When You're Strange escrita por Jamie Hermeling


Capítulo 6
36 graus




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Sakura não fazia a menor ideia de qual era o caminho de volta. Há mais ou menos meia hora dava voltas nos quarteirões, com suas paredes, calçadas e estradas incertas. Andava no meio da rua, na maioria das vezes. Gostava de ver os carros parando para ela ou desviando. Chegara à conclusão de que não cheirara a quantidade suficiente, e desde então, se lamentava por isso. Os efeitos não estavam fortes o bastante para deixá-la relaxada, leve e com o poder de tudo. Restara-lhe a febre e um embrulho forte no estômago. Lembrou-se que desde a tarde não comia nada, mesmo não sentindo fome no momento. Precisava pegar um metrô rápido, e no entanto, estava tão cansada que olhava para as calçadas com desejo de se deitar nelas, analisando a possibilidade. A luz de um poste a cegou. Sentiu o enjoo ficar cada vez maior e subir pela sua garganta, até sair num vômito anormalmente mole.

-              Ei! É a menina lá da sala! Você está bem? – alguém pegou em seu ombro e fez a pergunta mais idiota de todas existentes.

Sakura olhou para o loiro que a fitava preocupado com desdém, franzindo o cenho. Balançou o ombro bruscamente e continuou a andar. Olhou a menina confusa perto do carro de cima a baixo. Sentia os quatro olhos em suas costas, e a terrível sensação de que eles sabiam de tudo. Sabiam onde tinha ido, o que tinha feito, a cocaína que havia cheirado, quem ela era, por que ela era... Tudo. Os pensamentos chegavam todos de uma vez, e junto com o cansaço físico, fizeram-na ficar tonta. Foi obrigada a interromper seus passos, levou as duas mãos à cabeça por rápidos instantes. Sentiu outra pessoa vir em sua direção. A menina de olhos claros e estranhos. Ela tirou os cabelos de Sakura do rosto, colocando-os atrás das orelhas, e olhou direto em seus olhos. O que surpreendeu a rosada é que era um olhar amigável, até simpático. Pôs a mão em sua testa, e voltou a olhar para o loiro, por cima dos ombros de Sakura.

-              Ela está com febre. Não acho que conseguirá ir pra casa sozinha.

-              Eu deixo vocês duas, venham – Naruto andou até a porta do motorista, e fez sinal para que elas entrassem. Hinata rapidamente conduziu Sakura e sentou-se ao seu lado no banco de trás.

-              Você... Você pode nos explicar onde é a sua casa? – Naruto perguntou cuidadoso, depois que deu partida no carro, olhando a garota pelo retrovisor.

Sakura franziu o cenho e deixou sua cabeça cair no ombro de Hinata.

-              Não quero ir pra casa... Não tenho casa – falou num tom quase ávido, entretendo-se em mexer num detalhe da gola da camiseta de Hinata.

-              Você não tem casa? – Naruto repetiu, confuso. Olhou para trás, tentando encontrar uma resposta em Hinata, que lhe balançou a cabeça para os lados. – E pra onde você quer ir, então?

-              Pra qualquer lugar que tenha comida. Aquela porra me deu foi uma fome do cacete.

Hinata acabou rindo baixinho, e Naruto fez o mesmo. Pararam numa lanchonete no próximo quateirão.

Sakura pediu dois hambúrgeres, batata-frita e refrigerante. Naruto pediu um suco de laranja. Hinata disse que não estava com fome.

-              O que vamos fazer com ela? – perguntava Naruto para a garota de cabelos roxos. Sakura o olhou de soslaio, dando uma mordida no primeiro hamburger, como se não fosse dela que falassem.

-              Não sei, ela disse que não tinha casa. Talvez não se lembre, afinal... Ela tá meio ébria, né.

-              Eu, ébria? – perguntou de repente, um pouco alto demais, com a boca cheia. – Vocês se dispõem a pagar minha conta na lanchonete e eu que tô ébria? Fala sério.

Hinata e Naruto se entreolharam e sorriram tímidos pelos gestos estranhos da garota. Ela empurrou a comida com mais força pela garganta e continuou a falar, apontando para a mesa do outro lado, onde se sentavam dois rapazes e uma garota.

- Vêem ali? Ela tá traindo o namorado com o melhor amigo.

Os dois franziram o cenho.

- Como você sabe? – perguntou o loiro, metade curioso, metade cético.

- O de camisa preta está com o braço passado no pescoço dela e faz carinhos típicos de namorado. Mas ela e o cara de camisa verde se olham e se sorriem cheios de segredos, fora que ela mexe no cabelo toda vez que olha pra ele. E os pés dela estão fazendo carinhos discretos na perna dele, que por sua vez, não está estranhando nem desgostando.

Hinata levantou as sobrancelhas, demonstrando sua surpresa. Naruto riu.

- Você é bem observadora.

- Nem sou – Sakura disse indiferente, começando seu segundo hambúrguer. – São as pessoas que são fáceis. Estão sempre fazendo as mesmas coisas.

Naruto soltou um “ah” e fingiu concordar. Hinata apenas continuava ouvindo.

- Agora é a vez de vocês – Sakura retomou. – Me contem o que as pessoas estão fazendo.

