When You're Strange escrita por Jamie Hermeling


Capítulo 9
Planetas colidem e viram pó




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Naquela manhã, assim que pus os pés no grêmio, Naruto me olhou ansioso, com suas sobrancelhas levantadas. Era como se mal pudesse esperar que eu andasse até ele. Entretanto, assim que eu cheguei perto, sua expressão murchou, inexplicavelmente. Perguntava-me como ele conseguia fazer caretas tão expressivas e tão rápidas.

- Ah, ainda bem, Hinata – este foi meu cumprimento. Soou como se eu fosse a salvação da pátria. Eu mordi os lábios, preocupada com a responsabilidade. – Olha, eu sei que disse que os trabalhos de comunicação ficariam comigo, mas... Esse trabalho não vai chegar a ser de comunicação se for eu a pessoa que o fizer... – ele tentava explicar, cada vez mais enrolado. – O Sasuke fez o favor de não se inscrever em nenhuma atividade extra, o que é obrigatório. Nós temos a responsabilidade de levar esta ficha pra ele e avisá-lo. Mas nós não nos damos muito bem, de forma que eu duvido que ele fosse me ouvir, e pra falar a verdade, eu não tenho mais paciência pra ele – Naruto terminou em um suspiro, e nesse ato, eu o acompanhei. A ansiedade, filha da minha timidez, já começava a percorrer pelo meu sangue rápida como veneno, fazendo minhas mãos tremerem, minha voz falhar, meu rosto ruborizar e minha visão piorar. Tentei sorrir.

- Tudo bem.

Tudo bem, foi o que eu disse quando peguei a ficha de Sasuke Uchiha e sai do grêmio. Eu tinha que procurar o garoto que eu mal conhecia, um garoto mal encarado, diga-se de passagem, e intimá-lo. Minha primeira busca, entretanto, foi infrutífera. Ou ele não havia chegado, ou se escondia muito bem. Guardei a ficha em minhas coisas e decidi esperar até o intervalo – isto é, se ele ao menos aparecesse.

Sakura estava de novo mergulhada em sua música. Um dia ainda saberia quais bandas ela tanto escuta. Sentei em minha carteira, e antes que pudesse decidir sobre ir incomodá-la ou não, Ino virou-se para mim, mais animada que o normal. Era o terceiro dia que eu via Ino apenas, mas eu já podia listar algo que eu adorava nela: era transparente como um cristal bonito. Ino estava feliz, e transparecia isso cem por cento. Era o tipo de pessoa que você rezava para nunca ficar triste, e só a possibilidade parecia injusta.

- Quer almoçar com a gente hoje? – ela perguntou, embora eu ainda não conhecesse suas amigas.

- Não dá, tem trabalho no grêmio, aliás, estou super atarefada – desabafei.

- Ah, o Naruto já te arrastou pra pilha de papeis dele? – Ino estalou a língua em desaprovação e riu. – Minhas condolências. Mas então, eu tenho que te apresentar ao povo, que tal sair sexta à noite?

- Sexta está ótimo. Só tenho que confirmar com a minha tia, amanhã te digo.

- Tia?

Ops. Tinha que aprender a sustentar melhor minhas mentiras. Minha pele toda pulsou, meus pensamentos se atrapalharam e esbarraram uns nos outros, tentando achar uma saída.

- É, eu tô na casa da minha tia esses dias – disse o mais rápido que pude e sorri de canto.

- Ah, sim.

Ino começou a falar animadamente sobre como eu com certeza ia gostar de sua turma. Fiquei sabendo que Tenten era sua amiga e que naquele ano, haviam sido separadas de turma. Temari também, mesmo sendo um ano mais velha. Temari sempre me levava a pensar em Gaara e em seus mistérios. Mas não perguntei nada. Se me mostrasse interessada em todas as pessoas estranhas da sala para Ino, ela não custaria a me recomendar a psicóloga da escola.

Era aula de física, a qual o ruivo, por sinal, também não compareceu.

Sasuke chegou quinze minutos atrasado. O professor, Asuma, não lhe disse nada, apenas fitou o rapaz em silêncio até que ele se sentasse em sua cadeira.

Olhei para trás. Sakura anotava algo no caderno sem muito interesse. Acabou me vendo e me sorriu, simpaticamente.

Esperei alguns segundos depois que Sasuke saiu para o intervalo. Imaginei que a sensação de ser seguido pudesse transferir sua má vontade com o mundo para mim.

Entretanto, invariavelmente, foi isso que eu acabei fazendo: seguindo-o. Não é como se a culpa fosse minha. Sasuke foi até o pátio, e depois percorreu todo o jardim, que estava deserto, e continuou andando, rumando ao fundo da escola. Eu nunca tinha ido aos fundos da escola, mas passando de carro pela rua de trás, parecia o lugar menos simpático e também menos cuidado da instituição. Cheio de madeiras e pedaços de ferro. Constatei também uma grama mais alta que o desejável e a pintura das paredes já caindo.

