O Choro Das Ninfas escrita por Pessoana33


Capítulo 12
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

E hoje temos Capítulo novo yupi yupi...este capítulo é triste (sugiro querido leitor que antes de ler o Capítulo vá buscar um pacotinho de lenços, acho que vai precisar).

Antes demais quero agradecer a leitora Gabriela por me emprestar o nome "Rudy" (para quem não sabe Rudy será a criança-diabo que irá infernizar a vida da nossa protagonista).

Espero que gostem (...) +.+



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Juliette

Eu já pensei na morte. Já dormi a pensar nela e já acordei pela amanha com vontade cumprimenta-la. A morte sempre esteve presente na minha vida. Primeiro a morte veio buscar o meu avô, segundo os meus sequestradores, e depois várias companheiras de cela. Já vi morrer tanta gente. Às vezes eu pensava que era somente eu que traía morte. Mas ela sempre levava os outros para não me levar. Não tenho medo dela mas parece que ela tem medo de mim.

Lembro do primeiro dia em que pisei na “terra dos humanos”, eu nunca vi tantos humanos juntos, eu estava assustada, porque eu nunca tinha falado com alguém. O único que falava era com o meu avô, mas ele tinha morrido e eu não queria falar. Eu reprimi a minha voz, quando eles ordenaram-me que falasse. Recordo que naquele momento, eu desejei ser muda. Os homens não ficaram satisfeitos com a minha ousadia, então eles espancaram-me só para deliciarem-se com os meus gritos. Eu gritei pelo meu avô, gritei até não ter mais ar nos pulmões. Depois disso, quando eles me deixaram sozinha, pela primeira vez na vida, eu queria morrer. Com as minhas pequenas mãos agarrei o meu pescoço e apertei-o. Naquele momento em senti que a minha vida esgueirava para outro lado sem mim. Não havia dor, nem medo só alívio, porque não iria viver uma vida que não queria. Fechei os olhos. Os meus pulmões deixaram de funcionar. O meu coração pesou. E eu morri. Engraçado, eu lembro-me da sensação de morrer, mas a morte nunca me veio buscar. Acordei no outro dia. Meu coração batia, os meus pulmões funcionavam, e infelizmente estava viva. Despois do meu momento após morte. Eu tentei outros métodos. Uma vez afoguei-me. Não morri. Outra vez comi vidro. Sangrei, mas não morri. Enforquei-me. Fiquei com a marca da corda por meses, mas não morri. Houve uma vez que tentei dar paz o meu coração, apunhalei-o com um punhal, mas ele não deixou de bater.

Fica fácil de falar de morte, para quem já morreu muitas vezes. Morri 55 vezes, e ainda continuo viva.

Não morri pelas minhas mãos. Talvez morreria pelas mãos dos outros. Por isso quando conheci Warner eu fiquei feliz, porque ele era o homem que me queria matar e eu era aquela que gostaria de morrer. Mas quando vi ele assassinar sem hesitar uma mulher queria viver, eu comecei a pensar como eu era injusta para todos aqueles que morreram e não queriam morrer. Eu estava errada. Eu não podia morrer sem um motivo e ainda tinha fazer alguma coisa para que minha vida e a morte valessem a pena.

Mas hoje eu pensei em morrer de vez…

Umas horas antes( …)

Fiquei acordada a noite inteira. Não consegui fechar os olhos, porque tinha medo do que poderia acontecer enquanto dormia. Preferi viver o pesadelo de frente do que sonhar com uma vida melhor. Porque enquanto durmo, posso sonhar que sou alguém distinto, num mundo diferente, e posso fugir da minha realidade.

Mas agora o cansaço me trai. Estou tão cansada, arrependo-me das horas nas quais não houve sono. Por breves segundos adormeço.

Acordo com o som de uma conversa, mas finjo que durmo.

“Nós deveríamos de mata-la”. – Sugere uma das mulheres.

“Nós não podemos fazer isso. Ela é nossa única esperança.”- Diz Jena.

“Ela é perigosa demais para continuar viva. Não percebes que ela pode acabar com todas nós?”- Argumenta outra mulher.

“Eu sei disso, mas ela pode mudar o mundo.”- Defende Jena.

“Uma criança não pode mudar o mundo.”- Fala uma mulher com desdém. “Se vocês não a podem matar, eu posso, para mim tanto faz quem ela seja.”

Não sei do que elas falam, mas de certa forma sinto que essa conversa é direccionada a mim. Abro os olhos e encarro-as.

Todas elas olham para mim de formas diferentes. Umas olham para mim com pavor, outras com desprezo, e outras com respeito.

– Do que vocês falam?- Pergunto-lhes, e todas elas ficam abismadas com a minha pergunta.

– Tu ouviste nossa conversa?- Jena pergunta.

– Sim. – Respondo-lhe rapidamente.

“Eu vos disse ela perigosa” – Ouço alguém, mas nenhuma delas moveu a boca.

– Eu ouvi, mas ninguém falou.- Afirmo, e olho atentamente para elas.

