Give Up? Never. escrita por rowena


Capítulo 2
Deus, quem é ele?


Notas iniciais do capítulo

Gentee, não sabem o quão feliz eu estou com os comentários que eu recebi no capítulo anterior! Muito obrigada mesmo a todas as meninas que comentaram, eu realmente amei todas as suas palavras. E aviso que depois eu respondo, não estou com muito tempo, entendem? Quero agradecer também a quem favoritou. Valeu mesmo. Bom, aproveitem o capítulo, ok?



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P.o.v Ally

-Que tal... Ally Dawson! - Ouvi a voz do professor e voltei rapidamente ao mundo. Já era de costume eu me atrasar para vir para o colégio, mas não de repente cair em cima de um loiro. E meu Deus, que loiro...

Ok, Ally, para com esses pensamentos. Eu nem conheço o garoto, além de que você não tem tempo para dramas com garotos e todo esse tipo de coisa, que não combina comigo! Sem falar que ele me chamou de gorda! Eu não sou gorda. Sou?

Tentei me concentrar no que o professor dizia, mas era realmente difícil. Eu não conseguia deixar de notar os olhares que aquele garoto me mandava, aquilo já estava me incomodando. Sim, eu gostei dele, mas isso não quer dizer nada. Eu sou Ally Dawson. Nada me atinge. Nada nem ninguém conseguem derrubar as minhas barreiras, e eu nunca vou deixar um loiro que eu mal conheço, ser o primeiro a fazer isso.

-Eu? - Levantei a minha mão um pouco desanimada e curiosa. O que ele queria?

-Fez a sua redação?

-Sim...

-Ótimo, venha aqui ler para a turma! - Ele fez um sinal para eu ir lá na frente e eu sorri. Havia sim feito a minha redação, e tinha amado ela. Sem me gabar nem nada, mas eu sou muito boa nisso, e tenho certeza que ela ficou a minha cara.

Bom, tenho dezoito anos, faço dezenove no domingo, ou seja, daqui a quatro dias. Sou o tipo de garota fechada, que tem seus segredos e seus mistérios, e que nunca os revelou para ninguém, a não ser, seus melhores amigos. Trish e Dez. Duas pessoas totalmente diferentes, e que vivem brigando, mas que no fundo, lá no fundo mesmo, se amam. Eu desconfio muito desse relacionamento de ódio deles, mas, eu não posso dizer nada, afinal, eles se "odeiam" não é verdade?

A minha vida é bastante complicada. Moro sozinha em um prédio que fica afastado do centro de Miami. Tive que me mudar para lá por alguns motivos, motivos que eu não gosto de lembrar. Não, eu não tenho pais. Ou pelo menos considero que eu não tenho. Meu pai morreu seis anos atrás, quando eu ainda tinha treze. Foi uma fase muito difícil para mim, passei por altos e baixos, ou talvez apenas baixos. Posso dizer que eu não tenho mãe. Ela "infelizmente" não morreu. Não a vejo desde os meus cinco anos de idade. Sim, ela fugiu de casa. E até hoje eu não sei se isso foi bom ou ruim para mim.

Levantei-me de minha carteira, junto com o meu caderno, até a frente da sala. Observei todos aqueles olhares curiosos voltados para mim, inclusive o daquele loiro. E o da Trish. Ela me olhava de uma forma receosa, e murmurava súplicas para eu não ler. Só que eu não liguei. Só, sorri, sabia que as pessoas daquela sala gostavam de minhas histórias, e eu não ia deixar de contar ela, por conta de um simples fato.

-Na verdade não é uma redação, é mais um conto que eu fiz. - Avisei ao professor e ele assentiu. -Não se assustem com final. - Completei e comecei a contar.

Todos os dias, Bruno segura a mão do pai e lhe diz: "Você não imagina como eu gosto de você!", mas não sabe se ele ouve, sente, percebe ou mesmo intui isso.

O pai não retribuiu seu carinho e, do seu rosto de cera, nenhum movimento ou expressão indica que ele tenha compreendido as palavras ou seu sentido.

Bruno voltou os pensamentos para os bons momentos que tinham vivido juntos.

O pai achava que era dever de um homem dominar os próprios sentimentos e gostava de aparentar uma frieza que nunca tinha sentido de fato, mas tinha sido um bom pai.

Brincavam juntos quando ele era criança, riam e conversavam horas a fio quando ele era mais jovem, viajavam para acampar, principalmente nos finais de semana de verão, e Bruno sabia que podia contar com ele. Era ao pai que entregava o boletim com as notas nem sempre brilhantes. Foi com o pai que iniciara a vida profissional e aprendera a ser um homem.

Agora, após meses dessa tortura que se mantinha estável, estabilizada, sempre igual, sem nenhuma piora, mas também sem nenhum tipo de melhora, o médico lhe pedira uma decisão.

Bruno estava parado na janela de seu apartamento como ficara parado na janela do hospital, após aquela última conversa, olhando para fora com os olhos vazios de quem nada vê, quando um baque surdo interrompeu seus pensamentos.