Naruto a olhou com estranheza durante alguns segundos. Depois olhou para Hinata. Não parecia que ela tomaria uma iniciativa tão cedo. E não queria correr o risco de irritar Sakura naquele estado. Olhou ao redor. Uma mulher de seus trinta anos pagava a conta no caixa. O loiro começou a falar baixo, devido à proximidade.

- Tá vendo aquela mulher no caixa? Ela disse que não tem troco só pra levar um desconto extra. O bolso externo da carteira dela tá cheio de moedas, dá pra perceber.

Ficaram na brincadeira por mais de meia hora. Hinata entrou também. No começo, pareciam realmente tentar empregar algum motivo racional aos gestos e atitudes alheios, mas ao longo que a vez de um passava para o outro, iam ficando cada vez menos rigorosos. No fim, uma moça que entrou e olhou Naruto estava perdidamente apaixonada por ele, segundo Sakura. Eles riram e, de uma forma ou de outra, cada um ficou sabendo o nome do outro sem que nenhuma apresentação expressa fosse necessária. Trocaram também telefone. Sakura parecia estar melhor, mas ainda dizia que não tinha casa. Naruto riu e convidou-a para dormir na dele. Ela concordou.

Deixaram Hinata em casa, com a promessa de que se veriam no dia seguinte. Sakura odiava a aquela sensação piegas que era sentir como se conhecesse Hinata e Naruto há meses, e no entanto, acabou sorrindo para a menina estranha quando ela desceu do carro.

Dirigiram até um bairro movimentado e cheio de casas e bares no centro-sul da cidade. Pararam num prédio grande e hipnotizante com todos os seus andares e vidros.

Subiram até o décimo sétimo andar e pararam à frente da porta 505. Naruto tirou os sapatos e pediu a Sakura que fizesse o mesmo. Já era tarde e o loiro explicou que os pais dormiam cedo nos dias úteis.

- Eu vou ter que te colocar no quarto da minha prima – avisou baixinho, estendendo um colchão no chão. – Ela saiu e ainda não chegou, mas não acho que vá se incomodar com você aqui. Aí no guarda-roupa tem lençol, roupa de dormir e toalha, se você quiser – sorriu simpático, fechando a porta – Boa noite.

Sakura foi deixada com a mistura de perfume floral e amadeirado do quarto. Olhou ao redor. Era tipicamente adolescente, com seus móveis modernos brancos e pretos, com sua janela de vidro e cortinas lisas. No entanto, conservava um tom infantil e inocente no abajur rosa e nas borboletas desenhadas no teto. Pegou o primeiro lençol que viu e enrolou-se.

...

-              Abra os olhos. Abra os olhos, acorda – Sakura ouvia uma voz doce, acompanhada de pequenas risadas lhe chamar. Abriu, então, os olhos, e teve uma surpresa enorme em encontrar ali justamente... Karin.

Aliás, precisou de um tempo sentada para pelo menos lembrar onde estava e o porquê de estar. Os flashes passaram rápido por sua cabeça. O metrô, a Ellus, Karin, Sasuke, cocaína, vômito. Dissera alguma coisa sobre não ter casa na noite passada. Céus, poderia ser mais ridícula?

- O que você está fazendo aqui? – a pergunta saiu ríspida. Sakura se sentia quase irritada por alguém como Karin entrar naquele quarto tão ingênuo.

A ruiva a olhou com um sorriso torto e uma sobrancelha arqueada – Aqui é a minha casa, esse é o meu quarto, eu acho.

- Não sabia que conhecia o Naruto – continuou com seu tom indignado, lembrando-se de como Karin se referira ao loiro na primeira vez que se viram. Como se mal soubesse quem ele era.

- Eu não gosto de sair por aí dizendo que sou prima de um representante – explicou. – Venha, o café está sendo servido.

Sakura entrou na sala de jantar sem jeito. Se fosse possível ir embora sem ser vista pela família de Naruto, ela teria ido.

Metade de seu desconforto morreu no sorriso de Kushina.

-              Acordou bem? – a mulher ruiva e bonita lhe perguntava. Ela tinha o rosto parecido com o de Naruto, com cabelos da cor do de Karin.

-              Bem melhor – confessou.

Um homem loiro de roupa branca lhe sorriu, despejando um suco de laranja em seu copo. Devia ser o pai de Naruto. Eram incrivelmente parecidos, embora os traços do mais velho fossem mais suaves e delicados que os quase rústicos de seu colega. Karin sentou-se à mesa, passando geleia de morango em sua torrada.

-              Passa o açúcar – Naruto pedia a ela.

Pareciam tirados de uma pintura. Sakura nunca tivera uma família completa e em todos os anos que lembrava, nunca vira tanta afetuosidade quanto naquela manhã. Kushina – como a mãe de Naruto se apresentara – indicou-lhe uma cadeira perto do filho e perguntou o que ela gostava para o café. Na verdade, Sakura comia qualquer coisa ou até mesmo nada. Pegou duas torradas. Naruto ria sobre alguma história que Karin contava. Minato e Kushina fizeram algum comentário sobre os jovens daqueles dias, que foi alvo de pilhéria do loiro. Acabaram rindo todos, e Sakura acabou acompanhando, mais contida. Pela primeira vez em semanas, sentia-se confortável.


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