– Cala-te Juliette.- Ordenou a Jena, e depois ela aponta para um aparelho num canto da parede. – Sorri, porque eles gostam de nos ver a sorrir.

Jena avisa-me que estamos a ser observadas.

“Podemos comunicar-nos desta forma, porque podemos ouvir os pensamentos. Um pormenor que os homens ainda desconhecem.”- Posso ouvir Jena na minha cabeça.

– Mas… - Falo, mas calo-me.“ Você disse que podia ouvir os pensamentos imundos do menino”- Penso no momento que ela chamou atenção do menino para ela.

“Eles pensam que eu disse aquilo no sentido metafórico, porque eles não acreditam e nem se quer têm quaisquer provas que nós conseguimos fazer tal coisa. Aliás não é preciso ouvir os pensamentos do pirralho para saber o que ele pensa, porque está tudo estampado no rosto dele.”- Explica Jena.

“Porque eu consigo ouvir-vos? Eu sou como vocês?”- Pergunto-lhes.

“Não és como nós”.- Ouço a voz gritante de uma outra mulher, observo-as uma por uma, mas não consigo identificar qual delas pertence a voz.

“Então o que sou?”.- Eu quero saber quem sou, sempre quis saber qual é o meu lugar neste mundo.

“Como podem ver ela não sabe o que ela é, isso só a torna inofensiva.”- Argumenta Jena.

“Isso não muda o que ela é. Ela é como uma bomba relógio, quando ela explodir, ela vai destruir tudo. – Contra-argumenta uma delas.

“Essa é nossa única oportunidade de acabar com ela.- Continua a conversa delas como se eu não estivesse aqui, acho que elas esqueceram-se que eu consigo ouvi-las.

“Eu fiz-vos uma pergunta. Eu quero saber o que sou.”- Exalto-me. E elas cobrem os seus ouvidos como se alguma coisa as magoasse.

– Pára Juliette.- Uma mulher loira berra, e posso ouvir a ferocidade em sua voz.

Uma mulher ruiva de cabelos curtos aproxima-se de mim. Agarra nos meus cabelos, e grita em meu ouvido: - Tu não és nada. És apenas uma calamidade entre nós. E se pensares em nos matar, considera-te morta, porque eu terei muito prazer em destruir-te.

Ela puxa brutalmente os meus cabelos.

– Pára com isso Tara.- Ordena a Jena.

A mulher relutantemente solta-me. Ela aproxima-se de Jena e sussurra: - Se ela acabar com todas nós a culpa será inteiramente tua.

Jena sorri e responde: - Nós já estamos condenadas, Tara.

Porque elas pensam que eu sou capaz de matar? Eu nunca matei ninguém, e nunca tive essa vontade, mesmo quando me fizeram sofrer. Eu não tive essa vontade de aniquilar todos que me fizeram sofrer, porque eu não sou Deus (se deus existir, ele sabe muito bem disso). Posso não valorizar a vida que tenho, mas valorizo todas outras, não sei porquê, mas valorizo. Daria a minha vida para quem quisesse viver.

Eu nunca matarei ninguém. Nunca. Porque eu não tenho esse direito, ninguém tem o direito de destruir uma vida.

A porta abre-se. Entra um homem fardado com uma vestimenta preta, e numa das suas mãos tem uma arma, na outra tem um saco acastanhado, não faço mínima ideia do que saco pode conter.

– Meninas, eu trouxe o almoço.- Berra o homem, e um sorriso maldoso molda o seu rosto.

Ele olha seriamente para mim e diz:

– Temos carne fresca.

Eu desvio o meu olhar do dele, e olho para chão imundo, e de repente um pedaço de pão cai aos meus pés.

O homem atira “carcaças” para chão. E as mulheres apanham os seus respectivos pedaços de pão, e devoram rapidamente, como se elas não comessem há dias. Fome e miséria.

– Não comes o teu almoço, lindinha? – Pergunta o homem.

Pego no pedaço de pão, e reparo como ele é duro e acinzentado.

Eu tenho fome, e já não como há um dia. Se eu não comer agora não sei quando irei ter outra oportunidade.

Eu enfio o pedaço de pão encardido na minha boca. Sabe mal, e é difícil de ser ingerido. Ao engoli-lo a minha garganta doí. Não irei chorar, não vale pena. As minhas lágrimas não irão matar minha fome, e também não serei a piada daquele homem parado ali.

***

Acho que a noite tinha chegado algum tempo, não tenho essa perspectiva de dia ou noite, porque aqui é escuro. Para mim é sempre noite. E sempre foi assim em toda a minha vida. Sempre houve noite, mas nunca houve dia.

Sento-me num canto no chão duro e sujo. E os trapos brancos que eles nos deram para que cobríssemos o nosso corpo já não são brancos, são da cor da terra, e não nos protegem do frio.

Abraço o meu corpo na tentativa de me esquentar, mas é uma tentativa falhada, porque ainda tenho frio.

Jena senta ao meu lado, e Tara senta no outro, e outras tantas sentam-se á nossa frente. E de repente não há mais frio.

– Por aqui é muito frio, se não ficamos todas juntas morremos congeladas.- Diz Jena enquanto esfrega as suas mãos.

