When You're Strange escrita por Jamie Hermeling


Capítulo 3
Nossos nomes são X e Y




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Eu olhei meio constrangida para o resto da sala vazia. Todos tinham ido assistir ao espetáculo. Da janela, eu podia ver o tal Naruto discutindo com o nosso garoto problema. Dei de ombros. Não era como se fosse da minha conta, então retornei à sala de aula. Não encontrei mais Ino, nem o casal fora de sincronia. Apenas eu e um ruivo que me encarava da penúltima cadeira da fileira da janela. Ele era de um tipo bizarro: maquiagem pesada emoldurando seus olhos verdes claríssimos, nenhuma sobrancelha e uma tatuagem na testa. Aquele cara não passaria despercebido em nenhuma situação. Tais coisas me levavam a pensar como as pessoas são mesmo diferentes. Pra mim, não conseguir passar despercebida seria um inferno. Desviei minha atenção dele rapidamente. Sentei na terceira cadeira da segunda fileira perto da porta, e tinha um bom motivo pra isso. Estando perto da porta e numa das primeiras cadeiras, quando eu quisesse sair, não atrairia atenções, e no entanto, a terceira cadeira era distante o suficiente para que eu não fosse tão notada pelos professores ou por qualquer outra pessoa. Fiquei imóvel alguns minutos. Inquietei-me, abri o caderno para desenhar, mas logo o fechei, frustrada com minha falta de habilidade. A sala foi se enchendo aos poucos, e eu me senti sufocada, como se ela estivesse se entupindo de água, e não de pessoas.

Ino me cumprimentou quando passou por mim, e eu a respondi. Era uma loira extremamente bonita, e o sorriso dela, com seus dentes perfeitamente alinhados, passavam um calor, uma afetividade rara. Sentou-se na primeira cadeira da minha fila.

Não vi nenhum rapaz parecido com o do acidente de mais cedo. Provavelmente, não estudava em nossa sala.

A aula de inglês passou-se maravilhosamente bem. A professora, Kurenai Yuuhi, era atenciosa e tinha um admirável gosto literário. Sua aparência jovem e atraente chamava atenção, e não só a minha. Nos avisou da existência de um grupo de literatura. Pensei em perguntar alguma coisa a Ino, mas malo intervalo começou, a loira saiu com outras meninas sem demora. Eu não tinha o menor ânimo de ir para o pátio e me ver perdida naquele mar barulhento de gente. A sala estava mais aconchegante, mesmo com as presenças sombrias do ruivo e da garota que eu vira antes do começo da aula, com os mesmos fones de ouvido, porém, sozinha desta vez. Olhei novamente para ela. Assim como o ruivo, eu não acredito que aquela garota passaria despercebida em qualquer situação. Seus cabelos eram da cor rosa, curtos e bagunçados, ela era mais alta que a maioria das garotas da nossa idade e adoravelmente magra. Tinha a cabeça encostada na carteira, sobre seus próprios braços. Por instantes, abriu seus olhos em minha direção, e eu pude, novamente, encontrar olhos verdes. Os dela, entretanto, eram bem diferentes dos olhos vazios do ruivo. Seu verde era pulsante, quente e desesperado, nessa ordem. O resto de seu rosto – a pele branca, o nariz afilado, o maxilar suave – combinavam artisticamente com eles.

A garota fechou os olhos novamente, virando sua cabeça para o outro lado. Eu também me virei, nervosa, percebendo que ficara tempo demais a fitá-la. Ela havia escolhido a última cadeira da fileira encostada à parede da porta, ao lado da minha, de modo que meu pescoço agora até doía.

Eu contei os segundos e mordi meus dedos a cada minuto daquele intervalo agoniante.

De repente, a porta se abriu, e eu senti meu coração acelerar, sem motivo. Quem entrava era um rapaz mal encarado, com faixas em seu braço esquerdo, o qual eu facilmente reconheci como sendo o do acidente. Eu assistira ao pequeno show que ele dera para a garota de cabelos rosa, e automaticamente, me virei para observar sua reação. Mas ela, que continuava de cabeça baixa, mergulhada na música, não percebia nada à sua volta.

