When You're Strange escrita por Jamie Hermeling


Capítulo 21
Enquanto todos bocejam, você está chapada




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Estamos no pátio.

Os alunos da Loyal Trenton High School tinham uma espécie de tradição de simplesmente não comer no refeitório. As poucas mesas de madeira debaixo das árvores ficavam lotadas todos os dias. Embora eu não gostasse muito daquilo, o bem-estar de ficar falando bobagens com meus amigos era maior do que o mal-estar por ficar perdida no meio de centenas de estudantes.

Na mesa estamos eu, Naruto, Sakura e Sasuke. Karin acaba de chegar com sua bandeja incrivelmente cheia, reclamando algo sobre não terem lhe dado mais batatas. Ela senta ao lado de Sakura, e minha doce amiga logo se afasta dois palmos no banco.

Sakura e eu somos as únicas sem almoço. Eu estava numa dieta interminável, e ela quase sempre estava com o estômago ruim demais para comer. Ninguém perguntava nada sobre isso, acho que cada um sabia ou pensava que sabia dos motivos de Sakura.

Gaara passa com fones de ouvido, apressado, indo para a parte interna da escola de novo. Não olha para nós. Houve um breve tempo no qual ele também estaria aqui. Percebo que Sakura também o enxerga e mexe o cabelo – sei que ela está desconcertada por causa do ruivo. Ver Gaara sempre a deixa um pouco triste. Eu olho para as pessoas à minha volta e tento organizar, perceber qual foi o exato momento em que tudo mudou.

Claramente, tudo explodiu da festa de despedida, antes das férias de inverno. Uma festa para a qual eu não fui. Sabia muito bem como seria aquela festa – num lugar apertadíssimo, muita bebida, pessoas se pegando pelos cantos e batendo seus corpos nos das outras debaixo de uma música absurdamente alta. Nada que me agradasse. Provavelmente, Naruto e eu fomos os únicos a não ir. Nessa noite, ele me ligou e nós saímos para um lugar calmo para tomar um milk-shake qualquer, como prêmio de consolação. Mas eu contarei a história dessa noite depois.

Embora, como eu disse, tudo tenha explodido nessa festa, os pré-requisitos começaram a se mostrar semanas antes.

Eu estava muito preocupada com a Sakura. Havia uma coisa muito séria e ruim acontecendo com ela e eu não sabia o quê – ela sempre disfarçava, mentia, fazia piada. Haruno faltava cada vez mais e mais, tanto na escola quanto no trabalho. Sempre estava com dores no estômago, nunca dormia o suficiente, estava mais magra – suas calças jeans, que se colavam tão bem ao seu corpo, estavam folgadas, caindo. Sua pele estava mais esbranquiçada e áspera. Parecia que poderia se desmanchar a qualquer momento. Às vezes eu também via ela tremer. Braços, pernas, os músculos do rosto. Comecei a ter suspeitas que eu não queria ter. Naruto a olhava como se soubesse de alguma coisa e detestasse isso, mas ele também não dizia nada. De um dia pro outro, percebi que Sakura e Sasuke tinham conversas constantes, estavam quase sempre juntos – principalmente, há que se dizer, matando aula juntos. Karin parecia ter conseguido um novo motivo para se grudar mais ainda nos dois.

O relacionamento com Gaara era a única coisa sobre sua vida pessoal que Sakura falava comigo. Isso depois de eu ter reclamado que ela nunca falava. Ela pediu desculpas, riu e disse que não estava acostumada a ter amigos que se importassem com esse tipo de coisa.

Sakura dizia estar tudo bem. E ela ficou realmente feliz quando Gaara passou a noite em seu apartamento pela primeira vez. Mas eu percebia que, na verdade, ela estava tentando cuidar de algo que estava além de suas capacidades.

Sakura sempre parecia se esforçar para ser outra pessoa quando estava com Gaara.

Eu tive a prova de que nada estava bem numa segunda-feira. Sakura havia faltado, pra variar, e Gaara veio até mim com uma sutil, porém visivelmente sincera preocupação.

