Era a primeira aula de educação física do semestre. Depois de um mês do seu começo, conseguiram finalmente achar um professor para substituir o anterior, que havia sido transferido para uma faculdade em Kyoto. De cara, ninguém havia gostado do novo. Ele era muito magricela para um professor de educação física, e segurava uma prancheta que era acompanhada, também, de um sorriso falso.

– Muito bem pessoal, – disse o professor – vamos formar duplas fixas, para os alongamentos e outras atividades. – ouviram-se protestos vindos por toda a parte, pois sabiam quem iria escolher. Ele. – Nekomura-san e Suzuki-san.

Miki "Suzuki-san" era uma garota de cabelos longos e vermelhos, que certamente seriam admirados por Iroha se ela não fosse um porre de pessoa. Era mais uma do grupo de Rin, algo que ela tinha motivos para odiar. E não era só isso. Aparentemente, a ruiva desprezava-a. Ainda mais do que a própria Rin.

– Que desagradável. – sussurrou Iroha chegando perto – Bem, com isso acho que somos uma dupla. 

Miki suspirou.

– Soa pior do que havia pensado. Só me deixe aqui e vá fazer seus alongamentos num canto qualquer enquanto eu faço os meus, que certamente não suportas. – apontou para um canto qualquer ao falar, e Iroha já ia rebater, até reparar algo.

– Você abre escala? Que legal, Suzuki-san! – os olhos amarelos brilhavam de uma forma um tanto estranha, mas a ruiva atordoada pelo elogio apenas sussurrou um agradecimento. 

– Okay, vamos começar com alguns alongamentos. – a voz do professor novo cortou a conversa – Trinta flexões.

***

Rin havia finalmente chegado em casa. Aquela dava sinal de ser uma tarde bem parada, considerando seus dias normais. Só tinha que fazer os deveres do Conselho, o jantar e dar o pagamento do mês à Yukari, a moça que fazia a limpeza da casa. Claro, para muitos aquilo seria considerado muito a se fazer. Mas a loirinha havia desenvolvido a habilidade de fazer muitas coisas bem em pouco tempo. Era uma disponibilidade necessária nos populares, para ser possível a disponibilidade em quase todas as horas.

Era nisso que ela pensava enquanto pendurava o cachecol num cabide do seu quarto, logo tirando as meias e o sobretudo também. 

Quando o fez, a campainha tocou, sendo atendida por Yukari. A chegada da pessoa no quarto de Rin foi o que lhe assustou – ali estava seu irmão. Ela já sabia que ele ia chegar, mas não tão depressa. Também não tinha tido tempo de perguntar o que lhe trazia ali.

– Rin. – disse simplesmente entrando, se jogando na cama e fechando os olhos. Tudo parecia extremamente doloroso no momento, e ele não queria falar com ninguém. Muito menos com Rin. Então simplesmente abriu os olhos e encarou a janela enquanto a gêmea escrevia várias coisas num papel, e continuou olhando para o céu quando ela juntou o dinheiro e entregou para Yukari, e também quando ela desceu e foi fazer o jantar.

Bom, a irmã notou que nem parecia que ele estava ali. Ainda gostaria de perguntar o motivo para ter aparecido ali, mas decidiu deixar quieto, ao menos por enquanto.

***

O Sr. Hatsune estava levando, mais uma vez, Miku para um de seus jantares sociais. Ela realmente não queria estar ali, mas estaria de qualquer jeito, então só se arrumou do melhor jeito possível. Com uma trança de lado, um vestido normal e sapatilhas pretas. Mikuo estava com um terno, o que ficava simplesmente estranho nele. Principalmente se considerarmos que ele praticamente só usava camisetas e calças de moletom.

– Hoje jantaremos com a família Kamui – falou o pai, fazendo com que a mente de Miku lembrasse vagamente de algo – Vocês tem que se comportar, tenho negócios muito bons nas mãos deles. Miku, você deve conhecer o filho mais velho do Sr. Kamui, o Gakupo. Ele estuda na sua classe.

A menção fez a garota se lembrar do adolescente de cabelos roxos. Imaginou se seus pais sabiam a imagem de rebelde que ele tentava passar na escola, e quase riu com o pensamento.

O Sr. Hatsune abriu a porta de casa e os irmãos seguiram em silêncio para o carro, continuando assim até a chegada no restaurante. Era um lugar francês, ou ao menos foi isso que Miku conseguiu identificar com os pratos grandes com pouca comida.

Diferente do que Miku esperava, Gakupo estava muito arrumado, inclusive com um terno, coisa que nunca se esperaria dele. A garota reparou também que ele lhe lançava olhares que ao menos para ela eram indecifráveis.

Depois do fim das negociações dos adultos, se despediram. O de cabelos roxos beijou a mão de Miku e deu um sorriso sedutor, o que fez a garota corar intensamente e tentar cobrir o rosto com o cabelo até chegar novamente no carro.

Mikuo ficou desconfiado de alguma forma, enquanto voltavam para casa. Perguntava-se o que tinha acontecido para a irmã ficar com aquele olhar distante na janela. 

Mas antes mesmo de chegar em casa, já havia esquecido disso.