O Choro Das Ninfas escrita por Pessoana33


Capítulo 2
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Este capítulo retrata um pouco a vida de Juliette xD



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Juliette



Lembro-me dos dias que desconhecia tudo, não sabia quais eram as cores do mundo. Pensei, que tudo fosse azul, como o azul do céu. Mas nunca pensei que tudo fosse cinza, que cor triste carrega o mundo, mas mais triste são os seus filhos. Os humanos, e ainda custa me acreditar que também sou humana, acho que queria ser outra coisa, ou coisa nenhuma. Os humanos são maus, frios e sem coração. Não quero ser como eles, quero ser mais do que eles, quero ser um pássaro que chega tocar nos céus, e quero beber das lágrimas de nuvens. Mas não sou um pássaro. Nunca chegarei a tocar no céu, e nem beberei das nuvens. Porque eu sou… eu sou um corpo gelado.


Sou tão vazia.

Não tenho nada.

E estou sozinha.

Mas eu nem sempre fui assim. Eu não era vazia, estava cheia de sonhos. E não estava sozinha, eu tinha o meu avô que cuidava de mim, desde de muito pequena. Não me lembro do dia que ele me achou. Ele sempre dizia-me que me perdi na floresta quando era uma criança. Eu não falava, não via, não ouvia, e muito menos chorava, mas mesmo assim o meu avô levou-me para sua casa, que ficava na montanha mais alta, e cuidou de mim, a criança sem nome, que passou a chamar-me de Juliette.

Eu era feliz, mesmo sem conhecer o mundo, mesmo sem conhecer ninguém. Era apenas eu e o meu avô na montanha mais alta do mundo.

Mas um dia tudo ruiu foi no dia que meu avô foi morto por demónios perversos, de rostos cobertos de mascaras sem pele. Deixaram-no sangrar até morte, e levaram-me, para longe dele, para longe de tudo que conhecida. E me tornaram no que eu sou hoje um pedaço de carne. Não tenho alma, só tenho corpo, que carrega todas as minhas angústias. Sou um ser fragmentado em mil pedaços, bem pequenos, e não há como junta-los, e não há como acha-los. Pedaços de mim estão perdidos por aí, em cantos escondidos, em ruas inabitáveis. E não há como acha-los. Não como junta-los. E para todo sempre serei incompleta.

Já se passaram 3 anos, e a menina de 13 anos se foi. Agora tenho 16, e sou a menina que não sabe sonhar.

Sempre sonhei ver mundo com os meus próprios olhos. Sempre quis conversar com alguém com a minha própria boca, usar as minhas próprias palavras. Mas agora conheço o mundo e conheço os humanos tomara nunca ter sonhado.

Os humanos magoam os seus semelhantes, fazem-nos chorar, fazem-nos sofrer, fazem-nos gritar mesmo sem voz, e por vezes nos matam sem nenhuma razão aparente.

Odeio os humanos. Odeio os homens, e odeio… odeio odiar.

Agora só me resta chorar por aquilo que sonhei, por aquilo que acreditei, por aquilo que vi, por aquilo que sofri, e por aquilo que ainda irei sofrer, e irei chorar até não haver mais lágrimas, até elas secarem, ou até o minhas pernas não poderem sustentar mais o meu corpo. Até o dia que os meus olhos fecharem e não houver mais cor.

Até o dia que a morte me levar.


Morte porque não me levas embora?




Porque não me levas para tua terra.




Morte,


Envolve-me em teus braços sem demora.


Canto para mim mesma, e espero que ninguém possa ouvir o meu lamento. Não gosto que as pessoas ouçam o meu canto, e muito menos os homens, porque é uma parte de mim que ainda existe, é uma parte muito pequena, e um pouco frágil. E se os homens ouvissem minha voz obrigar-me-iam cantar até minha garganta doer, até minha voz sumir da minha boca, até não mais poder. Por isso guardo para mim o meu canto, e sou a única que pode ouvir minha melodia.




– Acorda.- Berra o meu dono.




Abro os meus olhos, olho para rosto redondo e enrugado á minha frente, e quero voltar a fechar os meus olhos, quero voltar a dormir, e nunca mais voltar acordar.


– Levanta-te, e vai dançar.- Ordena-me, enquanto retira as correntes dos meus pulsos e dos meus tornozelos. E depois coloca no meu pescoço uma coleira.

– Jenisse veste-a, e deixa ela apresentável, porque hoje temos clientes muito importantes.- Berra como sempre faz.

Jenisse aparece com um vestido em suas mãos.

– Esse vestido não serve.- Diz num tom rabugento.

– Como o amo deseja que eu a vista? – Pergunta Jenisse assustada com a expressão do nosso dono.

– Com menos roupa possível, porque ela tem de mostrar o seu lindo corpo.- Responde o meu dono, enquanto puxa o meu pulso e eu caiu no seu colo. Ele explorar o meu corpo com as suas mãos ásperas e sujas. Mas pára, e seu rosto muda de cor, passa de vermelho para branco, e sua expressão parece-me tensa.

– O que se passa amo?- Pergunta Jenisse.

– Nada.- Reponde o meu dono meio atordoado.- Prepara-a.- Acrescenta, e depois sai do quarto aos tropeços.

Jenisse olha para mim com seus olhos cinza acusadores.

– Porquê os homens ficam perdidos quando te tocam? – Pergunta-me.

– Não sei.- Respondo-lhe rapidamente.

A verdade é que não sei nada acerca de mim. Não sei quem são os meus pais. Não sei a onde nasci. Nem sequer sei qual é o meu verdadeiro nome. Desconheço-me.

– Dia menos dia o nosso amo vai-te vender, porque nenhum homem pode tocar-te.- Suspira, enquanto penteia os meus cabelos.

– Eu não me importo.- Sussurro.

Já tive vários donos, e todos eles não conseguiram tocar-me, então eu fui vendida várias e várias vezes, em vários leilões. Às vezes compravam-me a baixo preço, outras vezes em preços exuberantes. Mas valo pouco, porque nenhum homem pode tocar-me. E eu fico feliz por isso, porque nenhum homem há-de me tocar, enquanto for viva.

– Tu és tão linda Juliette.- Elogia Jenisse.

– Eu não queria ser linda.- Digo com gosto amargo na língua, porque ser linda significa um mundo cheio de maldades e impurezas.

Olho para o espelho, e vejo o meu reflexo, quem me dera que não fosse o meu reflexo. Minha pele esta muito exposta. Todos poderão ver o meu corpo. Os meus longos cabelos escondem os meus seios, e uso um véu vermelho, que pode esconder-me parcialmente, na minha cintura uso fios cobertos por contas vermelhas que se estendem até os joelhos. Meus olhos têm uma sombra cinza quase preta, e um de linhado preto na linha interna dos cílios superiores, e na linha d’água. E os meus lábios vermelhos como sangue.

Fujo da minha própria imagem, porque não quero ser a menina do espelho, essa não sou eu.

O dono entra dentro do nosso quarto, e quando me vê, ele fica sem palavras, puxa-me para fora do quarto e arrasta-me até ao palco.

As luzes estão desligadas, e eu desejo fazer parte dessa escuridão.


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Notas finais do capítulo

Eu sei que não esta assim tão bom, prometo que irei melhorar x'D