Crônicas da meia noite. escrita por JeeffLemos


Capítulo 15
Crepúsculo em Tons de Cinza




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Olho para o céu tempestuoso e tudo que consigo sentir são os pingos de chuva. Queimam como ácido e encharcam como a verdadeira água.

Tudo aqui é tão cinza, sem vida e sem esperança. Não sei há quanto tempo estou aqui. Talvez eu tenha chegado há alguns horas, ou até alguns anos. Caminho por entre essa selva de pedra e sinto como se já conhecesse os rostos que vagueiam sem destino.

O cheiro de morte e uma aura negra cercam as pessoas que perambulam de um lado para o outro neste lugar. É como se um anjo negro estivesse montado em cada um, observando e fazendo a contagem. “Ei, é sua vez, podemos ir.”

Eu tenho medo.

O tempo parece uma eternidade, e sinto que ficarei aqui para poder desfrutá-lo. Por mais que eu não queira. Não me lembro de como vim parar neste lugar, e nem o porquê. Sinto que deveria estar preocupado com alguma coisa, mas de alguma forma não estou. Às vezes me sinto até confortável. Vejo muitos outros como eu, mas nunca me interessei em saber qual o motivo de estarem aqui, aproveitando esse momento de agonia e dor.

Eu vejo um homem. Ele permanece sentado no centro de tudo. E dentro de seus olhos, eu consigo ver algo diferente, algo que não consigo perceber por aqui, nem em mim e nem em ninguém. Vejo algo muito parecido com "vida".
Uma figura interessante, que emana uma vitalidade e um cheiro doce de esperança e renascer. Não fala, não dorme, não anda e nem se mexe. É como uma estátua. Mas eu sei que é real, de carne e osso. E assim como eu, todos sabem. Ele tem asas e segura uma espada.

A névoa por trás das grades que nos prendem, é algo constante. Através delas, consigo enxergar um mundo de cores. Um mundo onde pessoas riem, correm e vivem. Um mundo que um dia pertenceu a mim, e hoje já é um passado distante e com um sabor desesperado de saudade. Mas já não me pertence, e nem pertencerá.

Aqui nunca escurece e nunca amanhece. Sem lua e sem sol, um crepúsculo eterno em tons de cinza. Um cinza carregado de chuva e certa tristeza, um tipo de solidão. É um local inóspito e sem graça. Mas lá no fundo, sei que é o meu lugar. No fundo eu sinto que ninguém mais precisa de mim, e é assim que quero passar o resto dos meus dias. Sentindo a chuva no rosto e assombrando lembranças de entes queridos. Um fantasma monocromático, vagando à espera da eternidade.

Na entrada da cidade, existe uma placa de madeira, velha e bem desgastada, e nela é possível ver letras desbotadas de algo que um dia fora tinta preta, escrito a palavra Necrópole.


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