When You're Strange escrita por Jamie Hermeling


Capítulo 8
Não temos classe e não temos princípios




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Sakura bateu seu armário e soprou a mecha de cabelo entre o os olhos. Naruto havia acabado de se despedir apressado depois de falar com um colega, dizendo “papéis chamando! Te vejo mais tarde!” e piscou o olho. Os lábios dela se contorceram automaticamente com aquela piscada em particular. Lee a vira e saíra correndo ao seu encontro para falar sobre sua sala nova e como era triste não estarem na mesma. Foi levado por uma colega de classe, que naquele momento, ganhou a simpatia eterna da rosada.

Quando pôs a porta de ferro no lugar, deu de cara com Sasuke Uchiha. Um Sasuke Uchiha com cara de menos amigos do que o habitual. Sakura fez uma careta e grunhiu, recepção que não intimidou o rapaz, o qual tratou de puxá-la antes que lhe virasse as costas.

- Quê? – perguntou bruscamente, olhando para a mão de Sasuke que ainda pressionava seu ombro contra os armários.

- Quê, você pergunta – o rapaz parecia querer gritar sussurrando, com os vasos sangúineos de seu pescoço saltando e sua careta de fúria. – Tá me achando com cara de quê, de amiguinho seu pra você chegar e dar showzinho na frente de todo mundo, ir logo cheirando minhas coisas?

Sakura riu, não conseguindo se aguentar com os múltiplos sentidos possíveis da frase.

- Deixa de ser mesquinho, cara. E eu só peguei o que sua amiguinha ruiva me devia.

Sasuke balançou a cabeça, revirando os olhos, como se lhe ocorresse uma nova ideia.

- Céus, você nem tem ideia do que era aquilo, tem?

- Duhh, quer que eu soletre?

- Era DMT, sua vaca louca. Não era coca, e não era nem minha também, pra começo de conversa. Entendeu agora a cagada que você fez?

Um raio de pensamento apoderou-se da mente de Sakura. DMT. Por isso todas aquelas reações estranhas. DMT. Balançou a cabeça, tentando desconcentrar-se daquelas três letras convidativas.

- Ah, então você está devendo pra alguém? – a rosada perguntou, com um sorriso estranho no rosto.

- É isso aí.

- Então, meu caro, só me resta esperar que seja um daqueles caras invocados que te cortará em pedaços e venderá seus órgãos. Agora dá licença que ver sua cara pela manhã é pior que comer bacon no café.

Mas Sasuke não afrouxou a mão que prendia ombro de Sakura.

- Olha aqui – ele começou. – Não desconte seus problemas com a Karin em-

O rapaz não terminou a frase, pois Sakura, irritada com insistência dele e frustrada com a falta de força física que a impedia de sair dali, deu um soco da cara do Uchiha. Ele deu dois passos para trás, com a mão na bochecha esquerda, surpreso. Depois de dois segundos de choque, o brilho de ira voltou aos seus olhos, e ele partiu para cima da rosada. Quem parou a mão do Uchiha e salvou a Haruno de ter sangramentos na boca foi um rapaz com grandes óculos, cabelos brancos como os de Kakashi e expressão serena. Sakura pôde ler um crachá escrito “Kabuto”. Tenho que lembrar de perguntar depois que moda é essa nessa escola de ter cabelos brancos, pensou.

O círculo que começara a se formar em volta do pequeno conflito se dissipou aos poucos. Kabuto suspirou, arrumando seus óculos. Olhou para Sasuke e balançou a cabeça.

- Vocês, me acompanhem.

Enquanto guiava os dois alunos por um infindável corredor, Kabuto discursava acerca de como era covarde bater em uma dama. Sakura lamentou que Sasuke não tivesse tido tempo de batê-la e até sentiu-se em dívida com o rapaz. A antipatia com Kabuto foi instantânea.

Chegaram, enfim, ao final do corredor, onde havia uma placa na parede indicando a biblioteca à esquerda e a sala dos professores à direita. Kabuto os fez entrar na biblioteca.