– Eu pensava que vocês tinham medo de mim.- Falo, mas não olho para ela.

– Não temos medo de uma criança.- Declara Tara.

– Porquê que vocês não me dizem quem eu sou?- Pergunto-lhes, mas sei que não terei uma resposta.

– Porque é melhor não saberes. – Responde Jena e posso ver o quanto ela está preocupada.

– Eu sempre quis saber quem sou. Sempre sentir-me diferente das outras, e sei que há alguma coisa dentro de mim, que quer sair cá para fora, mas eu tenho medo… de me tornar um monstro- Lembro da voz do meu sonho, e como ela queria sair da sua prisão. Aquela era outra parte de mim.

– Nós também temos medo de nos tornar como elas.- Tara aponta para as mulheres presas em suas jaulas. As mulheres grunhem para nós. Seus olhos vermelhos são selvagens e desumanos. – Se elas metessem as mãos em ti, já estarias morta Juliette.

– Elas eram como vocês?- Pergunto-lhes, mas tenho medo da resposta.

– Eram, mas elas deixaram a sua parte humana e tornaram-se o que são hoje.- Posso ver o desprezo na expressão de Jena.- Eu sei que mundo está errado, e não existe lugar para nós, mas mesmo assim ainda quero manter a minha parte humana por mais pequena que ela seja.- Acrescenta.

A pouca luz que tínhamos apagou-se. Todas elas levantaram-se.

– Eles só podem estar a brincar.- Diz uma mulher.

Ouço passos pesados de corpos pesados por trás da porta. Todas elas endureceram com o som dos passos.

– MERDA.- Grita Tara.

– O que se passa? – Pergunto e o meu coração começa a bater com mais ferocidade.

Jena segura o meu braço.

– Temos de protege-la, custa o que custar. Não importa o que possa acontecer connosco hoje, a única coisa que importa é segurança de Juliette. Essa é nossa missão, nós nascemos para protege-la. Perceberam?- Jena chama atenção de todas elas, e elas assentem com a cabeça.

Eu fico assustada, não por mim, mas por elas.

– Eu não quero isso. – Grito, e Jena puxa-me para junto dela.

– Juliette, não piores a situação.- Jena sussurra no meu ouvido.

A fumaça começa a sair não sei de onde.

A porta abre-se de repente, e eu vejo homens armados, e também vejo o menino.

– Prontas para diversão? – Berra o menino, e atira.

Uma mulher de cabelos loiros cai no chão. Morta.

As ninfas formam uma barreira para proteger-me.

– Merda, nós não vamos conseguir manipula-los, á muita fumaça á nossa volta.- Comenta Tara.

– Rudy é inteligente. Ele usou a fumaça para nos cegar, assim não conseguiremos encontrar os olhos deles… O pirralho afinal usa o cérebro.- Gargalha Jena, enquanto aperta mais o seu aperto.

Ouço tiros e berros. E sinto o cheiro enjoativo do sangue fresco. Cubro os meus ouvidos, para não ouvir os seus choros. E fecho meus olhos para não presenciar a desgraça humana. Foi nisto que nos tornamos, animais sedentos de sangue.

– Eu disse que ela seria o nosso fim, e assim foi… Agora é contigo Jena. – Tara sorri para Jena, e depois ela desparece no meio da fumaça e dos gritos.

– Vamos Juliette.- Jena puxa-me para longe delas.

– Não podemos deixa-las aqui.- Eu berro e sinto o gosto das lágrimas salgadas em minha boca. Mas desde de quando estou a chorar?

– Juliette olha para meus olhos. – Olho para olhos vermelhos dela.- Fica calma. Elas estarão bem e tudo se irá resolver. – Fico tonta, e dou por mim concordar com Jena. Ela tem razão nós ficaremos bem.

Ela arrasta-me. Eu a sigo. Ela aproxima-se num atirador. Ele olha para olhos dela, e se perde. Passa-lhe arma que ele tinha nas mãos. Ela dispara e ele morre.

Ela continua a disparar com precisão, e eles caem, jaz mortos no chão.

Conseguimos sair pela porta. Corremos, não sei para onde. Não conheço esta casa.

Mas ainda continuo ouvir o som dos disparos. Eu quero correr até elas, mas meu corpo não obedece.


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Notas finais do capítulo

.Neste Capítulo não quero incentivar o suicídio, porque acho que isso errado. (Gente a vida é cheia de coisas boas).

.VocÊs precisaram dos lencinhos? Houve choradeira? Se calhar sou uma pessoa sensível demais.


.O que eu posso prometer no próximo Capítulo... Hummm... Deixem-me pensar... No próximo Capítulo Warner irá ao mil noites (Capítulo 12 promete).




—---> P.s Queridos leitores eu irei escrever uma nova fic com a temática dos Choro das ninfas. Os personagens serão diferentes, a história será um pouco diferente, mas ainda haverá ninfas e homens maus.
Para quem gostar do choro das ninfas não pode perder A melodia das ninfas. Irei apostar os capítulos em breve +.+