Depois disso, demorou apenas um minuto para que o sinal ressoasse, e a sala se encheu de novo. Quem entrava agora era um homem de cabelos brancos, o que era curioso, já que sua face não indicava muito mais que trinta anos. Tinha piercings nas orelhas e usava camiseta de algum filme de terror trash. Apresentou-se como Kakashi Hatake. Matemática. Revirei os olhos ao ouvir aquela palavra. Como a maioria das pessoas, matemática causava um fervor psicológico da pior espécie em mim.

Talvez, para ruivo, matemática fosse alvo de um asco ainda maior, pois mal o professor entrou na sala, ele pegou desleixadamente sua mochila e foi embora. Kakashi não disse nada, nem lhe lançou qualquer olhar. Exatamente como se o garoto fosse invisível.

E ao que parece, nosso professor não era de perder tempo. Logo ordenou a formação de duplas para um exercício. Eu tive a certeza fria de que simplesmente faria dupla com a pessoa que sobrasse.

-      Você ainda não me disse seu nome – notei Ino de frente para mim, com um sorriso leve de expectativa.

-      Desculpe! Me chamo Hinata – pigarrei.

-      Então, Hinata, quer ser minha dupla?

Aceitei a gentileza de Ino. Certamente, a loira tinha outras opções, mas se oferecera para que eu não precisasse encarar minhas certezas.

-      Você é daqui mesmo de Trenton? – perguntou, enquanto me passava a folha de exercícios.

-      Ah, na verdade, eu morava em Delaware até dois meses atrás. Sou de New Castle.

-      Oh, mesmo? O que aconteceu para você se mudar?

-      Meu pai foi transferido – menti, torcendo para conseguir sorrir sem forçar. Eu sabia o que a verdade faria. Colocaria um fim na nossa conversa, Ino diria que sente muito e me olharia com pena. E eu não precisava disso.

-      Ah, sim, bom, espero que goste de New Jersey. A escola é legal, é só saber encontrar seu lugar! Depois te apresento às meninas. E não se assuste com o acidente de hoje – Ino, curiosamente, sorriu nervosa.

-      Eu ainda nem entendi isso direito. Quem é ele?

Mirei outra vez na direção em que eu sabia que encontraria aquele garoto. Eu sabia, mesmo sem nunca ter chegado perto suficiente, que ele cheirava a mistério e perigo. Seus olhos profundamente pretos eram como olhos de vidro: não deixavam nada passar.

Levantei minhas sobrancelhas em surpresa por ver que ele fazia par justamente com a garota de cabelos róseos.

-      Ih, não – Ino colocou uma mão na testa ao olhar para mim. – Não game nele, é o conselho que te dou. Sasuke é problema. Todo mundo aqui sabe disso, mas as novatas... Vocês não têm culpa, mesmo, ele é uma tentação em forma de gente. Na verdade, não acho que exista alguma menina nessa sala que já não tenha caído por ele, inclusive eu.

-      Então ele é do tipo popular? – perguntei, com um meio sorriso zombeteiro.

Ino meneou a cabeça.

-      Acho que sim, ou pelo menos era, antes de... – a loira me lançou um olhar sério e significativo, fazendo movimentos com as mãos. – Você sabe. Agora ele é mais popular fora daqui.

Havia algo de reprovador no tom geral de Ino. E eu não fazia a mínima ideia sobre o que ela falava.

-      Não sei não, na verdade.

Ino encarou minha inconveniência e por fim, balançou a cabeça, rindo sem graça.

-      Tudo bem, seria informação demais pra uma novata. Vamos começar?

Eu olhei para a folha de exercícios, dando de cara com um plano cartesiano. Minha atenção voou de volta para o par misterioso do outro lado. Eles pareciam ainda mais difíceis de decifrar que aquelas incógnitas matemáticas.


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