– Você falou com a Sakura de sábado para cá?

– Na verdade, eu acho que não.

Conferi as últimas mensagens trocadas entre nós. Datavam a última sexta-feira.

– É que a gente tinha combinado de sair no sábado, mas ela não apareceu. Também não me responde desde então quando eu ligo ou mando mensagem. Pra completar, faltou hoje.

– Você foi na casa dela?

Gaara fez que não com a cabeça, aparentemente desconfortável. Então eu percebi que devia ser horrível para uma pessoa orgulhosa como ele ter ligado tantas vezes, ter insistido em falar com Sakura depois de ela ter simplesmente furado com ele. Como devia ser ruim estar falando comigo agora.

Ir na casa dela era demais para ele.

– Eu vou passar na casa dela hoje, quando a aula acabar. Aí te digo o que aconteceu – eu sorri, e Gaara acenou com a cabeça, voltando novamente para o seu canto na sala. Eu também comecei a ficar preocupada com a Sakura, na verdade. Do jeito que ela vivia sozinha e sempre mais isolada, poderia até mesmo ter morrido dentro de seu apartamento e ninguém teria notado.

Então, como o prometido, eu fui ao prédio Lorenz, saber o que diabos havia com a Sakura. E ela demorou quase vinte minutos pra atender. Vinte minutos esses em que eu bati na porta, toquei a campainha, chamei, praticamente gritei, e não obtive nenhum tipo de resposta. Nem um “já vou” ou “vai embora”.

Quando ela abriu, eu senti uma arrepio gelado percorrer o meu corpo. Não consegui fazer uma expressão amigável. Sakura estava acabada. Sua pele estava amarelada, os cabelos estavam sem brilho e desarrumados, seus olhos pareciam menos verdes e suas pálpebras lutavam para se sustentar. E ela não estava nem um pouco feliz em me ver. Não pediu qualquer desculpa por ter demorado tanto e o único convite para que eu entrasse foi ela ter virado as costas pra mim e se jogado novamente no sofá.

A casa estava tão abandonada quanto ela. Centímetros de poeira se acomodavam nos móveis e no chão, e embalagens de comida se espalhavam por todos os lugares possíveis. Como sempre, a TV estava ligada num programa estúpido que ela detestava . Só servia para fazer algum barulho. Eu ouvi miados desesperados presos dentro do quarto dela. Imediatamente, abri a porta. E Shin saiu tão rápido quanto pode. Havia emagrecido junto com a dona. Enchi uma tigela com ração e outra com água e deixei o gato devorar a refeição que não tinha em sei lá quanto tempo.

Me sentei, então, na poltrona vazia ao lado do sofá onde Sakura estava deitada, olhando pro teto e devorando os próprios dedos. Soltei um suspiro cansado.

– O que foi?

Sakura deslizou suas íris verdes para mim e seu descaso se materializou nos ombros que ela sacudiu.

– Você tá estranha há semanas. Falta na escola, no trabalho, fica aérea o tempo todo, não come. Parece que está em outro mundo. Olha pra você, Sakura, não, sério, você tem um espelho? Por que está ignorando o Gaara? O que está acontecendo?

Ela ficou sentada subitamente e exibiu um de seus sorrisos zombeteiros.

– Deixa de ser sonsa, todo mundo sabe o que tá acontecendo comigo, até mesmo você. Não disse nada até agora e só porque eu dou um cano no meu namoradinho você resolve se importar? – ela riu. Parecia realmente estar se divertindo com isso. Juntou um pó branco que havia na mesa de centro, assim como gramas e gramas de poeira, em uma fileira, e me olhou avidamente. - Quer?

Eu perdi completamente a paciência. Num repente, estava em pé, empurrando Sakura de volta para o sofá e jogando aquela porcaria no chão.

– Céus, pare de zombar de si mesma.

