A coluna de Yuuma doía. Fazia tempos que não dormia num colchão decente, então isso não era de agora. Seus olhos vermelhos encaravam o teto, onde a alguns metros caía uma goteira. Provavelmente era um vazamento do andar de cima, onde moravam duas garotas, incluindo sua namorada.

Uma cafeteira residia no chão ao lado, várias contas também, um maço intocado de cigarros estava em cima dos papéis.

Já era cedo, pouco antes de seis horas da manhã, e não tinha dormido naquela noite. Mas acostumou-se com tudo isso, com o café, com o cigarro, com as contas e com a insônia. Sua vida não poderia ser melhor, afinal.

Forçou-se a levantar e tomar um banho, mesmo com sua barriga roncando de fome. Pegou uma xícara de café e depois de colocar uma jaqueta, mesmo sendo verão, foi pegar o trem para a faculdade. A estação estava lotada, sendo manhã de uma segunda-feira, a aura geral estava completamente negativa. Dava para sentir o sono, a fome e a tristeza acumulada de todos que estavam ali, tentando seguir suas vidas de forma normal.

Não sei como as pessoas simplesmente dizem que eu sou pessimista, pensou. Talvez não consigam enxergar isso. Provavelmente.

A única coisa que fazia Yuuma querer focar no futuro e visualizá-lo era Yukari, sua namorada, que morava no andar ao cima. Ela tinha um sorriso lindo, e ele realmente se apaixonara por ela. Tudo que planejava era baseado nos sonhos que ela confidenciava. Como o de ter três filhos, e uma casa com paredes roxas.

Mas ela estava passando por uma fase difícil, o que também o depreciava.

Yukari sempre tentava ajudar ao máximo sua companheira do apartamento, Mayu, a pagar as contas. Mas era difícil, já que seu salário como moça da faxina da casa dos Kagamine era uma miséria e tinha que pagar uma mensalidade, mesmo que pequena, da faculdade.

Estava enfrentando também o divórcio de seus pais e um vício em fumo por parte de Yuuma. Realmente queria ajudá-lo, mas ele parecia a cada dia mais magro, com mais olheiras e mais branco.

Ela sentia todo o mundo se enegrecer à sua volta, como se estivesse chegando o auge do túnel. E sabia que teria que sobreviver àquela fase para conseguir chegar à luz. Mas o fato de querer ajudar todos e não conseguir não contribuía em nada para querer continuar no caminho. Talvez fosse melhor cair na escuridão, onde ninguém veria o sangue sujo de uma pessoa pisoteada por todos os outros.

Mas conseguia ver nos olhos de Yuuma, toda vez que o falava disso, o terror. Talvez ele ainda gostasse dela, afinal. Mas ela não tinha certeza. Tudo aquilo parecia ter se cansado dela, e apenas aguardar seu fim.

Mayu, ao contrário da melhor amiga e do namorado dela, estava completamente positiva. Tinha um bom emprego mesmo tendo acabado de sair da faculdade, e o dinheiro entrava muito fácil. Poderia até pagar o aluguel toda só, se Yukari não insistisse em pegar metade do seu salário para pagar um quarto do condomínio.

– Yukari, simplesmente deixe isso comigo – era algo que repetia sempre, mas ainda assim, a insistente moça de cabelos lilás continuava. Alguns meses, Mayu pagava tudo só e devolvia o dinheiro à carteira da outra; só não fazia isso sempre porque achava que ela ia notar.

– Preciso ajudar todos – era o que sussurrava, mas a loira pensava em como ela conseguiria se nem a si mesma ajudava.