When You're Strange escrita por Jamie Hermeling
- Enfim, é incrível, você podia entrar! – Lee tagarelava no metrô. Desde que se sentara ao seu lado, falava sobre um tal clube de literatura. Um lugar pra se expor. O pior ambiente para Sakura. Não sabia de onde Lee tirara aquela ideia, conhecendo-a o mínimo.
Soltou um resmungo quase inaudível, e pulou para fora do metrô mal as portas se abriram.
- Você não vai pra sua sala não? – ela perguntou, quando percebeu que o garoto ainda a seguia pela escada.
- Ainda tem uns quinze minutos, então eu pensei em-
- Desculpa, Lee, mas eu tenho que falar sobre um trabalho com a minha dupla – mentiu, de sobrancelhas franzidas.
Lee esboçou um sorriso tímido, coçou a nuca e fez sinal de adeus com as mãos. Não era que destinasse um descaso particular a Rock Lee. Pelo contrário, muitas vezes, sentia algo parecido com pena dele e raiva de si mesma por tratá-lo daquela forma. Mas simplesmente não conseguia se animar com a presença dele nem manter uma conversa. Era assim com ele e era assim com todo mundo.
- Tudo bem. Te vejo depois.
Sakura pôs seus fones de volta e se arrastou até a sala. Perto na porta, encostado na parede do corredor, percebeu um ruivo estranho, sem sobrancelhas, que a encarava. Seus olhos verdes pareciam conter uma raiva infinita. Deu de ombros e voltou a dirigir seus olhares para os próprios tênis. Como sempre, jogou sua mochila na última cadeira da fila e pôs sua cabeça em cima, embalada pela voz anasalada de Billy Corgan.
Não demorou para que o novo professor aparecesse. Ele tinha os olhos caídos, o que estimulava sono em Sakura. Sua voz era grossa e ele falava lentamente. Discorria acerca das aplicações da Óptica. Ela fazia anotações, mantendo um fone clandestino em seu ouvido direito.
Sasuke parou a sentença no professor no meio quando irrompeu pela porta, sem qualquer pedido de desculpas. Asuma nada disse, e o rapaz trocou com Sakura um breve olhar. Era como se Sasuke estivesse sorrindo com o olhar, embora todo o resto de seu belo rosto estivesse inexpressivo.
No intervalo, Sakura continuou no mesmo lugar. Gostava de ficar na sala, já que a deixavam sempre praticamente sozinha. Era melhor do que a multidão de gente que se formava no gramado, no pátio ou mesmo nos corredores. Não demorou para que visse uma sombra chegar perto dela. Levantou a cabeça surpresa, e viu ali a figura sorridente de Naruto.
- O que você tanto escuta, hein? – perguntou ele, sentando-se na cadeira à frente de Sakura.
Ela sorriu, sentindo-se um pouco nervosa.
- Anh, muitas coisas. Tipo, Placebo, David Bowie, Nine Inch Nails... Agora mesmo eu estava ouvindo Smashing Pumpkins.
- Percebo um leve interesse em post-punk – Naruto brincou, rindo quase alto.
- Um pouquinho – Sakura fez um sinal com os dois dedos, prolongando a última sílaba da palavra. – E você, o que gosta de ouvir?
- Ah, eu também gosto de algum rock, mas cresci ouvindo jazz e blues, então ficou. Já ouviu Nina Simone? Acho extremamente fantástica.
- Um pouco, minha mãe tocava Tomorrow Is My Turn no piano – confessou.
- Eu também toco piano, um pouco. Qualquer dia eu te mostro, se você quiser.
- Seria ótimo. Aliás, você podia me ensinar também – sorriu, sacana, sem medo de ser folgada.
- Claro – Naruto deu uma risada levemente nervosa. – E então, você está melhor? Não tive mais chances de falar contigo.
- Estou bem sim. Valeu por me deixar dormir na tua casa. E só pra não deixar dúvidas, não, eu não sou uma sem-teto, eu tenho casa. É só que... Eu tô morando sozinha agora e ainda não me acostumei, acho que é isso mesmo.
- Você está morando sozinha? – Naruto perguntou, quase alto demais, em sua preocupação.
- É.
- Nossa, deve ser ruim, não?
- É bem... Solitário. Mas tem suas vantagens. Estou procurando um bicho de estimação pra me fazer companhia.
- O que você prefere, um cachorrinho?
- Definitivamente não. Gosto de gatos, quero uns treze.
- Haha, eu também gosto bastante de gatos. Só não tenho tipo, uns cinquenta porque a Karin tem alergia a pelos. Escute, meu padrinho tem um pet shop, eu vou lá sempre. Recentemente, uma gata pariu, tá cheio de gatinhos novos. Se você quiser, eu te levo lá depois da aula.
- Seria ótimo.
O intervalo acabou. Naruto sorriu pela última vez e voltou para seu lugar. O tempo da aula de química se arrastou especialmente lento, ainda mais por Sakura ter decidido não prestar atenção e fazer pequenos desenhos nas bordas da folha do caderno.