Eu voltei para a poltrona e enterrei meu rosto em minhas mãos. Não sabia o que fazer. Não tinha a mínima ideia. Minha vontade era de viajar com Sakura para um lugar distante, cheio de pessoas que nunca havíamos visto, onde tudo fosse bom, onde ela pudesse esquecer de todos os seus problemas, fossem lá quais fossem.

Mas eu não podia fazer isso. Nós estávamos aqui, presas em New Jersey, e nossos problemas e as pessoas que não queríamos ver não iriam a lugar nenhum. Continuariam bem aqui, tão colados em nós quanto nossas roupas.

Eu não pude entender como os pais de Sakura deixavam sua filha naquele estado vivendo sozinha. Também não pude deixar de culpar Karin. Sakura começou a desmoronar aos poucos assim que começou a sair com ela. E até mesmo eu sabia que aquela Uzumaki não era a pessoa mais certa da cidade.

Eu também sabia que Sakura não era, igualmente.

Naquela hora, eu descobri o que Ino e suas amigas queriam dizer com se perder.

Meu pânico foi interrompido por uma risada descontrolada e maluca, que logo desembocou numa crise de choro.

Só os soluços de Sakura a privavam da total paralização. Seus braços estavam apoiados nos joelhos, ela parecia inconsolável e imutável.

– Gaara é um imbecil, nunca confia em ninguém, e quando finalmente confia, escolhe logo quem? A pessoa mais inconfiável do mundo.

Eu sentei ao lado dela, abracei-a, mas ainda não sabia o que dizer.

– Eu não consigo mais, Hinata, eu não consigo mais suportar ver ele. Eu adorava o garoto, e agora não o aguento mais. Eu não consigo ver ninguém gostando de mim de verdade.

– Calma, isso acontece. O Gaara é ótimo, mas você não é obrigada a sentir o mesmo por ele.

Sakura me olhou e sorriu, como se eu não fizesse ideia da estupidez que estava falando. Deu de ombros, mais calma.

– Eu só queria ser alguém melhor sabe, não entrar na lista de pessoas que foram um lixo com ele. Mas acho que não vai dar. Você tem razão, acontece.

Nós assistimos a uma série de comédia – Sakura fazia piada sobre as piadas do programa o tempo todo, então eu acabei não entendendo nada. Depois ela dormiu e eu vasculhei o apartamento em busca de doses escondidas de droga. Eu era muito boa com esconderijos, porque frequentemente eu tinha que arranjar alguns para a comida que eu não ingeria. Felizmente, a única coisa que eu achei foram comprimidos pesados para dormir que com certeza ela não tinha conseguido da maneira indicada. Levei-os comigo. Entretanto, assim como não havia droga, quase não havia comida naquela casa, exceto por alguns pacotes de salgados e latas de refrigerante. Resolvi fazer compras e arrumei tudo. Sakura ainda ficou dormindo, o que me levou a desconfiar que ela tomara alguns daqueles comprimidos antes de eu chegar.

Voltei para casa já de noite, exausta em todos os níveis. Pensei em qual mentira contaria para Gaara.

Acabei ligando e dizendo que Sakura estivera doente, e era muito cabeça-dura para ir ao médico ou comentar com alguém. E que pediu desculpas por sábado.

Bem, conhecendo-a como nós a conhecíamos, essa não era, de forma alguma, uma mentira absurda.

Semanas depois, no dia seguinte à festa de despedida, Sakura e Gaara terminaram definitivamente, e não trocavam uma palavra desde então.

Mas é sobre a festa de boas-vindas, ontem, que eu quero falar sobre.

A festa para qual eu fui, e Neji também. A festa na qual ele fez questão de expor tudo sobre Sakura, sobre Sai e sobre Itachi.


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Notas finais do capítulo

Foi mal parar aí e manter o suspense, mas: 1 - o capítulo já estava muito grande 2 - essa festa precisa da perspectiva da Sakura, so...
Mas eu vou postar o próximo rápido, e então, finalmente, esse lance entre os quatro vai ser exposto. Até logo, beijos!



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