O lugar estava praticamente vazio, a não ser por dois garotos que estudavam numa mesa e uma mulher que arrumava livros nas estantes. Havia várias caixas jogadas sem cuidado no chão.

- Vocês escolheram o dia certo para brigar – Kabuto dizia, sorrindo satisfeito. – Novos livros chegaram hoje e estamos, ou estávamos, haha, apinhados de trabalho. Essas caixas estão cheias de livros, vocês devem separar primeiro por sessão, depois por autor e depois por ano. Bom trabalho, vocês têm o dia todo para terminar.

- Droga – berrou Sakura, chutando a primeira caixa que viu. Sasuke lhe lançou um olhar furioso, como se estivesse a ponto de tentar outra agressão.

Para sua surpresa, Sasuke apenas se sentou no chão, de braços cruzados.

- Vai me deixar com todo o trabalho, belezinha?

- Você olhou direito para a minha cara? – Sasuke vociferou, apontando o dedo indicador para o próprio rosto. – Eu tenho cara de quem arruma livro na biblioteca?

- Bem, você tem cara de quem põe fogo na biblioteca, mas eu tava botando fé naquele negócio de que as aparências enganam.

Sasuke sorriu torto e balançou a cabeça pros lados.

- Aqui – Sakura disse, abaixando-se e estendendo o braço. Ele a olhou sem entender. – Te bati sem motivo, e aqueles sexismos imbecis daquele cara me deixaram com sentimento de culpa. Me dá um soco.

- Você me deu um soco no rosto, não no braço.

Sakura bufou, revirando os olhos – Não abusa da boa vontade.

- Você é maluca – Sasuke afastou o braço dela. – Não tô no clima de bater, mas você fica me devendo uma.

Sakura fez que sim, pegando uma edição recente de The Great Gatsby.

- Vai fazer o que pra escapar do Kabuto? Também não to no clima de arrumar tudo isso.

- Daqui a quinze minutos ele vai sair pra comprar café.

- Como sabe?

Sasuke levou o indicador à boca, repentinamente fazendo sinal de silêncio. Kabuto pareceu logo em seguida. Suponho que Fitzgerald venha antes de Lovecraft, srta...

- Ah, saco – Sakura resmungou.

- Srta. Saco, é pelo nome completo que se seleciona.

- Que diferença faz? – perguntou baixinho, para si mesma, mal Kabuto deu as costas.

Sakura olhou para as pilhas de livros. Se fosse mesmo arrumá-los, chegaria em casa quase à noite. Pelo menos não estava na sala, tendo aula. Imaginou que era um preço alto a se pagar e colocou em mente que ficaria longe de problemas dali por diante.

Continuou a separar os livros, ou ao menos, fingir que fazia isso, até que Sasuke levantou-se, de supetão.

- Os quinze minutos já passaram?

- Shh.

Ainda havia a bibliotecária, há duas estantes de distância. Sakura compreendeu e se pôs a seguir Sasuke, que caminhou até o final da estante e depois virou à esquerda, distanciando-se da funcionária. Lançou um olhar significativo para a rosada – teriam de ser rápidos e silenciosos.

Sakura bateu as costas no muro, nos fundos da escola. Estava cansada de tanto correr. Sasuke, ao seu lado, estava inalterado e tirava um maço de Marlboro de suas calças.

- Escute – ele dizia, sem olhá-la, acendendo o isqueiro. – Me encontre aqui hoje, às dez. Não esqueça que está me devendo.

...

O convite de Sasuke martelava em sua cabeça. Por um lado, não queria ir, e se convencia que era porque aquilo era problema na certa, e não por pirraça. Não porque queria irritar Sasuke, não. Apenas era racionalmente mais certo não se encontrar à noite na escola com alguém que pode atear fogo nela. Mas por outro lado, ficara curiosa. Se fosse qualquer outro rapaz, apostaria que era uma espécie de encontro, mas Sasuke não fora lá muito com sua cara, da mesma forma que ela não fora com a dele. Por que raios então marcara aquilo com ela?

