepúsculo e os homens se banhavam na carnificina sangrenta, houve um distinto clarão no céu. O brilho era tão intenso que aos olhos mortais parecia um meteoro caindo em direção a terra. Naquele estranho momento, todos, sem exceção, pararam o que estavam fazendo e prenderam seus olhos nos céus, e observaram aquela estrela brilhante que descia lentamente.

   Ela desceu graciosa e resplandecente e enquanto todos olhavam para ela, ela tocou o chão e um estrondo se fez de onde seus pés tocaram. Uma nuvem de vento que percorreu mais de cem quilômetros a partir dali e congelou as pessoas em um transe celestial.

   A criatura em questão, tinha uma corpo de mulher. Usava somente um vestido leve e de cor vermelha, sobre sua cabeça um véu suave descia até altura de seus peitos. Ela parou no lugar em que havia caído e observou em volta. Lentamente ela levantou o véu, e por trás havia uma cabeça de leão. Suas presas reluziam como marfim, e de sua boca descia uma baba como de um cão raivoso. Os olhos leoninos observavam tudo a sua volta. Lenta e excitadamente, ela flexionou os seus joelhos e um leve sorriso insano veio aos seus lábios.

   Existiam pessoas ali que ainda veneravam os antigos deuses, pessoas que conheciam a lenda dos antigos deuses, e essas foram as primeiras a correr, inutilmente.

   O mais próximo, antes mesmo que pudesse piscar, já estava sem a cabeça, e daí pra frente, para Sekhmet, foi só diversão.

   Ela estraçalhava, dilacerava, decapitava e ninguém conseguiu fugir de sua ira. As pessoas se escondiam em suas casas e ela nem mesmo as tirava de lá, as assassinava onde as encontrava. Homens, mulheres, velhos, crianças, ninguém conseguiu escapar naquele fatídico dia. Antes que o sol desaparecesse no horizonte, tudo o que restava do Cairo eram escombros, cinzas e morte. A cidade inteira foi dizimada e os deuses observaram lá de cima, enquanto as areias eram banhadas de escarlate, e o cheiro de morte infestava o Egito novamente, como uma praga, que vinho nenhum conseguiria deter.

   O Cairo, foi o primeiro lugar que Sekhmet visitou, mas os deuses são caprichosos, e Rá é o pior deles, a destruição que se deu ali naquele dia incomum, não foi o começo, e muito menos o fim. Muitas cabeças ainda vão rolar, enquanto, isso, as notícias se espalham, e os homens oram, retornam à velha cultura e pedem proteção, mas Rá já é um deus velho e quase senil, não pode fazer muita coisa. Os outros? Muito menos. A única coisa que todos vão fazer, é observar, enquanto a humanidade entra nos eixos novamente.


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