Quando estávamos sozinhos, Sasuke não demorou para parar, virar-se pra mim e me olhar de um jeito que provavelmente assustaria até alguém como Sakura.

- O que você quer? – ele perguntou num resmungo, como se eu tivesse passado um dia inteiro a irritá-lo.

- E-eu, anh, eu, bem, eu sou vice-representante de turmas, é que não consta nenhuma atividade extracurricular na sua ficha, e sabe, você tem que se inscrever em algumas.

- Três dias sem resolver isso e vocês já me vêm encher o saco?

- Desculpe, mas é que o prazo pra se inscrever na primeira era até ontem e se você demorar muito, só sobrará os clubes ruins.

- Como se existisse algum bom. Mas hein, trocaram o Uzumaki por você, foi? Já estava na hora.

- O Naruto? Não, não, como eu disse, sou vice-representante, estou um degrau abaixo dele.

- Tanto faz. Depois eu decido o que eu faço.

Sasuke fez sinal pra mim com as mãos, e já se aprontava para me deixar ali comendo vento. Eu não me sentia com coragem para chamá-lo de volta. Mas também não queria fracassar. Quase senti raiva de Sasuke. Mas eu nutria uma estranha simpatia por ele, a mesma estranha simpatia que sentia por Sakura e pelo ruivo.

- Desculpe, mas eu tenho que entregar sua decisão pro Naruto hoje.

Sasuke voltou-se pra mim irado desta vez. Tive uma sensação desagradável, parecida com medo, e porém, não era.

- Blah blah blah, Naruto. Por que ele fica mandando as pessoas repetirem a ladainha dele? Anos pra ele aprender a não me incomodar, agora quantos anos serão necessários pra ele aprender a não mandar outras pessoas me incomodar?

- Desculpe se estou incomodando – pigarreei, minha voz falhando. – É o meu trabalho, eu só preciso, realmente preciso que você escolha algum grupo e assine sua ficha, é isso.

Sasuke bufou, balançando os ombros. Eu estava de cabeça baixa, mas pude imaginá-lo revirando seus olhos negros. Pegou sua ficha bruscamente da minha mão e começou a analisá-la.

- Está vendo? Todos são perda de tempo – ele reclamava, e eu soube que, não importava que grupo ele escolhesse, acabaria não comparecendo a eles, de qualquer maneira.

- Bem, eu estou no clube de literatura. É bem legal lá.

Sasuke me olhou por baixo e não precisou dizer mais nada para que eu compreendesse que minha sugestão estava mais para uma piada sem graça.

- Anh, se você souber tocar algum instrumento, tem o de música.

- Já estive nesse. Não nos dão liberdade lá.

- Você pode entrar nas disciplinas avançadas. De qual matéria você gosta?

Silêncio. Outra piada sem graça.

- Bah, acho que vou ficar com o de teatro – ele disse de repente, inesperadamente.

- Muito bom. Digo, mesmo se você não quiser atuar, ainda tem o figurino, cenário, roteiro, direção, trilha sonora... – tentei animá-lo, surpreendendo a mim mesma por ter coragem de falar tanto.

Sasuke me encarou com várias rugas na testa. Terceira piada, eu estava começando a me sentir realmente estúpida.

- É só mais fácil arranjar um jeito de não fazer nada lá – Sasuke deu de ombros, marcando as opções e assinando no devido local.

- O-ok. Não se esqueça de escolher as disciplinas avançadas depois – aconselhei, sorrindo. Seria mais fácil para nós dois se ele lembrasse disso.

Myuu veio me buscar para almoçar. Entreguei a ficha de Sasuke para Naruto e avisei que estaria de volta em meia hora. Minha tia tinha uma incomum expressão séria. Não dissemos nada além dos cumprimentos durante o trajeto de carro. Paramos num restaurante e sentamos numa mesa onde passava uma corrente de ar, que congelava meus dedos. Eu balançava minhas pernas freneticamente.

- Você anda comendo bem? – ela perguntou, e a forma como o fez, dizia que já sabia a resposta. Suspirei. Alimentação não era exatamente meu assunto favorito. – Eu ando trabalhando o dia inteiro e mal te vejo, desculpa por isso.

- Tudo bem, Myuu, você precisa. Eu também ando ocupada com a escola, então...

O garçom nos interrompeu. Myuu pediu um prato italiano, eu pedi salada e suco de acerola.

Myuu ainda estava séria, e mais calada do que o habitual. A atmosfera causada por aquilo estava me sufocando.

- Eu recebi seus exames, Hinata – ela disse por fim, colocando um envelope branco em cima da mesa. – Precisamos conversar.


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