Foi com essa pergunta na cabeça que saiu de casa às vinte pras dez, e dessa vez, pegou o metrô até a escola. Vestia um casaco preto, e pôs o capuz na cabeça quando se viu na calçada, ainda cismando com a possibilidade de Sasuke estar para fazer algo ilegal.

Chegou aos fundos da escola, olhou para todos os lados e não havia ninguém ali. Checou as horas em seu relógio. Dez e dez. Dez e dez e não havia ninguém. Sasuke a fizera de idiota. Bateu na própria testa, recriminando sua burrice por ter aparecido. Foi quando levantou a cabeça para o céu, em lamentação, que viu um vulto no teto na escola. Fez sinal para que ela subisse, pela escada externa que havia ali. Sakura suspirou em alívio, e subiu. Sasuke estava de cócoras, no lado adjacente à escada.

- E então – Sakura começou, falando alto. – o que-

- Shhh – Sasuke se virou para ela, levando o dedo indicador à boca. Fez sinal para que ela se aproximasse.

Sakura obedeceu, ficou na mesma posição que ele, ao seu lado. O rapaz lhe lançou um olhar significativo, como se pedisse que prestasse atenção, e mostrou uma pedra média e roliça em sua mão. Em frente àquele lado da escola, separados por apenas uma rua estreita, havia um grande prédio de apartamentos, e era lá onde Sasuke mirava. Finalmente jogou, e a pedra atingiu uma das janelas, quebrando-a. Logo puderam ver que a luz subitamente acendia, e uma grande confusão começara no apartamento. Sasuke se abaixou e fez com que Sakura também se abaixassem. Riram prolongadamente o mais baixo que puderam.

- Sua vez – ele falou, entregando-a outra pedra. Sakura sorriu e piscou um olho, confiante.

Mirou bem no andar superior ao que havia acabado de atacar. Outra janela quebrada. Outra luz acessa, outra confusão, outros risos.

Passado um momento seguro, Sakura se levantou e contemplou a vista. Um vento forte soprava em seu rosto. De lá, dava pra ver um rio, iluminado pelas luzes artificiais. No horizonte, se vislumbrava o mar iluminado que era o centro da cidade, e um bosque a noroeste. Era como uma miniatura bonita de Trenton.

- Por incrível que pareça, o teto é o melhor lugar dessa escola – Sakura anunciou de supetão.

- Eu que sei. Não venha muito aqui – Sasuke ordenou, sem explicar.

- Foi pra isso que você me chamou, pra curtir a vista? – ela sorriu zombeteiramente. – Estou mudando de opinião, talvez você ainda seja um delinquente juvenil salvável.

- Olha quem fala. E não, eu não te chamei aqui pra diversão. Preciso que você me ajude a entrar na sala dos professores. Quero que fique de guarda.

- Hein? Por que, como, e pra quê?

- Como, com a chave. Pra quê, não te interessa. Por que, porque você me deve.

- Como diabos você tem a chave?

- Peguei do Kabuto hoje, enquanto seguíamos ele.

Sakura o encarou boquiaberta. Estivera lado a lado com Sasuke e não percebera quando ele pegou.

Sentiu uma pequena indignação. O que devia a Sasuke não era suficiente para que ele a forçasse a invadir a escola (nem sabia ao certo se realmente o devia alguma coisa), e na verdade, ela não se importava em manter suas promessas. Entretanto, não sentia vontade de recusar. Na verdade, pouco se importava em invadir algum lugar ou com suas consequências. E talvez, ainda, ela ganhasse alguma coisa com aquilo, pensou de repente, embora recompensa fosse quase a última coisa que lhe importasse. Sakura era perseguida por uma inclinação infantil e desesperada a quebrar regras. Deu de ombros e se pôs a seguir Sasuke.


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