Naruto a esperava no término na aula. Foram ao centro no carro no loiro, até que viram, numa esquina, um pet shop com amplas vitrines e o nome pintando num escandaloso laranja.
Um velho de cabelos longos e espetados, com um avental verde e sorriso gigante os esperava, assim que abriram a porta e o sino avisou a chegada dos dois.
- Naruto, veio em boa hora! – ele disse, demorando a perceber a companhia do loiro. – E quem seria essa bela dama que trazes aqui?
- Essa é a Sakura. Sakura, meu padrinho Jiraiya, padrinho Jiraiya, Sakura.
O velho sorriu para ela e lhe estendeu a mão, mas Sakura não lhe sorriu de volta e muito menos estendeu a mão. Jiraiya voltou a sorrir, sem nenhum constrangimento, e tirou seu avental.
- Naruto, estou saindo para almoçar, cuide da loja até eu voltar.
Jiraiya saiu contente pela porta antes que Naruto pudesse discordar. O loiro ficou olhando pra rua, boquiaberto. Levou a mão à testa.
- Ele sempre faz isso – resmungou.
Olhou novamente para o interior do pet shop, as jaulas de ferro e vidro amontoadas e os barulhos de vários animais ao mesmo tempo. Sakura já estava colada à caixa dos gatos.
- Esses são os novos, de que falei – disse, aproximando-se.
- Eu não entendo nada de raças e essas coisas, você pode me explicar?
- Esses são da raça Angorá. São bonitos, inteligentes e dóceis. Minha raça favorita, para ser franco.
Sakura olhou para um filhote preto no canto da caixa. Lambia-se majestosamente e mantinha-se afastado dos demais. Parou sua atividade por um breve momento e olhou para ela. Tinha heterocromia – seu olho direito era azul, enquanto o esquerdo era marrom.
- Vou ficar com aquele – Sakura apontou. Naruto sorriu, destampou a caixa de vidro e pegou o gato escolhido, colocando-o nos braços de Sakura.
O gato roçou a cabeça nos braços da dona e voltou a se lamber. Sakura se desmanchou num sorriso.
- Ah, que coisa mais linda! – exclamou. – O nome dele vai ser Shin.
- Shin? Morte? – Naruto indagou, com uma sobrancelha arqueada.
- Isso mesmo, não é maravilhoso? Shin, meu rapaz, uma nova vida começará – ela disse, e Naruto riu com o trocadilho.
- Acho que você se identificou com o Shin.
- Como assim?
- Uma áurea negra, sempre isolada das pessoas, movimentos beirando a arrogância... Ah, desculpe, não foi uma crítica.
- Eu sei. É, talvez eu tenha mesmo me identificado com ele – disse, olhando para o animal e fazendo-lhe carinho na cabeça.
- O que eu quero dizer é que, eu sei que é o seu jeito e tal, mas você não precisa ficar o tempo todo sozinha, sabe – ele dizia, olhar com olhar. – eu te acho meio deslocada com o pessoal, mas eles são legais, de verdade. E bem, você sempre pode conversar comigo também. Eu realmente gosto de você, Sakura.
Ela continuou sem movimento, suas mãos que repousavam sobre Shin ficavam cada vez mais frias, até que o animal pulou de seus braços. Naruto estava perto, perto demais.
Antes que pudesse fazer qualquer coisa com seus sentidos confusos, Naruto a beijou. Naruto era quente e confiável, e seu beijo era confortável, assim como as mãos que ele colocou ao redor da cintura dela.
- Desculpe – o loiro interrompeu o beijo abruptamente. Baixou a cabeça. – Você deve estar me achando um louco, eu não sei o que me deu.
- Não – Sakura começou, com um sorriso torto. – Na verdade, essa foi a melhor coisa que você já fez. Depois de me apresentar ao Shin, claro.
Naruto riu, e o barulho na porta o interrompeu. Era Jiraiya que chegava, cumprimentando os dois novamente, cheio de energia. Sakura pagou pelo animal e Naruto se despediu do padrinho.
- Tem um lugar muito bonito aqui perto, se você quiser ver... – o loiro sugeriu. – Dá pra ir a pé, até. A gente pode almoçar, também, eu estou morrendo de fome.
Sakura assentiu, sentindo a cauda de Shin bater em seu braço. Mal se puseram a caminhar, porém, o celular de Naruto tocou. Tirou o aparelho do bolso, decidindo que só atenderia dependendo da pessoa. Franziu o cenho.
- Alô? Aconteceu alguma coisa?... O que? Mas isso é absurdo!... Isso não pode estar acontecendo... Ok, Temari, eu estou indo até aí agora.
- O que foi, qual foi a tragédia da vez? – Sakura perguntou, confusa com a expressão transtornada de Naruto.
- Roubaram os testes da próxima semana. E estão colocando a culpa em mim.
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