Ele piscou para voltar ao presente.

A marca no vidro da janela confirmava que não tinha sido uma ilusão. Bruno virou-se, deu dois passos e abriu a porta da sacada.

Um pássaro jazia no chão.

Bruno abaixou-se e pegou-o, acomodando-o na concha da mão para melhor o obervar.

Era belo e delicado. Tinha a plumagem mesclada de marrom em variados tons e um pequeno topete amarelo. Suas duas perninhas estavam encolhidas e seu corpo jogado de lado. Os olhos abertos estavam embaçados, mas ele ainda vivia. Seu peito arredondado subia e descia fracamente, um pouco acelerado como alguém que tivesse levado um susto ou sido pego de surpresa.

Bruno não sabia o que fazer e ficou um momento olhando para ele. O pássaro parecia retribui-lhe o olhar interrogativo. Bruno levou-o para dentro do apartamento, caminhando a passos largos em direção à cozinha, onde molhou a ponta do indicador na água da torneira da pia e ofereceu uma gota ao pássaro, que não conseguiu aceitar.

Bruno abriu-lhe o bico e uma fração de gota d'água foi tudo que conseguiu lhe dar.

A linguinha comprida da ave entrava e saía inquieta, nas várias tentativas de beber, enquanto o pássaro lhe lançava olhares agradecidos, mas ao mesmo tempo lhe implorava algo indefinível.

Bruno sacudiu a cabeça e resmungou:

-Estou vendo coisas!

Mas o olhar estava lá: um fio que os ligava um ao outro. O olhar de alguém que não tem certeza se já morreu. Um olhar cheio de dor. Um olhar implorando que o livrassem da dor.

Bruno sentiu-se um louco, que agora tinha dado para entender a linguagem dos pássaros. Não. Muito pior. Ele nunca tinha sido capaz de saber o que eles queriam quando piavam ou mesmo cantavam com graça. Mas sabia o que aquele olhar parado, vazio e sem expressão lhe implorava. Não queria acreditar.

Olhou novamente a pequenina ave deitada em sua mão esquerda. Uma asa partira. O pescoço, meio de lado, não estava aguentando carregar a cabeça. Aquela doce cabecinha que não deveria pesar mais do que alguns míseros gramas e que tinha adquirido o peso de um elefante.

Mais e mais fraco e sem forças, o pássaro lhe lançava aqueles olhares perturbadores, que pareciam implorar algo que ele bem sabia o que era, mas não queria aceitar.

"Por favor..." Diziam eles. "Por favor..."

Então, Bruno percebeu por que aquele olhar o perturbava tanto: era o mesmo olhar que seu pai lhe lançava a cada manhã, quando jazia meio morto na cama do hospital.

Não aguentou mais: fechando a concha das mãos, trouxe o pássaro para mais perto do corpo e ninou-o como um minúsculo bebê. Em seguida, passou o dedo com toda a delicadeza no seu topete amarelo, procurando lhe fazer um carinho, sem tocar a asa quebrada para não lhe trazer mais sofrimento. Colocou mais uma microgota de água na pontinha do bico, que só se abriu quando ele o forçou. Bruno admirou a linguinha frágil, tão frágil que não conseguia se mexer.

Ele balançou a cabeça, cheio de dor.

Compreendera o que tinha de fazer.

Entendera que não prolongar o sofrimento de qualquer ser vivo fazia parte das obrigações de um homem justo e que já não precisava pensar nas decisões que o aguardavam. A rapidez do pensamento o surpreendeu, mas não o impedira de fazer o que tinha que ser feito.

Olhou mais uma vez aqueles olhos implorantes e, num gesto brusco, torceu o pescoço do pássaro de uma só vez.

Terminei de contar, decepcionada comigo mesma. O que eu não queria que acontecesse, aconteceu. E de novo.

Os meus olhos lacrimejaram, e eu lutei contra o ato de deixar as lágrimas escaparem. Achei que isso nunca mais iria acontecer.

Fugi das minhas reais emoções e encarei todos os alunos á minha frente. Vendo seus rostos pasmos e atentos. Tentei o meu melhor para dar um sorriso, fiz o que pude e olhei para o professor. Ele assentiu, dando um discreto aceno para eu ir me sentar. Fiz isso, mas antes, arriscando olhar diretamente nos olhos daquele loiro.

Eu podia ver. Ele tinha reparado. A primeira pessoa em anos, além do Dez e da Trish, que reparou. Deus, quem é ele?


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Notas finais do capítulo

Avisando que o conto NÃO FUI EU QUEM ESCREVEU! É de uma escritora que eu gosto, Regina Drummond, tá? Acho que lendo ele, vocês irão entender um pouco sobre o que ocorreu com a Ally, e que será descoberto com mais clareza ao decorrer da história.
Espero que tenham gostado do capítulo, e não sei direito quando irei postar de novo. Em breve!! E aí? Mereço Reviews ? *-*